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Estado de Minas POL�TICA

'Bolsonaro � o Jim Jones da destrui��o do meio ambiente', diz Marina Silva


20/07/2020 13:00

A ex-ministra do Meio Ambiente e ex-presidenci�vel Marina Silva (Rede) afirma que n�o adiantar� nada o vice-presidente Hamilton Mour�o apresentar belos powerpoints para convencer investidores do compromisso do Brasil com a preserva��o da Amaz�nia se Jair Bolsonaro mantiver sua agenda de "insanidades" na �rea ambiental.

Como exemplos de absurdos cometidos pelo presidente, ela citou a insist�ncia do presidente em culpar ind�genas e pequenos agricultores por queimadas na Amaz�nia e em minimizar a gravidade do desmatamento. "Bolsonaro � o Jim Jones da destrui��o ambiental", disse Marina ao Estad�o, comparando o presidente ao l�der de uma seita que levou ao suic�dio e assassinato em massa de centenas de seus membros na Guiana, no final dos anos 1970.

Leia a seguir a entrevista concedida por ela na sexta-feira (17) ao jornal.

Os mapeamentos da Amaz�nia apontam para um aumento em 2020 do desmatamento e das queimadas, sendo que no ano passado ambos j� estavam em alta. Qual � a sua avalia��o sobre a situa��o na regi�o hoje?

A situa��o � grav�ssima, porque o que aconteceu no ano passado est� se repetindo, e de uma forma bem pior. Diferentemente de outras partes do mundo, em que a floresta entra em combust�o pelas pr�prias condi��es clim�ticas, no Brasil a floresta entra em combust�o pela perda de umidade gra�as �s derrubadas criminosas. Neste ano essa realidade � pior que em 2019. Uma coisa � o que � mostrado pelo vice-presidente em powerpoints para investidores, e outra � o que ocorre na Amaz�nia. Este governo n�o tem estatura pol�tica nem compet�ncia t�cnica para resolver o que est� acontecendo na ponta, no territ�rio.

O presidente, na semana passada, voltou a negar os dados e a minimizar o desmatamento.

O presidente Jair Bolsonaro e o ministro Ricardo Salles est�o cumprindo o que anunciaram desde a campanha: o desmonte de um processo de gest�o ambiental que funcionou bem e foi sendo aprimorado ao longo de sucessivos governos, com ac�mulos importantes. Esse governo n�o tem compromisso com a gest�o ambiental e nem capacidade t�cnica. � por isso que n�o h� discurso, n�o h� powerpoint do vice-presidente que resista a insanidades como essas que Bolsonaro repete.

Ele inclusive comparou a Europa a uma seita ambiental.

O movimento mundial pelo fim dos desmatamentos e das queimadas criminosas e pelo respeito aos povos ind�genas n�o vai cessar. Essa � uma agenda que veio para ficar. Mas n�o podemos nos iludir: este governo n�o vai fazer o dever de casa. Se quisesse fazer, teria de montar um novo plano de preserva��o e controle do desmatamento, remontar o ICMBio, montar um plano de intelig�ncia com a Pol�cia Federal e articular uma coordena��o pol�tica com os governadores.

V� alguma chance de isso ser feito, no �mbito do novo Conselho Nacional da Amaz�nia?

N�o � simples. Na nossa �poca, a montagem do plano de preserva��o e controle envolveu tr�s minist�rios trabalhando juntos, inibimos 35 mil propriedades ilegais, tomamos a��es efetivas para criminalizar toda a cadeia produtiva que come�a na extra��o ilegal de madeira, �nica forma de frear a expans�o predat�ria sobre a floresta, fizemos a interdi��o de qualquer acesso a cr�dito por parte de quem desmatasse, aplicamos mais de 4 bilh�es de reais em multas, foram presas mais de 700 pessoas em opera��es conjuntas da Pol�cia Federal e do Ibama. Adotamos uma a��o firme contra a grilagem, ao n�o criar nenhuma expectativa de que �reas griladas fossem regularizadas mais � frente.

Agora a maior preocupa��o do governo em rela��o � Amaz�nia � promover a regulariza��o fundi�ria na regi�o, se preciso driblando o Congresso.

No meu entendimento, a �nica sa�da para essa situa��o dram�tica � o setor do agroneg�cio assumir uma agenda pr�pria e enfrentar o problema. Deixar a gest�o ambiental na m�o do governo Bolsonaro, �nica e exclusivamente, � algo muito temer�rio. � preciso que parta do setor uma press�o para que o Congresso retire da pauta imediatamente todos os projetos antiind�genas e antiambientais, a come�ar pelo PL da Grilagem, mas tamb�m o projeto que permite a expans�o da cana de a��car na Amaz�nia e no Pantanal e outros. O agroneg�cio brasileiro precisa entrar em um processo de certifica��o, ter um cronograma de trabalho, uma agenda transparente, que possa ser acompanhada pela comunidade cient�fica, pela sociedade civil e pelo poder p�blico.

O agroneg�cio brasileiro reconhece a agenda ambiental como sua, ou ainda predominam setores que veem o meio ambiente como entrave?

Grande parte do agroneg�cio brasileiro � moderna, e n�o pode ficar ref�m desses setores atrasados. Essa ala retr�grada n�o pode ser vista como o setor. � preciso haver um processo de afastamento dessa vis�o, que passa por uma agenda e precisa incluir tamb�m os pequenos agricultores e a agricultura familiar. N�o h� interesse nenhum para o agroneg�cio de ter sua imagem ligada a uma explora��o da floresta que, na verdade, � feita por uma ind�stria do crime ambiental. Isso come�a com grupos invadindo e grilando terras na expectativa de regulariza��o futura, associada a uma venda da madeira que d� liquidez imediata e a uma expectativa de venda futura da terra por um pre�o alto. Isso � uma cacimba de areia: quanto mais se incentiva esse processo, mais se pressiona a floresta. A agricultura de baixo carbono tem de ser o centro do Plano Safra, � preciso que se tenha um suporte t�cnico e financeiro para a bioeconomia. N�o se pode mais compactuar com um processo em que um grupo criminoso se apropria privadamente do Or�amento natural de um povo e, depois, Congresso e governo promovem um processo de lavagem e regulariza��o desse crime. Isso n�o tem diferen�a, em termos de apropria��o de patrim�nio p�blico, com o que aconteceu no petrol�o.

Mas o presidente insiste que s�o os pequenos que queimam a floresta e que o solo da Amaz�nia � t�o f�rtil que a floresta se reconstitui sozinha quando a terra deixa de ser explorada.

Isso � mais uma insanidade, uma coisa incompreens�vel. Bolsonaro � o Jim Jones da destrui��o ambiental. A Amaz�nia n�o tem um solo f�rtil a princ�pio. Por ser uma floresta densa, a fauna e a vegeta��o, gra�as � umidade, criam uma camada de nutrientes para esse solo. Mas � uma camada fina. Aquilo tudo vai embora com as chuvas torrenciais da Amaz�nia e tamb�m com as queimadas. O que vai nascer ali de novo, depois de anos, � uma floresta secund�ria, de riqueza muito inferior � floresta prim�ria. As capoeiras levam d�cadas para se regenerar. E vai ter uma conforma��o muito inferior em rela��o � pr�pria madeira, �s esp�cies. Um cumaru-ferro leva 800 anos para crescer. � um ato de covardia pol�tica e covardia verbal colocar na conta dos ind�genas, dos ribeirinhos e das comunidades tradicionais a responsabilidade por esses inc�ndios.

Diante de tudo isso, quais os riscos para o Brasil em termos de exporta��es, acordos internacionais e investimentos?

N�o � que o Brasil esteja � margem do que se discute hoje no mundo em rela��o � bioeconomia. O Brasil est� trancado do lado de fora. H� v�rios estudos e documentos mostrando o potencial de se gerar milh�es de empregos preservando a natureza e fazendo uma gest�o eficiente dos recursos naturais. O governo n�o est� a par, n�o est� nem lendo esses estudos. Os custos j� est�o a�. A Holanda n�o ratificou o acordo Mercosul-Uni�o Europeia. Existe uma press�o enorme para que o Parlamento Europeu tamb�m n�o ratifique. O fundo soberano noruegu�s dispensou a Vale, dispensou a Petrobras. O Fundo Amaz�nia est� parado. Esse dinheiro era respons�vel por fortalecer a pesquisa e a governan�a ambiental. Por tudo isso eu repito que o setor do agroneg�cio respons�vel tem de se dissociar da agenda do Bolsonaro e do Salles. Foi o que aconteceu nos Estados Unidos, quando o Trump quis reativar a ind�stria do carv�o e os pr�prios empres�rios deixaram claro que n�o comprariam essa energia.

A seu ver o Congresso est� sendo omisso em brecar os retrocessos dessa agenda?

Para ser justa, o projeto da grilagem n�o est� avan�ando gra�as ao Congresso. O Congresso tamb�m aprovou o projeto da deputada Joenia Wapichana para garantir o fornecimento de insumos para comunidades ind�genas. A� o presidente vetou o projeto de uma forma t�o absurda que praticamente s� sobraram a ementa e a assinatura da autora. Se o Congresso quiser ter maior protagonismo e se dissociar da imagem do Brasil, de p�ria global na agenda ambiental, precisa derrubar esse veto e retirar da pauta os demais projetos antiambientais.

As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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