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Estado de Minas POL�TICA

'� terrivelmente injusto ver o Brasil como amea�a global', diz Ara�jo


23/03/2021 13:09

O ministro das Rela��es Exteriores, Ernesto Ara�jo, considera "terrivelmente injusto" o Brasil ser visto como amea�a global por ter se tornado o epicentro da pandemia da covid-19, com recorde de mortes e infec��es, al�m de celeiro de uma cepa com maior poder de transmiss�o. Em entrevista ao Estad�o, concedida em seu gabinete, no Itamaraty, Ara�jo criticou a tentativa do ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva de liderar a discuss�o sobre vacinas com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e com o G-20. "Lula n�o tem credibilidade nenhuma", avaliou.

O chanceler afirmou que a expectativa de oposi��o entre Biden e o presidente Jair Bolsonaro j� foi "dissipada", mas observou que pa�ses ricos ainda n�o foram solid�rios na distribui��o de imunizantes. Apesar da cobran�a por sua demiss�o, Ara�jo disse n�o se sentir amea�ado porque executa um trabalho em nome do presidente, e n�o pessoal.

O Brasil tem sido visto como uma amea�a global neste momento da pandemia. O que o Itamaraty tem feito a respeito?

Acho que isso �, antes de tudo, terrivelmente injusto, porque surgiram cepas em outros lugares, no Reino Unido e na �frica do Sul. E ningu�m diz que s�o amea�as globais. Existe a� uma vis�o um pouco discriminat�ria em rela��o ao Brasil. Estamos sendo golpeados por essa doen�a, obviamente. A gente pode fazer o que est� sendo feito. Acelerar o processo de vacina��o, estamos conseguindo vacinas de v�rias frentes poss�veis. � importante que haja esse escrut�nio mundial, mas baseado nos fatos, e n�o nessa percep��o de algo fora do controle, que o Brasil est� sendo uma fonte de problemas.

Al�m da restri��o de circula��o, brasileiros correm risco de discrimina��o no exterior?

N�o vejo possibilidade. O que a gente fica triste � ver pessoas, muitos formadores de opini�o, aqui no pr�prio Brasil, amplificando o problema, querendo justamente criar esse clima anti-Brasil ao redor do mundo, por finalidades pol�ticas. No fundo, � uma "oikofobia", uma raiva de si mesmo. Em vez de ser contra o estrangeiro, � contra o pr�prio nacional.

Nenhum pa�s est� crescendo na m�dia de casos e mortes di�rias como o Brasil, que virou epicentro da pandemia.

Sim, em n�meros absolutos. Claro que a gente se preocupa, e somos os primeiros a querer controlar. Mas isso n�o � raz�o para que se crie essa ideia de que nada est� sendo feito e de que o Brasil � uma amea�a.

O sr. falou recentemente que o sistema de sa�de estava "suportando bem" a pandemia. Mudou de percep��o?

Claro, a situa��o piorou, se tornou mais delicada nessas �ltimas duas, tr�s semanas. Falei isso num momento bem diferente (o ministro usou a express�o no �ltimo dia 5, quando os Estados alertavam para opera��o "no limite" e j� havia filas por UTI). Falar de colapso pode dar uma ideia distorcida da realidade.

O governo Bolsonaro errou ao n�o fechar mais cedo contratos para a vacina��o?

N�o. Eu acho que, desde o come�o, houve uma estrat�gia, a meu ver, muito bem conduzida pelo Minist�rio da Sa�de. Uma coisa � a contrata��o, outra coisa � ter as vacinas.

Estamos sofrendo atrasos.

Como o mundo todo. L� atr�s, op��es diferentes de contrata��o n�o necessariamente estariam se refletindo num ritmo diferente de vacina��o agora.

O ex-presidente Lula fez um apelo na TV americana, propondo a Joe Biden a ideia de reunir o G-20 para discutir a distribui��o de vacinas. O que acha da ideia?

Existe uma confus�o mental e de temas. Uma coisa s�o os pa�ses que n�o t�m condi��es de comprar vacinas e esperavam mais dos pa�ses desenvolvidos. A gente viu em reuni�es virtuais no ano passado todo mundo dizendo que � preciso solidariedade, mas, do ponto de vista da maioria dos pa�ses sem recursos, essa solidariedade ainda n�o chegou. A nossa situa��o � diferente, a gente tem recursos, gra�as a Deus, para aquisi��o de vacinas, o problema � a disponibilidade.

Lula � capaz de liderar algum esfor�o diplom�tico que fa�a sombra a Bolsonaro?

De forma nenhuma. O ex-presidente Lula n�o tem absolutamente nenhuma credibilidade nem legitimidade para liderar o que quer que seja.

Bolsonaro participar� da c�pula sobre clima que Biden promover� em abril? O que vai propor?

Sim, ele vai. Os americanos querem que essa c�pula seja um momento de mensagens fortes do que os pa�ses podem fazer na �rea ambiental. As conversas est�o indo bem. O Brasil tem disposi��o de contribuir para redu��o de emiss�es e capacidade de controlar totalmente o desmatamento ilegal e o uso sustent�vel de nossos recursos. Quando Biden assumiu se dizia que isso seria um grande problema entre Brasil e EUA. No fundo, est� nos unindo. Dissipou-se aquela ideia de que estar�amos em campos opostos. Vamos come�ar a falar da dimens�o comercial tamb�m. Eu terei proximamente contatos com a nova representante de com�rcio dos EUA. Essa parte n�o est� esquecida.

Qual sua expectativa para que o acesso � Organiza��o para a Coopera��o e o Desenvolvimento Econ�mico (OCDE) ocorra?

A sensa��o dos membros atuais da OCDE e do secretariado � de que, embora n�o tenhamos formalmente aberto o processo, estamos cada vez chegando mais perto, aderindo a mais instrumentos, ent�o � natural e � bom que o Brasil seja tratado com mais exig�ncia, mais aten��o.

O governo enviou agentes de intelig�ncia ocultos � �ltima C�pula do Clima (COP). Houve rea��o contr�ria nas Na��es Unidas, e o Minist�rio P�blico abriu inqu�rito. Foi v�lido?

Prefiro que as raz�es do Executivo brasileiro sobre como foi conformada a delega��o n�o sejam expostas nesse �mbito. Posso garantir que tudo feito de maneira totalmente legal e com todo o respeito �s normas nacionais e multilaterais.

Isso pode prejudicar a participa��o brasileira na COP 26?

O importante s�o as propostas negociadoras que n�s vamos levar. H� um cen�rio bem mais favor�vel neste ano. Os EUA voltando ao Acordo de Paris � muito importante, porque antes a vis�o euroc�ntrica dominava. E Brasil, �ndia e China com vis�es laterais. Agora com EUA como outro grande participante, isso abre mais avenidas, torna mais complicado o neg�cio, o que � bom.

O Itamaraty voltar� a dar maior participa��o � sociedade civil na delega��o?

Ainda n�o come�amos a falar disso. O importante � ter uma delega��o negociadora s�lida com capacidade t�cnica em todas as mesas. Espero que a participa��o da sociedade civil n�o seja uma coisa destrutiva, contra tudo o que o Brasil diz. Nessas reuni�es a plateia acaba atrapalhando o jogo �s vezes.

No ano passado houve estresses diplom�ticos com a China e um pedido de substitui��o do embaixador chin�s. Como foi esse epis�dio?

Eu, pessoalmente, respons�vel pelas rela��es internacionais do Brasil, sob coordena��o do presidente, nunca expressei nada contra a China. Acho importante que haja transpar�ncia no estudo de como surgiu o v�rus. N�o que a China tenha culpa, mas o v�rus surgiu l�. Surgiu no mundo inteiro essa ideia de chamar ou n�o de v�rus chin�s. Nunca tive embate com a China, nem nesse aspecto, nem de atribuir culpa pela pandemia. Agora, o que aconteceu naquela ocasi�o foram rea��es inadequadas por parte do embaixador da China a esse tipo de men��o. O Brasil hoje sofre cr�ticas ao redor do mundo, �s vezes de parlamentares, at� de governos de outros pa�ses e n�o s� da opini�o p�blica em geral, e nossos embaixadores n�o ficam indo ao Twitter para bater boca ou amea�ar.

Mas isso ficou num n�vel de manifesta��o p�blica ou foi levado a Pequim?

Eu conversei, por diferentes meios, com autoridades chinesas l� em Pequim, contrapartes minhas.

O sr. pediu a substitui��o do embaixador chin�s?

N�o quero entrar no conte�do da conversa. Houve uma contesta��o nossa, uma chamada de aten��o nossa em rela��o � atitude do embaixador, o comportamento n�o era construtivo, n�o era ben�fico � rela��o Brasil-China. O diplomata tem que aceitar uma certa assimetria naquilo que ele pode falar e naquilo que os agentes do pa�s falam.

O sr. tem sido alvo de especula��es de que pode deixar o governo. J� conversou com Bolsonaro objetivamente sobre isso?

Tenho certeza de que n�o h� nada desse tipo sendo pensado. Meu trabalho n�o � meu, � a implementa��o de uma agenda de pol�tica externa que o presidente traz desde a campanha. Bolsonaro me nomeou por causa do meu compromisso de fazer a pol�tica que ele quer. A gente descobriu muita afinidade. N�o � uma coisa acidental.

O sr. tem planos de se candidatar a cargos pol�ticos eletivos?

N�o tenho nenhum plano, jamais pensei nisso.

As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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