No Cear�, PMs relacionam o motim atual ao de 2011

Com uma lista de reivindica��es de 17 itens em que o primeiro, escrito com letras mai�sculas, � "anistia", os policiais militares amotinados em Fortaleza, Cear�, se concentram na sede do 18� Batalh�o da corpora��o, no bairro Ant�nio Bezerra. No entroncamento de tr�s ruas, h� viaturas policiais com pneus esvaziados, o que impede a aproxima��o de carros.

Dentro do batalh�o, os porta-vozes do movimento s�o cabos e sargentos com at� 10 anos de vida militar, que participaram de um motim parecido em 2011 e que dizem se sentir tra�dos por considerar que acordos firmados naquela ocasi�o n�o foram cumpridos.

Com seis dias de motim completados na segunda-feira, 24, os batalh�es t�m PMs na d�vida se devem deixar os rostos cobertos ou n�o, dada a associa��o das balaclavas com criminosos e as cenas de mascarados dirigindo viaturas e mandando fechar o com�rcio de Sobral, no interior do Estado, na �ltima quarta-feira, quando o senador licenciado Cid Gomes (PDT) foi baleado ao avan�ar com um trator contra os amotinados.

"Quando falamos em anistia, � em rela��o ao processo disciplinar, n�o a eventuais crimes", diz o ex-deputado federal Cabo Sabino, que recebeu a reportagem do jornal O Estado de S. Paulo no domingo, em uma sala com quatro pra�as.

Apontado como l�der do motim, ele � um dos 230 policiais afastados pelo governo cearense.

Tanto em Fortaleza como em Sobral o que se v� nos quart�is amotinados s�o PMs na casa dos 30 anos, muitos de chinelo e bermuda, liderados por pol�ticos de oposi��o ao governador Camilo Santana (PT). Est�o preparados para dias de confinamento. H� �gua e alimento estocados pelos cantos, e marmitas chegam o tempo todo.

"O policial que decidiu fazer greve vai at� o fim. J� n�o tem nada a perder", disse um dos amotinados, que aceitou dar entrevista sem revelar o nome, identificando-se apenas como cabo Barbosa.

Uma das queixas desses policiais � a pol�tica de reajustes salariais do governo de Santana e do antecessor, Cid Gomes. "O sal�rio do coronel, ao longo dos anos, dobrou, teve um aumento de 100%. O do soldado, aumentou 10%", disse o cabo.

Em motim ocorrido em 2011, na virada para 2012, houve negocia��o para concess�o de um reajuste que seria parcelado. "A primeira parcela foi cumprida. A segunda e a terceira, n�o. Foi uma trai��o do governo", disse outro PM. "Da�, isso foi acumulando. A queixa era um assunto constante no batalh�o."

Os PMs que ingressaram na corpora��o depois disso, conta o policial, j� encontraram quart�is nesse clima de insatisfa��o.

Risco

Em grupo, os amotinados come�am a listar situa��es a que se dizem expostos. Contam que, depois do fechamento do hospital pr�prio da corpora��o, passaram a receber o mesmo atendimento de pessoas com quem entravam em confronto. "Voc� tinha na mesma enfermaria o cara que atirou em voc�. Isso quando n�o ficava jogado nos corredores", disse outro cabo, sem dar o nome.

Bolsonarismo

No batalh�o, h� amotinados com camisetas do presidente Jair Bolsonaro. As lideran�as, por�m, negam o apoio. "Fui o primeiro a trazer o Bolsonaro para c�, em 2015, ainda deputado", diz Cabo Sabino. "Mas, de l� para c�, fizeram intrigas, e ele se afastou. H� um ano n�o nos falamos."

Entre os pra�as, quando se pergunta sobre pol�tica, as respostas variam, mas acabam voltando para pontos trabalhistas, como pagamento de horas extras e vale refei��o defasado em rela��o a outros servidores.
Procurados, o governo do Estado e a assessoria de Gomes n�o responderam sobre os termos do acordo de 2011 que teriam sido descumpridos.

Os amotinados estimam que de 40% a 60% dos cerca de 20 mil homens da PM do Cear� participam do movimento.

O governo do Estado n�o fala em n�meros. Tr�s batalh�es (17� e 18�, na capital, e o 12�, em Caucaia, regi�o metropolitana) ainda est�o ocupados por manifestantes, segundo o governo.

Enquanto parte dos policiais est� paralisada, caminh�es e jipes do Ex�rcito est�o fazendo patrulhamento em Fortaleza. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.