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Estado de Minas Diplomacia

Sa�da de Ernesto Ara�jo deve ser acompanhada de mudan�as de rumo

Eventual demiss�o do ministro das Rela��es Exteriores, Ernesto Ara�jo, ser� ineficaz se pa�s n�o der uma guinada na sua pol�tica externa, avaliam especialistas


27/03/2021 07:34 - atualizado 27/03/2021 07:50

(foto: Marcos Correa/AFP)
(foto: Marcos Correa/AFP)
Apesar da press�o pol�tica intensa para a sa�da do ministro das Rela��es Exteriores, Ernesto Ara�jo — rejeitada, por enquanto, pelo presidente Jair Bolsonaro —, especialistas ressaltam que o chanceler � apenas “espelho” do chefe do Executivo, tanto nas declara��es quanto nas a��es, e que uma mudan�a no comando da pasta de nada adiantar� se n�o ocorrer uma guinada na pol�tica externa brasileira.

Hoje, o Itamaraty � visto como um bunker da extrema direita, que conseguiu se indispor com as duas maiores pot�ncias do planeta, os Estados Unidos e a China.

Ara�jo tem sido criticado, principalmente, no contexto da pandemia. Fez ataques � China, uma das principais fornecedoras de insumos para a produ��o de vacinas, e foi contr�rio � quebra de patentes de imunizantes apoiada por outros pa�ses emergentes, como a �ndia e a �frica do Sul. Al�m disso, estremeceu as rela��es com os Estados Unidos, por ter feito campanha pela reelei��o de Donald Trump contra Joe Biden.

Ontem, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), voltou a afirmar que a diplomacia do pa�s “est� falha”. Em conversa com Bolsonaro, ele n�o falou em demiss�o de Ara�jo, mas cobrou rea��o do chefe do Executivo.

“A perman�ncia ou a sa�da do ministro, qualquer que seja ele, � uma decis�o que cabe ao presidente da Rep�blica. O que nos cabe, enquanto Senado, C�mara, enquanto Parlamento, � cobrar e fiscalizar as a��es do minist�rio”, disse, ap�s o encontro.
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Segundo Pacheco, “a pol�tica externa do Brasil precisa ser corrigida”. “� preciso melhorar a rela��o com os demais pa�ses, incluindo a China, porque � o maior parceiro comercial do pa�s”, afirmou.

“O presidente apenas ouviu, e veremos o que pode ser feito. Na verdade, com ministro A ou ministro B, o que importa � um minist�rio que funcione, � isso que desejamos com o Minist�rio das Rela��es Exteriores. Confiamos ao minist�rio que fa�a a pol�tica de melhora da rela��o com os demais pa�ses.”

As declara��es de Pacheco v�o ao encontro do que pregam especialistas. Professor titular de rela��es internacionais da Universidade de Bras�lia (UnB), Eduardo Viola afirmou que a pol�tica externa no governo Bolsonaro tem contribu�do decisivamente para um status muito negativo do Brasil no planeta.

“O ministro tem uma pol�tica desastrosa, e h� consenso no pa�s sobre o estrago da pol�tica externa”, disse. “Mas a quest�o n�o � o Ernesto. Ele � o executor. A vis�o colocada ali � a que Bolsonaro tem do mundo.” Para Viola, ainda que o ministro seja trocado, o pr�ximo ter� de ser subordinado �s ideias do presidente, ou n�o ficar� no cargo.

Nos corredores do Itamaraty, as informa��es s�o de completa insatisfa��o por parte dos servidores. At� aqueles que, no come�o, tentaram dar um tempo para ver as a��es de Ara�jo, j� desistiram.

Alguns funcion�rios, por vezes, adotam a chamada “opera��o tartaruga” — seguram pedidos do chanceler por discordarem completamente e avaliarem que n�o s�o bons para a imagem do pa�s. “Enrolam” o ministro, como resumiu uma fonte. Por ser uma �rea muito hierarquizada, entretanto, as cr�ticas p�blicas s�o evitadas.

O que h� no Itamaraty, como apontado por diversos especialistas ao longo da gest�o de Ara�jo, � uma atua��o ideol�gica, com ideias contr�rias a um chamado “globalismo” e cr�ticas � China, que prejudicam o Brasil.
Quebra de tradi��es

Juliano da Silva Cortinhas, professor de Rela��es Internacionais da UnB, destacou que a atua��o de Ara�jo quebra todas as tradi��es da pol�tica externa brasileira, que era conhecida no mundo todo. Ele frisou que o ministro prejudicou o pa�s num momento em que era necess�rio uma a��o junto a outros pa�s para conseguir vacinas e equipamentos de prote��o.

Cortinhas lembrou que o pr�prio chanceler, em outubro do ano passado, disse preferir ver a pol�tica externa do pa�s sendo condenada por outras na��es a se aliar ao “cinismo interesseiro dos globalistas, dos corruptos”. Na ocasi�o, Ara�jo declarou que “o Brasil fala de liberdade atrav�s do mundo; se isso faz de n�s um p�ria internacional, ent�o que sejamos esse p�ria”.

“A tradi��o do Itamaraty sempre foi ter uma linha mais pragm�tica, pautada nos interesses brasileiros no mundo e no respeito �s organiza��es internacionais, ao direito internacional. Havia diferen�as, a depender do governo que assumia, mas nunca hav�amos nos descolado tanto dos interesses brasileiros e de defend�-los ao redor do mundo”, enfatizou Cortinhas.

O professor tamb�m acredita que, mesmo com a eventual troca de ministro, o Brasil n�o deve ver altera��o na pol�tica externa, porque o presidente continuar� implementando sua vis�o de mundo e suas vontades.

Professor de direito internacional da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Pontif�cia Universidade Cat�lica (PUC) de Campinas, Lu�s Renato Vedovato afirmou que o Brasil perdeu, nos �ltimos dois anos, a sua posi��o de refer�ncia internacional de diplomacia, quando passou a ter posicionamentos muito fundados na ideologia de extrema direita.

Conforme ele, a mudan�a de ministro, por si s�, n�o vai adiantar. “O que precisa � mudar a posi��o pol�tica do Brasil no exterior”, disse. Segundo Vedovato, ser� dif�cil recuperar a diplomacia brasileira nos pr�ximos anos.

Na avalia��o de Geraldo Zahran, doutor em rela��es internacionais e pesquisador do Instituto Nacional de Ci�ncia e Tecnologia para Estudos sobre os Estados Unidos (INCT-INEU), a troca, por si s�, n�o trar� efeitos positivos para a situa��o do Brasil aos olhos do mundo.

De acordo com ele, o Itamaraty deixou a posi��o de refer�ncia e lideran�a em muitos debates e grupos de pa�ses, como meio ambiente, direitos humanos, mulheres e multilateralismo. (Colaborou Augusto Fernandes)
Cotada para o cargo

Quando se fala em troca no Minist�rio das Rela��es Exteriores, um nome que circula � o da embaixadora brasileira na Organiza��o das Na��es Unidas (ONU), Maria Nazareth Farani Azev�do. Foi ela que, segundo reportagem da revista �poca, convenceu o ministro Ernesto Ara�jo a n�o sair do cons�rcio Covax Facility, da Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS), para aquisi��o de vacina.
Prefeitos contra Ara�jo

A movimenta��o pol�tica para fritar o ministro das Rela��es Exteriores, Ernesto Ara�jo, ganhou mais ades�o ontem. A Frente Nacional dos Prefeitos (FNP) divulgou comunicado em que pede a substitui��o do titular da pasta, sob a justificativa de “recuperar a imagem do pa�s no exterior” antes que a condu��o comprometa, “ainda mais, a inescap�vel e urgente aquisi��o de vacinas contra o coronav�rus”.

“O cen�rio de enfrentamento � pandemia da covid-19 tomou contornos catastr�ficos no pa�s. O desenho de trag�dia est� estabelecido: h� insufici�ncia de doses de vacinas, aumento incontrolado de novas variantes do v�rus, falta de leitos, escassez de oxig�nio e medicamentos, al�m de uma diplomacia que tem cometido repetidos desatinos, em um momento no qual o apoio internacional � indispens�vel”, diz um trecho da nota.

Os prefeitos frisaram que Ara�jo j� apresentou “um leque diversos de trapalhadas e atitudes destrutivas” diante das medidas contra a covid-19 que foram articuladas com parceiros internacionais.

“Agora, veio � tona sua postura contr�ria ao ingresso do Brasil no cons�rcio global Covax Facility, que entregou um milh�o de doses de vacina AstraZeneca/Oxford, em 21 de mar�o, e ainda dever� entregar outras 41 milh�es”, relata o comunicado. “For�oso destacar que o pa�s poderia ter optado, nesse arranjo multilateral pela compra de 168 milh�es de doses, quatro vezes mais do que o contratado.”

Os gestores ressaltaram, ainda, que, neste momento da pandemia, “n�o h� espa�o para o que vem sendo relevado desde a posse do atual ministro”.

“Diante disso, a Frente Nacional de Prefeitos (FNP) registra sua apreens�o e preocupa��o com esse contexto. Clama, portanto, para que o governo federal assuma sua responsabilidade, substitua o ministro e reverta a pol�tica externa desastrosa que vem adotando”, destacou.

“� premente a necessidade de medidas tempestivas para tentar recuperar a imagem do pa�s no exterior, sob pena de comprometer, ainda mais, a inescap�vel e urgente aquisi��o de vacinas contra o coronav�rus.”


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