O recuo do presidente Jair Bolsonaro do apoio �s manifesta��es contra o Congresso e o Judici�rio, marcadas para amanh�, n�o encerra a disposi��o do presidente de pressionar os outros Poderes, avalia o cientista pol�tico Luiz Werneck Vianna, professor da Pontif�cia Universidade Cat�lica do Rio (PUC-Rio).
O pesquisador v� nos atos, que foram desmobilizados, "uma tentativa de for�ar os limites da institucionalidade para romp�-la". O objetivo seria "totalizar a pol�tica por um projeto de poder", sem objetivo. Segundo ele, diferentemente do que ocorreu no governo de J�nio Quadros (1961) e na ditadura (1964-1985), a iniciativa autorit�ria que ele atribui a Bolsonaro n�o tem programa. "� o poder pelo poder, para acumular poder", disse o cientista pol�tico ao jornal O Estado de S. Paulo.
O recuo do presidente sobre os atos foi apenas "f�sico", por causa do coronav�rus, ou pol�tico?
Foi pol�tico. Ele sentiu o esvaziamento. O coronav�rus foi a sopa no mel.
Isso encerra o epis�dio ou o presidente tende a, mais adiante, retomar esse enfrentamento das institui��es?
Essa coisa vai ser retomada, sim, quando ele encontrar condi��es favor�veis. Faz parte da natureza desse regime. � destruir as institui��es da democracia pol�tica. E com apoio de massas.
Como o sr. analisa a convoca��o do ato que foi suspenso?
H� uma tentativa de for�ar os limites da institucionalidade para romp�-la. H� uma estrat�gia por tr�s, que � a conquista do poder pol�tico total. H� uma tentativa de totalizar a pol�tica brasileira por um projeto de poder. Porque programa pol�tico n�o h�. A luta � pelo poder. Ele quer todo o poder poss�vel, acumular poder, maximizar poder. O limite do poder � o poder.
Isso tem precedente na hist�ria do Brasil?
Tem precedente, sim, mas havia um programa envolvido. Agora n�o tem programa nenhum... J�nio (Quadros, presidente em 1961 por sete meses, at� renunciar) tinha um programa. Terceiro-mundista l�, aquela �poca do Terceiro Mundo, naquele contexto. Agora, n�o tem. Qual � o programa? O pr�prio regime militar, que n�o apelou �s massas, mas quando tomou todo o poder para si tinha um programa, de moderniza��o por cima da sociedade.
O sr. acha que nesses atos o presidente poderia se dirigir diretamente �s pessoas?
Acho que h�, na verdade, um projeto de fascistiza��o do poder pol�tico no Brasil. N�o tem programa econ�mico, n�o tem programa social, n�o tem programa de sociedade, de Pa�s, de nada. Quer o poder todo. Para qu�? Conservar poder, mando.
E as pessoas comuns envolvidas nisso? O que as move?
�s elites econ�micas interessaria o caminho de elimina��o de obst�culos sociais � acumula��o. Agora, mas s� isso? A esta altura, n�o nos basta. A economia n�o tem andado. N�o tem obst�culo nenhum diante dela. N�o anda porque n�o tem agentes econ�micos interessados, envolvidos, n�o tem sociedade para isso. Este governo n�o tem programa econ�mico. Tem um programa pol�tico, de extrair o m�ximo de poder poss�vel de todas as fontes existentes de poder. Para exercer o poder total.
Mas tem muitas pessoas comuns, n�o empres�rios, que s�o entusiastas do presidente.
Essas perguntas poderiam ser feitas � expans�o do fascismo na It�lia, do nazismo na Alemanha� Bom, o nazismo teve as compensa��es do emprego, da ordem. Mas essa pergunta n�o sei responder. O que as pessoas est�o querendo com isso...
Chamar os atos seria uma forma de Bolsonaro manter a narrativa "rebelde", de "mito"?
Eu n�o compartilho da ideia de que esse governo est� tonto. Esse governo tem um projeto, o de conquistar todo o poder pol�tico para si. Quando conseguir isso, vai conservar isso. Para qu�? Eles n�o sabem, n�o t�m programa.
Com muita frequ�ncia, o presidente d� uma declara��o controversa, pol�mica. A� tem uma rea��o e ele se corrige, volta atr�s�
Mas volta atr�s sempre em um movimento de dissimula��o. Porque o norte permanece. Qual � o norte? � a conquista de todo o poder pol�tico. O caso a� dessa mo�a (a atriz Regina Duarte) que est� na Secretaria de Cultura... Est� a� em uma circunst�ncia muito particular. Mais dia, menos dia, ela vai ser ejetada.
Quando vai e volta, ele hesita ou � m�todo para testar rea��es?
� um m�todo. � um m�todo de teste de for�a. Porque o objetivo �, sempre, puramente pol�tico. Agora, vem c�. Tem uma realidade nova no Pa�s. Tem uma ral�. Essa ral� pode ser tornar uma base social de apoio a ele.
Quem seria essa ral�?
S�o os desapropriados de tudo. N�o � s� pobre, n�o. � classe m�dia tamb�m. � ressentimento e falta de valores. A sociedade abdicou de valores, deixou-se perverter. H� agentes de pervers�o nisso.
Hannah Arendt fala em ral�, que seriam pessoas de todas as classes, mas n�o deram certo.
Isso, no sentido mesmo que Hannah Arendt fala.
O presidente ataca a imprensa profissional. A que atribui isso?
A imprensa profissional expressa interesses organizados. Ele quer desorganizar tudo. Precisa de um v�cuo, um vazio.
Para o sr., as institui��es est�o amea�adas?
Ah, est�o. Tenta-se destituir as institui��es. As institui��es t�m resistido. O fato � que a imprensa tem se comportado de forma muito valorosa. Os articulistas. A situa��o est� cada vez mais clara. Est�o pondo a nu as circunst�ncias em que estamos envolvidos. Agora, depende de uma for�a pol�tica que interrompa essa maluquice, n�?
Existe essa for�a?
Por ora, n�o existe.
O que explica que o presidente tenha chegado l�? A Lava Jato?
A Lava Jato ajudou muito, n�? Porque minou as institui��es, minou os partidos, desmoralizou a pol�tica.
Outros pa�ses j� passaram por processos assim?
�, vamos ver se vai ter (Benito) Mussolini (ditador fascista da It�lia de 1922 a 1945) a�. N�o tem Mussolini, porque Mussolini era um homem preparado, tinha programa. Aqui, � um fascismo nu.
No curto prazo, acha que a pol�tica brasileira tem condi��es de se fortalecer? Ou vamos ficar na situa��o atual por muito tempo?
Depende de lideran�as. Quer dizer, as nossas lideran�as est�o muito velhas. Estamos muito longe de um Ulysses Guimar�es, estamos muito longe de um Tancredo (Neves).
N�o existem hoje l�deres novos fortes?
Ainda n�o tem, mas vai aparecer. O sapo pula por precis�o, n�o por boniteza.
As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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