
Depois de baixar o tom na rela��o com o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso, o presidente Jair Bolsonaro agora est� preocupado com os preju�zos do discurso radical do governo para pol�tica externa. No momento em que o pa�s enfrenta o maior isolamento internacional de sua hist�ria, o chefe do Executivo tem ouvido de auxiliares e parlamentares que chegou a hora de fazer mudan�as em setores de grande repercuss�o no exterior, como a diplomacia e o meio ambiente.
Os ministros da Casa Civil, Braga Netto, e da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, s�o os principais conselheiros de Bolsonaro nessa discuss�o, ap�s articularem uma tr�gua entre o Executivo e os demais Poderes. Na avalia��o desses generais, o recuo nos ataques ao STF era urgente, ante o avan�o de investiga��es inc�modas para o Planalto, como o inqu�rito que apura se o presidente tentou interferir politicamente na Pol�cia Federal.
Na mira dos dois representantes da ala militar do governo, agora, est�o os ministros Ernesto Ara�jo, das Rela��es Exteriores, e Ricardo Salles, do Meio Ambiente. Ambos tamb�m s�o os mais citados, no meio pol�tico, em conversas sobre uma poss�vel reforma ministerial.
O vi�s ideol�gico da gest�o de Ara�jo no Itamaraty, motivo de sucessivos embates com organismos globais, � visto por interlocutores do presidente como um obst�culo � recupera��o da imagem do Brasil no exterior, agora ainda mais manchada em raz�o dos n�meros tr�gicos da pandemia do novo coronav�rus. J� a pol�tica ambiental, conduzida por Salles, tem sido alvo de amea�as de retalia��es comerciais ao Brasil, em um momento de grave retra��o econ�mica.
Ara�jo, diante de rumores sobre sua sa�da do governo, vem tentando mostrar servi�o. Na ter�a-feira, ordenou que todas as divis�es do Itamaraty produzissem uma rela��o das a��es desenvolvidas pelo do minist�rio desde o in�cio do governo. De visitas oficiais ao exterior a acordos assinados.
O isolamento internacional do Brasil subiu de patamar nesta semana. Na segunda-feira, autoridades sanit�rias da China suspenderam a compra de produtos de tr�s frigor�ficos brasileiros, em raz�o da gravidade da pandemia no pa�s. Ontem, a Uni�o Europeia reabriu suas fronteiras externas e deixou entrar no bloco apenas turistas de 14 pa�ses que conseguiram barrar o avan�o da COVID-19. Brasil e Estados Unidos ficaram fora da lista. No fim de maio, o presidente americano, Donald Trump, j� havia imposto restri��es � entrada de pessoas procedentes do Brasil.
Na quarta-feira, o Minist�rio das Rela��es Exteriores divulgou nota informando que “vem acompanhando permanentemente os tr�mites internos da UE com vistas � reabertura coordenada das fronteiras”. A pasta acrescenta que “a lista ser� revista e poder� ser atualizada periodicamente, a cada duas semanas, com base na evolu��o do quadro epidemiol�gico em cada pa�s”.
Para o professor Juliano da Silva Cortinhas, do Instituto de Rela��es Internacionais da Universidade de Bras�lia (UnB), essas medidas restritivas se devem a uma pol�tica externa equivocada, ao avan�o do desmatamento no Brasil e a defici�ncias na resposta do pa�s � pandemia. “Esse isolamento imposto ao Brasil � uma consequ�ncia direta da irresponsabilidade brasileira na mitiga��o da crise do novo coronav�rus”, destacou. “N�s vamos, a partir de agora, pagar um alto pre�o, tanto em vidas quanto em medidas que nos restringir�o a capacidade de nos movimentarmos pelo sistema internacional.”
Panos quentes
Na quarta-feira, Ricardo Salles tentou minimizar uma eventual demiss�o. “Se ele quiser trocar o minist�rio, tem todo o direito de fazer isso, no Meio Ambiente ou em qualquer outro. Ent�o, acho que isso n�o tem problema nenhum, o governo � dele”, frisou, em entrevista � R�dio Jovem Pan. Ele ressaltou, ainda, que na pol�tica h� sempre gente querendo fazer intrigas. “Isso faz parte da vida p�blica, da pol�tica.”