'Luciano, como eu, � de centro-esquerda', diz Hartung

O ex-governador do Esp�rito Santo Paulo Hartung tem uma avalia��o destoante em rela��o ao saldo pol�tico das elei��es municipais deste ano. Para ele, as disputas municipais ter�o impacto de "baixa relev�ncia" em 2022 e o que vai influenciar a pr�xima disputa presidencial � como o Pa�s vai atravessar o "desafiador" ano de 2021.

Neste aspecto, acredita Hartung, n�o ser� a economia e, sim, o social o fator decisivo do voto daqui a dois anos. Um dos mais pr�ximos interlocutores de Luciano Huck, o ex-governador n�o arrisca um palpite agora sobre uma eventual filia��o do apresentador e empres�rio. Mas d� uma pista: "O Luciano � de centro-esquerda, como eu", disse Hartung em entrevista ao Estad�o.

� Que mensagem as elei��es municipais deste ano deram em rela��o ao atual contexto pol�tico nacional? � uma mensagem para 2022?

Da urna, sempre saem recados. O que a gente precisa entender � a circunst�ncia da elei��o. Dentro de uma pandemia que n�o temos um ponto final e ocorreu com gestores municipais tendo papel no enfrentamento da covid-19. Esses gestores foram turbinados com dinheiro. As prefeituras receberam um recurso vultoso. E ainda teve o fundo de campanha, que fez a diferen�a. Debaixo de uma pandemia, tem bonan�a. A taxa de reelei��o subiu. N�o foi um momento de desconex�o como a gente j� viu v�rias vezes na pol�tica brasileira. Se vai ter impacto em 2022? Muito pequeno, de baixa relev�ncia. E na elei��o da C�mara? Vai. � da tradi��o brasileira. Esse arranjo local impacta na elei��o seguinte de deputados e senadores. Agora, achar que o recado da urna � o que vai presidir o processo seguinte � um equ�voco. O que vai influenciar 2022 � 2021. Como o Pa�s vai atravessar esse ano desafiador.

� Como?

Existe uma enorme perda de tempo no Pa�s. De setembro em diante, j� era hora de agir.

Era hora de ancorar o endividamento em m�dio e longo prazos para manter solv�ncia e credibilidade. Agora passou a elei��o e a conversa � que tem que esperar a elei��o da C�mara. Est� sendo produzida uma grave crise a partir da in�rcia.

� Seguran�a econ�mica ser� ainda o fator principal na decis�o do voto em 2022?

O que vai acontecer vai depender muito do percurso de 2021, que at� agora vai mal. � o econ�mico? N�o, � o social. � o desemprego, a renda baixa, � isso que vai impactar. Quando voc� olha o terceiro trimestre hoje (anunciado na quinta-feira, com alta de 7,7% ante o segundo trimestre) voc� est� falando de passado. N�o � presente nem futuro. Na hora que voc� n�o ancora o endividamento, voc� produz desorganiza��o para 2021. E isso cria uma ambi�ncia diferente para 2022.

� Marcos Nobre, presidente do Cebrap, disse que as elei��es levaram a uma maior homogeneiza��o do quadro pol�tico-partid�rio. De fato, as urnas mostraram aumento na dispers�o partid�ria nos munic�pios. � um chamado ao di�logo das for�as pol�ticas?

O di�logo � necess�rio para a democracia em qualquer circunst�ncia e ambi�ncia. As pessoas precisam ter o h�bito de dialogar com a diferen�a. Isso � uma m�xima da vida democr�tica. Agora, n�o � elei��o municipal que dita isso. � agora o andar da carruagem por esse ano. 2021 vai ser dif�cil de ser percorrido, duro para a popula��o. As bases v�o estar nessa conjuntura. Essa coisa de discutir frente numa hora dessa... S�o v�rias frentes desde que eu seja o l�der? Deixa o processo amadurecer.

� Em 2017 o sr. previu "uma avenida aberta" para um outsider na elei��o presidencial de 2018. A pr�xima tamb�m ter� um caminho desobstru�do para um candidato "de fora" da pol�tica?

Em 2017, muitas lideran�as achavam que tempo de TV resolvia aquela elei��o. Para responder hoje, eu precisaria de uma bola de cristal. Mas no segundo semestre de 2021 teremos base. O ponto focal da elei��o de 2022 � a travessia de 2021, a� que v�o se formar as correntes conectadas ao sentimento da popula��o.

� Luciano Huck � apontado como poss�vel candidato em 2022. Conversas com S�rgio Moro e Fl�vio Dino, fortemente associados a polos divergentes da pol�tica nacional, n�o acabam deixando pouco claro para o eleitor sobre quem o apresentador quer ter ao seu lado num projeto eleitoral?

O Luciano, depois do pleito de 2018, decidiu ter uma participa��o ativa no debate nacional. Esse foi um deslocamento importante dele. Maior engajamento nos movimentos c�vicos, como Agora! e RenovaBR, para formar novos quadros. � preciso ter gente qualificada no debate nacional. Huck participou de um sem-n�mero de debates e avalia��es. Conversar com Dino e Moro, ou (Rodrigo) Maia, (Gilberto) Kassab, � coisa natural. O Pa�s precisa disso. Intera��o n�o quer dizer que vai estar junto ali na frente, que vai ter candidato ou participando do mesmo movimento. Acho positivo ele ter entrado abertamente de peito aberto no debate. Mas pol�tica � conversa. �s vezes o que parece distante n�o � distante.

� O DEM convidou o Huck para se filiar. Ele tem mantido um discurso de compromisso com a redu��o da desigualdade e pautas afirmativas por exemplo...

O DEM vem num processo de reconstru��o. A presid�ncia do ACM Neto tem sido diferente em termos de organiza��o partid�ria. Ele deu um dinamismo que � vis�vel para o partido. As presid�ncias de C�mara e do Senado deram visibilidade. O partido � um vitorioso neste processo municipal. O Luciano � de centro-esquerda, como eu. Algu�m que tem sensibilidade com os problemas sociais e tem um conceito modernizado da ideia do Estado e da economia. A hora � outra. A primeira decis�o � se vai participar do processo eleitoral. Acho que est� longe de uma decis�o assim. �

O sr. vai se filiar a um partido?

Estou com 63 anos, exerci oito mandatos e desde algum momento me preocupei com o encerramento dessa trajet�ria. Em 2010, estava em d�vidas, fui para a iniciativa privada sem certeza, tive uma reca�da, disputei 2014, mas quando tomei posse, em 2015, foi com consci�ncia que aquilo era o fim do meu ciclo pol�tico. Sou grato � oportunidade que tive e agora retribuo, al�m dos mandatos, no RenovaBR, no Agora!, no Todos pela Educa��o, com trabalho volunt�rio. Do ponto de vista de mandatos eletivos, fechei o ciclo.

� Qual a import�ncia das elei��es para a c�pula do Congresso na correla��o de for�as pol�ticas nacionais e como podem influenciar na pr�xima disputa presidencial? Maia e Alcolumbre poderiam buscar novo mandato?

Tenho defendido o Congresso. Nosso sistema pol�tico tem problemas, coisas que precisam ser consertadas, mas, do ponto de vista objetivo, o Congresso, na hora em que precisava fazer a reforma da Previd�ncia, foi positivo, mostrou um vi�s reformista. O Congresso equilibrou os Poderes v�rias vezes. Medidas que n�o eram apropriadas foram rejeitadas. Fizeram uma defesa da democracia, como o Supremo o fez. Eu vejo no Congresso um sinal positivo. Estou valorizando as presid�ncias de Maia e Davi? Deve ter reelei��o? Acho que deve seguir a Constitui��o. Toda vez que o Brasil procura um jeito pol�tico de utilizar as leis, de cortar caminho, produz coisa ruim. Tem que cumprir a lei. Se a Constitui��o fala que n�o tem reelei��o, altern�ncia do poder.

� O governo Bolsonaro fez emergir uma coaliz�o in�dita entre quase todos os governadores do Pa�s contra medidas, posicionamentos do governo federal. Como o senhor v� este cen�rio e como avalia a rela��o cr�tica que se estabeleceu entre presidente e muitos governadores?

O Brasil foi atingido pela pandemia com pontos fortes e fracos. Pontos fortes: reservas internacionais e teto de gastos, de governos anteriores; reforma de Previd�ncia, feita no atual governo. Pontos fracos: desemprego e endividamento alto, crescimento e investimento baixo. Quando a pandemia chegou, acrescentamos mais dois pontos fracos: a descoordena��o entre o Executivo nacional, o Judici�rio e o Legislativo nacional e os governos subnacionais. Isso est� sendo ruim para o Pa�s; e a crise ambiental. Temos tudo para ter protagonismo na agenda ambiental do mundo e passamos a ter que administrar crises pelas ilegalidades praticadas na regi�o amaz�nica.

As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.