Pressionado a dar respostas na economia e a iniciar de uma vez a vacina��o contra a covid-19 no Pa�s, o presidente Jair Bolsonaro come�a o segundo tempo de seu mandato com a expectativa de tirar do papel uma reforma ministerial. Especulada h� meses, a mudan�a � aguardada por aliados que passaram a integrar a base do governo no Congresso e cobram espa�o no Executivo. Segundo auxiliares, os pr�ximos dois anos s�o fundamentais para Bolsonaro pavimentar seu caminho � reelei��o em 2022.
Para isso, na avalia��o de pessoas pr�ximas, ter� que priorizar o cumprimento de pelo menos parte das promessas da campanha de 2018 tanto em rela��o � �rea econ�mica quanto na pauta de costumes. E, sem uma boa interlocu��o com o Legislativo, isso n�o ser� poss�vel.
Bolsonaro j� fez 15 mudan�as no seu primeiro escal�o nos primeiros dois anos de governo, a maioria delas ap�s crises internas. A pr�xima altera��o j� est� programada. Com a sa�da de Jorge Oliveira da Secretaria-Geral da Presid�ncia para assumir uma cadeira no Tribunal de Contas da Uni�o (TCU) no �ltimo dia 31, o presidente escalou o ex-chefe de gabinete, Pedro Souza, como interino. O substituto definitivo, contudo, s� deve ser anunciado em fevereiro, ap�s as elei��es no Congresso.
At� agora, as trocas nos minist�rios seguiram a escolha pessoal do presidente, o que frustrou o apetite de partidos por comando de pastas, embora siglas como Progressistas, Republicanos, PSD e PL tenham emplacado indica��es em secretarias e autarquias importantes. A �ltima delas ocorreu no in�cio de dezembro, quando Bolsonaro demitiu o ent�o ministro do Turismo, Marcelo �lvaro Ant�nio, e nomeou em seu lugar Gilson Machado, que ocupava a presid�ncia da Embratur e � amigo do presidente.
Eleito com o discurso da antipol�tica e cr�tico do "toma l�, d� c�" - a troca de cargos no Executivo por apoio no Congresso - o presidente tem se defendido das cr�ticas pela aproxima��o com o Centr�o. "Esse neg�cio de ficar a� cada vez mais satanizando partidos n�o existe", disse, em dezembro. Ele pr�prio j� foi filiado ao Progressistas, PTB, PFL (atual DEM) e PSC, que fazem ou j� fizeram parte do bloco que se notabilizou pelo fisiologismo em diferentes governos.
Prazos
A reorganiza��o do primeiro escal�o tamb�m tem como pano de fundo as movimenta��es de Bolsonaro para sua campanha � reelei��o em 2022. Sem conseguir viabilizar o Alian�a pelo Brasil, ele pretende definir, at� abril, a legenda pela qual disputar� pela segunda vez a Presid�ncia. Embora tenha conversado com partidos maiores, como o Progressistas, interlocutores do presidente afirmam que ele deve optar por uma sigla menor para poder ter o controle do caixa e das decis�es. Patriotas e PTB, do ex-deputado Roberto Jefferson, est�o com as portas abertas ao cl� presidencial - a expectativa � de que a ades�o inclua os filhos do presidente.
Integrantes do Executivo apontam que as mudan�as na equipe devem afetar, principalmente, a articula��o pol�tica do governo. Neste caso, o ministro Luiz Eduardo Ramos deixaria a Secretaria de Governo para abrir espa�o a um nome do Congresso. Entre os cotados para a fun��o est�o o atual presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e os l�deres do governo na C�mara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), e no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO). Ramos poderia, ent�o, assumir a Secretaria-Geral.
Outra mudan�a aguardada � a sa�da de Onyx Lorenzoni (DEM-RS) do Minist�rio da Cidadania. Em conversas reservadas, o ministro disse que teve a garantia do presidente de que est� seguro no cargo. Entretanto, a avalia��o no Executivo � que Onyx teve desempenho abaixo da expectativa. A troca dele, na avalia��o de um ministro, ajudaria a recompor a base e a definir o redesenho do Bolsa Fam�lia para suprir o fim do aux�lio emergencial pago at� dezembro por causa da pandemia da covid-19.
Vacina
Bolsonaro tamb�m inicia o segundo tempo de seu mandato sem data para iniciar a vacina��o contra o novo coronav�rus. Enquanto mais de 40 pa�ses do mundo j� come�aram a imunizar suas popula��es, o presidente tem tentado transferir a responsabilidade pela demora no Brasil �s empresas que fabricam vacinas e diz "n�o dar bola" para a press�o.
Na avalia��o de auxiliares diretos do presidente, Bolsonaro ter� como desafio neste ano tentar convencer a popula��o de que n�o � insens�vel �s mortes causadas pela covid-19 e, ao mesmo tempo, evitar o agravamento de uma crise econ�mica causada pelo prolongamento da pandemia. Na an�lise de um ministro, que falou ao Estad�o em car�ter reservado, o governo ter� que tratar a redu��o do custo Brasil como uma obsess�o para conseguir atrair investimentos e favorecer o crescimento econ�mico. Segundo ele, a aprova��o das reformas tribut�ria e administrativa s�o consideradas essenciais, a exemplo da venda dos Correios � iniciativa privada, promessa de campanha de Bolsonaro. O entendimento interno � que o governo precisa entregar alguma privatiza��o para dar uma sinaliza��o positiva ao mercado.
Ao mesmo tempo, lembram auxiliares, a articula��o pol�tica do Planalto precisar� emplacar pautas de costumes cobradas pela milit�ncia bolsonarista mais radical, como o homeschooling (educa��o domiciliar) e a flexibiliza��o do porte de armas.
Voto impresso vira prioridade
Na sua estrat�gia, o presidente Bolsonaro ainda colocou como prioridade para o pr�ximo ano a defesa do voto impresso. Desde a derrota do republicano Donald Trump nos Estados Unidos, ele voltou a fazer a defesa quase di�ria da medida que prev� o uso de papel nas elei��es. "Se n�o tiver voto impresso, posso esquecer a elei��o de 22", afirmou o presidente a apoiadores no litoral de Santa Catarina, em 23 de dezembro. Em mar�o, completar� um ano desde que afirmou pela primeira vez que a disputa de 2018 foi fraudada e que, sem a fraude, ele teria sido eleito no primeiro turno. Na ocasi�o, Bolsonaro disse que apresentaria provas nos dias seguintes, o que nunca fez.
A "arma" para isso � a PEC da deputada Bia Kicis (PSL-DF) que prev� a mudan�a nas urnas eletr�nicas. Aprovada pela CCJ da C�mara no fim do ano passado, ela precisa passar por duas vota��es no plen�rio da C�mara e no do Senado. Pelo texto, os votos impressos poder�o ser conferidos pelo eleitor e dever�o ser depositados em urnas de forma autom�tica, sem contato manual. A ideia � que os comprovantes sirvam para eventuais auditorias.
Em 2018, o voto impresso foi barrado pelo Supremo Tribunal Federal, que considerou a regra inconstitucional - por colocar em risco o sigilo da vota��o. A decis�o foi confirmada em setembro e uma das raz�es foram os altos custos que a impress�o dos votos acarretaria.
As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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