Eleita em 23/2 para o posto de presidente da Comiss�o de Rela��es Exteriores e Defesa Nacional do Senado, a senadora K�tia Abreu (PP-TO), primeira mulher a chegar ao posto, fez duras cr�ticas � condu��o da pol�tica externa brasileira durante a gest�o de Jair Bolsonaro. A comiss�o � respons�vel por sabatinar os indicados para altos postos diplom�ticos no exterior e fiscalizar as medidas adotadas pelo Itamaraty.
Representante hist�rica do agroneg�cio e ex-ministra da Agricultura no governo de Dilma Rousseff, Abreu afirma que as posi��es pol�ticas tomadas pela atual gest�o levaram � paralisa��o da implementa��o do acordo de livre-com�rcio entre Mercosul e Uni�o Europeia, anunciado no in�cio de 2019.A senadora, que, em 2010, recebeu a motosserra de ouro do Greenpeace, trof�u dado pela ONG � figura p�blica que mais atuou em prol do desmatamento no pa�s, afirmou � BBC News Brasil que os discursos internacionais do chanceler Ernesto Ara�jo e do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que questionaram o aquecimento global e os dados sobre desmatamento no Brasil, t�m causado preju�zos financeiros aos produtores rurais brasileiros.
"Ningu�m discute mais sobre desmatamento, sobre queimadas, sobre emiss�es (de gases do efeito estufa). Isso j� � uma coisa cristalizada, com um entendimento internacional, e quem for discutir isso est� perdendo seu tempo", resume Abreu.
A senadora se diz "super a favor" do fundo internacional para preserva��o da Amaz�nia que prop�s o ent�o candidato (e hoje presidente americano) Joe Biden, desde que n�o fira a soberania brasileira, possibilidade aventada por Bolsonaro depois da fala de Biden.
Ainda segundo Abreu, as a��es do presidente brasileiro durante a campanha presidencial dos Estados Unidos, quando determinou a expans�o da cota de importa��o de etanol dos EUA e aceitou restri��es � exporta��o do a�o brasileiro ao pa�s, "feriram interesses de setores do Brasil". � �poca, analistas e diplomatas que conversaram reservadamente com a BBC News Brasil viram no gesto uma tentativa de apoio de Bolsonaro � campanha de Trump. Os usineiros brasileiros se irritaram.
"� dif�cil imaginar o que tem por tr�s disso, porque para voc� ferir o interesse nacional voc� tem que estar com o foco muito certo de que vai perder agora para ter um ganho muito claro ali na frente. Mas n�o tivemos tempo de ver esse resultado, o Trump perdeu as elei��es", analisa Abreu.
A senadora diz ainda que ataques do chanceler Ernesto Ara�jo � China s�o "puramente ideol�gicos" e criaram "ru�do" no momento em que o Brasil precisa de agilidade para importar vacinas e insumos contra a covid-19 daquele pa�s.

E embora seja vista como forte opositora de Ara�jo em Bras�lia, Abreu se recusou a comentar uma poss�vel demiss�o dele, cogitada agora que os partidos do chamado Centr�o comp�em a base de sustenta��o do governo no Legislativo e devem ser acomodados em minist�rios na Esplanada.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
BBC News Brasil - Como a senhora avalia a pol�tica externa na gest�o Bolsonaro?
K�tia Abreu - H� muito tempo n�s temos uma pol�tica externa muito fr�gil no Brasil. H� muito tempo n�o temos algo articulado, focado, com metas rigorosas e ousadas para serem cumpridas, como se faz na iniciativa privada. Claro que n�s temos dificuldades maiores do que a iniciativa privada porque cabe ao Estado fazer uma articula��o muito maior e detalhada com cada setor para poder garantir esses acordos (comerciais) e essa amplia��o de mercado.
Mas, hoje, o grau de abertura comercial do Brasil � de 22% do PIB enquanto que o grau de abertura dos pa�ses da OCDE (Organiza��o para Coopera��o e Desenvolvimento Econ�mico, ou "clube dos pa�ses ricos", na qual o Brasil tenta ingressar) � 45%. S� estamos � frente de Nig�ria e Sud�o nisso. Partindo desse n�mero, eu acho que n�s dever�amos ser mais ousados para alcan�ar o mais r�pido poss�vel pelo menos 30%.
Isso n�o pode ser feito do dia para a noite. H� que negociar prazos, negociar isen��es de impostos, excluir atividades mais complexas, que devem ficar fora do acordo. Enfim, ent�o se n�s fizermos tudo isso do dia pra noite, vamos causar um tumulto e uma fal�ncia de v�rios setores no pa�s. Por isso eu estou pregando um aumento gradual nisso, mas n�o pode ser uma lentid�o usada como protecionismo cego.
E o que seria o primeiro passo nessa dire��o? Eu acredito que o acordo Mercosul-Uni�o Europeia j� est� bem adiantado, ao extinguir impostos de 90% dos produtos em um per�odo de tempo. Hoje s� 24% dos produtos comercializados entre o Brasil e a Uni�o Europeia n�o t�m impostos.
O caminho est� bem adiantado e foi paralisado por uma quest�o pol�tica e por uma m� condu��o, um equ�voco na condu��o e no di�logo do Itamaraty especialmente, mas tudo pode ser corrigido, ser refeito, mas equ�vocos principalmente com rela��o � quest�o ambiental. A quest�o ambiental est� hoje no mesmo patamar do conceito de direitos humanos. Algu�m discute hoje algum item do C�digo de Direitos Humanos nessa face da Terra? N�o se discute.
A quest�o ambiental est� caminhando para esse mesmo sentido. Ningu�m discute mais sobre desmatamento, sobre queimadas, sobre emiss�es. Isso j� � uma coisa cristalizada, com um entendimento internacional, e quem for discutir isso est� perdendo seu tempo.
BBC News Brasil - Desculpe interromper, senadora, mas o governo atual questiona tanto os direitos humanos quanto as premissas do aquecimento global. Como a senhora avalia, ent�o, a atua��o do chanceler Ernesto Ara�jo, que faz discursos internacionais negando essas quest�es clim�ticas e ambientais?
Abreu - Eu avalio de modo negativo, porque isso j� s�o temas e teses universais. Direitos humanos e quest�o ambiental j� s�o bandeiras universais. No come�o, o meio ambiente era bandeira de ambientalista xiita, radical. Acabou isso, ainda existem radicalismos, mas j� virou uma bandeira internacional, ningu�m discute isso mais, meu Deus. Discutir isso, repisar esse assunto � ficar indo para o atraso, para o passado, para coisas que j� est�o superadas, vamos para frente.
Essa quest�o ambiental, eu n�o vejo dificuldade nela. Fora desmatamento de �reas de determinados produtores que querem avan�ar porque querem produzir e t�m maior renda, que � uma quest�o individual e pessoal, quando voc� avalia no todo, todas as t�cnicas e as tecnologias dispon�veis para o agroneg�cio para (proteger) o meio ambiente d�o lucro.
Hoje, voc� j� est� fazendo sistemas de produ��o de gado em floresta porque a sombra � melhor para a engorda do boi e para a cria dos bezerros, o plantio direto que evita a retirada da palha do solo, isso traz economia para o agroneg�cio porque voc� n�o precisa aplicar produtos na terra. Ent�o se eu elencar para voc� quatro, cinco t�cnicas e tecnologias verdes, todas trazem ganho de dinheiro para os produtores.
Agora, essa quest�o do desmatamento sai desse entendimento global, racional e pragm�tico para uma quest�o individualizada do desejo do Jo�o, do Pedro, da Maria, de querer desmatar mais na sua �rea para ter uma maior rentabilidade. E quem est� certo, quem est� errado, n�o importa, porque Jo�o, Pedro e Maria t�m que compreender que tem regras e leis que n�s absorvemos e que j� aprovamos no Congresso Nacional e que tem que ser cumprida e pronto acabou. N�o tem mais meu desejo. Tem a obriga��o legal.

BBC News Brasil - Ent�o, quando o chanceler Ernesto Ara�jo faz esse tipo de discurso negando essas quest�es ambientais, ele est� defendendo os interesses de quem, se essa n�o � a agenda do agroneg�cio?
Abreu - Eu acho que � uma agenda contra o Brasil e acho que � uma agenda contra os produtores. O agroneg�cio � uma cadeia longa, s�o os vendedores de insumos, os produtores, o com�rcio e o transporte. Ent�o, os produtores em si, alguns, se ressentem das regras ambientais, das normas brasileiras, � um direito que t�m, tem gente que reclama de v�rios artigos da Constitui��o Federal, � um direito do ser humano na democracia contestar, mas n�o pode descumprir. Os produtores se ressentem disso.
Agora quem se ressente (do discurso do chanceler) economicamente diretamente hoje s�o os vendedores desses produtos, � a agroind�stria, � quem processa, porque � ela que tem que bater na porta l� fora para vender. Essa alian�a n�o pode ser desfeita. O produtor tem que entender que ele n�o existe sem processamento e sem o exportador. E o exportador est� tendo dificuldade e ter� dificuldades. � essa quest�o ambiental que nos prejudicou a finalizar o acordo Mercosul-Uni�o Europeia, e que n�o prejudicou nem a Mariana, nem a K�tia. Prejudicou os produtores de todo pa�s que querem exportar.
Claro que o pa�s tamb�m ficou prejudicado em sua balan�a comercial, sem aumento na sua gera��o de emprego e renda. Esse ser� o maior acordo comercial existente na face da Terra. S�o quase 800 milh�es de habitantes e 25% do PIB mundial envolvidos nesse acordo Mercosul-Uni�o Europeia. Ser� que � poss�vel que n�o est� vendo o preju�zo que n�s poderemos continuar tendo em negar essa quest�o ambiental?
Mas eu sinceramente vejo que o ministro do Meio Ambiente, de certa forma, fez um recuo. N�o � um mea culpa, mas de certa forma se silenciou. O pr�prio chanceler tamb�m. Porque isso estava dando contradi��es na pr�pria pol�tica econ�mica do pa�s, que � aumentar as exporta��es e aumentar o mercado. H� dentro do Minist�rio da Economia uma secretaria especial que trata das quest�es de com�rcio exterior e que tem um pensamento totalmente diferente com rela��o a essas quest�es, que est� focada em vender, em fazer a coisa sustent�vel, de qualidade, (construir) um mercado s�lido, de confian�a para o Brasil, que � o que os produtores querem.
N�o pode ser um p� l� e um p� c�. N�s temos que estar com os dois p�s no mesmo lugar obedecendo a excel�ncia, o consumidor. Se eu quero vender, como � que vou desobedecer ao consumidor? Se eu quero vender blusa azul e o consumidor quer blusa vermelha, eu vou vender para quem?
Precisa de ajustes de narrativas porque, na pr�tica, o Brasil tem uma bel�ssima agropecu�ria, muito ajustada, muito tecnol�gica, e precisa avan�ar muito na quest�o dos pequenos produtores, para que tenham acesso a essas tecnologias para produzir mais sem desmatamento. E essa quest�o do desmatamento j� estava pacificada antes de Bolsonaro, j� era um fato consumado, e ele fez o fato ser "desconsumado", fez o div�rcio sem necessidade, sem atrito no casamento.
E para os produtores que teriam vontade de desmatar mais, de abrir suas �reas porque querem produzir mais, legitimamente ganhar o seu dinheiro, n�s temos que buscar compensa��es, indeniza��es. Algo como venda de carbono, compensa��o por parte dos pa�ses que j� desmataram, n�o sei o nome, mas n�s temos que fazer deste passivo de n�o ter desmatamento um grande ativo econ�mico, porque isso vale dinheiro.
BBC News Brasil - Durante a campanha presidencial americana, o ent�o candidato Joe Biden disse que queria criar um fundo internacional de US$ 20 bilh�es para dar ao Brasil e ajudar a manter a floresta amaz�nica em p�. A senhora concorda com essa ideia, que inicialmente foi vista pelo governo como amea�a � soberania e a san��es econ�micas? Gostaria de se envolver numa negocia��o dessas?
Abreu - Claro que sim, eu sou super a favor. A preocupa��o que o brasileiro precisa ter, e eu sou brasileira, � com as condi��es que esse dinheiro vir�. A quest�o da soberania nacional � importante para todos n�s. Ent�o n�o � assim: "quero o dinheiro", e o dinheiro vem de qualquer jeito, de qualquer forma a qualquer custo. L�gico que n�o.
As condi��es que o Biden vai colocar para esses recursos virem para o Brasil ou para qualquer pa�s do mundo para a preserva��o ambiental t�m que ser negociadas. � suport�vel, � digno, temos condi��es de aceitar? �timo. Se fere a soberania nacional, n�o, obrigada. Ent�o � simples assim, n�s n�o temos que temer, n�s temos que conversar e eu tenho interesse sim, n�o s� com os americanos, mas europeus, na busca dessas compensa��es porque o Brasil tem feito o dever de casa muito bem e precisa continuar fazendo.
BBC News Brasil - O presidente franc�s, Emmanuel Macron, falou recentemente que comprar soja do Brasil era seguir impulsionando o desmatamento da Amaz�nia. Como a senhora avalia isso?
Abreu - Sobre o presidente franc�s, eu devo confessar que acho tamb�m muito populismo, exagero e um certo oportunismo pol�tico. Voc� v� o comportamento do Biden, as express�es, a forma de falar, muito mais polidas, muito mais diplom�ticas do que est� fazendo o presidente franc�s.
Existe um ditado brasileiro muito antigo que diz que c�o que ladra n�o morde. O presidente de qualquer pa�s da Europa tem o direito de se expressar dizendo que n�o quer comprar soja de desmatamento de qualquer lugar do mundo, mas n�o tem o direito de amea�ar. Um l�der e um chefe de Estado age na pr�tica, at� com san��es, � um direito dele. Agora, n�s tamb�m n�o podemos permitir que o Brasil seja chantageado e amea�ado publicamente como o presidente franc�s tem feito.
Tamb�m acho que a narrativa (brasileira) est� errada e que o presidente franc�s, na verdade, est� utilizando isso porque h� uma resist�ncia dos produtores rurais da Fran�a, da Alemanha e da Inglaterra contra esse acordo Mercosul-Uni�o Europeia por conta do agroneg�cio brasileiro.
BBC News Brasil - Nas �ltimas semanas a gente viu uma dificuldade grande do governo de importar vacinas e insumos da China. Isso aconteceu depois de uma s�rie de cr�ticas de autoridades brasileiras ao pa�s. A senhora v� retalia��o pol�tica nessa dificuldade?
Abreu - N�o, eu n�o creio. Eu conhe�o um pouco os chineses, j� fui � China dez vezes nos �ltimos oito anos, quando era ministra (da Agricultura), presidente da CNA (Confedera��o Nacional de Agricultura), justamente trabalhando para acordos comerciais.
Eu n�o vejo os chineses t�o vulner�veis em suas atitudes. Eles sabem que, no Brasil, a democracia imp�e uma elei��o a cada quatro anos, mudan�as de governos na Uni�o, nos Estados e munic�pios. Eles sabem que a coisa no Brasil � muito din�mica e que essa rela��o comercial � necess�ria para a China tanto quanto � necess�ria para o Brasil.
Eles podem e devem ter ficado aborrecidos com tanta agressividade e ataques, mas n�o acredito que o chin�s vai fazer disso um rompimento, uma retalia��o expressiva ou que v� macular essa rela��o t�o ampla e t�o antiga. Eu fiz uma reuni�o (no come�o) com 20 senadores e o embaixador chin�s justamente para dar a ele um gesto de que n�s estamos aqui e que no Brasil � assim, a democracia permite que as pessoas pensem diferente, mas que n�s queremos a continuidade dessa rela��o, n�o s� por conta da vacina, mas que queremos uma rela��o duradoura, sem preconceitos.
Nessa reuni�o, o embaixador chin�s garantiu que n�o existe nenhum tipo de retalia��o.
As palavras na diplomacia precisam ser medidas, e essas rusgas, essas pedradinhas que v�o sendo jogadas nas rela��es v�o criando fissuras e um cristal quebrado nunca cola.
BBC News Brasil - A que interesses o chanceler Ernesto Ara�jo serviu ao fazer tantas cr�ticas � China?
Abreu - Ideol�gico. Puramente ideol�gico, n�o vejo nenhum outro interesse. Desde que ele come�ou esse preconceito e esses coment�rios dif�ceis contra os chineses, eu repito certos n�meros da rela��o da China e do Brasil para ver se abre a cabe�a deles para o tamanho do que � falar da China. Os americanos s�o nossos parceiros comerciais, n�s temos interesse, � o nosso segundo parceiro comercial do mundo. Mas eles s�o tamb�m nossos grandes concorrentes.
J� a �sia, ao contr�rio, ela precisa de n�s como n�s precisamos dela. Nosso grande comprador de produtos agropecu�rios, por exemplo, s�o especialmente os chineses. N�o precisa escolher um ou outro. Por que voc� tem que fazer essa escolha? Essa escolha � ideologia. Eu n�o quero saber do regime pol�tico chin�s, n�o me interessa, isso � problema deles, desde que respeitem os direitos humanos. Mas regime pol�tico, regime de governo, isso n�o nos diz respeito.
A China pretende aumentar as importa��es nos pr�ximos 25 anos em US$ 1 bilh�o por ano. O que significa isso para n�s? De tudo o que a China importa, 4% s� vem do Brasil. Se n�s apenas mantivermos esse patamar de 4%, s� com o crescimento da China, n�s ter�amos um aumento no nosso com�rcio de US$ 100 milh�es a cada dois anos. Ent�o n�o d� para discutir, n�o d� para brincar com as coisas, n�o d� para desconsiderar. A �sia hoje � o foco do mundo.

BBC News Brasil - A senhora mencionou o fato de que os EUA s�o nossos concorrentes. No fim do ano passado, durante o processo eleitoral, o governo brasileiro tomou medidas para facilitar exporta��o de etanol americano ao Brasil, aceitou restri��es ao a�o brasileiro. A avalia��o no mercado � que isso foi feito pelo presidente brasileiro por uma simpatia a Trump. A senhora acha que a gest�o Bolsonaro feriu interesses nacionais a favor do aliado Trump?
Abreu - Eu acho que feriu interesses de setores do Brasil, sim. N�o tenho obriga��o de interpretar as atitudes de Bolsonaro, mas eu n�o acredito que nenhum governante em qualquer esfera fa�a alguma coisa intencional para dar preju�zo ao pa�s. Eu brinco sempre que ningu�m se elege para ser ruim. Todo mundo se elege pensando que vai ser bom, a� no meio do caminho se perde por muitas coisas.
Eu imagino que talvez ele tenha pensado que estava sinalizando uma aproxima��o e uma boa vontade para ter outros ganhos l� na frente, como, por exemplo, apoio para a entrada na OCDE. � dif�cil imaginar o que tem por tr�s disso, porque para voc� ferir o interesse nacional voc� tem que estar com o foco muito certo de que vai perder agora para ter um ganho muito claro ali na frente.
Mas n�o tivemos tempo de ver esse resultado, o Trump perdeu as elei��es, nunca saberemos se havia algum tipo de acordo a ser cumprido no futuro.
BBC News Brasil - Esse amplo apoio de Bolsonaro a Trump, dizendo inclusive que tinha fontes que falavam em fraude na elei��o americana, deixou os democratas insatisfeitos. A cr�tica mais recente foi feita pelo senador Robert Menendez, que enviou uma carta � embaixada brasileira dizendo que haveria preju�zo na rela��o Brasil-Estados Unidos se o Brasil n�o denunciasse a invas�o ao Capit�lio como uma agress�o � democracia. Qual � a sua opini�o sobre a postura do governo nesse epis�dio e sobre a rela��o do Brasil-Estados Unidos hoje?
Abreu - N�s precisamos avisar aos americanos que o Bolsonaro contesta at� a elei��o que ele ganhou (risos). Eu nunca vi ningu�m que ganha contestar. Que coisa mais maluca imaginar que algu�m vai fraudar uma elei��o e ainda deixar o outro ganhar. S�o coisas incompreens�veis, nem quero interpretar estas decis�es de Bolsonaro. Eu acho que as consequ�ncias est�o a�, para quem quiser ver. Acho at� que ele n�o tinha necessidade de se manifestar sobre o Capit�lio, mas contestar as elei��es americanas n�o � fun��o nossa.
Para qu� se manifestar? Essas coisas n�o s�o adequadas nas rela��es internacionais, v�o criando arestas, dificuldades. Se o presidente pretende, eu tenho certeza absoluta que ele n�o se elegeu para fazer mal para o Brasil, as inten��es t�m que ser boas, claro que s�o boas. Ent�o tem que procurar n�o errar em determinadas �reas. E se errar, tem que ter humildade para recuar.
Acredito que essas manifesta��es inadequadas precisam ser evitadas, que o que n�o for para contribuir com o pa�s, � melhor ficar em sil�ncio.
BBC News Brasil - A senhora v� condi��es no ministro Ernesto Ara�jo de continuar no cargo? A senhora defende a demiss�o dele?
Abreu - Eu prefiro n�o me manifestar sobre isso, mesmo porque eu n�o votei em Bolsonaro, eu n�o apoiei o Bolsonaro, ent�o eu sou eleita na base de oposi��o. Claro, se eu concordar com as mat�rias do governo, eu voto a favor, porque n�o sou empresa de demoli��o.

BBC News Brasil - Mas o seu partido, o PP, � base de sustenta��o do governo Bolsonaro.
Abreu - Mas eu tenho total independ�ncia pelo meu partido: o que eu acho que n�o est� certo, eu n�o voto. O que for bom pro Brasil, eu voto. Mas a base de apoio � interessante, porque Bolsonaro entrou com um governo muito dif�cil, sem base. Essa quest�o de coaliz�o no Brasil com mais de 30 partidos ser� sempre dif�cil para qualquer presidente. Os acordos e as alian�as s�o muito custosos e dif�ceis.
Bolsonaro entrou (no Planalto) com um grande partido (o PSL), com muitos deputados, mas n�o o suficiente para ter uma base de apoio. Com essa oficializa��o da base de apoio (do Centr�o), voc� observa que esses partidos do centro em todos os governos sempre foram o ponto de equil�brio dos governos. E essa base de apoio de Bolsonaro, ela vai dar uma sustentabilidade ao governo Bolsonaro, mas vai fazer tamb�m cobran�as de posi��es em conformidade com o equil�brio, mais puxando para o equil�brio.
Essa base de apoio n�o � gratuita e incondicional. Esses partidos de centro s�o profissionais da pol�tica.
BBC News Brasil - No fim do ano passado, a senhora capitaneou uma derrota � indica��o do Minist�rio das Rela��es Exteriores ao embaixador F�bio Marzano, que pretendia um cargo na ONU em Genebra. Essa vai ser a t�nica da sua gest�o � frente da Comiss�o de Rela��es Exteriores?
Abreu - Qual a t�nica? Derrotar diplomata? (risos) Essa voc� n�o vai nem acreditar: naquele dia eu tive a solidariedade dos colegas, eu n�o movi uma palha e nem sugeri (a reprova��o do diplomata). Na hora, na comiss�o, todo mundo achou aquilo um desaforo, mas os senadores, j� com raiva do chanceler por mil outras coisas, quiseram dar aquela sinaliza��o para ele. Ent�o parece que eu fui a chefe da torcida organizada.
E eu fui meio empurrada, meio usada ali, e adorei porque foi uma sinaliza��o importante. Que coisa � essa? Eu fiz uma pergunta t�cnica para ele, n�o perguntei sobre a personalidade, o car�ter nem o que o chanceler come. Eu perguntei uma coisa muito plaus�vel, minha maior preocupa��o � a Uni�o Europeia e o Mercosul. Para todos que se sentam l� (na comiss�o, para sabatina de cargos diplom�ticos) eu pergunto sobre isso.
Acho que foi uma sinaliza��o que o Senado quis dar com todo o meu apoio, claro. N�o estou correndo disso. Mas essa n�o � a t�nica. Nenhuma comiss�o pode ser lugar para oposi��o. N�s temos outros foros. Se quero fazer oposi��o, vou ao plen�rio. Vai ser uma condu��o isenta e institucional. Ningu�m espere de mim uma grande CPI ou uma 'cordeirinha' que vai ficar atr�s do chanceler ou do governo.
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