
"Ontem, conversei com o presidente e houve essa insist�ncia (de mudan�a do comando da PF). Eu disse que seria uma interfer�ncia pol�tica e ele disse que seria mesmo", afirmou Moro.
O ex-juiz federal da Opera��o Lava-Jato contou ainda que o presidente manifestou o desejo de ter um diretor-geral com quem pudesse ter contato pessoal e acessar relat�rios. Moro, ent�o, afirmou que n�o poderia concordar com tal medida, pois "n�o � o papel da Pol�cia Federal" prestar esse tipo de informa��o ao presidente.
Disse Moro: "O presidente me disse mais de uma vez que ele queria ter uma pessoa de contato pessoal dele, que ele pudesse ligar, colher informa��es, relat�rios de intelig�ncia, seja o diretor, seja o superintendente, e realmente n�o � o papel da Pol�cia Federal".
"As investiga��es precisam ser preservadas", defendeu o ministro, resaltando que nem durante a Opera��o Lava-Jato houve interfer�ncias desse tipo. "Imaginem se, durante a Lava-Jato, ministros, ou a ent�o presidente Dilma (Rousseff), o presidente Luiz (In�cio Lula da Silva) ficassem ligando na superintend�ncia de Curitiba para colher informa��es sobre investiga��es em andamento", frisou.
STF
Moro contou tamb�m que Bolsonaro manifestou preocupa��o com investiga��es em andamento no Supremo Tribunal Federal (STF). "O presidente tamb�m me informou que tinha preocupa��o com inqu�ritos em curso no STF e que a troca seria oportuna na Pol�cia Federal por esse motivo", disse. Um dos inqu�ritos em andamento no STF � sobre as manifesta��es de 19 de abril que pediam um novo AI-5, fechamento do Congresso e do STF e contaram com a participa��o do pr�prio Bolsonaro.
Por isso, disse o ministro, a quest�o n�o seria ele ter a chance de indicar um novo nome ou n�o. O problema, afirmou Moro, � n�o haver "motivos consistentes" para realizar a troca neste momento. Moro disse n�o poder permitir "que seja feita a intefer�ncia".
Por fim, Moro disse que o governo n�o foi honesto quando publicou a exonera��o de Valeixo como sendo a pedido. De acordo com o ministro, o ex-diretor da PF lhe contou que foi pressionado a aceitar que a exonera��o ocorresse dessa forma, mas n�o tinha o desejo de deixar o cargo, "�pice da carreira de um policial federal".
A decis�o de sair
Moro pontuou que, desde o segundo semestre do ano passado, vem sofrendo press�es do presidente para realizar substitui��es na PF, ainda que tenha assumido a pasta do governo federal com a promessa de carta branca, acordo que ele via sendo desrespeitado neste momento.
A primeira delas foi do ent�o superintendente da PF no Rio de Janeiro Ricardo Saadi, trocado em agosto do ano passado. Segundo Moro, n�o havia motivo para a sa�da, mas, por fim, acabou sendo acordada com o diretor-geral, uma vez que o superintendente teria manifestado vontade de sair.
Apesar das insist�ncias de trocar a dire��o da PF, Moro conta que buscou postergar essa decis�o de sair, por vezes at� sinalizando que poderia concordar no futuro com alguma troca. "Mas cada vez mais me veio a sinaliza��o de que seria um grande equ�voco realizar essa substitui��o."
Moro pontuou n�o ver problema na troca da PF, mas que � preciso uma causa, e que o que ele sempre viu por parte de Valeixo foi uma boa atua��o. De acordo com ele, a insist�ncia do presidente em fazer a substitui��o n�o seria t�cnica. "Estaria claro que havia uma interfer�ncia pol�tica na PF, o que gera um abalo da credibilidade do governo", disse. "Sinto que tenho dever de tentar proteger a institui��o."
Repercuss�o
As acusa��es feitas por Moro repercutiram imediatamente. Poucos minutos depois, dois ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), Roberto Barroso e Marco Aur�lio Mello, comentaram o epis�dio. O �ltimo chegou a falar na possibilidade de o presidente ter cometido crime comum e n�o descartou a abertura de um processo de impeachment.
Entidades como a OAB disseram que v�o investigar poss�veis crimes de Bolsonaro, e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu que o atual presidente "renuncie antes de ser renunciado". Houve tamb�m panela�os por todo o Brasil e parlamentares falando em fim do governo Bolsonaro. Na economia, ocorreu disparada do d�lar.