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Estado de Minas MINISTRO DA ECONOMIA

Paulo Guedes n�o exibe mesma for�a que tinha quando assumiu cargo

Cart�o vermelho do Planalto e interrup��o de entrevista coletiva s�o os mais recentes constrangimentos ao ministro


27/09/2020 15:42

(foto: Evaristo Sa/AFP)
(foto: Evaristo Sa/AFP)
O ministro da Economia, Paulo Guedes, n�o exibe a mesma for�a que tinha quando assumiu o cargo em janeiro de 2019. Ao longo do tempo, ele e a equipe t�m enfrentado repreens�es p�blicas cada vez mais frequentes do presidente Jair Bolsonaro.

Na �ltima semana, o ministro conhecido como Posto Ipiranga chegou a ser interrompido, durante entrevista a jornalistas, pelo ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e pelo l�der do governo na C�mara, o deputado Ricardo Barros (PP-PB). Foi mais um constrangimento, poucos dias ap�s o presidente amea�ar a equipe econ�mica com “cart�o vermelho” na fat�dica decis�o de suspender o programa Renda Brasil.

Analistas ouvidos pelo Correio est�o divididos sobre o pano de fundo desta nova crise, na qual o Posto Ipiranga fica visivelmente enfraquecido e a pasta pode passar por novo processo de desmonte. At� mesmo fontes pr�ximas ao ministro n�o entendem por que ele anda t�o d�cil e aceita as humilha��es p�blicas. No mercado, � crescente a preocupa��o de que o ministro j� estaria admitindo a queda do teto de gastos em troca da nova CPMF, ideia fixa do chefe da equipe econ�mica. O sintoma mais n�tido veio com o d�lar, que voltou a subir e passou da casa de R$ 5,50.

As cr�ticas de Bolsonaro � equipe econ�mica, ao anunciar a suspens�o do Renda Brasil, e, em seguida, dar sinal verde para o Senado criar um novo programa s�o mais ingredientes da fritura de Guedes. Assessores pr�ximos tentam negar qualquer crise ou eventual sa�da do ministro. Mas, o que mais tem preocupado analistas � o flerte do presidente com uma agenda populista e com medidas como recomendar a derrubada do pr�prio veto para o perd�o de d�vidas tribut�rias de igrejas, na contram�o da agenda fiscalista defendida por Guedes e sua equipe.

Com o aumento da popularidade entre os mais pobres em raz�o do aux�lio emergencial de R$ 600, a ala desenvolvimentista ganha espa�o no governo. Bolsonaro busca uma plataforma eleitoral para 2022, que ganhou prioridade na estrat�gia do Planalto. Os dados das �ltimas pesquisas s� refor�am que � por esse caminho que Bolsonaro pretende seguir para pavimentar a reelei��o.

Assim, os atritos entre o Planalto e o Minist�rio da Economia ser�o cada vez mais frequentes, especialmente quando houver press�es da equipe econ�mica para que Bolsonaro tome decis�es impopulares a fim de evitar riscos de um processo de impeachment por crime de responsabilidade. Foi o caso do veto para o perd�o de R$ 1 bilh�o de d�vidas de igreja. Bolsonaro obedeceu a Guedes, mas mostrou que estava informado ao recomendar a derrubada do pr�prio veto.

Berlinda

A tens�o � cada vez maior no Minist�rio da Economia. Contudo, o mal-estar com o Planalto tamb�m � visto como um jogo de cena do Bolsonaro. Enquato ele fica com a imagem de que defende os “pobres e paup�rrimos”, a turma de Guedes assume o papel de “estorvo �til”, pregando menos gastos para evitar que o presidente cometa crime de responsabilidade fiscal. N�o � toa, o presidente procurou mostrar irrita��o com a indiscri��o da equipe econ�mica, ao vazar propostas antes de passar pelo crivo do Planalto.

Foi o caso do secret�rio especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, que ficou na berlinda ap�s revelar o plano de congelamento de aposentadorias. Desde a crise do cart�o vermelho, Waldery n�o aparece nas entrevistas da pasta. Cancelou a apresenta��o do relat�rio de avalia��o de receitas e despesas do governo e mandou a assessoria s� divulgar o documento no fim do dia, algo que nunca havia acontecido antes com este importante relat�rio do Or�amento p�blico.

Leandro Consentino, professor de Ci�ncia Pol�tica do Insper, descreve as raz�es do Planalto. “Bolsonaro quer o b�nus de beneficiar a parcela mais pobre da popula��o, porque isso d� popularidade. E essa estrat�gia de desautorizar a equipe econ�mica para criar o Renda Brasil e tentar um caminho alternativo via Congresso mostra bem isso e faz com que Guedes fique isolado como uma voz dissonante no governo”, resume. H� outras leituras, mais incisivas. “O presidente sofre de sinceric�dio. Ele externa as restri��es que est� sofrendo como presidente da Rep�blica. Mas, isso mostra que ele n�o tem manejo de um estadista”, avalia o cientista pol�tico norte-americano Christopher Garman, diretor do Eurasia Group, em Washington.

O Minist�rio da Economia atravessa um processo de esvaziamento devido ao enfraquecimento da agenda liberal defendida por Guedes em meio � pandemia. Diante do forte aumento de gasto p�blico adicional neste ano, que j� chega a 8,4% do Produto Interno Bruto (PIB), a d�vida p�blica vai explodir neste ano, chegando perto de 100% do PIB e dever� continuar crescendo sem parar na pr�xima d�cada, pelas estimativas do mercado. Para piorar, em vez de sinalizar que vai continuar comprometido com a responsabilidade fiscal, o presidente tende a seguir os defensores para uma pol�tica econ�mica mais desenvolvimentista, liderados pelos ministros Rogerio Marinho (Desenvolvimento Regional), Braga Neto (Casa Civil) e Tarcisio Freitas (Infraestrutura).

Essa agenda prev�, inclusive, aumento de investimentos do governo em infraestrutura, nos moldes de programas antigos, inclusive, petistas. A sorte de Guedes � a dificuldade do trio em definir o programa Pr�-Brasil e muito menos em encontrar espa�o no Or�amento de 2021 para a empreitada, pois a margem para novas despesas para cumprir o teto � zero.

Em encontros reservados, Marinho tem falado a investidores que Guedes n�o est� mais � frente das negocia��es com o Congresso e o Planalto vai liderar esse esfor�o, em um claro sinal de que o poder de negocia��o do superministro diminuiu. Analistas reconhecem que, nos pr�ximos meses, Guedes deve ficar ainda mais fragilizado, porque a disputa por recursos no Or�amento j� come�ou, e as pastas que devem perder verba est�o chiando.

No meio dessa disputa, Guedes n�o tem a mesma influ�ncia sobre Bolsonaro que tinha durante a campanha. Contudo, o presidente sabe que, se rifar o ministro, como fez com S�rgio Moro, corre o risco de perder o que resta de credibilidade do governo junto ao mercado. O chefe da equipe econ�mica � visto como o grande defensor da manuten��o do teto de gastos, a �ncora fiscal que sobrou em meio � recess�o provocada pela pandemia.
 
“Fogo brando”

“O presidente tem medo de que a sa�da de Guedes possa minar a recupera��o da economia, por isso, ele ainda tenta defender o teto de gastos. Ele sabe que a sa�da do ministro abre caminho para uma crise fiscal”, destaca Christopher Garman. Na opini�o do cientista politico, h� risco de Guedes deixar a Esplanada durante os pr�ximos tr�s a quatro meses de discuss�o do Or�amento. “Se ele sair, o d�lar vai a R$ 6, todo mundo entra em p�nico com a perspectiva de explos�o da d�vida”, aposta. Para ele, o nome ventilado como substituto de Guedes, o do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, “n�o faz sentido”.

O professor do Insper Leandro Consentino avalia que Guedes passa por “um processo de fritura em fogo brando”. A economista e consultor Zeina Latif, por sua vez, considera o ministro cada vez mais isolado. Para ela, um dos principais problemas na gest�o do ministro � a falta de uma agenda mais clara na �rea econ�mica. “Desde o in�cio, n�o h� uma uma coordena��o. A �nica pauta clara era a reforma da Previd�ncia. Depois dela, n�o houve mais uma defini��o do que era priorit�rio”, afirma Zeina.

Ela lembra que a equipe econ�mica mandou, no fim de 2019, v�rias PECs (Propostas de Emenda � Constitui��o) para o Senado e Paulo Guedes tem falhado por n�o conseguir o devido convencimento da import�ncia de determinadas pautas. “No caso da privatiza��o, o ministro mal conseguiu colocar no papel uma agenda consistente. Eu vejo uma postura do governo falha, sem a Casa Civil puxando as discuss�es com o Congresso sobre as prioridades, como ocorria em outros governos mais bem articulados. Paulo Guedes est� muito isolado. As diverg�ncias em um governo s�o normais. Antes, havia brigas entre Planejamento e Fazenda, mas falta algu�m para arbitrar melhor qual � a agenda que o governo vai tocar”, destaca Zeina.

O presidente tem medo de que a sa�da de Guedes possa minar a recupera��o da economia, por isso, ele ainda tenta defender o teto de gastos. Ele sabe que a sa�da do ministro abre caminho para uma crise fiscal”

Christopher Garman,
diretor do Eurasia Group

Teto de gastos � cr�tico para perman�ncia

Apesar das idas e vindas no humor do presidente Jair Bolsonaro em rela��o ao ministro da Economia, Paulo Guedes, a economista Elena Landau acredita que o chefe da equipe econ�mica s� deixar� o governo se for demitido. “Ele e Bolsonaro s�o muito parecidos em tudo. E Guedes � mais integrante do n�cleo ideol�gico do que ministro. Se sair por vontade pr�pria, seria um fracassado”, observa Landau. Ela descarta um processo de fritura de Guedes, mas reconhece que a maior derrotada dessa crise no governo � a agenda liberal. “Guedes n�o prop�s nada relevante. Se tivesse feito as reformas no primeiro semestre de 2019, teria mais espa�o agora”, analisa.

No entender de Jos� M�rcio Camargo, professor da Pontif�cia Universidade Cat�lica do Rio (PUC-RJ) e economista-chefe da Genial Investimentos, a �nica derrota que far� Guedes deixar o governo � se Bolsonaro autorizar qualquer flexibiliza��o no teto. “Apesar de toda a confus�o em torno do Renda Brasil e de ele ter lan�ado o �nus da responsabilidade de cria��o do programa para o Congresso, Bolsonaro sinalizou que vai obedecer ao teto de gastos”, afirma. Contudo, Camargo reconhece que o conflito interno � ruim para os investimentos e para os neg�cios em uma economia em recess�o. “Tem muita confus�o no governo, mas acho que Bolsonaro ainda quer o Renda Brasil. Por�m, ele s� vai colocar um programa parecido, ampliando o Bolsa Fam�lia, se ele couber no teto”, aposta.

Camargo considera que a agenda liberal de Guedes est� evoluindo. Um dos grandes trunfos ser� o debate sobre as prioridades do Or�amento de 2021 com as limita��es do teto de gastos. “Isso � muito positivo, porque nunca aconteceu. E � assim que se faz uma discuss�o dentro de um plano democr�tico”, pontua o analista. Ele acredita que, por conta da briga por recursos do Or�amento, nos pr�ximos meses, os ataques ao ministro dentro do governo dever�o aumentar.

Como amigo do ministro, Camargo acredita que, se depender de Guedes, ele fica no governo at� o fim. “Ele � muito determinado. E, nesse horizonte, a �nica derrota que faria ele desistir de continuar no governo � se mudarem o teto de gastos. Esse � realmente o que poderia fazer com que o ministro fique incomodado a ponto de sair do governo.”

O economista da Genial fez uma analogia sobre a situa��o de ministro nessa discuss�o do Or�amento. Ele est� atravessando um corredor polon�s. De um lado, investidores preocupados com o Brasil ficar insolvente; e do outro, as necessidades do pa�s. “Guedes est� passando por um corredor e levando pauladas de todos os lados. Passou pela metade dele. E, com a pandemia, esse corredor ficou mais fino. Se chegarmos, no fim do ano, com o Or�amento aprovado e com o fim da vincula��o de despesas, vai ser um ganho espetacular.”

Dados da Institui��o Fiscal Independente (IFI) apontam que as despesas do Or�amento de 2021 est�o subestimadas e o governo ainda vai precisar cortar R$ 20,4 bilh�es de despesas para respeitar o teto de gastos. Para o economista Jos� Luis Oreiro, o limite �s despesas n�o se sustenta, porque n�o � cr�vel em meio � recess�o provocada pela pandemia. “N�o se reduz gasto nem se aumenta imposto no meio de uma crise. Mas, o pior para a atividade, � a redu��o de gasto”, afirma o economista desenvolvimentista. “� preciso criar uma nova �ncora fiscal ou aperfei�oar o teto para que seja cr�vel do ponto de vista econ�mico e social”, completa.


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