
As cobran�as mais urgentes do setor econ�mico s�o a demiss�o dos ministros das Rela��es Exteriores, Ernesto Ara�jo, e do Meio Ambiente, Ricardo Salles. A avalia��o recorrente nas reuni�es � de que Ara�jo atrapalha as negocia��es por vacinas e insumos da �ndia e da China. J� Salles, que comanda a criticada pol�tica ambiental brasileira, � visto como obst�culo na rela��o com Washington, especialmente agora que o Pa�s mira as vacinas excedentes dos Estados Unidos.
Interlocutores de Lira e Pacheco argumentam que, no caso espec�fico, � errada a leitura de que a press�o pela troca dos dois ministros - verbalizada por eles - tenha como objetivo lotear o governo, uma demanda constante do Centr�o. O intuito � atender � principal reivindica��o do setor econ�mico e, de quebra, garantir um "ganho de imagem" perante seus novos interlocutores.
Na noite da �ltima segunda-feira, Washington Cinel, empres�rio do ramo de seguran�a privada, recebeu os presidentes da C�mara e do Senado em sua casa na Rua Costa Rica, no Jardim Europa, em S�o Paulo. Participaram do encontro presencial e remoto Luiz Carlos Trabuco Cappi (Bradesco), Carlos Sanchez (SEM) e Andr� Esteves (BTG Pactual). As conversas � mesa de jantar foram precedidas por discursos breves de Lira e Pacheco, do anfitri�o Cinel e dos tamb�m empres�rios Ab�lio Diniz e Fl�vio Rocha, que falaram por videoconfer�ncia. Uma das manifesta��es mais duras foi a de Pacheco. Mas, segundo presentes, n�o houve "tom panflet�rio" em p�blico.
Os empres�rios relataram que a crise sanit�ria bloqueia investimentos externos e atinge diretamente os planos de abertura de capital de empresas, o IPO. "Quem quer fazer IPO n�o consegue ter grandes resultados, porque ningu�m tem seguran�a de botar dinheiro no Brasil, principalmente pela condi��o sanit�ria", disse o deputado Dr. Luizinho (Progressistas-RJ), presente ao encontro.
Jantares como este ocorrem com regularidade. Os encontros s�o promovidos uma vez por m�s por nomes como Cinel e Jo�o Camargo, filho do ex-deputado Jos� Camargo. Segundo um parlamentar que j� esteve no convescote, eles se re�nem para tomar vinho e convidam um pol�tico para "cantar". Lira era o convidado principal desta vez. Pacheco j� estava em S�o Paulo e acabou sendo inclu�do.
Antes, Lira e Pacheco haviam passado na casa de Claudio Lottenberg, homem forte do Hospital Israelita Albert Einstein. L� havia um grupo menor de empres�rios do setor de sa�de. A conversa foi sobre a escassez de sedativos e analg�sicos, medicamentos usados para intuba��o de pacientes com quadro grave de covid-19, em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). A falta atinge o SUS e hospitais da rede privada.
Os dirigentes do Congresso tamb�m t�m frequentado a Febraban, a Fiesp e participado de agendas fechadas em S�o Paulo com nomes de peso. No �ltimo dia 2, Pacheco esteve com Milton Maluhy Filho (Ita�), Octavio de Lazari Jr. (Bradesco) e Roberto Sallouti (BTG). Um dia antes, os dois pol�ticos falaram na Fiesp para Ab�lio Diniz e Rubens Menin. Em 25 de fevereiro Lira j� havia estado com Sergio Rial (Santander), entre outros.
Demitir ministros pode ser traum�tico para Bolsonaro. A substitui��o de Salles, por exemplo, implica uma ruptura com a faixa m�dia dos ruralistas, justamente o setor que desde o in�cio apoiou a campanha do presidente, em 2018. Os l�deres do Centr�o t�m deixado claro, por�m, que a sobreviv�ncia do governo depende das mudan�as.
Vacina
Um outro encontro de Pacheco por videoconfer�ncia foi organizado no �ltimo dia 11 pela Associa��o Brasileira de Incorporadoras Imobili�rias (Abrainc). Luiz Ant�nio Fran�a, presidente da entidade que re�ne grandes construtoras, afirmou que o objetivo da conversa foi buscar o melhor para a economia. "O que a gente percebe � um alinhamento entre as duas Casas (do Congresso)", disse Fran�a. "E o que � o melhor para a economia? Primeiro, resolver a pandemia. Depois, um pa�s com capacidade de investimento e crescimento", completou. "A prioridade � vacinar."Uma queixa, em especial, marcou as reuni�es com as presen�as de Lira e Pacheco. Os empres�rios destacaram que as medidas para conter o avan�o da pandemia dependem do Executivo, raz�o pela qual, desta vez, n�o h� como tratar Bolsonaro como "caf� com leite". Trata-se de uma situa��o diferente do processo de vota��o da reforma da Previd�ncia, por exemplo. Na �poca, o presidente era contra a proposta, mas o Legislativo deu de ombros e aprovou a medida.
Em sintonia com empres�rios e mercado, l�deres do Centr�o dizem que, diante do fracasso no controle da pandemia, o presidente n�o ter� mais a toler�ncia do Congresso. "Bolsonaro est� no fio da navalha. Se a coisa fugir do controle, se ele quiser fazer tudo do jeito dele, fora da ci�ncia, n�o tenha d�vida de que n�s vamos atropelar", disse o deputado Fausto Pinato (Progressistas-SP).
Pinato advertiu que "ningu�m" quer afrontar o presidente, mas ele precisa assumir a lideran�a dentro de uma "racionalidade mundial", e n�o na "destemperan�a" da ala ideol�gica. "O impeachment est� descartado, desde que ele mantenha esse di�logo construtivo. Se tiver amea�a de choque institucional ou sair da racionalidade no combate � pandemia, ningu�m vai pular no buraco com ele, n�o", resumiu o parlamentar.
Para empres�rios, � preciso ‘controlar’ o presidente
Nas �ltimas semanas, empres�rios, banqueiros, economistas - a elite do que se convencionou chamar de "mercado financeiro" - deixaram claro que a paci�ncia com o governo Jair Bolsonaro chegou ao fim. Uma carta escrita por um grupo de economistas (mas tamb�m assinada por pesospesados do PIB nacional) cobrando uma mudan�a radical nos rumos da administra��o federal, tanto no plano do combate � covid-19 quanto na �rea econ�mica, se tornou a face mais vis�vel dessa insatisfa��o. Mas as conversas e articula��es v�o muito al�m disso.A mudan�a no comando do Congresso, com a chegada de Arthur Lira (Progressistas-AL) � C�mara e de Rodrigo Pacheco (DEM-MG) ao Senado abriu, segundo empres�rios, um novo caminho para suas demandas. N�o � toa, segundo apurou o Estad�o, os dois parlamentares j� se reuniram em pelo menos nove oportunidades com grupos de banqueiros, donos de empresas e executivos. Nas conversas, o tom � de que � preciso "controlar" o presidente.
Um empres�rio que participou de um encontro com os dois na semana passada, em S�o Paulo, disse, na condi��o de anonimato, que o que se est� buscando, diante da gest�o "catastr�fica" da pandemia, � um di�logo com o Legislativo, por meio de Lira e Pacheco, que s�o duas figuras que se mostraram "sensatas". Segundo ele, com o presidente nenhum di�logo foi poss�vel, j� que Bolsonaro n�o consegue se aprofundar em nenhum assunto e "s� faz piada e fala palavr�o". Lira e Pacheco sabem da gravidade da situa��o e est�o funcionando como interlocutores, disse.
De acordo com esse empres�rio, um dos pontos que mais t�m preocupado os empres�rios � a imagem "nefasta" do Brasil no exterior - o que prejudica diretamente os neg�cios. E essa imagem ruim est� muito ligada ao ministro Ernesto Ara�jo, das Rela��es Exteriores, e a Ricardo Salles, do Meio Ambiente. Segundo ele, a quest�o ESG (sigla em ingl�s para ambiental, social e de governan�a) vem pesando muito contra a imagem global do Pa�s e o governo n�o faz nada.
Lira e Pacheco tamb�m se reuniram na semana passada, por duas vezes, com os presidentes dos maiores bancos do Pa�s. A Federa��o Brasileira de Bancos (Febraban) informou que os encontros foram marcados para os CEOs dos bancos conhecerem os novos presidentes das Casas e tamb�m para que o setor transmitisse a eles as principais preocupa��es com a conjuntura.
No encontro, segundo fontes ouvidas pelo Estad�o/Broadcast, o presidente da Febraban, Isaac Sidney, disse que os bancos n�o estavam ali para pedir regras novas ou para fazer lobbies. Os bancos, afirmou, querem previsibilidade para mitigar as incertezas e evitar novas crises de confian�a em rela��o ao Brasil.
O presidente do conselho de administra��o do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, que participou de um encontro com Lira e Pacheco na semana passada, disse que as conversas ocorreram enquanto a "gravidade da pandemia vai desorganizando a economia gradativamente", e que as diferen�as pol�ticas, neste momento, t�m de ser colocadas de lado. "Temos de dialogar para mobilizar a sociedade, trabalhadores, governos, parlamentares e empres�rios numa frente de solidariedade se quisermos vencer essa crise, que j� ganhou caracter�sticas de crise humanit�ria", afirmou. "As diverg�ncias e brigas pol�ticas podem ficar para depois."
Rubens Menin, presidente dos conselhos do grupo MRV e da Associa��o Brasileira de Incorporadoras Imobili�rias (Abrainc), outro presente a um dos encontros em S�o Paulo, avaliou que o momento do Pa�s � "cr�tico" por causa do n�mero de mortes. Questionado se tem confian�a de que o governo de Jair Bolsonaro ser� capaz de controlar a crise sanit�ria e econ�mica, Menin evitou citar o nome do presidente e se classificou como um "otimista com o Brasil". Ele disse acreditar na acelera��o da vacina��o nos pr�ximos meses e insistiu no discurso que vem fazendo desde o come�o da pandemia. "N�o pode haver confus�o entre os governos estaduais e federal. As brigas v�o ter de acabar ou a sociedade vai cobrar."
Irrita��o
Embora oficialmente os empres�rios digam que os encontros com Lira e Pacheco s�o institucionais, nos bastidores fica claro que os dois s�o vistos como parte fundamental da solu��o para a crise do Pa�s. Mas a sa�da pelo impeachment ainda � vista com ressalvas. De acordo com um empres�rio que participou dessas conversas, o impeachment � um processo longo e desgastante que poderia prejudicar ainda mais a situa��o do Brasil, e o presidente ainda tem uma fatia grande de apoio popular.Nos bastidores, fica clara tamb�m a irrita��o com o governo. De acordo com o presidente da uma maiores associa��es nacionais do com�rcio, a paci�ncia com Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, est� acabando. Para ele, o que move o empresariado � a economia, e a obviedade do fraco desempenho e a aus�ncia total de plano e capacidade de gest�o come�am a movimentar at� os setores que ganham na crise.
Mas h� quem fa�a cr�ticas �s claras. "O despreparo de Jair Bolsonaro est� levando ao colapso da sa�de e da economia. Seus erros est�o fartamente documentados. Chegou a hora de dar um basta a tudo isso", disse Ricardo Lacerda, fundador e presidente do banco de investimentos BR Partners. "O presidente precisa assumir um compromisso com a ci�ncia e com pessoas que trabalhem e deixem a ideologia de lado. Se for incapaz disso, melhor deixar o cargo."