(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas Impot�ncia e insatisfa��o

Coronav�rus, desemprego e crise pol�tica: o gatilho para mais protestos

Novo coronav�rus, desemprego crescente, falta de renda e insatisfa��o da sociedade com os agentes pol�ticos no enfrentamento da crise podem criar o clima perfeito para levar o pa�s a levantes populares


01/06/2020 04:00 - atualizado 31/05/2020 23:05

Manifestantes de torcidas organizadas e apoiadores de Bolsonaro se enfrentaram ontem na Avenida Paulista. Atos foram reprimidos por policiais militares(foto: Nelson ALMEIDA/AFP)
Manifestantes de torcidas organizadas e apoiadores de Bolsonaro se enfrentaram ontem na Avenida Paulista. Atos foram reprimidos por policiais militares (foto: Nelson ALMEIDA/AFP)
 
Em poucos momentos da hist�ria recente do Brasil houve uma onda t�o grande de ang�stias e apreens�es como a que est� em andamento agora. Devido � pandemia do novo coronav�rus, muitos brasileiros lidam com o luto pela perda de entes queridos, enquanto outra parcela significativa da popula��o sofre com a falta de renda ou de condi��es m�nimas para subsist�ncia. Paralelo aos dramas pessoais, � cada vez maior o descontentamento da sociedade com os agentes pol�ticos pelas estrat�gias adotadas por eles para enfrentar a crise sanit�ria. Juntos, esses dois ingredientes – sensa��o de impot�ncia e insatisfa��o generalizada – podem criar o clima perfeito para que, nos pr�ximos anos, o pa�s presencie uma leva de pulsantes manifesta��es populares.
Independentemente do retrato final que o novo coronav�rus deixar no Brasil, seja pelo expressivo n�mero de mortes ou pelo forte impacto na economia – ou por uma devastadora crise socioecon�mica causada pela jun��o dos dois fatores –, � prov�vel que, ap�s o surto da COVID-19, a popula��o ainda carregue efeitos colaterais por conta da pandemia, e ser� essa como��o coletiva o principal motor para que os brasileiros saiam �s ruas para reivindicar algum direito ou promover protestos pol�ticos.

“As manifesta��es ocorrem a partir das ang�stias vividas por cada um. Hoje, h� muita ansiedade entre a popula��o de qual ser� o desfecho da pandemia. De um lado, temos o p�blico com medo das consequ�ncias em rela��o � sa�de p�blica, por conta das mortes, e do outro temos aqueles que temem uma crise econ�mica, por n�o terem emprego. Para qualquer um dos lados, essa crise deixar� reflexos ps�quicos, que far�o com que as pessoas se sintam pressionadas a sair para as ruas e protestar”, analisa o m�dico psiquiatra e professor colaborador da Faculdade de Medicina da Universidade de Bras�lia (UnB) Luan Diego Marques.

Marques lembra que, desde antes da crise da COVID-19, o Brasil j� passava por situa��es socioecon�micas muito complexas. Segundo ele, a pandemia apenas deixou mais evidente a fragilidade do suporte que � oferecido � popula��o pelo Estado. “A crise externalizou pontos muito cr�ticos da falta de gest�o p�blica do pa�s. E como o brasileiro j� carregava uma insatisfa��o antiga, a situa��o pand�mica s� potencializou isso e ser� mais um combust�vel para alimentar revoltas pol�ticas”, pontua.

Algumas dessas emo��es j� est�o reverberando. Recentemente, houve uma s�rie de atos em Bras�lia a favor do presidente Jair Bolsonaro e cr�ticos � atua��o do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF). Por outro lado, profissionais da sa�de promoveram manifesta��es para lamentar o n�mero de v�timas pelo novo coronav�rus e reclamar da atua��o do chefe do Pal�cio do Planalto diante da pandemia. N�o � toa, desde o primeiro registro da COVID-19 em territ�rio nacional, no fim de fevereiro, o Brasil � um dos pa�ses do mundo que mais registraram protestos e motins, de acordo com o Projeto de Localiza��o de Conflitos Armados e Dados de Eventos (Acled, na sigla em ingl�s), organiza��o n�o governamental especializada em coleta de dados desagregados, an�lise e mapeamento de crises.

A ONG formulou um rastreador de desordens para analisar o impacto da pandemia nas viol�ncias pol�ticas e protestos em todo o mundo. Segundo a institui��o, “estrat�gias de governan�a opostas em resposta � pandemia levaram ao aumento das tens�es e da viol�ncia no Brasil”. “As autoridades de sa�de pediram isolamento social, e a maioria dos governadores estaduais respondeu com medidas para ficar em casa. No entanto, as tens�es aumentaram � medida que o presidente Bolsonaro procura acabar com as medidas de isolamento social, criticando as medidas adotadas pelos governadores”, destaca a Acled.

Al�m disso, a organiza��o alerta para uma tend�ncia de mais manifesta��es visto que um pedido de cessar-fogo mundial para combater a COVID-19 feito em mar�o pelo secret�rio-geral da Organiza��o das Na��es Unidas (ONU), Ant�nio Guterres, n�o foi cumprido pelo Brasil. “Em geral, a chamada para um cessar-fogo global n�o teve o resultado desejado. Em pa�ses como M�xico, Iraque, Mo�ambique e Brasil n�o apenas os atores do conflito falharam em tomar as medidas necess�rias para atender � chamada, como muitos aumentaram as taxas de viol�ncia organizada.”

FRUSTRA��O

Outro combust�vel para as manifesta��es pode ser a decep��o do povo com os representantes pol�ticos eleitos em 2018 para administrar o pa�s, sobretudo o presidente Bolsonaro. Como h� uma tend�ncia de se tratar o mandat�rio de um pa�s como her�i nacional, o brasileiro ansiava por mudan�as ao escolher o capit�o reformado do Ex�rcito como chefe do Pal�cio do Planalto. No entanto, como algumas expectativas n�o foram atendidas, parte do seu eleitorado perdeu a esperan�a.

“O presidente tem recebido duras cr�ticas acerca da condu��o do pa�s durante a crise. Entre elas, destacam-se justamente a falta de habilidade pol�tica, a cria��o de dissenso sobre quest�es sens�veis � sa�de e a inabilidade em se comunicar com a popula��o. Soma-se a isso a forma dr�stica de sa�da dos ministros Luiz Henrique Mandetta, Sergio Moro e Nelson Teich do governo e os fatos envolvidos” diz o advogado e especialista em direito p�blico Rodrigo Veiga.

Ele tamb�m destaca que “o povo, ao entregar seu voto ao governante, espera que ele acerte e conduza o pa�s da melhor forma, n�o importando a situa��o” e que “se pol�ticas p�blicas efetivas n�o forem adotadas, a chance de insatisfa��o popular certamente ser� aumentada e manifesta��es contr�rias ao governo poder�o ganhar amplitude”.
 
Dessa forma, fatalmente a conta do Brasil p�s-pandemia cair� no colo de Bolsonaro, e a popula��o poder� sair �s ruas mesmo que a COVID-19 n�o seja completamente erradicada do pa�s. “T�o certo quanto os reflexos da pandemia � a insatisfa��o de um povo que se sente desamparado. Os cidad�os t�m compreens�o quanto � necessidade de suportar certo grau de sofrimento. Aceitam determinadas perdas como resultantes da pr�pria pandemia e escusam o governo por tais perdas. Contudo, a partir do momento em que a compreens�o das perdas deixar de refletir efeito direto da pandemia e passar a demonstrar inabilidade do governo em contornar a situa��o, n�o ser� o risco � sa�de que impedir� o povo de buscar ser ouvido mediante manifesta��es populares intensas”, destaca Veiga.

MAIS DIVIS�O

Al�m da possibilidade de mais manifesta��es, o Brasil pode ver uma polariza��o ainda maior entre a popula��o, o que pode ser um risco. “Al�m do v�rus, que se tornou inimigo, temos um outro inimigo que � a divis�o estrutural da popula��o, o que se torna mais grave para a constru��o de uma sociedade mais justa, solid�ria, equilibrada e estruturada. Se n�s rompermos com a democracia, que � o �pice da qualidade de vida, geramos desequil�brio para todos”, opina o fil�sofo Marcelo Veronez.

A reivindica��o de direitos vai surgir de forma muito forte. O que estamos vendo � que a pandemia est� revelando que o Brasil � um dos pa�ses mais desiguais do mundo e tem complica��es muito s�rias. Uma vez que a popula��o sentir com profundidade a car�ncia desses direitos, acredito que os protestos devem surgir em uma situa��o de p�s-pandemia, ainda que haja um desequil�brio sanit�rio”, acrescenta o doutor em direito constitucional pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Alexandre Bernardino.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)