Vota��o em novembro garantiu � sigla o comando de 464 cidades brasileiras, entre elas quatro capitais (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press - 15/11/20)
Depois de sucessivos reveses eleitorais e dissid�ncias, as elei��es municipais de 2020 marcaram o retorno do Democratas ao clube dos grandes partidos. Vitorioso em quatro capitais e em importantes polos regionais pelo Brasil, o partido chegar� a 2021 no comando de 464 cidades, onde mais de 32,4 milh�es de brasileiros viver�o sob o comando da legenda.
Oriundo da Arena, partido de sustenta��o da ditadura militar, o DEM, antigo PFL, j� vem desenhando uma retomada de posi��o desde o processo de impeachment da presidente Dilma Roussef (PT). A legenda ocupou alguns minist�rios relevantes no governo de Michel Temer e em 2019 consumou seu protagonismo ao assumir o comando da C�mara dos Deputados e do Senado da Rep�blica. Com o bom resultado colhido pela legenda nas urnas, o partido se projeta como uma pe�a importante no arranjo eleitoral de 2022.
O cientista pol�tico Murilo Medeiros, que estuda a trajet�ria da legenda, observa um conjunto de fatores que facilitaram e consagraram esse retorno do Democratas ao centro do poder nacional. Medeiros defende que o partido foi muito eficiente em fazer uma transi��o geracional dos seus quadros, o que o permitiu abrigar diferentes correntes no campo mais liberal. Ele tamb�m credita o crescimento do DEM ao fato de o partido ter sido o principal ant�poda do PT durante o per�odo em que o partido ocupou o Planalto.
Com a ascens�o da direita, o partido capitalizou seu passe pol�tico, formou bases e atraiu lideran�as mais pragm�ticas do seu polo ideol�gico. “O Democratas passou por uma refunda��o na composi��o do seu comando nacional e na sua atualiza��o program�tica, e com a desidrata��o de legendas tradicionais, como o PSDB e o MDB, e pela falta de op��o partid�ria do presidente da Rep�blica, que preferiu n�o se filiar a um partido, a legenda acabou aglutinando diversas lideran�as dispersas na centro-direita e ocupou esse espa�o estrat�gico de um centro liberal de direita reformista”, avalia.
Um novo nicho
O cientista pol�tico ressalta tamb�m o movimento que o partido fez nas elei��es de novembro, partindo das pequenas cidades, onde conseguiu resistir ao derretimento durante os governos do PT, para voltar a administrar importantes col�gios eleitorais do pa�s. “Se a gente olhar para alguns indicadores dessas elei��es, o Democratas sai dos grot�es, em termos municipais, e conquistou for�a pol�tica nos grandes centros urbanos. O partido ganhou em quatro capitais, sendo o melhor resultado para o partido nesse porte de munic�pios em 32 anos. Destaco tamb�m, em termo regionais, que o DEM se deslocou do seu nicho tradicional, que � o Nordeste, para o Centro-Sul do pa�s”, comenta Murilo Medeiros.
O Democratas se tornou o maior partido da Regi�o Centro-Oeste em n�mero de prefeituras, conseguiu expressivo crescimento na Regi�o Sudeste e teve um bom desempenho nos estados do Nordeste e do Sul. Entre os sete munic�pios com mais de 2 milh�es de habitantes, o DEM vai administrar tr�s prefeituras (Salvador, Rio de Janeiro e Curitiba), al�m da vice-prefeitura de Manaus. A legenda tamb�m quase dobrou o n�mero de vereadores pelo pa�s e conquistou a segunda posi��o na conta de parlamentares eleitos nas capitais.
“Um ponto interessante que tamb�m destaco � o desempenho no quesito da elei��o para vereador, em que o Democratas teve um crescimento muito expressivo, conquistando 68 vereadores em capitais. Muitos vereadores de capitais migram, em elei��es seguintes, para disputar cargos mais altos, como o de deputado estadual ou deputado federal. Isso tamb�m refor�a muito a capilaridade em grandes col�gios eleitorais, que n�o pode ser lida apenas em n�mero de prefeituras, mas tamb�m nas casas legislativas. A meu ver, isso deve refletir numa curva ascendente do partido tamb�m nos pr�ximos pleitos”, vislumbra Medeiros.
Disputa presidencial
Murilo Medeiros acredita que o partido vai chegar em 2022 com um peso pol�tico. Ele nota, inclusive, que a legenda j� vem sendo procurada por diferentes lideran�as que despontam como prov�veis atores na disputa presidencial. “Temos vistos movimentos nesse sentido partindo de Luciano Huck, Jo�o Doria, Ciro Gomes e do pr�prio presidente Jair Bolsonaro.” Ele conclui reafirmando que, al�m dos bons resultados em 2020, o DEM se mostra estrat�gico para 2022 porque consegue manter contato com diversas frentes pol�ticas.
Em Minas Gerais, o Democratas saltou de 53 prefeituras conquistadas em 2016 para 84 nas elei��es deste ano, figurando, nesse quesito, como a terceira maior legenda. Tamb�m foram eleitos 786 vereadores nos munic�pios mineiros, sinalizando uma capilaridade no n�mero de lideran�as locais e regionais do partido no estado. Em 2018, o DEM elegeu o senador Rodrigo Pacheco por Minas Gerais, depois de ficar anos sem uma figura relevante na pol�tica estadual. Pacheco vem sendo cotado para disputar a presid�ncia do Senado em fevereiro, ap�s o Supremo Tribunal Federal barrar a tentativa de reelei��o de Davi Alcolumbre (DEM-AM), atual comandante da c�mara alta e fiador de Pacheco no pleito.
ENTREVISTA Rodrigo Pacheco, senador mineiro pelo DEM
Rodrigo Pacheco (DEM-MG) vem sendo cotado para disputar a presid�ncia do Senado em fevereiro (foto: Pedro Fran�a/Ag�ncia Senado)
Qual a leitura que o senador, como presidente estadual do DEM, faz do desempenho do partido nas elei��es municipais de 2020?
"O desempenho foi muito positivo, inclusive, hist�rico para o partido com a elei��o desse n�mero representativo de prefeitos, vices e vereadores. Esse desempenho coloca o Democratas entre os grandes partidos de Minas Gerais e do Brasil, ao mesmo tempo que nos d� a oportunidade de colocarmos em pr�tica nossos projetos voltados � gera��o de emprego e renda, t�o importantes na atual conjuntura."
Com o bom resultado nacional, o DEM se legitima pra liderar o debate da centro-direita?
"O resultado das urnas mostrou que o eleitor est� preocupado com os problemas reais dos munic�pios. Mais do que essa discuss�o sobre direita e esquerda, sobre esse radicalismo, o eleitor deixou clara a sua op��o por candidaturas que transmitiram capacidade de gest�o e de di�logo, com uma postura moderada e que realmente demonstraram capacidade de enfrentar os problemas. Diante disso, e a partir do resultado nas urnas, o Democratas est� credenciado a participar ativamente de todas as discuss�es sobre o futuro do Estado e do pa�s."
Em Minas, quais as expectativas do partido para as elei��es de 2022?
"Nos �ltimos anos, estabelecemos como prioridade o trabalho nas bases. Ampliamos o n�mero de filiados e atra�mos um grande n�mero de vereadores e prefeitos que optaram por deixar suas legendas e caminhar com o Democratas. E vamos continuar esse trabalho de fortalecimento do partido at� 2022."
O senador enxerga lideran�as no DEM que possam vir a ser competitivas numa disputa presidencial em 2022?
"Ainda � cedo para falar em nomes. � uma discuss�o que precisa ser feita no partido. O que acredito � que o partido n�o dever� dar espa�o para radicaliza��es, para um projeto que caminhe para os extremos. O recado das urnas deixou isso bem claro. A popula��o, que vem enfrentando uma s�rie de problemas financeiros e de sa�de, n�o est� preocupada com essa discuss�o ideol�gica. Ela quer representantes que tenham um projeto claro de governo, com solu��es objetivas e di�logo. Dentro disso, vejo o partido com diversos nomes, inclusive, o do seu pr�prio presidente, ACM Neto, que encerra seu ciclo na Prefeitura de Salvador muito bem-sucedido."
*Estagi�rio sob supervis�o da editora-assistente Vera Schmitz