Longe de ser apenas um esporte, o futebol faz parte da forma��o cultural e pol�tica de diversos cidad�os, sobretudo na Am�rica do Sul. O craque argentino Diego Armando Maradona, morto nesta quarta-feira, v�tima de uma parada cardiorrespirat�ria, � um exemplo de personalidades que extrapolaram os limites do campo e participaram ativamente da vida pol�tica.
As imagens mais famosas da atua��o pol�tica de Maradona s�o de seus encontros com o ex-presidente cubano Fidel Castro e de sua tatuagem do revolucion�rio argentino Ernesto ‘Che’ Guevara, companheiro de Fidel na Revolu��o Cubana, em 1959. Esses registros associam ‘Dieguito’ automaticamente a um posicionamento ligados a ideais chamados de esquerda.
Apesar de, realmente, ter sido ligado de diversas personalidades dessa corrente pol�tica durante grande parte de sua vida, Maradona foi muito pr�ximo do ex-presidente argentino Carlos Menem, considerado neoliberal. Em outubro de 1994, Menem negociou diretamente com Roberto Cruz, presidente do Mandiy�, pequeno clube de futebol da prov�ncia de Corrientes (1.200 quil�metros a noroeste de Buenos Aires), a contrata��o de Maradona para t�cnico da equipe.
A participa��o de Menem foi determinante para o retorno de ‘Don Diego’ ao futebol. � �poca, o craque tinha 33 anos e cumpria suspens�o de 15 meses imposta pela Fifa. Exames realizados no ent�o jogador durante a Copa de 1994, nos Estados Unidos, detectaram o uso de efedrina, substancia estimulante.
No in�cio de 2000, ap�s ‘el Pibe de Oro’ ser internado no Uruguai com quadro grave de hipertens�o e arritmia card�aca, e com exames apontando uso de coca�na, seus m�dicos sugeriram que o ex-jogador, ent�o com 39 anos, se mudasse para os Estados Unidos ou para o Canad�, para realizar um tratamento contra a depend�ncia qu�mica.
J� naquela �poca, o cardiologista Carlos Alvarez, que acompanhava Maradona, revelou que o cora��o do ex-atleta estava funcionando com apenas 38% de sua capacidade e advertiu, de forma severa: “Se ele continuar consumindo drogas, morrer�. N�o tenho nenhuma d�vida, e a curto prazo”.
Apesar das sugest�es de se tratar na Am�rica do Norte, Diego, que j� conhecia pessoalmente Fidel Castro e j� dava declara��es favor�veis ao modelo socialista do governo de Cuba, optou por ir para o pa�s da Am�rica Central. L�, estreitou os la�os de amizade com Fidel, que passou a considerar como um segundo pai.

“Para mim, foi como um segundo pai. Porque me aconselhou, me abriu as portas de Cuba quando, na Argentina, as cl�nicas as fechavam. N�o queriam receber a morte de Maradona. Fidel abriu todas elas de cora��o”, disse o argentino em entrevista � AFP, em 2016.
Maradona tamb�m dedicou ao segundo pai, seu livro autobiogr�fico Yo soy El Diego (“Eu sou O Diego”, em tradu��o livre). “A Fidel Castro e, por meio dele, a todo o povo cubano”, escreveu. Outra homenagem feita a Fidel foi uma tatuagem do rosto do pol�tico na habilidosa perna esquerda de Maradona.
Coincidentemente, ambos faleceram em um 25 de novembro. Fidel em 2016, Maradona em 2020. Foi tamb�m em Cuba que Maradona fez sua famosa tatuagem do rosto de Che Guevara no bra�o direito. Entre 2000 e 2005 foram v�rias idas e vindas ao pa�s para tratamento contra o v�cio. Mas nem s� de interna��es e tens�o foram as passagens do craque por Cuba. Diego tem tr�s filhos cubanos, de duas m�es diferentes, gerados nessa �poca.
Em 2005, Maradona foi recebido com pompa no Pal�cio Miraflores, sede do governo da Venezuela, pelo ex-presidente Hugo Ch�vez. Ap�s o encontro, Maradona afirmou que havia ido para l� “encontrar um grande homem”, mas acabou encontrando um “gigante”.
Na Copa Am�rica de 2007, disputada na Venezuela, Maradona voltou ao pa�s como convidado de honra para dar o pontap� inicial da competi��o, na partida entre os donos da casa e a Bol�via. Na cerimonia de abertura, al�m de Ch�vez, ‘el Pibe’ esteve tamb�m com outro expoente da esquerda sul-americana: Evo Morales, ex-presidente da Bol�via.
Na Argentina, Diego sempre foi apoiador dos ex-presidentes N�stor e Cristina Kirchner. Em 2018, chegou a declarar que gostaria de ser candidato a vice-presidente na chapa de Cristina Kirchner. “Fidel me disse que eu devia me dedicar � pol�tica. Eu iria com ela (Cristina). Vejo as pessoas sofrendo. Minhas irm�s n�o conseguem pagar as contas no fim do m�s”, disse.
1 - Diego Armando Maradona foi um gigante do futebol, da Argentina e de todo o mundo, um talento e uma personalidade �nica. A sua genialidade e paix�o no campo, a sua intensidade na vida e seu compromisso com a soberania latinoamericano marcaram nossa �poca. pic.twitter.com/DubeM2PgQ4
%u2014 Lula (@LulaOficial) November 25, 2020
No Brasil, Maradona nunca escondeu sua simpatia pelo ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva. O eterno camisa 10 argentino se encontrou v�rias vezes com o petista e criticou publicamente a pris�o de Lula. Em 2016, pr�ximo ao per�odo em que se votava o impeachment da ex-presidente Dilma Roussef, Maradona posou para foto com uma camisa da Sele��o Brasileira com o nome de Lula estampado �s costas, e disse ser “soldado de Lula e Dilma".
Em novembro de 2019, quando o ex-presidente deixou a pris�o, Maradona se manifestou por meio de suas redes sociais: “Hoje se fez justi�a”.
Pelo Twitter, Lula lamentou o falecimento do craque: “Diego Armando Maradona foi um gigante do futebol, da Argentina e de todo o mundo, um talento e uma personalidade �nica. A sua genialidade e paix�o no campo, a sua intensidade na vida e seu compromisso com a soberania latino-americano marcaram nossa �poca. No campo, foi um dos maiores advers�rios, talvez o maior, que a sele��o brasileira j� enfrentou. Fora da rivalidade esportiva, foi um grande amigo do Brasil. S� posso agradecer toda sua solidariedade com as causas populares e com o povo brasileiro. Maradona jamais ser� esquecido”.
Poucas vezes vi um jogador de futebol parar de jogar e n�o parar. Maradona continuou jogando. Ele continuava jogando em pensamento, em suas opini�es pol�ticas, em suas cr�ticas. Continuou jogando pelo povo pobre no mundo inteiro.
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