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Estado de Minas POL�TICA

'Saldo pode ser a volta da credibilidade da ci�ncia', diz Mario Sergio Cortella


postado em 05/04/2020 16:21

Autor de mais de 40 livros, o fil�sofo Mario Sergio Cortella, de 66 anos, acredita que o enfrentamento da pandemia do coronav�rus pode deixar alguns legados para a sociedade, al�m dos problemas sanit�rios e econ�micos. Para ele, a ci�ncia e a m�dia devem recuperar sua credibilidade, e o distanciamento social pode ser uma oportunidade para fazer coisas que o "cotidiano atribulado" n�o permite.

Ao responder sobre o que acha da atua��o do presidente Jair Bolsonaro na crise, Cortella lembra que � importante, neste momento, que as lideran�as pol�ticas sejam did�ticas e transparentes ao se comunicar com a popula��o. "N�o estamos tendo ainda esse conjunto virtuoso por parte de quem deveria", disse na entrevista, respondida por e-mail. O fil�sofo diz que tem seguido as orienta��es para ficar em casa e que, desde que come�ou seu distanciamento, s� saiu de carro duas vezes.

Leia os principais trechos da entrevista:

O sr. acha que vivemos uma situa��o de guerra? Nessa situa��o, o coronav�rus � o �nico inimigo? Ou tamb�m devemos combater a nega��o � ci�ncia e a propaga��o de fake news?

O v�rus j� resulta em malef�cio suficiente sem que precisemos perder energia lidando com nega��es cont�nuas que tentam nos enganar ou que implicam m� e falsa informa��o. Ainda assim, um saldo menos virulento deste momento ser� uma maior seletividade de fontes e uma retomada da confiabilidade e credibilidade de institui��es, como a ci�ncia e a m�dia decentes.

As pessoas esperam uma lideran�a do presidente da Rep�blica nesse momento? Acha que a atua��o de Jair Bolsonaro, quando ataca medidas de restri��o de circula��o adotadas em todo o mundo, pode frustr�-las?

Toda lideran�a precisa, acima de tudo, ser did�tica, transparente e n�tida nas trilhas que sugere e nos esfor�os que estimula. N�o estamos tendo ainda esse conjunto virtuoso por parte de quem deveria.

A que o sr. atribui a lentid�o na tomada de decis�o de alguns presidentes, como Bolsonaro, Donald Trump e L�pez Obrador, e como v� o desprezo pela ci�ncia?

A ci�ncia, de modo geral, n�o � infal�vel. � preciso submeter inten��es, processos e resultados � an�lise cr�tica dos pares e, inclusive, admitir ser desmentido, advertido ou ultrapassado, sem que soe como ofensa ou desacato. Nem todas as pessoas t�m permeabilidade intelectual para tais requisitos, e, por isso, costumam menosprezar e subestimar a valida��o que ultrapasse a opini�o vulgar.

Como o senhor v� esse suposto dilema entre salvar vidas e salvar a economia?

Relegar qualquer um dos polos � penumbra ser� funesto. N�o h� pessoas vivas sem economia operante e n�o h� economia sem pessoas salvas. O crucial agora � discernir quais procedimentos s�o priorit�rios.

Nos �ltimos dias, vimos panela�os contra o presidente e tamb�m carreatas a favor do fim do isolamento social. A crise desperta essa ideia de separa��o - e n�o s� a da solidariedade?

A crise n�o inaugura personalidades oportunistas e dissimuladas. A crise apenas as revela e alicer�a naquilo que j� eram capazes de ser e fazer, independentemente de a crise existir.

Que influ�ncia as redes sociais t�m nessa polariza��o?

Toda polariza��o in�til neste instante dificulta e delonga alternativas de solu��o e torna-se aliada poderosa do v�rus. Assim, urge avaliar se devemos mesmo empregar nosso escasso tempo em fomentar um vi�s delet�rio nas redes sociais, que podem e s�o frequentemente colaborativas.

Como essa crise pode afetar as rela��es entre pessoas?

Estivemos e ainda estamos colocando � prova nossa sensibilidade de conviv�ncia e tendo de manejar com mais habilidade a idiossincrasia e os melindres individuais. Em outras palavras, o necess�rio e compuls�rio isolamento social nos remeteu para um nicho familiar que n�o permite tanto o famoso "vou sair para esfriar a cabe�a" ou o, agora arriscado, "n�o estou nem a� com voc�". Entendo que o n�cleo familiar ter� um n�mero maior de sinergias e fissuras. Se a segunda vencer, o v�rus carregar� mais esse dano.

O que de positivo pode ser tirado do distanciamento social?

Alguma reclus�o, sem que implique em solid�o, � bastante ben�fica, pois possibilita um uso mais liberado e seletivo do tempo dispon�vel. Neste instante, o distanciamento servir� tamb�m para m�ltiplas a��es que o cotidiano atribulado n�o permite com intensidade, desde conviv�ncias at� reorganiza��es dos espa�os e coisas. Al�m, claro, da dedica��o ao �cio recreativo.

O senhor tem 66 anos, faz parte do grupo de risco para o v�rus, e d� aula, palestras, escreve livros. Que cuidados tem tomado?

Desde o dia 16 de mar�o estou em reclus�o organizada, tendo sa�do de carro por algumas horas em dias distantes, sem contato inseguro com outras pessoas, para duas tarefas imprescind�veis e salvaguardadas. Afinal, embora me saiba mortal, quero adiar essa ocasi�o no limite m�ximo da minha saudabilidade e consci�ncia livre.

O que a pandemia pode nos ensinar sob a �tica da filosofia?

Que a nossa eventual e iludida soberba como esp�cie encontra mais guarida no campo do nosso desejo do que naquilo que a natureza � capaz de erigir.


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