
Incomodado com o comportamento do seu sucessor imediato no comando do Poder Executivo, que costuma se posicionar de maneira �s vezes conflitante em diversos temas, o presidente da Rep�blica tem dado cada vez menos ouvidos a ele, priorizando a rela��o com ministros sobre os quais tem ascend�ncia. Com isso, crescem os rumores de que Mour�o n�o deve compor a eventual chapa que concorrer� � reelei��o, em 2022.
A avalia��o de Bolsonaro, de acordo com assessores do Pal�cio do Planalto, � de que Mour�o tem tentado se projetar politicamente. Desconfiado, j� o v� como um advers�rio para o pr�ximo pleito. Para o presidente, o fato de o vice constantemente atender os jornalistas e n�o se furtar em comentar o desempenho do governo, muitas vezes de forma cr�tica, � sinal de que ele tem pretens�es maiores. Por conta disso, � preciso frear o �mpeto do general.
Bolsonaro evita repreender Mour�o publicamente, mas, neste m�s, j� deu declara��es que serviram como um recado claro ao vice. H� duas semanas, depois de o general apoiar a participa��o da empresa chinesa Huawei no leil�o do 5G no Brasil, o presidente foi no sentido contr�rio. “Ningu�m vem falar (sobre) 5G comigo, e n�o est� aberta a agenda para quem quer que seja a pessoa, a n�o ser que ela venha acompanhada do ministro F�bio Faria, das Comunica��es. Repito: 5G ningu�m fala comigo sem antes conversar com F�bio Faria”, afirmou, durante solenidade no Planalto.
Ainda que tente desconversar sobre se candidatar � reelei��o daqui a dois anos, Bolsonaro tem cogitado outros nomes para vice, como as ministras Tereza Cristina (da Agricultura, Pecu�ria e Abastecimento) e Damares Alves (da Mulher, Fam�lia e Direitos Humanos). Com isso, o general avalia as sa�das para o seu futuro. Chegou a admitir que pode se candidatar para uma vaga ao Senado e que, a princ�pio, n�o pensa em tentar disputar o Governo do Rio Grande do Sul, seu estado natal, por causa da idade.
De qualquer maneira, o vice tenta evitar os ru�dos com Bolsonaro. No come�o do m�s, afirmou que v� influ�ncia de “intrigas palacianas” no relacionamento com o presidente. De acordo com o general, h� assessores palacianos que “distorcem os fatos”. Esses mesmos palacianos veem Mour�o muito pr�ximo do MDB, e n�o descartam uma candidatura futura do general, em 2022, rumo ao Planalto.
Na �ltima quarta-feira, os dois tiveram uma reuni�o pessoal, depois de semanas sem conversarem a s�s. Segundo Mour�o, os dois ainda n�o trataram sobre a pr�xima elei��o geral, mas o general garantiu que vai se manter leal ao presidente aconte�a o que acontecer.
“At� o presente momento, o presidente Bolsonaro n�o tocou neste assunto comigo. Eu estou em condi��es, estou pronto para acompanh�-lo, caso ele deseje e ele v� ser candidato em 2022, porque tudo � poss�vel daqui para l�. Ent�o, se ele decidir que vai ser candidato e me convidar, ele sabe que tem o meu apoio e minha lealdade para continuar com ele”, disse.
Possibilidades
Na avalia��o do cientista pol�tico da Universidade Presbiteriana Mackenzie Rodrigo Prando, caso Mour�o queira um protagonismo maior, o lugar que ele tem mais chances de conseguir algum resultado � disputando o Senado. Afinal, se resolvesse entrar na corrida pelo Pal�cio do Planalto, brigaria por votos na mesma parcela do eleitorado que � fiel ao presidente.
“N�o sei se Mour�o quer partir para embate com Bolsonaro. Teria que dividir um grupo que j� est� muito pr�ximo ao bolsonarismo e o apoia. O presidente tem dificuldade de conviver com qualquer pessoa que tenha elementos de lideran�a e que possa ofusc�-lo”, observa Prando. Ele lembra que a postura mais amena de Mour�o, aberto ao di�logo com pol�ticos, al�m do grau de conhecimento do vice, s�o fatores que intimidam Bolsonaro –– e tamb�m, por isso, o presidente tenta afast�-lo.
“No in�cio do mandato, Mour�o come�ou a dar entrevistas, a atender � imprensa, falar em outros idiomas e a conversar com governadores. Tudo isso incomodou demais Bolsonaro e seus filhos, que viam articula��o do general como se um processo de impeachment estivesse em vias de prosperar. Qualquer movimento � entendido por eles, e pelo pr�prio presidente, como tentativa de golpe, de diminuir prest�gio do presidente”, observa
Para a constitucionalista e mestre em direito p�blico administrativo pela Funda��o Getulio Vargas (FGV) Vera Chemim, “Mour�o demonstrou n�o apenas prud�ncia, como tamb�m o seu conhecimento. Tais virtudes acabam provocando animosidade por parte dos filhos de Bolsonaro, que n�o perdem a oportunidade de hostiliz�-lo em manifesta��es p�blicas”.
Controle da C�mara assegura menos problemas
Pressionado pelo esc�ndalo da Ag�ncia Brasileira de Informa��es (Abin) e por questionamentos sobre a atua��o do governo na pandemia, o presidente Jair Bolsonaro tem, na elei��o para a Presid�ncia da C�mara, marcada para fevereiro, um teste decisivo para o seu futuro pol�tico. Fazer o sucessor do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) no cargo, mais do que favorecer projetos de interesse do governo, seria, para o presidente, uma forma de navegar em �guas menos agitadas, ante uma avalanche de complica��es que est�o por vir.
A corrida pela sucess�o na C�mara transformou-se em um campo de batalha, com o enfrentamento entre as for�as pol�ticas que j� come�aram a se organizar para as elei��es de 2022. A recente troca de acusa��es entre Bolsonaro e Maia a respeito do n�o pagamento do 13º do Bolsa Fam�lia exp�s o acirramento da disputa.
A revela��o de que a Ag�ncia Brasileira de Intelig�ncia (Abin) produziu relat�rios para orientar advogados do senador Fl�vio Bolsonaro (Republicanos-RJ) � a mais nova dor de cabe�a do presidente. Seu filho mais velho � investigado por suspeitas de desvio de sal�rios de funcion�rios do gabinete � �poca em que era deputado estadual no Rio de Janeiro.
Ao mesmo tempo em que a oposi��o acusa o chefe do governo de ter cometido crime de responsabilidade, pass�vel de um processo de impeachment, a ministra C�rmen L�cia, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que a Procuradoria-Geral da Rep�blica (PGR) abra uma investiga��o para confirmar se a ag�ncia de intelig�ncia do governo foi utilizada pelo presidente para fins pessoais. O caso, revelado pela revista �poca.
Futuro partid�rio
A disputa pela Presid�ncia da Casa tem import�ncia tamb�m na decis�o de Bolsonaro sobre o partido ao qual ir� se filiar. Aliados t�m orientado o presidente sobre a import�ncia de ele contar com uma estrutura partid�ria para tentar a reelei��o em 2022. Depois de n�o obter as assinaturas suficientes para criar o Alian�a pelo Brasil, o presidente tem mantido conversas com lideran�as de diferentes legendas, principalmente, do Centr�o.
Na semana passada, ele voltou a dizer que anunciar� o nome de sua nova sigla em mar�o, ou seja, ap�s o resultado da elei��o da C�mara. Conforme afirmou, um dos partidos com os quais tem conversado � o PP, do deputado Arthur Lira (AL), l�der do Centr�o e candidato do Planalto para suceder Maia no comando da Casa –– Bolsonaro foi filiado ao PP at� 2016. Entre outros partidos do bloco parlamentar, o presidente tamb�m tem na mira o PTB, do ex-deputado Roberto Jefferson (RJ), o PL e o Republicanos.
Um deputado filiado a um desses partidos, ouvido pelo Correio, afirmou que o presidente seria recebido de bra�os abertos, desde que n�o pretenda assumir o controle da legenda. Nessas discuss�es, Bolsonaro tem insistido que s� formalizar� uma filia��o se puder assumir o comando de sua nova sigla, com autonomia, principalmente, para acessar os recursos dos fundos partid�rio e eleitoral.
O deputado Marcos Pereira (SP), presidente do Republicanos, j� deixou claro, em diferentes ocasi�es, que n�o abriria m�o do comando da legenda para Bolsonaro. “N�o abro m�o do Republicanos, nem para o presidente”, tem repetido o parlamentar, que retirou a candidatura � Presid�ncia da C�mara e passou a apoiar Lira.
Migra��o constante
Desde que ingressou na pol�tica, em 1988, o presidente Jair Bolsonaro passou por oito partidos:
1988 a 1993PDC
1993 a 1995PPR
1995 a 2003PPB
2003 a 2005PTB
2005PFL
2005 a 2016PP
2016PSC
2017firmou
compromisso
com o Patriotas
2018 a 2019PSL
2019 a 2020sem partido