O pronunciamento feito na noite de ter�a-feira, 24, em rede nacional, pelo presidente Jair Bolsonaro contra medidas de isolamento da popula��o para o combate ao novo coronav�rus repercutiu de forma negativa nos meios m�dico e cient�fico. Entidades divulgaram notas rebatendo a fala do presidente e refor�ando a necessidade de distanciamento social para conter a pandemia. Atualmente, 2,6 bilh�es de pessoas convivem com regras de confinamento mais ou menos r�gidas, a depender do pa�s. No Brasil, governadores de v�rios Estados adotaram medidas a fim de diminuir a circula��o de pessoas para tentar reduzir a propaga��o do v�rus.
"Assistimos estarrecidos ao pronunciamento do presidente da Rep�blica em dire��o contr�ria �s recomenda��es do pr�prio Minist�rio da Sa�de, de organiza��es de sa�de internacionais, como a Organiza��o Mundial da Sa�de, de cientistas e de governos de todo o mundo", afirmou a Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ci�ncia (SBPC).
O uso do termo "gripezinha" pelo presidente para falar sobre o coronav�rus tamb�m foi questionado. "Tais mensagens podem dar a falsa impress�o � popula��o de que as medidas de conten��o social s�o inadequadas e que a covid-19 � semelhante ao resfriado comum, esta sim uma doen�a com baixa letalidade. � tamb�m temer�rio dizer que as cerca de 800 mortes di�rias que est�o ocorrendo na It�lia, realmente a maioria entre idosos, seja relacionada apenas ao clima frio do inverno europeu. A pandemia � grave", declarou em nota a Sociedade Brasileira de Infectologia.
O QUE ELE DISSE
Isolamento Social
"O sustento das fam�lias deve ser preservado. Devemos, sim, voltar � normalidade. Algumas poucas autoridades estaduais e municipais devem abandonar o conceito de terra arrasada, como a proibi��o de transportes, o fechamento de com�rcio e o confinamento em massa".
A Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ci�ncia (SBPC) diz que o isolamento � "fundamental" contra o v�rus. "Estudos e an�lises em v�rios pa�ses t�m mostrado que o isolamento social � uma medida fundamental para conter o crescimento muito acelerado de pessoas afetadas." Para a Sociedade Brasileira de Imuniza��es, incentivar os brasileiros a voltarem �s ruas pode ter "consequ�ncias tr�gicas". J� estudo publicado na revista Science aponta que medidas "dr�sticas" - quarentena de cidades inteiras, fechamento de servi�os n�o essenciais e restri��o nas viagens a�reas - implementadas na China "reduziram substancialmente a dissemina��o da covid-19". As pessoas devem ficar em casa, j� que, nas pr�ximas semanas, a circula��o do v�rus atingir� o pico, afirma o infectologista Jean Gorinchteyn.
Fechamento de escolas
"O que se passa no mundo tem mostrado que o grupo de risco � o das pessoas acima dos 60 anos. Ent�o, por que fechar escolas? Raros s�o os casos fatais de pessoas s�s, com menos de 40 anos de idade. Noventa por cento de n�s n�o teremos qualquer manifesta��o, caso se contamine."
A declara��o contraria a recomenda��o do diretor-geral da Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, que j� demonstrou preocupa��o especial com os jovens. "Esse v�rus pode colocar voc� no hospital por semanas ou at� matar. Mesmo que n�o fique doente, as escolhas que faz sobre onde ir podem fazer a diferen�a sobre a vida ou a morte de outra pessoa", afirmou. "Abrir as escolas faria o v�rus circular muito mais, visto que as crian�as voltariam para a casa e poderiam infectar os idosos", diz Jean Gorinchteyn, infectologista do Instituto Em�lio Ribas. A medida n�o � exclusiva do Brasil. De acordo com informa��es da Unicef, 95% dos estudantes da Am�rica Latina e do Caribe est�o sem aulas em raz�o da orienta��o da OMS sobre o novo coronav�rus.
Hist�rico de 'atleta'
"No meu caso particular, pelo meu hist�rico de atleta, caso fosse contaminado pelo v�rus, n�o precisaria me preocupar, nada sentiria ou seria, quando muito, acometido de uma gripezinha ou um resfriadinho, como bem disse aquele conhecido m�dico daquela conhecida televis�o."
A Sociedade Brasileira de Infectologia contesta a classifica��o do novo coronav�rus como "resfriado" ou "gripe", j� que a covid-19 tem causado mortes em dezenas de pa�ses. A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ci�ncia tamb�m critica a tentativa de minimizar a doen�a. "Essa pandemia � muito grave, tendo j� matado mais de 16 mil pessoas no mundo, e contaminado pelo menos 2,2 mil brasileiros." N�o � poss�vel relacionar o fato de Bolsonaro ter sido atleta com uma eventual alguma prote��o contra a covid-19, segundo o m�dico Celso Granato. "Os trabalhos cient�ficos ainda n�o chegaram a esse n�vel de detalhe", disse. Al�m disso, h� casos de v�rios atletas infectados com o v�rus, como o astro do basquete americano Kevin Durant e outros tr�s jogadores do Brooklyn Nets, da NBA.
Condi��es da It�lia
"Grande parte dos meios de comunica��o foram na contram�o. Espalharam exatamente a sensa��o de pavor, tendo como carro-chefe o an�ncio de um grande n�mero de v�timas na It�lia, um pa�s com grande n�mero de idosos e com um clima totalmente diferente do nosso."
A rela��o feita pelo presidente entre o clima e a transmiss�o do coronav�rus n�o � algo comprovado, segundo especialistas em sa�de. Estudos apontam que o clima quente pode at� diminuir o cont�gio, mas n�o o impede. Observando o n�mero de casos notificados da doen�a, � poss�vel notar um avan�o consider�vel tanto no Brasil quanto na It�lia em um curto espa�o de tempo, embora haja mais casos na It�lia. A Sociedade Brasileira de Infectologia afirma que � temer�rio dizer que as cerca de 800 mortes di�rias que est�o ocorrendo na It�lia seja relacionada apenas ao clima frio do inverno europeu. "Se isso fosse um fator t�o protetor assim, como justificar que agora, final, ainda temos uma epidemia em grande expans�o?", questiona o virologista Celso Granato, do Fleury.
Tratamento
"O FDA americano e o Hospital Albert Einstein, em S�o Paulo, buscam a comprova��o da efic�cia da cloroquina no tratamento da covid-19. Nosso governo tem recebido not�cias positivas sobre este rem�dio fabricado no Brasil, largamente utilizado no combate � mal�ria, l�pus
e artrite."
No Brasil, uma coaliz�o que inclui o Hospital Israelita Albert Einstein, o Hospital do Cora��o (HCor), o Hospital S�rio-Liban�s e a Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet), em parceria com o Minist�rio da Sa�de, vem realizando estudos para testar a efic�cia do medicamento no combate � covid-19. J� a Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa) informou que os testes ainda s�o preliminares e o uso do medicamento sem indica��o m�dica pode causar efeitos colaterais. Em nota, o Hospital Albert Einstein que h� tr�s estudos em andamento para avaliar a efic�cia e a seguran�a de potenciais terapias para pacientes com covid-19, ainda n�o conclu�dos. "Ser�o estudos multic�ntricos robustos que possam fornecer respostas satisfat�rias acerca do tema", informou o hospital.
Transmiss�o
"Nossa vida tem que continuar. Os empregos devem ser mantidos (...) Devemos, sim, � ter extrema preocupa��o em n�o transmitir o v�rus para os outros, em especial aos nossos queridos pais e av�s. Respeitando as orienta��es do Minist�rio da Sa�de."
Especialistas em sa�de afirmam que, como a doen�a � transmitida de pessoa a pessoa ou por contato com objetos e superf�cies contaminadas, o isolamento e a correta higieniza��o se tornam indispens�veis. Diante disso, afirmam, � dif�cil a popula��o manter a rotina a qual est� acostumada, como defendeu o presidente. "Sem essas medidas, o impacto poder� ser muito maior", diz a Sociedade Brasileira de Hipertens�o. "Existe um perigo pr�ximo, evidente, real e grav�ssimo. Enfrent�-lo � priorit�rio. Todos nos preocupamos com o impacto do isolamento social na economia, particularmente o impacto da recess�o sobre a sa�de. Tamb�m isso n�o deve ser minimizado. Mas que n�o se deixe a preocupa��o com o futuro inviabilizar o presente", afirma a Associa��o Paulista de Medicina.
As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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