
O presidente Jair Bolsonaro perde a hegemonia das ruas e, aos poucos, v� a forma��o de uma frente ampla em defesa da democracia com a participa��o de diversos partidos. Por enquanto, os atos pol�ticos surgem como um alerta para que ele n�o insufle e n�o ceda � ruptura institucional defendida por seus aliados mais radicais.
Pela segunda semana consecutiva, e �s v�speras de dias cruciais para o governo no Judici�rio, os bolsonaristas viram movimentos contr�rios ao governo tomarem forma, mesmo sem a participa��o de partidos de oposi��o, que, por causa da pandemia causada pelo novo coronav�rus, decidiram ficar fora das manifesta��es (leia sobre os atos na p�gina ao lado). Os partid�rios do presidente tamb�m foram �s ruas pelo oitavo domingo seguido, mesmo diante dos apelos do pr�prio Bolsonaro para que n�o fizessem qualquer ato nesse fim de semana, a fim de evitar confronto com os oposicionistas –– aos quais chamou de desocupados, maconheiros, vagabundos que “nos amea�am.”
A divis�o das ruas est� apenas come�ando e suas consequ�ncias ainda s�o imprevis�veis. As manifesta��es contr�rias ao governo nesse momento em que o n�mero de casos de covid-19 e de mortos continuam em alta s�o vistas como um “esquenta” do que vem pela frente, quando a pandemia passar. “N�o vamos �s ruas em plena pandemia. Mas, na hora que abrir, as manifesta��es ser�o maiores. Sem a pandemia, a hist�ria ser� outra”, calcula o deputado Rubens Bueno, do Paran�, um dos l�deres do Cidadania, partido que integra a forma��o de uma frente ampla em defesa da democracia.
O “esquenta” da pol�tica � refor�ado pelos movimentos antirracistas que tomam conta do mundo depois do assassinato do negro George Floyd, em Minneapolis, nos Estados Unidos. E vem na semana em que o governo passar� por testes no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e no Supremo Tribunal Federal (STF). No primeiro, come�a o julgamento da chapa Jair Bolsonaro-Hamilton Mour�o por abuso de poder na elei��o de 2018. Diante da tend�ncia da Corte de rejeitar o pedido de cassa��o da chapa, as aten��es estar�o no STF, onde os ministros devem decidir pelo prosseguimento do inqu�rito das fake news, aberto pelo pr�prio Supremo.
� esse inqu�rito, que tem deputados bolsonaristas entre os alvos, que levou o presidente da Rep�blica a escrever uma mensagem a Sergio Moro, em abril, dizendo que era “mais um motivo para a troca” do ent�o diretor-geral da Pol�cia Federal, Maur�cio Valeixo. O ent�o ministro da Justi�a, hoje, engrossa as fileiras de uma nova frente oposicionista e, no final de semana, flertou com a frente ampla em defesa da democracia.
A frente ampla, por enquanto, � embrion�ria, exercitada em lives por integrantes de partidos de esquerda, como o governador do Maranh�o, Fl�vio Dino (PCdoB), e de centro, como o presidente da C�mara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Nas ruas, surge por movimentos da sociedade civil. As legendas promovem essa frente como um contraponto ao comportamento de Bolsonaro, que flerta com movimentos autorit�rios e trata a pandemia como se n�o fosse algo grave, levando o pa�s a ser criticado at� mesmo pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
O fato de o Minist�rio da Sa�de retirar do ar a contagem geral de n�mero de casos e de mortos por covid-19, por exemplo, foi mais um ingrediente que levou � uni�o de segmentos de partidos de centro e de esquerda, a cada dia mais preocupados, tanto com os reflexos no planejamento das a��es para evitar que a trag�dia da pandemia se amplie, quanto com o destino da democracia no pa�s. At� aqui, o que une todos os partidos � a defesa da democracia, que, na vis�o do cientista pol�tico Amorim Neto, da Funda��o Getulio Vargas (FGV), est� numa “sinuca de bico” no Brasil.
No momento, segundo ele, n�o d� para descartar nenhuma possibilidade –– nem de impeachment, nem de uma escalada autorit�ria. “O momento atual do Brasil � tenebroso, e o destino do pa�s est� totalmente em aberto. � fundamental uma amplia��o do consenso pol�tico a favor da Constitui��o. Os arroubos s� podem ser minimizados com atua��o ampla pol�tica, que ainda n�o existe”, observa.
Piorar para melhorar
Pela segunda semana consecutiva, e �s v�speras de dias cruciais para o governo no Judici�rio, os bolsonaristas viram movimentos contr�rios ao governo tomarem forma, mesmo sem a participa��o de partidos de oposi��o, que, por causa da pandemia causada pelo novo coronav�rus, decidiram ficar fora das manifesta��es (leia sobre os atos na p�gina ao lado). Os partid�rios do presidente tamb�m foram �s ruas pelo oitavo domingo seguido, mesmo diante dos apelos do pr�prio Bolsonaro para que n�o fizessem qualquer ato nesse fim de semana, a fim de evitar confronto com os oposicionistas –– aos quais chamou de desocupados, maconheiros, vagabundos que “nos amea�am.”
A divis�o das ruas est� apenas come�ando e suas consequ�ncias ainda s�o imprevis�veis. As manifesta��es contr�rias ao governo nesse momento em que o n�mero de casos de covid-19 e de mortos continuam em alta s�o vistas como um “esquenta” do que vem pela frente, quando a pandemia passar. “N�o vamos �s ruas em plena pandemia. Mas, na hora que abrir, as manifesta��es ser�o maiores. Sem a pandemia, a hist�ria ser� outra”, calcula o deputado Rubens Bueno, do Paran�, um dos l�deres do Cidadania, partido que integra a forma��o de uma frente ampla em defesa da democracia.
O “esquenta” da pol�tica � refor�ado pelos movimentos antirracistas que tomam conta do mundo depois do assassinato do negro George Floyd, em Minneapolis, nos Estados Unidos. E vem na semana em que o governo passar� por testes no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e no Supremo Tribunal Federal (STF). No primeiro, come�a o julgamento da chapa Jair Bolsonaro-Hamilton Mour�o por abuso de poder na elei��o de 2018. Diante da tend�ncia da Corte de rejeitar o pedido de cassa��o da chapa, as aten��es estar�o no STF, onde os ministros devem decidir pelo prosseguimento do inqu�rito das fake news, aberto pelo pr�prio Supremo.
� esse inqu�rito, que tem deputados bolsonaristas entre os alvos, que levou o presidente da Rep�blica a escrever uma mensagem a Sergio Moro, em abril, dizendo que era “mais um motivo para a troca” do ent�o diretor-geral da Pol�cia Federal, Maur�cio Valeixo. O ent�o ministro da Justi�a, hoje, engrossa as fileiras de uma nova frente oposicionista e, no final de semana, flertou com a frente ampla em defesa da democracia.
A frente ampla, por enquanto, � embrion�ria, exercitada em lives por integrantes de partidos de esquerda, como o governador do Maranh�o, Fl�vio Dino (PCdoB), e de centro, como o presidente da C�mara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Nas ruas, surge por movimentos da sociedade civil. As legendas promovem essa frente como um contraponto ao comportamento de Bolsonaro, que flerta com movimentos autorit�rios e trata a pandemia como se n�o fosse algo grave, levando o pa�s a ser criticado at� mesmo pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
O fato de o Minist�rio da Sa�de retirar do ar a contagem geral de n�mero de casos e de mortos por covid-19, por exemplo, foi mais um ingrediente que levou � uni�o de segmentos de partidos de centro e de esquerda, a cada dia mais preocupados, tanto com os reflexos no planejamento das a��es para evitar que a trag�dia da pandemia se amplie, quanto com o destino da democracia no pa�s. At� aqui, o que une todos os partidos � a defesa da democracia, que, na vis�o do cientista pol�tico Amorim Neto, da Funda��o Getulio Vargas (FGV), est� numa “sinuca de bico” no Brasil.
No momento, segundo ele, n�o d� para descartar nenhuma possibilidade –– nem de impeachment, nem de uma escalada autorit�ria. “O momento atual do Brasil � tenebroso, e o destino do pa�s est� totalmente em aberto. � fundamental uma amplia��o do consenso pol�tico a favor da Constitui��o. Os arroubos s� podem ser minimizados com atua��o ampla pol�tica, que ainda n�o existe”, observa.
Piorar para melhorar
Ele acredita que a situa��o precisar� “piorar ainda mais antes de melhorar”. Para ter o efeito esperado, de barrar impulsos autorit�rios do presidente, o movimento de rea��o da sociedade precisa de lideran�as claras e agenda minimamente consensual. “Tipo Diretas J�. Todo mundo, menos extrema direita”, disse. Caso as pautas fiquem difusas e as lideran�as sejam incertas, o movimento pode n�o perdurar. “Pode desaparecer t�o r�pido quanto surgiu”, alerta.
Um dos desafios para o �xito da frente democr�tica � o car�ter “pat�tico e tr�gico” da pol�tica brasileira, aponta o especialista da FGV. “S�o 25 partidos de esquerda. Como colocar isso em uma frente ampla?”, questiona. Ele considera que “a pol�tica brasileira est� em estado de dissolu��o”, o que desvirtua todo o processo de resist�ncia ao autoritarismo, que deveria ser encabe�ada por partidos e pelo Congresso. “Eles t�m sido desmoralizados nos �ltimos tempos, pela Lava-Jato, que agora tamb�m est� sendo questionada. As lideran�as est�o enfraquecidas e sem norte”, explicou, de olho, tamb�m, na esquerda, hoje pulverizada e com o PT se recusando a se aliar a antigos advers�rios.
“Na defesa da democracia, a esquerda precisa se reconectar, o que exige que o PT supere as desaven�as com os demais partidos pela pris�o de Lula e pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff”, afirma Amorim Neto. Para completar, o centro tamb�m est� dividido: “Essa frente ampla n�o impressiona, porque tem figuras carimbadas e n�o tem capilaridade social, como t�m Lula e Bolsonaro”, diz o cientista pol�tico Paulo Kramer, ao avaliar que a antiga polariza��o ainda n�o foi quebrada.
Impeachment
Essa confus�o da pol�tica joga, hoje, a favor do presidente. At� aqui, o afastamento dele n�o une os partidos. O pr�prio presidente da C�mara, Rodrigo Maia, mencionou no fim de semana que n�o defende esse caminho, mas avisou que chegar� o momento em que ter� que avaliar os 20 pedidos j� apresentados ao Parlamento contra o presidente da Rep�blica. No Brasil, os dois impedimentos –– o de Fernando Collor, em 1992, e o de Dilma Rousseff, em 2016 –– tiveram um padr�o: os vices, Itamar Franco e Michel Temer, trabalharam a favor da queda dos titulares, diante da iminente instala��o do processo e depois que a popula��o tomou as ruas.“Nenhum movimento de impeachment pode ser feito sem amplo consenso da sociedade”, lembra Amorim Neto.
O professor de ci�ncia pol�tica da UniRio Guilherme Sim�es Reis n�o v� a nova leva de insatisfa��o popular como garantia de que Maia v� tirar os pedidos de impeachment da gaveta. “A posi��o do Congresso ainda � ambivalente. Parte significativa dos parlamentares preocupa-se com os arroubos autorit�rios e a forma com que Bolsonaro trata a pandemia. Mas eles tamb�m devem avaliar como seria um governo Mour�o e a real influ�ncia de Bolsonaro nas For�as Armadas”, pondera.
Bolsonaro sabe que a situa��o est� se complicando e que, enquanto os processos na Justi�a n�o tiverem um desfecho, nada se mover� de forma mais contundente contra ele na pol�tica. Por isso, o presidente busca o Centr�o. Por�m, se as manifesta��es contr�rias ao governo forem recorrentes, e resultarem em queda ainda maior da popularidade do presidente, o apoio do grupo no qual Bolsonaro se escora atualmente vai por �gua abaixo. “O c�lculo de apoio desses partidos � muito sofisticado. Leva em conta popularidade e chance de continuar no poder. S�o duas informa��es vitais que est�o em fluxo no momento. N�o se sabe como estar�o at� o fim do m�s”, aponta Amorim Neto.
At� aqui, � poss�vel aferir que o desgaste presidencial continua em linha crescente, tal e qual o n�mero de casos registrados do novo coronav�rus. “A insatisfa��o, hoje, � bem mais ampla do que era no momento da elei��o. H� uma queda livre da popularidade”, avalia o professor. O motivo, segundo ele, � “a profunda irresponsabilidade no trato com a pandemia”, que leva setores que antes apoiavam, ou se posicionavam de forma mais amb�gua, a se colocarem de maneira mais contundente contra o governo.
O ex-ministro da Sa�de Luiz Henrique Mandetta, demitido por discordar da forma como Bolsonaro age em rela��o � pandemia, � um exemplo cl�ssico. Se o presidente n�o rever sua posi��o em rela��o � crise sanit�ria, e continuar colocando a culpa de tudo nos governadores, como tem feito, ficar� dif�cil segurar todos os apoiadores que o sustentam. O destino, hoje, avaliam muitos, ainda est� nas m�os dele.