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Estado de Minas POL�TICA

Queiroz lamentou morte de miliciano e citava falta de dinheiro, diz comerciante


postado em 03/07/2020 12:47

Durante mais de um ano em que viveu em Atibaia (SP), o ex-assessor parlamentar Fabr�cio Queiroz fez apenas um amigo. Eleitor declarado do presidente Jair Bolsonaro, s�cio do Clube de Tiro de Atibaia, formado em publicidade e engenharia mec�nica, Daniel Carvalho, 35 anos, mora em Campinas e � dono da loja de conveni�ncia em um posto de combust�veis pr�ximo � casa do advogado Frederick Wassef, onde Queiroz foi preso.

A loja tem um deck de madeira que funciona como bar e restaurante e era o ponto preferido do ex-assessor na cidade. O Jornal Nacional, da TV Globo, revelou na quinta-feira, 2, um v�deo no qual Daniel, Queiroz e M�rcia de Aguiar, mulher do ex-assessor, tomam cerveja juntos. O v�deo parece ter sido gravado no final do ano passado porque, nele, Queiroz deseja "um feliz 2020".

Segundo Carvalho, Queiroz estava muito deprimido nos �ltimos meses, reclamava da falta de dinheiro e dizia estar ansioso para depor o quanto antes ao Minist�rio P�blico e tentar retomar sua vida.

No primeiro momento, antes de selarem a amizade, Queiroz se apresentou com nome falso, Felipe, que � como se chama um de seus filhos.

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Daniel disse que Queiroz demonstrou tristeza quando o amigo e tamb�m ex-policial Adriano N�brega, acusado de integrar uma mil�cia no Rio, foi morto na Bahia. "Mataram um cara muito bom que n�o merecia ser morto", disse Queiroz.

De acordo com o amigo, o ex-assessor demonstrava inc�modo ao falar de Bolsonaro e seus filhos mas sempre defendeu o presidente e o hoje senador Fl�vio Bolsonaro (Republicanos-RJ) das acusa��es de pr�tica de "rachadinha".

A seguir os principais trechos da entrevista:

Como voc� conheceu Fabr�cio Queiroz?

Na loja de conveni�ncia. No come�o sempre iam os tr�s, a Ana Fl�via (Rigamonti, advogada que trabalhava para Frederick Wassef), a M�rcia (mulher de Queiroz) e ele. A M�rcia e a Ana bebiam. Ele tomava suco e refrigerante. Como sempre falavam do cara na televis�o eu sabia que era ele. Como acontece com ele e com muitos clientes a gente guarda para a gente, n�o fica espalhando nada. At� porque nunca teve pedido de pris�o contra ele, nada. Como ele ia bastante, duas tr�s vezes por semana, a gente fez amizade.

Quando foi isso?

Cerca de um ano atr�s. Acho que julho do ano passado.

A� voc�s se aproximaram e ficaram amigos?

A loja � pequena, a gente conhece a maioria do pessoal pelo nome. Como eu ficava muito l� naquela �poca eu j� sabia por exemplo que a M�rcia gostava de Heineken e servia a cerveja que ela gostava. Eles tamb�m pediam marmita. Eu ia entregar e conversava um pouco. Assim foi aumentando a amizade. Quando eles n�o pediam a gente sabia que eles estavam viajando.

Eram per�odos longos que ele viajava?

Duas, tr�s semanas. Ele ia e voltava. �s vezes ele ficava mais tempo, um m�s ou dois. Mas nunca teve uma data certa.

Antes de voc�s ficarem amigos ele se apresentava como Fabr�cio?

N�o, Felipe. Nome do filho dele. A primeira vez que ele se apresentou foi como Felipe.

Foi voc� que teve a iniciativa de dizer que sabia quem ele era?

N�o. Nossa amizade ficou t�o grande que, l� por setembro do ano passado, bebi umas duas ou tr�s cervejas, estava muito � vontade, ele n�o estava l�, estavam s� a Ana Fl�via e a M�rcia e eu contei. A M�rcia perguntou se eu sabia quem eles eram e eu disse que sabia. Foi espantoso mas eles receberam com al�vio, porque sabiam que ali tinham um al�vio. Foi espantoso, mas foi bom. A M�rcia falou pro Fabr�cio e quando ele me encontrou j� sabia que eu sabia. No com�rcio a gente tem essas coisas. L� na loja vai cliente com a amante, deixa a amante e volta com a mulher. � uma regra de restaurantes e bares. Tem aquela frase famosa, o que acontece em (Las) Vegas fica em Vegas. Como n�o tinha pedido de pris�o nem nada eu fiquei na minha. S� eu sabia. Inclusive, era por isso que eu fazia as entregas. Para ningu�m ver ou achar alguma coisa.

Ele n�o queria ser reconhecido?

Na verdade, ele usou esse nome (Felipe), mas nunca escondeu de ningu�m quem ele era. Ele andava pela cidade, sa�a. Pouco mas sa�a. Antes de fazer as cirurgias. Minha companhia com ele era mais por problemas de sa�de. Eu sempre levava ele para as consultas m�dicas em Bragan�a (Paulista). Ele fez muitos exames por causa do olho. Ent�o, eu n�o sa�a com ele para lazer.

Qual problema ele tinha nos olhos?

Ele tinha uma bola em um olho. N�o sei dizer o que era mas estava muito feio. Ele estava enxergando muito mal. A� ele marcou a cirurgia, foi pro Rio e quando voltou estava sem carro. N�o sei como ele veio. Mas estava sem carro e sozinho e eu, por ser essa pessoa de confian�a, ele, at� meio sem jeito, me perguntou se podia lev�-lo para fazer a cirurgia do olho. Eu levei. A cirurgia demorou demais. Lembro que, quando a gente saiu, eram umas 17h e ele me perguntou como estava o olho. Quando eu olhei era s� sangue que ca�a. Era como se o sangue estivesse saindo do olho. Foi a cena mais horr�vel que eu vi na minha vida. Fomos na farm�cia comprar os rem�dios e a mo�a quase desmaiou quando viu ele daquele jeito. Chegou a ser engra�ado. Isso foi em fevereiro ou final de janeiro.

Ele tamb�m fez uma cirurgia na pr�stata?

Fez depois do olho. Ele j� tinha marcado a cirurgia, n�o sei o que era, acho que c�ncer, e tinha que operar. A� come�ou a hist�ria do coronav�rus e eu falei pra ele n�o fazer a cirurgia mas ele quis fazer e fez. Quem estava com ele era a filha, Evelyn. Ela que o levou ao hospital. Ele ficou um temp�o com sonda.

Queiroz gostava de Atibaia?

Ele estava com muita saudade da fam�lia dele. Muito preocupado com os filhos. Um dia, ele falou pra mim, quando estava almo�ando, que tinha que encaminhar os filhos dele, garantir que eles estudassem. Ele estava com muito pouco dinheiro porque recebia s� a aposentadoria da pol�cia e tem muitos filhos, paga as contas do apartamento e estava muito apertado financeiramente. Imagine o cara com problema financeiro, tendo que encaminhar os filhos e preocupado com tudo, aquilo come�ou a explodir o corpo dele.

Ele estava tomando antidepressivo?

Ele tomava antidepressivo e um rem�dio chamado Zolpidem para dormir. Ele estava t�o preocupado com tudo que tomava o rem�dio, dormia e capotava. Realmente estava muito deprimido. Tanto � que um dia ele estava sozinho e foi pro Rio de Janeiro ver os filhos e voltou depois de dois ou tr�s dias. Ele tinha muita saudade da fam�lia, preocupa��o com o futuro e com agora. Ele est� na m�dia e n�o sabe que tipo de maldade podem fazer com os filhos. Ele n�o comia, n�o tinha fome, estava ficando cada vez mais doente.

Ele dizia que podia ser preso?

N�o. Isso ele nunca falou para mim. O que ele dizia, nesta �ltima temporada, que estava esperando uma carta do Minist�rio P�blico para ir depor. Ele falou v�rias vezes: "est� chegando a hora de ir l� depor". Dizia que s� estava esperando chamarem.

Mas ele foi intimado em 2018 e nunca compareceu

Ele queria dia e hora. Nos �ltimos cinco dias antes de ser preso falou bastante disso. Um dia antes ele veio conversar comigo, disse que estava chegando a hora de falar ao Minist�rio P�blico, mas estava com a vista muito ruim e perguntou se poderia lev�-lo ao Rio para depor. Eu disse que sim. Ele queria depor para poder retomar a vida.

Ele dizia o que poderia falar ao Minist�rio P�blico?

Ele falava que estava tranquilo, n�o cometeu crime nenhum, mas queria ir logo depor para ficar em paz e ter a vida dele de volta. Porque essa hist�ria tirou a vida do Fabr�cio. Ele n�o vivia. Era um cara do bem, sempre muito cort�s, muito legal, os funcion�rios da loja gostavam muito dele. Essa hist�ria toda acabou com a vida dele. Ele desabafava comigo algumas coisas porque confiava em mim.

Ele se queixava de ter sido demitido pelo Fl�vio?

N�o. Estes detalhes da vida pregressa ele nunca comentou. Ele falou muito pouco para mim de Fl�vio, de Jair. Sobre o gabinete ele nunca falou nada para mim. Acho que nunca se sentiu � vontade e eu tamb�m n�o perguntei. A gente era amigos dali para a frente.

Nestes poucos coment�rios o que ele disse?

Falou que conhecia os filhos do Jair desde pequeno, viu as crian�as pequenininhas, que conhece o Jair da �poca do Ex�rcito. Disse que � um homem muito bom, honesto, e que o Fl�vio tamb�m � honesto. Ele s� elogiava.

Queiroz disse para o Minist�rio P�blico que pegava o dinheiro dos colegas de gabinete para fazer neg�cios. Ele n�o ganhou dinheiro com isso?N�o tinha uma reserva?

Ele nunca comentou isso comigo. Nunca falou nada disso.

Como ele pagou as cirurgias?

Acho que foi o plano de sa�de. Por isso ele fez em Bragan�a. Porque ele me contou que pagou a cirurgia do Einstein. Como estava com muito problema financeiro, ele disse que fazia dois anos que n�o trabalhava e estava apertado, ent�o foi onde o conv�nio cobria.

Sobre o Adriano N�brega ele comentou alguma coisa?

S� uma vez ele ficou triste e disse que mataram um cara muito bom que n�o merecia ser morto e comentou o nome dele aqui no deck.

Voc�s n�o falavam sobre pol�tica? Sobre o governo Bolsonaro?

Na verdade, ele odiava falar disso porque n�o se sentia bem justamente por causa do que aconteceu com ele. �s vezes eu comentava alguma coisa mas ele n�o puxava este assunto. A gente falava muito de futebol. Acho que ele n�o tinha ainda a liberdade toda de falar para mim sobre pol�tica.

Ele falava sobre Wassef?

Eu j� conhecia o Fred. Ele era meu cliente antes disso tudo. Ele usava o lava-r�pido e tomava caf� na loja. Eu n�o sabia que ele � advogado, nunca soube disso, muito menos que era advogado do Bolsonaro. O Fabr�cio n�o falava do Fred, s� que eu sabia que a casa era dele porque tinha a placa l� na frente, e soube que a Ana Fl�via trabalhava para ele. Eu sou uma pessoa inteligente e j� entendi a situa��o sem ningu�m me falar nada. Eu pressupus que aquela casa era do Fred e a mo�a era funcion�ria.

Como voc� descobriu o elo entre os dois?

Teve um dia que a Ana Fl�via veio sozinha aqui no deck. Um domingo. E ela falou que tinha emprestado o carro para eles irem para o Rio porque deu algum problema com uma das filhas dele. Nesse dia a gente acabou conversando que o Fred tomava conta dela, que ela era funcion�ria dele. Depois disso, ela comentou que teve um problema de fam�lia, voltou para a cidade dela e nunca mais a vi. Foi a� que o Fabr�cio ficou sem carro, n�o tinha como se locomover, estava sozinho e de vez em quando me pedia um favorzinho. A� come�ou a ficar depressivo, mas saiu em janeiro, fevereiro e mar�o.

Alguma vez voc� viu Wassef e Queiroz juntos?

Nunca.

Voc� j� viu Wassef na sua loja enquanto Queiroz estava na cidade?

Sim e n�o. A maioria das vezes n�o, mas acredito que pode ter coincidido alguma vez. N�o tenho certeza, melhor dizer que n�o. O Fred n�o tinha um tempo preciso para vir aqui. E sempre vinha sozinho. O Fabr�cio pode ter mencionado o Fred, mas n�o lembro. Pode ter dito, "conhe�o", mas nunca contou nenhuma hist�ria.

Queiroz demonstrava preocupa��o com o fato de a mulher e a filha, Nathalia, terem entrado na mira do Minist�rio P�blico?

N�o. Ele dizia que o neg�cio era com ele e elas n�o tinham nada a ver.

Sobre a quest�o da "rachadinha" ele falava?

Nunca. A �nica coisa que falou � que n�o fez nada de errado.

Ele era uma pessoa desconfiada?

Ele nunca contou as hist�rias do passado. Acho que n�o tinha ainda tanta intimidade. Ele sabia em quem podia confiar. Era um homem discreto. Um homem muito bom, admir�vel, diferente do que est�o falando na TV. Est�o acabando com a vida dessa fam�lia e � por isso que estou falando com voc�.


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