Sob press�o de aliados e ap�s sofrer sucessivas derrotas pol�ticas, o presidente Jair Bolsonaro come�ou nesta quarta-feira (6) a distribuir cargos aos partidos do Centr�o, em troca de votos no Congresso, ressuscitando a velha pr�tica do "toma l�, d� c�", destaca o jornal O Estado de S. Paulo. No casamento de papel passado, a primeira legenda a ser contemplada foi o Progressistas do deputado Arthur Lira (AL), que conseguiu emplacar um indicado para o comando do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), autarquia com or�amento de R$ 1 bilh�o neste ano.
A nomea��o saiu no Di�rio Oficial da Uni�o um dia depois de o Centr�o ter apoiado o governo em vota��es importantes. O bloco ficou alinhado ao Pal�cio do Planalto, anteontem, durante vota��o na C�mara da proposta que prev� o socorro a Estados e munic�pios. Ao contr�rio de outras ocasi�es, quando impunham reveses a Bolsonaro, l�deres do bloco foram ao microfone para orientar votos conforme os interesses do Executivo.
O nomeado para o Dnocs � Fernando Marcondes de Ara�jo Le�o. A autarquia sempre foi controlada pelo MDB, mas o presidente permitiu que a indica��o fosse feita por Lira, l�der do Progressistas (antigo PP) e r�u em processo por corrup��o passiva.
Lira, por sua vez, repassou o apadrinhamento para o deputado Sebasti�o Oliveira (PL-PE), representante do baix�ssimo clero da C�mara, transformando a indica��o numa "barriga de aluguel". Ao terceirizar a escolha, ele desagradou a parlamentares do Progressistas, mas a estrat�gia faz parte dos planos para a constru��o de uma base de apoio na disputa pela presid�ncia da C�mara, em fevereiro de 2021. O Estad�o apurou que Lira tamb�m quer reunir partidos menores, como PSC, Patriotas e Avante, para fortalecer sua poss�vel candidatura e espera o apoio de Bolsonaro.
Questionado sobre o movimento do deputado na indica��o para o Dnocs, o presidente da C�mara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), desconversou e disse ter �timo di�logo com os colegas. "Se um partido quer participar do governo, o que isso tem a ver com minha rela��o aqui na C�mara?", perguntou Maia, ao negar que as articula��es sejam para esvaziar seu poder. "A pauta � sempre do presidente da C�mara", argumentou.
Procurados pelo Estado, alguns dos principais l�deres do Centr�o n�o quiseram falar abertamente sobre a nova alian�a com o Planalto. "Ningu�m pergunta se o que est� sendo votado � bom ou n�o", afirmou Jhonatan de Jesus (Republicanos-RR).
O l�der do Solidariedade na C�mara, Z� Silva (MG), admitiu que o partido deve apoiar mais propostas do governo, mas disse n�o ter aceitado cargos em troca. "O Solidariedade fez a op��o de apoiar os projetos que forem importantes, mas n�o est� indicando para estruturas do governo", destacou. Diego Andrade (MG), do PSD, garantiu, por sua vez, que a sigla � "independente" e preocupada com a agenda econ�mica.
Regulariza��o
Depois de carimbar o Centr�o como "velha pol�tica", Bolsonaro tamb�m j� conta com o bloco para evitar a perda dos efeitos da medida provis�ria de regulariza��o fundi�ria, conhecida como "MP da grilagem", que perde a validade no pr�ximo dia 19. At� ent�o, Maia s� pretendia pautar a MP caso houvesse consenso entre Minist�rio da Agricultura e as bancadas do agroneg�cio e do meio ambiente, o que ainda n�o ocorreu.
Em uma �poca de pandemia de covid-19, o tema � caro ao governo, que considera que a MP necess�ria para promover a "dignidade de produtores rurais" e "o desenvolvimento do nosso Brasil". Os que se op�em � medida veem riscos de regulariza��o de territ�rios invadidos por grileiros e desmatadores ilegais.
Nos bastidores, integrantes do Centr�o argumentam que a nomea��o de Ara�jo Le�o para comandar o Dnocs marcou uma alian�a entre o Planalto e o bloco de partidos de centro e centro direita. Com isso, o governo p�s o grupo no controle de uma autarquia que ter� neste ano R$ 265 milh�es apenas para investimentos. � dinheiro que pode ser usado, por exemplo, para compra de equipamentos e obras em localidades remotas com grande potencial de atra��o de votos.
O or�amento total do Dnocs para 2020, de R$ 1 bilh�o, n�o chega a ser o maior entre autarquias e demais �rg�os desejados pelo Centr�o - a t�tulo comparativo, o or�amento do Dnit � de R$ 8,4 bilh�es.
O deputado Sebasti�o Oliveira, padrinho do novo diretor do Dnocs, foi o secret�rio estadual de Transportes de Pernambuco entre 2015 e 2018, oportunidade na qual nomeou Fernando Le�o para uma secretaria executiva da pasta. O grupo j� controla o Dnocs em Pernambuco. Todos os citados foram procurados pela reportagem para comentar os crit�rios da indica��o, mas n�o atenderam �s chamadas. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
POL�TICA