
Bras�lia - O presidente Jair Bolsonaro tem conseguido, aos poucos, deixar o governo cada vez mais alinhado com o seu projeto de reelei��o. O avan�o mais recente nesse sentido � o processo de fritura do ex-superministro da Economia, Paulo Guedes, defensor de uma pol�tica de austeridade fiscal e cuja sa�da do cargo vem sendo dada como certa. O mandat�rio virou as costas para seu antigo “Posto Ipiranga” e encontrou um grupo de ministros conselheiros, o que precisava para colocar em marcha um projeto de forte apelo popular, baseado no refor�o dos programas sociais e dos investimentos p�blicos.
Guedes � um dos poucos auxiliares no governo que ousa dizer coisas que o presidente n�o gostaria de ouvir. Ele caiu em desgra�a depois de alertar que Bolsonaro poderia ser alvo de impeachment caso se entregasse ao canto da sereia de “ministros fura-teto”. Ao destacar a necessidade do cumprimento do teto de gastos p�blicos, o titular da Economia se referia a um grupo de ministros que t�m convencido o presidente a ir adiante com o Pr�-Brasil, um programa que inclui iniciativas de distribui��o de renda e de investimentos em obras p�blicas para tirar o pa�s da crise.
As declara��es de Guedes foram interpretadas no meio pol�tico como cr�tica aos ministros que assumiram os pap�is de conselheiros do presidente na �rea econ�mica tamb�m. S�o eles Braga Netto (Casa Civil); Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo); Tarc�sio Gomes de Freitas (Infraestrutura); e Rog�rio Marinho (Desenvolvimento Regional) — este �ltimo � um dos maiores desafetos do titular da Economia. Os dois primeiros pertencem � chamada ala militar do governo, que defende a ado��o de uma pol�tica desenvolvimentista e que, por isso, entrou em choque direto com Guedes.
Segundo o grupo de ministros, os programas sociais e os investimentos p�blicos s�o a melhor sa�da para o governo enfrentar os desgastes pol�ticos provocados pela pandemia e tamb�m para o presidente turbinar sua popularidade. Exemplo disso � o pagamento do aux�lio emergencial a milh�es de brasileiros, que contribuiu para o aumento da aprova��o de Bolsonaro.
Pouco mais de um ano e meio depois da posse como presidente, Bolsonaro parece ter encontrado, finalmente, uma dire��o para o seu governo. Daqui at� as elei��es de 2022, ele vai focar no social, uma �rea que n�o vinha merecendo a menor aten��o desde a campanha presidencial em 2018. Com essa bandeira, o presidente tem viajado pelo pa�s para inaugura��es, principalmente no Nordeste, reduto eleitoral do PT.
O discurso pelo social est� afiado e o chefe do governo demonstrou isso na semana passada, quando criticou publicamente a proposta da equipe de Guedes para o Renda Brasil, uma das iniciativas do Pr�-Brasil, que deve substituir o Bolsa fam�lia dos governos petistas. Al�m de desaprovar o conte�do, o presidente aproveitou a oportunidade para mandar aos eleitores a mensagem de que se preocupa com os pobres. Durante uma solenidade em Minas Gerais, o chefe do governo disse que n�o poderia “tirar de pobres para dar para paup�rrimos”, ao criticar a ideia de Guedes sobre extinguir o abono salarial dos trabalhadores como forma de conseguir recursos para o Renda Brasil.
Para Ricardo Caichiolo, cientista pol�tico do Ibmec/DF, o melhor adjetivo para Paulo Guedes � “resiliente”, em raz�o das press�es que o ministro tem enfrentado. “Essa fase do governo, inaugurada por causa dos impactos da pandemia, vai ao encontro dos desejos dos ministros 'fura-teto'; por outro lado, coloca contra a parede a equipe econ�mica, que tem de identificar meios para ampliar o n�mero de benefici�rios com o novo programa (Renda Brasil) e, ainda, aumentar o valor do benef�cio. Ordens do mandat�rio, afinal de contas, 2022 est� logo ali. H� que se verificar se at� l� a resili�ncia do ministro ter� seu prazo de validade vencido”, diz o especialista.
AN�LISE
J� o professor Paulo Calmon, diretor do Instituto de Ci�ncia Pol�tica da Universidade de Bras�lia (UnB), destaca que, por tr�s da guinada social do governo, est� tamb�m o interesse nas elei��es municipais, que estabelecem as bases para a disputa em 2022. “A sociedade brasileira foi duramente atingida pela pandemia, com impacto importante no n�vel de atividade econ�mica, gera��o de desemprego e aumento da pobreza e desigualdade. Nesse contexto, a insist�ncia na manuten��o de uma pol�tica de austeridade fiscal muito r�gida, como a preconizada por Guedes, � dif�cil de sustentar politicamente e possui um custo social e econ�mico muito acentuado e concentrado para os pr�ximos meses. O conflito surge da�”, diz Calmon.
“Al�m de uma disputa pol�tica, o conflito entre essas diferentes vis�es configuram tamb�m a disputa de interesses, poder e influ�ncia no governo. Paulo Guedes, mais associado ao capital financeiro e aos investidores estrangeiros, e os desenvolvimentistas, mais associados ao setor produtivo nacional. Era uma tens�o que j� existira h� algum tempo, mas que ganha contornos mais dram�ticos com a proximidade das elei��es e que deve criar rusgas importantes na equipe ministerial nas pr�ximas semanas”, acrescenta.
“DITADORES NANICOS”
Bolsonaro visitou ontem a obra de reforma da pista central do aeroporto de Congonhas, na Zona Sul de S�o Paulo. No local, ele disse que governadores que n�o priorizam a economia s�o "ditadores nanicos". “Alguns governadores querendo proibir pousos, fecharam rodovias federais, como o Par�, por exemplo, e tiraram o poder de resolver as quest�es como eu achava que devia resolver. Fica uma grande experi�ncia, como alguns me acusam de ditador, dos projetos de ditadores nanicos que apareceram Brasil afora, n�o s� em �reas estaduais, como alguns municipais tamb�m", afirmou.
O presidente chegou por volta das 9h ao aeroporto. Na entrada do pavilh�o de autoridades, desceu para tirar fotos com cerca de 20 apoiadores. Sem usar m�scara, ele autografou uma bandeira do Brasil de uma apoiadora. "Aquele pessoal que dizia que a economia recupera depois, t� na hora desses caras botarem a cabe�a para fora e dizer como � que se recupera rapidamente a economia; eu sempre falei que era vida e economia. Fui muito criticado, mas n�o posso pensar de forma imediata, tem que pensar l� na frente. Esperamos que volte � normalidade no pa�s, n�o digo mais r�pido porque n�o vai ter como ser r�pido, mas n�o vamos demorar tamb�m", afirmou.