A aproxima��o do governo Jair Bolsonaro com os Estados Unidos tem encontrado, no Capit�lio, um foco de resist�ncia. Desde a v�spera da elei��o brasileira, parlamentares nos EUA se mobilizaram para enviar ao menos cinco cartas ao governo americano, a empresas e corpora��es e protocolar duas resolu��es e um projeto de lei que questionam a pol�tica ambiental e fazem fortes cr�ticas a falas de Bolsonaro. Democratas consideram os discursos do presidente brasileiro "preocupantes para a democracia e direitos humanos" no Pa�s.
As primeiras manifesta��es, j� no in�cio da gest�o, foram posicionamentos marcados pela ala do partido democrata mais � esquerda na C�mara - que criticara anteriormente o impeachment da presidente Dilma Rousseff e a pris�o do ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva.
A C�mara dos EUA �, desde novembro, de maioria democrata, e de oposi��o a Trump. A reverbera��o internacional da situa��o da Amaz�nia, contudo, fez com que as movimenta��es passassem a ter car�ter mais formal, em tom de resolu��o interna no Congresso, e alcan�assem parlamentares considerados mais moderados dentro do partido democrata. Uma delas teve apoio bipartid�rio, com endosso de senador republicano.
Ao menos 53 congressistas americanos se engajaram em diferentes movimentos cr�ticos � situa��o da Amaz�nia ou �s falas de Bolsonaro. A Amaz�nia tamb�m fez com que cinco pr�-candidatos democratas � presid�ncia dos EUA se envolvessem em cobran�as ao governo brasileiro: Kamala Harris, Cory Booker e Amy Klobuchar endossaram o pedido para que os EUA adiem negocia��es comerciais com o Brasil enquanto n�o houver resposta efetiva sobre as queimadas. Bernie Sanders e Elizabeth Warren - que, junto com Joe Biden, est�o entre os tr�s primeiros nas pesquisas de inten��o de votos - assinaram cartas para pedir que empresas cobrem do governo brasileiro a preserva��o ambiental.
Uma carta assinada por 11 democratas pedia ao representante comercial dos EUA, Robert Lighthizer, a suspens�o da negocia��o de acordo comercial com o Brasil at� que haja uma "a��o significativa para proteger a Amaz�nia". Dias antes, Kamala - tida como moderada - criticou Bolsonaro no Twitter: "Conforme a Amaz�nia queima, o presidente do Brasil deixa madeireiros e mineradores destru�rem a Amaz�nia e, similar ao Trump, n�o est� agindo".
Livre com�rcio
Um eventual acordo de livre com�rcio - ambi��o da equipe econ�mica brasileira - precisa da aprova��o dos parlamentares americanos, apesar de ser negociada com o Poder Executivo. O atual encarregado da embaixada, Nestor Forster, se reuniu com os dois senadores que redigiram o documento. Depois do encontro, o senador Brian Schartz escreveu que o Brasil deve "cumprir integralmente as leis de prote��o ambiental e ind�gena". "Fico feliz em ver uma mudan�a na ret�rica do governo Bolsonaro, agora vamos observar se ela vem acompanhada por uma mudan�a na pol�tica", afirmou.
As iniciativas pela Amaz�nia seguiram durante o m�s de setembro com um manifesto assinado por 13 senadores. "Os inc�ndios na Amaz�nia neste ano (em 2019) s�o uma emerg�ncia e exigem a��o de todos n�s. Voc� tem o poder de exigir que o presidente Bolsonaro aplique as leis ambientais de seu Pa�s e pode reavaliar suas opera��es � luz de in�rcia. Por favor, fale e deixe claro que a prote��o da Amaz�nia � essencial para a sua empresa fazer neg�cios na regi�o", diz o texto endere�ado a Cargill, Danone, Johnson & Johnson, L'Oreal, McDonald's, Walmart, Deutsche Bank, Barclays e outras companhias.
Tamb�m em setembro, C�mara e Senado receberam resolu��es sobre o Brasil - que t�m um car�ter diferente das cartas. No caso dos textos no Congresso, as medidas legislativas n�o t�m for�a de lei, mas devem ser consideradas pelo governo uma posi��o formal dos parlamentares. Ambos ainda est�o em tramita��o. Na C�mara, 16 democratas prometem colocar dificuldades na rela��o entre EUA e Brasil expressando preocupa��es com direitos humanos, meio ambiente e democracia. Entre as manifesta��es, os deputados pedem a identifica��o e puni��o dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco. No caso do Senado, uma proposta bipartid�ria pede que EUA ofere�am apoio ao governo do Brasil e a ONGs para a preserva��o da Amaz�nia.
Congresso dos EUA � crucial
Diferentemente do Brasil, nos EUA o Congresso � muito importante na formula��o de pol�tica externa, ressalta o professor de Rela��es Internacionais da Funda��o Get�lio Vargas (FGV), Oliver Stuenkel. "A ferramenta de san��es e as quest�es de com�rcio passam pelo Congresso. Tanto que outros governos passam muito tempo fazendo lobby no Capit�lio", disse.
Stuenkel observa que historicamente o Brasil n�o tem alta visibilidade em Washington. "O Pa�s sempre ficou contente de n�o ter tanta visibilidade assim", disse. Agora, no governo Bolsonaro, segundo o professor, a l�gica mudou. Mas, paradoxalmente, o Pa�s tem tido um comportamento contradit�rio.
"Bolsonaro quer uma aproxima��o e a�, paradoxalmente, estamos passando pelo tempo mais longo sem embaixador em d�cadas. Desde os anos 70 n�o ficamos tanto tempo sem embaixador e isso agrava a situa��o de que o Pa�s n�o tem essa rede poderosa na capital. De repente se quer visibilidade, mas n�o se tem estrutura para isso", afirma o professor da FGV.
'N�o se nota nenhuma resist�ncia ao governo'
Atual encarregado pela embaixada brasileira em Washington, o diplomata Nestor Forster avalia que n�o h� resist�ncias ao governo Bolsonaro dentro do Congresso americano. Ele credita as cr�ticas aos posicionamentos do presidente � ala "mais extrema, mais radical" do partido democrata, diz que tem se reunido com parlamentares dos dois partidos para dialogar sobre a situa��o do Brasil e que a recep��o tem sido positiva. O nome de Forster ainda precisa ser aprovado pelo Senado para sua confirma��o como embaixador.
Como o Brasil tem lidado com resist�ncias ao governo Bolsonaro no Congresso americano?
A rela��o com o Congresso entra no que a gente chama de diplomacia parlamentar. Procuramos fazer isso no sentido de discutir pol�tica sem entrar em pol�tica interna de democratas versus republicanos. N�o se nota no Congresso nenhuma resist�ncia ao governo Bolsonaro, isso n�o existe. O que houve foi um movimento isolado, um grupo de parlamentares do partido democrata, situados na ala mais � esquerda, mais radical, que mandou uma carta criticando a Lava Jato. E foi respondido como deve ser respondido: o Brasil vive um Estado de Direito.
A rela��o com o Congresso americano tende a mudar?
Esse novo momento da rela��o Brasil-EUA, com uma renovada intensidade, no n�vel mais alto pela qu�mica entre os chefes de Estado, n�o se refletir� s� nas rela��es que temos aqui com ag�ncias do Executivo, mas certamente vai nos dar uma agenda muito mais intensa no Congresso e tamb�m com a sociedade civil americana, com o setor privado, com associa��es que representam diferentes �reas.
N�o foi s� a Lava Jato. Houve movimenta��es de parlamentares tamb�m com rela��o � Presid�ncia do Bolsonaro...
Ningu�m est� questionando o compromisso do governo Bolsonaro com a democracia. Bolsonaro � o maior produto da democracia, por duas raz�es. Primeiro, ele passou a vida inteira como deputado, sendo eleito e fazendo campanha. N�mero dois: ele foi eleito por uma onda democr�tica talvez in�dita na Hist�ria do Brasil. Foi eleito e gastou nem 1 milh�o de d�lares na campanha.
Houve manifesta��es tamb�m sobre as queimadas na Amaz�nia. Isso preocupa?
N�o, n�o � um assunto que esteja envolvido no debate de pol�tica americana. N�o come�ou aqui nos Estados Unidos essa conversa, mas teve repercuss�es aqui tamb�m. Esse exagero, o que eu chamei de histeria descabida, de achar que era o fim do mundo que tinha meia d�zia de queimadas na Amaz�nia como tem todo ano desde o per�odo neol�tico. Isso n�o � novo. Foi exagerado.
Pr�-candidatos, como os senadores Bernie Sanders e Elizabeth Warren, assinaram uma carta pedindo prote��o da Amaz�nia.
A pior coisa que se pode fazer � criar barreiras comerciais ou san��es a produtos brasileiros porque eles v�o querer atacar as empresas brasileiras e quem exporta s�o as empresas de m�dio e maior porte, que t�m condi��es, recursos financeiros e humanos, para observar a legisla��o brasileira que � extremamente rigorosa, especialmente na regi�o da Amaz�nia. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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