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Estado de Minas

Desafio de Regina Duarte � conseguir verba para Cinemateca, que pode fechar

Maior institui��o do g�nero da Am�rica Latina n�o recebeu um centavo dos R$ 12 milh�es previstos para 2020. Especialistas falam sobre desmonte


postado em 20/05/2020 15:34 / atualizado em 20/05/2020 16:03

Fachada da Cinemateca Brasileira(foto: Alexandre Possi/Wikipedia)
Fachada da Cinemateca Brasileira (foto: Alexandre Possi/Wikipedia)
“Presumo que n�o vai se nomear algu�m que vai encerrar a Cinemateca. Se a situa��o continuar como est�, a Regina Duarte vai passar a chave na fechadura e ir para casa. Suspeito, por mais alucinante que seja a situa��o do Brasil e dos seus governantes, j� ser um pouco demais nomear algu�m para fechar. Presumo, ent�o, que a presen�a dela indique que vir� dinheiro”, afirma o cineasta Ugo Giorgetti sobre o an�ncio da ida da atriz, agora ex-secret�ria especial da Cultura, para administrar a institui��o, que tem seus prim�rdios na S�o Paulo de 1940.
 
Giorgetti, ex-membro do Conselho da Cinemateca, est� entre os signat�rios de uma carta p�blica, na verdade um pedido de socorro, divulga��o na sexta-feira (15). Considerada a maior da Am�rica do Sul, com 250 mil rolos de filmes e cerca de 1 milh�o de documentos (cartazes, livros, fotografias), a Cinemateca Brasileira apresenta uma situa��o grav�ssima. 
 
At� a presente data a institui��o, gerida desde 2018 pela Associa��o de Comunica��o Educativa Roquette Pinto n�o recebeu um centavo dos R$ 12 milh�es de seu or�amento anual. A Acerp perdeu recentemente um contrato com o Minist�rio da Educa��o.
 
“Se o or�amento da Cinemateca n�o for imediatamente repassado � Acerp, assegurando a manuten��o do quadro m�nimo de contratados e as condi��es f�sicas de conserva��o, n�o haver� necessidade de uma perspectiva de f�lego, pois j� teremos alcan�ado a solu��o final”, afirma a carta, tamb�m assinada por nomes como Lygia Fagundes Telles e Ismail Xavier, ex-presidentes do Conselho da Cinemateca, Carlos Augusto Calil, ex-diretor da institui��o e o diretor de fotografia e cineasta Lauro Escorel.
 
“Este texto foi escrito com a finalidade de mostrar que a Cinemateca precisa de dinheiro, n�o h� nenhuma reivindica��o maior. Se n�o h� dinheiro para pagar os funcion�rios, para manter o ar condicionado, para conservar os negativos, dentro de 15 dias ela encerra as atividades”, acrescenta Giorgetti lembrando-se que a institui��o n�o � “de S�o Paulo, ela � em S�o Paulo. A Cinemateca � brasileira, ent�o � uma coisa que tem a ver com todo o mundo.”
 
Cineasta Ugo Giorgetti(foto: SPCine/Divulgação )
Cineasta Ugo Giorgetti (foto: SPCine/Divulga��o )
As origens da institui��o remontam a 1940, quando foi fundado o Primeiro Clube de Cinema de S�o Paulo por Paulo Em�lio Sales Gomes, D�cio de Almeida Prado, entre outros. Fechado pela repress�o da ditadura do Estado Novo (1937-1945) no ano seguinte, em 1946 foi aberto o Segundo Clube de Cinema de S�o Paulo. Em 1949, atrav�s de um acordo entre o clube e o rec�m-criado Museu de Arte Moderna de S�o Paulo, foi fundada a Filmoteca do MAM-SP. Paulo Em�lio passa a dirigir a filmoteca, que em 1956 torna-se a Cinemateca Brasil, uma sociedade civil sem fins lucrativos que em 1961 torna-se uma funda��o.
 
A sede pr�pria s� foi inaugurada em 1988, em um antigo matadouro na Vila Clementino, na Zona Sul da capital paulista, pr�xima ao Parque da Ibirapuera. Na �poca integrante do corpo do Instituto do Patrim�nio Hist�rico de Art�stico Nacional (IPHAN), a partir de 2003 a Cinemateca � integrada � Secretaria do Audiovisual do (extinto) Minist�rio da Cultura. J� em 2018 a institui��o passa a ser gerida pela Acerp, em um contrato de gest�o com validade de tr�s anos.
 
Al�m das mudan�as administrativas, o espa�o sofreu, ao longo de sua hist�ria, com quatro inc�ndios. No mais recente, ocorrido em 3 de fevereiro de 2016, perderam-se 1.003 rolos de filmes, referentes a 731 t�tulos. Naquele mesmo ano a institui��o sofreu outro rev�s. Primeiro Ministro da Cultura do governo Temer (2016-2018), Marcelo Calero exonerou, em julho, a c�pula da Cinemateca – na �poca, 81 demiss�es na Cultura ocorreram por causa de uma reestrutura��o da pasta. Al�m disto, em fevereiro desde ano parte das instala��es da Cinemateca foi atingida por uma enchente. 
 
Para aqueles que j� trabalharam na Cinemateca ou utilizaram seu acervo, o que est� ocorrendo agora � resultado de um desmonte. “Desde o governo Temer ela vem sendo dilapidada. E em termos operacionais, foi muito desmobilizada”, acrescenta Giorgetti. Funcion�ria da institui��o durante 36 anos at� se aposentar, em 2015, a conservadora Fernanda Coelho comenta que a circunst�ncia que a institui��o se encontra agora “n�o nasceu da noite para o dia”.
 
“Administrativamente, ela foi ficando mais fr�gil. Quando estava dentro do IPHAN era como o corpo de um museu, encarada como mem�ria. Quando foi para a Secretaria do Audiovisual, se juntou � �rea de produ��o, mas ainda tinha uma l�gica, porque o resgate da mem�ria faz parte do ciclo de produ��o do cinema. Quando ficou � merc� da administra��o direta, o impacto � maior. Depois acabou o MinC, que virou secretaria e hoje a Cinemateca � ligada a outro minist�rio. Isto tudo significa perda de autonomia de a��o, h� muitas dificuldades administrativas”, diz Fernanda.
 
Na opini�o da conservadora, um trabalho de mem�ria prev� continuidade, “j� que um acervo tem que durar 100 anos ou mais”. A funcion�ria aposentada v� com muito ceticismo a chegada de Regina Duarte. “E chega essa senhora para dirigir um espa�o que est� arriscado a n�o pagar conta de luz. Sem luz, a climatiza��o ser� desligada e � imposs�vel preservar o acervo sem climatiza��o. Pois uma senhora que diz que o passado tem que ficar pra tr�s que compreens�o tem de arquivo, de mem�ria? Para mim, tudo est� indicando para uma grande trag�dia.”
 
Ainda que tenha uma carreira longeva e de sucesso como atriz, Regina Duarte � mais ativa no teatro e na televis�o. No cinema, ela estreou em 1968, com Lance maior, do cineasta Sylvio Back. Em 50 anos, fez filmes experimentais, como O homem do Pau-Brasil (1982), de Joaquim Pedro de Andrade at� com�dia dos Trapalh�es, como O cangaceiro trapalh�o (1983). Seu longa mais recente � As herdeiras (2018), de Marcelo Martinessi.
Regina Duarte quando rodou filme com Trapalhões(foto: Reprodução de internet)
Regina Duarte quando rodou filme com Trapalh�es (foto: Reprodu��o de internet)
 
A Cinemateca � respons�vel pela preserva��o e difus�o da produ��o audiovisual brasileira, de 1897 at� os dias atuais. Seu acervo, segundos dados dispon�veis no site da institui��o, re�ne informa��es de 42 mil t�tulos (longas-metragens, m�dias curtas, cinejornais, filmes publicit�rios, institucionais ou dom�sticos e s�ries). 
 
Por�m, o desmantelamento da institui��o tem dificultado o acesso a seu acervo. A produtora cultural mineira Daniela Fernandes, � frente do Curta Circuito – projeto criado em Belo Horizonte em 2001 e que desde 2015 trabalha exclusivamente com filmografias antigas, em exibi��es no Cine Humberto Mauro, no Pal�cio das Artes, e no interior do Estado – afirma que h� tr�s anos n�o trabalha mais com a Cinemateca Brasileira.
 
“O �ltimo filme que me foi cedido (para exibi��o p�blica) foi em 2017. Depois as portas fecharam-se completamente. A equipe foi reduzindo at� chegar ao ponto de n�o ter ningu�m para revisar a sa�da de um filme, analisar o estado de conserva��o em que a c�pia se encontrava. Isto acabou inviabilizando qualquer tipo de negocia��o”, comenta ela. 
 
O processo vem de muitos anos, Daniela concorda. Em 2014, a produtora recorda, ela havia conseguido verba para restaurar o filme Rebeli�o em Vila Rica (1957), dos irm�os Geraldo e Renato Santos Pereira. O processo seria realizado pelo Labo Cine, ent�o o maior laborat�rio de processamento de filmes do pa�s, fechado em 2015. “Na Cinemateca, n�o permitiram que eu tirasse a c�pia. Tive que devolver o dinheiro.”  


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