Era o presidente Jair Bolsonaro em visita oficial anteontem �s cidades sertanejas de S�o Raimundo Nonato, no Piau�, e Campo Alegre de Lourdes, na Bahia, mas a roupa, o cabelo, o chap�u de couro e o discurso eram de candidato. A cena j� tem data marcada para se repetir e revela uma mudan�a na estrat�gia do presidente, que cada vez mais ir� trocar o discurso beligerante, que marcou a primeira metade do seu governo e o levou a ser amea�ado por impeachment, por uma s�rie de viagens onde ir� capitalizar medidas aprovadas pelo Congresso, muitas das quais foi contra, e obras iniciadas em gest�es passadas.
Pesquisas apontam que foi Bolsonaro quem mais ganhou com o pagamento do aux�lio emergencial de R$ 600 dado aos trabalhadores informais que perderam renda por causa da pandemia do novo coronav�rus. Mesmo que tenha inicialmente se posicionado contra o benef�cio, para o eleitor o que fica � que o dinheiro entrou na conta, foi pago pela Caixa Econ�mica Federal, portanto, pelo presidente. Sobre inaugurar obras, Bolsonaro costuma dizer que vai concluir o que seus antecessores deixaram inacabado.
Embora o foco seja o Nordeste, tradicional reduto eleitoral petista e pelo qual quer avan�ar j� com vistas � reelei��o, a meta � passar por diversos Estados. O tour presidencial, que vai incluir visita a uma ponte em constru��o, ocorre num cen�rio em que v�rias regi�es ainda registram aumento de casos da covid-19 e o Pa�s se aproxima das 100 mil mortes pela doen�a. O risco � calculado. O presidente aproveita para carimbar nos governadores e prefeitos a responsabilidade pelo desemprego por imporem o isolamento social, ignorando que essa � a forma mais eficaz de combater a propaga��o do v�rus, segundo autoridades sanit�rias.
Com as viagens, o presidente tamb�m tem aproveitado para refor�ar sua nova base de apoio no Congresso. No giro que fez anteontem por Piau� e Bahia, levou a tiracolo o senador Ciro Nogueira (Progressistas-PI), e o deputado Elmar Nascimento (DEM-BA), dois dos principais l�deres do Centr�o.
"O povo foi ao seu encontro (de Bolsonaro) sem qualquer mobiliza��o. Nordeste n�o � esquerda. N�o tem ideologia. � um povo muito necessitado. Se o governo atende suas necessidades, o povo apoia", afirmou Elmar, que acompanhou o presidente na inaugura��o de uma adutora do rio S�o Francisco em Campo Alegre de Lourdes, na Bahia. A transposi��o teve in�cio no governo do petista Luiz In�cio Lula da Silva e foi encampada por todos os seus sucessores.
Expandir o eleitorado, at� agora, limitado � classe m�dia antipetista, e se afastar do discurso mais radical de parte de seus apoiadores fazem parte da nova cartilha de Bolsonaro. E o aux�lio de R$ 600 tem papel fundamental na nova estrat�gia.
O governo promete para os pr�ximos meses investir na pol�tica de distribui��o direta de renda e transformar o aux�lio num novo programa, batizado de Renda Brasil, uma reformula��o do Bolsa Fam�lia, marca da gest�o do ex-presidente Lula, que o ajudou a cooptar os votos do eleitorado de baixa renda.
Pol�ticos do Nordeste admitem que o pagamento do aux�lio nos �ltimos meses ajudou a melhorar a popularidade de Bolsonaro na regi�o. "H� um vazio deixado pelo Lula. As pessoas sabem que ele n�o � mais candidato e elas n�o s�o de esquerda. O aux�lio que vir� do Renda Brasil � mais que o Bolsa Fam�lia", disse Ciro Nogueira. Proposta em an�lise pelo Minist�rio da Economia prev� um uma eleva��o do benef�cio m�dio de R$ 190,16 para R$ 232,31 por fam�lia.
O cientista pol�tico e economista da Universidade de Bras�lia (UnB) Ricardo Caldas avalia que, com o aux�lio de R$ 600 e outras ajudas financeiras na pandemia, Bolsonaro conseguiu estancar a ideia de "fim de governo" e se descolar da conjun��o de crises na sa�de, na economia, na pol�tica e no mercado externo. "Neste momento de crise profunda, foram injetados R$ 250 bilh�es na ponta da linha, fora o saque do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Servi�o), o que impediu que houvesse depress�o e o desemprego fosse imensamente maior do que o registrado", disse.
Para o cientista pol�tico Carlos Mello, do Insper, esse ganho do presidente em popularidade, neste momento, contudo, n�o deve se estender at� as elei��es de 2022. "Vamos ver como ser� l� na frente, pois existem problemas fiscais a serem enfrentados. � uma aposta. Depender� de como a economia estiver na �poca das elei��es e como isso refletir� no bem-estar das pessoas", disse.
Agenda
Ap�s dar a largada no giro pelo Pa�s em viagem a Bahia e ao Piau� anteontem, Bolsonaro esteve ontem em Bag�, no Rio Grande do Sul, onde fez uma visita a uma escola c�vico-militar. L�, repetiu mais uma vez o ex-presidente Lula ao desembarcar vestindo um poncho, vestu�rio tradicional ga�cho.
Na pr�xima semana, nos dias 6 e 7, est�o previstas viagem para Baixada Santista e para o Vale do Ribeira, onde deve visitar a obra de uma ponte em Eldorado (SP), cidade de 15 mil habitantes onde vivem sua m�e e familiares. Ainda em agosto, Bolsonaro deve voltar ao Nordeste. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
POL�TICA