
A sinceridade, a boa avalia��o ante a popula��o, o protagonismo no enfrentamento da COVID-19, o enfraquecimento dos partidos tradicionais e o di�logo com ideologias diferentes explicam o triunfo. Com o nome consolidado entre a popula��o, Kalil nem sequer precisou sair �s ruas para pedir votos, com justificativa de que � de grupo de risco, por ter mais de 60 anos.
1. PRAGMATISMO E BOA AVALIA��O
Ao longo dos �ltimos anos, Kalil enfrentou diversas crises e, mesmo assim, manteve boa avalia��o pela popula��o. Primeiro, com a greve dos caminhoneiros. Para evitar o caos, decretou pontos facultativos. Depois, as chuvas. Em 2018, o estrago foi menor, mas, este ano, temporais varreram casas e pessoas, foi o janeiro mais chuvoso da hist�ria.
Descontente com a postura dos governos estadual e federal, tomou as r�deas do assunto. Visitou locais destru�dos, conversou com v�timas e conseguiu, rapidamente, dar in�cio � reconstru��o. Com a pandemia, enredo semelhante: sem diretrizes nacionais, resolveu “entregar” o munic�pio a um comit� de infectologistas, que ainda decidem os rumos da flexibiliza��o das atividades econ�micas.
Para o professor Cristiano dos Santos Rodrigues, a aprova��o da sua gest�o afasta Kalil de outros pol�ticos eleitos com discursos semelhantes. “Diferentemente de outros candidatos que se elegeram na onda da n�o pol�tica, ele fez boa administra��o”, explica, citando Marcelo Crivella (Republicanos), que enfrenta dificuldades de reelei��o do Rio de Janeiro.
2. SINCERIDADE E CONVIC��O
Kalil n�o � de meias palavras. Mais de uma vez, classificou a sa�de p�blica municipal como a “melhor porcaria do Brasil”. Mesmo reconhecendo as virtudes da rede de atendimento, falou abertamente sobre a necessidade de melhorar o servi�o — quando a praxe dos pol�ticos � destacar apenas pontos positivos. Ap�s as chuvas que assolaram a cidade no in�cio do ano, disse estar envergonhado.
Em 2018, depois do temporal que matou duas pessoas na Avenida Vilarinho, em Venda Nova, n�o tergiversou e afirmou ser o culpado pelos �bitos. O prefeito se mostrou avesso ao ensino remoto. Ele prefere esperar condi��es sanit�rias que permitam reabrir as escolas municipais. Questionado pelo Estado de Minas, em julho, sobre a possibilidade de implantar um modelo virtual de ensino, classificou as teleaulas como “piadas de p�ssimo gosto”.
Em 2018, depois do temporal que matou duas pessoas na Avenida Vilarinho, em Venda Nova, n�o tergiversou e afirmou ser o culpado pelos �bitos. O prefeito se mostrou avesso ao ensino remoto. Ele prefere esperar condi��es sanit�rias que permitam reabrir as escolas municipais. Questionado pelo Estado de Minas, em julho, sobre a possibilidade de implantar um modelo virtual de ensino, classificou as teleaulas como “piadas de p�ssimo gosto”.
Ele � assim desde o tempo em que era presidente do Atl�tico. Ao assumir o Executivo municipal, ironizou a polariza��o entre PT e PSDB, que dava o tom da pol�tica nacional. “Acabou coxinha, acabou mortadela. O prato agora � quibe”, cravou.
“Ele tem um discurso muito direto. Isso, de certa forma, cativa o eleitorado, j� cansado de um padr�o de pol�tica que est� se tornando cada vez mais midi�tica, elaborada e com grandes produ��es. A simplifica��o, tanto do discurso quanto do cen�rio (onde o prefeito gravou suas propagandas de TV), passam uma sensa��o de proximidade com o eleitor”, avalia o professor Cristiano dos Santos Rodrigues, do Departamento de Ci�ncia Pol�tica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
3. PROTAGONISMO NA PANDEMIA
A COVID-19 deu a Kalil protagonismo “precoce”. Ele emergiu como lideran�a guiada por crit�rios cient�ficos. Em meio aos arroubos negacionistas do presidente Jair Bolsonaro, defensor de um isolamento restrito a pessoas do grupo de risco da doen�a, Kalil sustentou quarentena r�gida na cidade por muito tempo, inclusive com o fechamento de estabelecimentos comerciais.
“Durante a pandemia, a popularidade dele aumentou. Kalil enfrentou, de maneira firme, algumas imper�cias, de com�rcios e empres�rios, que queriam a cidade aberta. Isso aumentou a popularidade do prefeito junto ao eleitorado”, afirma o professor Cristiano dos Santos Rodrigues. “Prefeitos que tiveram boa a��o ante a pandemia foram melhor avaliados que prefeitos que abriram cidades e escolas, o que acarretou alto �ndice de infec��es e mortes”, completa.
4. ENFRAQUECIMENTO DOS PARTIDOS TRADICIONAIS
A perda de representatividade de partidos que estiveram na linha de frente nas �ltimas elei��es na capital – PT, PSDB e PSB – � outro fator que favoreceu a vit�ria de Kalil. “Os partidos que sempre foram importantes para a cidade ficaram fora da disputa. Lan�aram candidatos pouco competitivos. Uma dispers�o enorme de candidatos, com os principais partidos recuando ou n�o querendo lan�ar candidatos competitivos, deu a Kalil essa dianteira que nunca vimos. Isso n�o � usual em Belo Horizonte. Essa combina��o de fatores. � muito conjuntural”, diz o cientista pol�tico Carlos Ranulfo, da UFMG.
Nenhum dos outros 14 candidatos conseguiu incomodar Kalil durante a corrida eleitoral. As campanhas rivais, de modo geral, n�o conseguiram respaldo popular suficiente para brigar pela ponta. Com o apoio de oito outros partidos, o deputado estadual e radialista Jo�o V�tor Xavier (Cidadania), por exemplo, terceiro colocado na elei��o municipal, n�o conseguiu “emplacar”. Lideran�a jovem da centro-direita, ficou longe de ser o advers�rio que almejava. As cr�ticas � atual gest�o, por exemplo, surtiram pouco efeito.
Kalil se beneficiou, ainda, da fragmenta��o da esquerda. Al�m de ter conseguido o apoio do PDT, viu PT, Psol, PCdoB, PSTU e PCO lan�arem candidatos pr�prios. Petistas e pesolistas, representados por Nilm�rio Miranda e �urea Carolina, dividiram a maior parte dos votos dos eleitores desse campo pol�tico. Quem tamb�m construiu chapa isolada foi o PSDB, que lan�ou Luisa Barreto, servidora de carreira da Secretaria de Estado de Planejamento e Gest�o (Seplag). Al�m do pouco apelo dos nomes apresentados, Cristiano dos Santos Rodrigues cr� que o desgaste das duas legendas foi outro fator prejudicial. “Duas d�cadas de governos de PT e PSDB, em uma grande coaliz�o pol�tica, e uma certa tentativa do PT de se articular ao PSDB, que n�o deu certo, fizeram com que os partidos perdessem for�a na capital”, explica o professor.
5. DI�LOGO COM IDEOLOGIAS DIFERENTES
� dif�cil apontar Kalil como de esquerda ou de direita. Ele consegue transitar entre diferentes ideologias, tem feito acenos a comerciantes e empres�rios com o objetivo de recuperar os estragos econ�micos ocasionados pela pandemia. Tamb�m conseguiu aprovar a reforma administrativa que enxugou a m�quina p�blica. O secretariado de Kalil contemplou pessoas das mais diversas matrizes ideol�gicas. Na Fazenda, esteve Fuad Noman, novo vice-prefeito, nome com trajet�ria em governos do PSDB. Na Cultura, Juca Ferreira, quadro relevante do PT, teve o respaldo do prefeito para avan�os como mais apoio ao carnaval de rua.
“A administra��o de Kalil foi positiva, pois ele conseguiu fazer grandes concess�es aos atores pol�ticos da capital. Ele reuniu grupos muito diversificados. Teve um candidato a vice com tradi��o no PT, que era o Paulo Lamac. Depois, teve, no seu secretariado, pessoas que vieram do PT, do PSDB e de grandes partidos. E, para al�m dos seus pr�prios m�ritos, fez uma administra��o sem oposi��o, o que aumenta a vis�o positiva da popula��o”, considera o professor Cristiano Rodrigues. O di�logo de Kalil com setores progressistas foi visto ainda no apoio dado � Parada LGBTQIA+. Ele participou do evento do ano passado e, sem nenhum pudor, disse que preconceituosos mereciam um “foda-se”.