
Com o racha da legenda explicitado na elei��o para a presid�ncia da C�mara dos Deputados, um eventual apoio do Democratas ao projeto de reelei��o de Jair Bolsonaro (sem partido) ser� “desastroso”. A avalia��o � do ex-ministro da Sa�de Luiz Henrique Mandetta.
Na vis�o dele, assim como outros regimes no mundo, a democracia brasileira � atacada por movimentos de extrema-direita de inspira��o neonazista, com o uso de algoritmos para manipular e dividir a opini�o p�blica, estrat�gia com a qual dialoga o gabinete presidencial do Pal�cio do Planalto.
“Seria um desastre se isso (o apoio a Bolsonaro) acontecesse”, afirma ele, em entrevista ao Estado de Minas.
A proje��o dada pelo cargo de ministro da Sa�de no in�cio da pandemia e as cr�ticas ao comportamento do presidente da Rep�blica al�aram o m�dico ao posto de poss�vel candidato ao Planalto em 2022.
Mandetta, que foi deputado federal por dois mandatos, tem intensificado sua agenda de comunica��o. Com o agravamento da crise sanit�ria, ele concede entre cinco e sete entrevistas por dia. Tamb�m atende a liga��es de prefeitos, governadores e representantes de associa��es de profissionais de sa�de.
Ao ser demitido, em abril de 2020, o ex-parlamentar usou palavras amenas ao se dirigir ao presidente da Rep�blica na transmiss�o do cargo a Nelson Teich (que depois pediria demiss�o).
Tamb�m foi tratado com cordialidade pelo presidente. Menos de um ano depois, eles est�o em lados opostos. Bolsonaro, de forma sistem�tica, menciona o nome de seu antigo subordinado de forma ir�nica em suas lives semanais. Na mais recente, na �ltima quinta-feira, criticou “as asneiras do Mandetta”.
O ex-ministro denuncia a “pol�tica de divis�o absoluta” do presidente. “O que percebemos no Brasil, hoje, � uma liga social rota criada a partir dessa pol�tica da divis�o absoluta. Ela n�o tem �tica e moral. Se o pre�o disso for a morte das pessoas – e ela ver que isso d� algum tipo de apoio – banca isso”, afirma. Para Mandetta, o DEM n�o pode se furtar ao debate. “N�o se pode, como partido, n�o ter vis�es de momento e de futuro”, afirma.
“Espero que o Democratas consiga fazer essa discuss�o. A conversa que tive com eles foi nesse sentido”, acrescenta, informando que tem a miss�o de coordenar e ampliar o di�logo por meio de um programa com v�rios eixos – como educa��o, liberdade de express�o, direitos humanos e pol�ticas para a mulheres – que se contraponha ao projeto de Bolsonaro, considerado disruptivo.
Mandetta foi exonerado do Minist�rio da Sa�de depois que se recusou a adotar a cloroquina indiscriminadamente e por defender o uso de m�scaras e a necessidade de distanciamento social enquanto o presidente promovia aglomera��es, recusava-se a usar a prote��o facial e enaltecia o “tratamento precoce”. Ex-integrante do governo, parece ter conhecido os bastidores da estrat�gia de comunica��o usada no Pal�cio do Planalto.
Por isso, garante que a ret�rica que seguiu na contram�o do enfrentamento cient�fico da pandemia e constantemente abre fogo contra as institui��es democr�ticas n�o � casual.
“� algo fundamentado, que Trump fez nos Estados Unidos e Bolsonaro faz aqui. Teve o Brexit como pano de fundo e est� na reemerg�ncia de movimentos neonazistas e extremos, que prop�em a ruptura absoluta da sociedade e um desmanche do multilateralismo e da tentativa de a humanidade ter um caminhar mais s�lido. Aproveita-se toda situa��o para minar toda e qualquer institui��o, colocando tudo em descr�dito”, afirma ele.
“A m�xima de dividir para conquistar est� sendo levada a uma coisa muito t�cnica: isso � feito via algoritmo e manipula��o da mente das pessoas. Fala-se e repete-se milh�es de vezes o que a pessoa quer escutar”, afirma.
“Em uma situa��o de gravidade, com uma doen�a que n�o � individual – e ataca a sociedade em todas as suas nuances –, uma parte da sociedade quer, primeiro, uma solu��o m�gica, r�pida. Ent�o, se a ci�ncia n�o a tem, divide-se a ci�ncia: plantam-se fake news, repetidos milh�es de vezes. Se a sa�da � via vacina e n�o se preparou para tal, aumenta-se o movimento antivacina. Faz-se uma ruptura, cria-se o cisma, planta-se o �dio e a treva, para poder estar com todos os setores fragmentados, pois se a sociedade estiver fragmentada em v�rios problemas, n�o se une para combater a raiz do problema, que � a condu��o pol�tica deste momento por que o pa�s passa”, assinala.

"A m�xima de dividir para conquistar est� sendo levada a uma coisa muito t�cnica: isso � feito via algoritmo e manipula��o da mente das pessoas. Fala-se e repete-se milh�es de vezes o que a pessoa quer escutar"
Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Sa�de
Para Mandetta, depois de Bolsonaro atacar o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal, o alvo do Planalto nos �ltimos dias s�o os governadores e prefeitos que tomam medidas duras para conter a dissemina��o descontrolada da COVID-19.
“Primeiro, o Congresso Nacional era o grande problema; Rodrigo Maia era o dem�nio. Depois, o Supremo Tribunal Federal (STF) era o grande problema. Incita-se toda a massa contra essas institui��es e contra a democracia: ‘As urnas s�o falhas e, se eu n�o ganhar, o mundo vai acabar’. Isso n�o tem limites.”
Para o ex-ministro, a estrat�gia entrou em novo momento. “Agora que esgotou – conseguiu fazer os presidentes da C�mara e do Senado e est� come�ando a nomear ministros do Supremo –, o pr�ximo da lista passou a ser o pacto federativo. S�o os governadores e prefeitos. Ataca e joga a popula��o contra eles. A imprensa brasileira � a mais espancada do mundo. Nunca houve volume t�o grande para retirar (da imprensa) a credibilidade. E assim vai. Quem ser� o pr�ximo?”, questiona.
Movimento para ampliar di�logo
Al�m de ampliar o debate interno em seu partido, Mandetta conta que tem buscado interlocu��o com outros partidos pol�ticos e atores nos campos da direita, centro-direita e centro.
Ele faz elogios ao prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), pela condu��o do enfrentamento � pandemia, e revela manter contatos com Roberto Freire, do Cidadania, e Jos� Luiz Penna, do PV.
“(Converso com) alguns parlamentares do PSB, como J�lio Delgado (MG), que sempre teve atua��o muito destacada. Mas muito, ainda, no campo da troca de impress�es, de que tipo de pa�s est� se desenhando, da gravidade do momento e da import�ncia de as for�as democr�ticas dialogarem”, revela ele, que desconversa quando perguntado sobre a exist�ncia de di�logos com o PT – Mandetta votou a favor do impeachment de Dilma Rousseff e exibiu no plen�rio do C�mara, no dia da vota��o do afastamento, uma placa escrito “Tchau, querida”.
Indagado sobre conversas recentes com o ex-juiz e ex-ministro da Justi�a Sergio Moro – que, ap�s o vazamento de di�logos que exp�em bastidores da Lava-Jato responde no Supremo Tribunal Federal (STF) por a��o de suspei��o – Mandetta tamb�m se esquiva: “Se cada conversa que a gente tiver na pol�tica for uma not�cia, voc� vai ter que ter muita p�gina no jornal. Est� todo mundo falando com todo mundo”.
Em seguida, ele faz defesa do ex-aliado de governo, com quem, por vezes, � apontado como companheiro de chapa presidencial. “Moro � uma pessoa que tem trajet�ria marcante na hist�ria recente do pa�s. Convivi com ele enquanto ministro. De tempos em tempos, a gente conversa sobre algumas coisas. H� uma dist�ncia de ser uma coisa pol�tica, organizada. � trocar impress�es, assim como conversei com o (Luciano) Huck e com lideran�as de Minas.”
Deputado v� divis�o interna j� superada
A elei��o para a C�mara dos Deputados provocou um “racha” no partido de Mandetta. Parte defendeu apoio a Baleia Rossi (MDB), que tinha Rodrigo Maia, filiado ao DEM, como cabo eleitoral. Outra ala simpatizava com o vencedor, Arthur Lira (PP-AL), que tinha o aval de Bolsonaro.
O deputado federal mineiro Bilac Pinto, contudo, cr� que os problemas foram superados. “Esse processo j� ocorreu. Estamos olhando para a frente. Houve um erro, na minha avalia��o, de condu��o do processo pol�tico.
O DEM acabou buscando outras alternativas que n�o a que o deputado Rodrigo Maia, � �poca presidente da C�mara, queria, em fun��o da sua liga��o com os partidos de esquerda. Acredito que (a fissura) esteja superada. Dentro do partido a gente trabalha com isso, respeitando, sempre, as posi��es que cada um quiser tomar”, pontua.
Bilac ressalta a import�ncia de Mandetta para o DEM e elogia a atua��o do correligion�rio, mas evita cravar o papel da legenda no pleito do pr�ximo ano. “Vamos aguardar o momento certo, discutir, fazer a boa pol�tica, com ‘p’ mai�sculo e, com as Executivas nacional e estadual, avaliar esse quadro nacionalmente. Respeitando, sempre, a decis�o dos estados em que teremos candidatos. E, a� sim, tomar posi��o sobre qual caminho vamos seguir. Pode ser com o presidente Bolsonaro ou outro candidato de centro. � quest�o de fazer uma reflex�o. � muito prematuro. H� muita �gua, ainda, para passar debaixo da ponte.”
Proje��es e cr�ticas sobre a pandemia
Consultado por organismos internacionais sobre a situa��o no Brasil e procurado informalmente por prefeitos e governadores preocupados com o enfrentamento da COVID-19, Mandetta lembra que alertou, em dezembro, sobre o problema que, mais tarde, acometeu o Amazonas. “(Sobre) Aquela crise de Manaus, alertei em dezembro e falei para a Amaz�nia: ‘Cuidado, revejam e controlem seus estoques’. As pessoas morreram de asfixia. A morte mais cruel que o ser humano pode experimentar � morrer com um saco pl�stico na cabe�a, puxando o ar, mas com o saco n�o deixando o ar entrar. � similar � morte por asfixia que as pessoas viveram”, diz ele.
Indagando sobre qual li��o os governadores podem ter tirado do drama de Manaus, manifesta preocupa��o que isso volte a se repetir. “Monitor�vamos o esto- que de medicamentos para o m�dico poder relaxar a pessoa e entubar: quando v�amos que o estoque nacional estava dimi- nuindo, a gente entrava e inter- vinha no mercado, para n�o deixar faltar. Eles deixaram faltar. Os m�dicos tiveram que usar morfina”, assinala, fazendo ques-t�o de responder ao ministro da Sa�de, Eduardo Pazuello, que declarou recentemente que o Minist�rio da Sa�de n�o � uma “f�brica de solu��es”. “O Minis-t�rio da Sa�de n�o pode ser uma f�brica de solu��es, mas tem que ser uma f�brica de diminuir o impacto da doen�a. Por isso estamos na fase de mitiga��o.”