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Estado de Minas Velha Pol�tica

Bolsonaro virou ref�m nos bra�os do Centr�o

Eleito com promessa de fazer uma nova pol�tica, presidente se entrega � velha f�rmula e nomeia 14 vice-l�deres na C�mara de partidos que fazem parte do bloco fisiol�gico


05/10/2020 04:00 - atualizado 05/10/2020 07:29

Presidente fala após encontro com ministros e parlamentares da sua base aliada ligados ao bloco no Legislativo: blindagem contra eventual processo de impeachment (foto: Alan Santos/PR 28/9/20)
Presidente fala ap�s encontro com ministros e parlamentares da sua base aliada ligados ao bloco no Legislativo: blindagem contra eventual processo de impeachment (foto: Alan Santos/PR 28/9/20)

O discurso da “nova pol�tica”, que tem como principal premissa o rompimento com alguns v�cios do processo de administra��o do pa�s, contribuiu para que, em 2018, o Brasil tivesse uma das maiores reformula��es na Pra�a dos Tr�s Poderes desde a redemocratiza��o. Se baseando no apelo de parte da sociedade para um maior rigor contra articula��es por cargos e barganha, 243 deputados, 46 senadores e o presidente da Rep�blica, Jair Bolsonaro, receberam os votos de confian�a da popula��o ap�s prometerem um jeito diferente de se fazer pol�tica. Contudo, isso ficou no papel.

Ap�s dois anos daquele pleito, o compromisso com uma nova pol�tica se desmilinguiu rapidamente. Em nome da governabilidade, Bolsonaro est� cada vez mais abra�ado ao Centr�o para ter o m�nimo de suporte do Parlamento para os projetos do governo e para se resguardar contra um eventual processo de impeachment. Na �ltima semana, por exemplo, o presidente nomeou 14 novos vice-l�deres na C�mara, sendo que a maioria dos deputados pertence a partidos que comp�em o grupo fisiol�gico, ou como o Executivo define, a “base de apoio ao governo”.

Metade dos escolhidos est� no primeiro mandato: Jos� Medeiros (Podemos-MT), Luiz Lima (PSL-RJ), Greyce Elias (Avante-MG), Gustinho Ribeiro (Solidariedade-SE), Marreca Filho (Patriota-MA), Capit�o Alberto Neto (Republicanos-AM) e Carla Dickson (Pros-RN). Completam a lista Evair Vieira de Melo (PP-ES), Aluisio Mendes (PSC-MA), Maur�cio Dziedricki (PTB-RS), Giovani Cherini (PL-RS), Joaquim Passarinho (PSD-PA), Paulo Azi (DEM-BA) e Lucio Mosquini (MDB-RO). Eles ser�o conduzidos pelo l�der do governo na Casa, Ricardo Barros (PP-PR).

O deputado tem sido pe�a chave para tentar melhorar a rela��o de Bolsonaro com o Parlamento. Em 2019, o chefe do Executivo n�o se interessava tanto em participar das discuss�es com o Congresso, mas agora � extremamente aberto a di�logos. Boa parte dessa mudan�a aconteceu depois de o presidente tirar o novato Major Vitor Hugo (PSL-GO) do posto de lideran�a, em agosto, e promover Barros, um velho conhecido da pol�tica. No seu sexto mandato na C�mara, ele j� foi l�der do governo de Fernando Henrique Cardoso e vice-l�der dos ex-presidentes Luiz In�cio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Al�m disso, foi ministro da Sa�de durante o mandato de Michel Temer.

A mudan�a no comportamento do presidente, que acabou influenciando deputados e senadores a se renderem ao m�todo mais convencional de se fazer pol�tica, � avaliada por alguns parlamentares como um desrespeito ao eleitorado. “Quem perde de verdade � o povo brasileiro, que acreditou em um projeto espec�fico. Foi um verdadeiro estelionato eleitoral. O Bolsonaro n�o � mais o Bolsonaro que foi no primeiro ano, o toma-l�-d�-c� � expl�cito. Hoje, o presidente costura um tapete de dia, e desmancha de noite. Cada vez mais ficam evidenciados os atos de prote��o do presidente a ele mesmo e aos seus aliados”, opina o l�der do PSL no Senado, Major Ol�mpio (SP).

“O erro do presidente foi, durante a campanha, sabendo que n�o poderia cumprir essa promessa, se comprometer a acabar com os v�cios da pol�tica, uma vez que ele enfrentaria um sistema repleto de distor��es. O que define a nova pol�tica n�o � o discurso. Levantar a bandeira da nova pol�tica qualquer um pode fazer. A quest�o � na pr�tica”, acrescenta o deputado F�bio Trad (PSD-MS).

Alerta

Os congressistas acreditam que Bolsonaro � apenas um entre os v�rios casos no pa�s de candidatos que s�o eleitos sob a bandeira da nova pol�tica, mas que nunca apresentam algo realmente diferente depois de assumirem o cargo. Outro exemplo � o do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), que foi afastado do posto por suspeitas de desvios em recursos para a sa�de. Caso as acusa��es sejam confirmadas, ele ser� mais um governador fluminense envolvido em esc�ndalo de corrup��o, assim como Moreira Franco, Anthony Garotinho, Rosinha Garotinho, Luiz Fernando Pez�o e S�rgio Cabral.

F�bio Trad destaca que esses exemplos de governantes que mudam a postura ou o discurso depois de eleitos devem servir de alerta para os brasileiros, sobretudo para o pleito municipal deste ano. “� importante que os eleitores passem a ter uma certa experi�ncia para n�o serem induzidos a erro com tanta facilidade, procurando saber o comportamento pregresso do candidato, os seus valores e o que ele sempre defendeu na vida. A popula��o tem a vantagem de poder corrigir, porque as elei��es s�o peri�dicas”, diz.

Na avalia��o do presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, a popula��o brasileira j� passa por um processo de depura��o do sistema pol�tico, mas refor�a que o eleitorado precisa ficar atento ao perfil dos candidatos para n�o continuar sendo v�tima do falso discurso apresentado na propaganda eleitoral. “Percebo que a popula��o est� “criando anticorpos” contra o comportamento pol�tico. De todo modo, � fundamental que a sociedade entenda que precisa de representantes s�rios, com passado limpo, que prezem pela cidadania e que apresentem propostas concretas para a realidade municipal.”

Mais do mesmo

Para alguns analistas, as elei��es deste ano podem ser um espelho de 2018: vence o candidato que promete mudan�as, mas assume o eleito que recorre �s velhas pr�ticas. “Quem entra, vai precisar fazer uma coliga��o para passar as pautas que necessita. O que chamam de velha pol�tica, na verdade, � pol�tica. � negociar, � ter di�logo. O problema � a forma como � feita. O pessoal da nova pol�tica conseguiu acabar com o termo. Tudo virou corrup��o. Chamam de velha pol�tica quando, na verdade, � a pol�tica sendo ela mesma”, analisa o cientista pol�tico, Ivan Ervolino.

Criador da startup de intelig�ncia pol�tica Sigalei, Ervolino refor�a que, nos munic�pios, o discurso da nova pol�tica estar� em alta, mas que as falas dificilmente ser�o colocadas em pr�tica. “Esse termo “nova pol�tica” cola bem. Ser� usada novamente como j� foi em outras elei��es antes de Bolsonaro. � um problema tanto municipal, quanto federal. � dif�cil n�o compor com uma base j� estabelecida da pol�tica brasileira. Por isso que, na pr�tica, essa narrativa desmorona. Ou o eleito se submete a algum grupo pol�tico j� existente com algum tipo de negocia��o, ou fica paralisado. � o que estamos vendo com Bolsonaro, fazendo o jogo da composi��o pol�tica”, observa.

Indicação de Kassio Nunes Marques para o Supremo Tribunal Federal revoltou aliados do presidente, que protestaram pelas redes sociais(foto: Samuel Figueira/TRF-1/Divulgação)
Indica��o de Kassio Nunes Marques para o Supremo Tribunal Federal revoltou aliados do presidente, que protestaram pelas redes sociais (foto: Samuel Figueira/TRF-1/Divulga��o)

Encontro irrita apoiadores


O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) se reuniu, no s�bado, com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, o presidente do Senado Federal, Davi Alcolumbre (Dem-AP), e o indicado a substituir Celso de Mello na suprema corte, Kassio Marques. O encontro, que n�o estava na agenda oficial das autoridades, ocorreu na casa de Toffoli, em Bras�lia. O encontro indignou apoiadores de Bolsonaro. Parte do grupo tem protestado nas redes contra a indica��o de Kassio ao STF. No Twitter, a hashtag #BolsonaroTraidor ganhou corpo ap�s a reuni�o.

Por volta das 12h40 de ontem, o termo era o terceiro colocado na lista de assuntos mais comentados pelos usu�rios brasileiros da rede. Em Minas Gerais, a hashtag ocupava a lideran�a. Influenciadores ligados � direita questionam a indica��o de K�ssio, que tem bom tr�nsito com pol�ticos do Centr�o, grupo formado por deputados e senadores que monopolizam as discuss�es no Congresso. O Centr�o se aproximou de Bolsonaro recentemente. Para parte dos simpatizantes bolsonaristas, o perfil de Kassio n�o � t�o conservador quanto o esperado.

Em diversas ocasi�es, o presidente manifestou a inten��o de indicar, ao STF, um ministro “terrivelmente evang�lico”. Na �ltima quinta-feira), ele reiterou o desejo, mas prometeu escolher um nome do tipo na pr�xima oportunidade, em 2021. O pr�ximo a sair � Marco Aur�lio Mello, que completar� 75 anos – idade m�xima para o cargo – em julho do ano que vem.

“O primeiro pr�-requisito � ser evang�lico. Depois, vai ter que tomar Tuba�na comigo. Meu compromisso � com o evang�lico. Tenho um tremendo respeito, pois s�o 30% de evang�licos no pa�s. Quando, no passado, algu�m falava sobre a presen�a de mulher e negro no STF, ningu�m falava nada. Mas n�o � s� porque � evang�lico. Ele tem de ter conhecimento de causa tamb�m, transitar em Bras�lia, conhecer gente do Supremo, do Parlamento”, garantiu, durante sua live semanal.

No Twitter, circula um v�deo em que Bolsonaro promete “combater o establishment”. As imagens, contudo, s�o seguidas por trechos de reportagens que listam diversas indica��es de pol�ticos do Centr�o a minist�rios e cargos governamentais. A hastag tem sido impulsionada pelo movimento Vem pra Rua, que apoiou o ex-capit�o na elei��o de 2018. No s�bado, Bolsonaro chegou a ser chamado de “petista”.

Hist�rico A indica��o de Kassio ao STF foi publicada no Di�rio Oficial da Uni�o (DOU) na quinta. A oficializa��o dele no posto, contudo, depende da aprova��o do Senado Federal. Para isso, a Comiss�o de Constitui��o e Justi�a (CCJ) e o plen�rio da Casa precisam dar aval oficial ao nome. Atualmente, o magistrado � desembargador do Tribunal Regional Federal da 1ª Regi�o (TRF-1), na capital federal. (Guilherme Peixoto)


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