No ano em que Minas Gerais celebra o tricenten�rio de sua autonomia pol�tica e administrativa, uma mulher negra – a deputada estadual Andr�ia de Jesus, do Psol – ocupa, pela primeira vez na hist�ria, o cargo de presidente do Legislativo estadual. O fato ocorreu na sess�o plen�ria da quinta-feira (8). “Fiquei emocionada, sim. Afinal, estamos falando de 300 anos de Minas Gerais e de uma mulher negra � frente da Assembleia Legislativa (ALMG), mesmo que em uma �nica sess�o.”
“� um marco na nossa hist�ria, uma vit�ria”, afirmou a parlamentar nascida na capital, moradora de Ribeir�o das Neves, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, presidente da Comiss�o de Mulheres e copresidente da Comiss�o de Direitos Humanos da ALMG.
Na manh� da quinta-feira passada, Andr�ia de Jesus presidiu a audi�ncia p�blica na reuni�o da Comiss�o de Direitos Humanos que tratou sobre visitas no sistema prisional p�blico, e, � tarde, foi a vez da sess�o ordin�ria, sem pauta espec�fica. Ela explicou a chegada � presid�ncia da Casa: “Devido � pandemia do novo coronav�rus, h� muitas restri��es � participa��o dos deputados, e boa parte da Mesa Diretora, pela idade, se encontra em situa��o de risco, portanto, em casa. Eu estava presente, ent�o, presidi a sess�o.”
Cat�lica e devota de Nossa Senhora Aparecida – “vamos soltar foguete ao meio-dia de segunda-feira” (data em que a santa padroeira do Brasil � celebrada), ela ressalta sobre a tradi��o de se homenagear a padroeira do Brasil em 12 de outubro. Andr�ia de Jesus tem 42 anos, est� em seu primeiro mandato, nunca tendo concorrido antes a cargo eletivo. Formada em direito e divorciada, tem um filho de 22, “um jovem negro estudante de direito”, conforme ressalta.
Caminho de lutas At� a deputada do Psol comandar a sess�o de quinta-feira passada foram muitos anos de estudo, trabalho, dificuldades, lutas e, principalmente, amor pelas causas sociais, em tr�s frentes: viol�ncia contra as mulheres, direito a moradia e sistema prisional, “que penaliza em especial a juventude negra”. Na tarde de ontem, a parlamentar disse que, no primeiro aspecto, as mulheres s�o alvo de viol�ncia “por falta de renda, trabalho e aus�ncia do Estado com pol�ticas p�blicas”.
Lembrando que na ALMG h� 10 mulheres, das quais apenas tr�s parlamentares negras, Andr�ia criticou o modelo patriarcal que impera e ainda n�o p�s em definitivo uma mulher na Mesa Diretora. “Isso precisa mudar. Rompemos, agora, com uma longa trajet�ria na nossa hist�ria.” Ela espera ver em vota��o, novamente, o projeto da petista Mar�lia Campos, que foi arquivado, para alterar o Regimento da Casa e permitir mulheres na Mesa Diretora."Isso precisa mudar (a falta de participa��o das mulheres no comando do Legislativo mineiro). Rompemos, agora, com uma longa trajet�ria na nossa hist�ria"
Andr�ia de Jesus, deputada estadual e uma de apenas 10 parlamentares negras na Assembleia Legislativa
Sobre o direito a moradia, Andr�ia de Jesus lembrou a exist�ncia de muitos espa�os urbanos vazios, nessa condi��o, por “falta de pol�ticas de incentivo”. Antes de ingressar na vida p�blica, ela integrou as Brigadas Populares, coletivo em prol de moradias, muitas vezes em �reas de conflito. Entre suas prioridades, e uma das suas causas mais aguerridas, est� a den�ncia contra o sistema prisional, “que encarcera a juventude negra”. Na sua avalia��o, h� um “apartheid social”, o que significa um permanente desafio econ�mico e cultural.
Analfabetos
Filha de analfabetos, ela conta que o pai come�ou a trabalhar muito cedo, “numa padaria, aos 12 anos." A fam�lia morou na Regi�o de Venda Nova, e, logo que se casou, Andr�ia de Jesus se mudou para Ribeir�o das Neves. Na cidade, com amigos, montou um curso pr�-vestibular comunit�rio, que deu, segundo ela, “oportunidade a muitos jovens de entrar para a faculdade”. Ela estudou direito no Instituto Metodista Izabela Hendrix, em BH, valendo-se da bolsa do Programa Universidade para Todos (Prouni), do governo federal, e do sistema de cotas. Antes de se eleger, Andr�ia de Jesus foi assessora da atual deputada federal �urea Carolina (Psol).