O ministro das Comunica��es, F�bio Faria, disse ao Estad�o que o governo far� encontros peri�dicos com representantes do PIB para medir a temperatura da crise e encontrar solu��es conjuntas. Dono de um estilo afeito ao confronto, o presidente Jair Bolsonaro saiu do jantar de quarta-feira, 7, com empres�rios, em S�o Paulo, levando na bagagem de volta o alerta de que precisa mudar. "Tudo o que os empres�rios querem � um ambiente pol�tico calmo", afirmou Faria.
Integrante da comitiva que participou daquele encontro, Faria argumentou, por�m, que o governo j� est� mudando, tanto que fez seis trocas na equipe e alian�as para evitar mais atritos com o Congresso. Os empres�rios tamb�m cobraram de Bolsonaro a aplica��o de dois milh�es de doses de vacina por dia - o dobro do que existe hoje.
A conversa na casa de Washington Cinel, dono da empresa de seguran�a Gocil, n�o girou, no entanto, apenas sobre apelos para que o governo acelere a vacina��o. A pol�tica tamb�m estava � mesa. Faria disse que muitos ali manifestaram receio com a volta do ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva. "Eu n�o tenho medo", disse o ministro. Deputado eleito pelo PSD, Faria n�o v� chances para o espectro pol�tico de centro na pr�xima elei��o. "Nesse cen�rio de hoje entre Lula e Bolsonaro, o centro n�o tem tempero para entrar na disputa. N�o tem players competitivos para 2022."
O presidente jantou com empres�rios em um momento de cr�ticas do setor � condu��o da pandemia, � pol�tica externa e � pol�tica ambiental. Partiu do governo a iniciativa de procur�-los?
Com a pandemia, Pacheco (Rodrigo Pacheco, presidente do Senado) e Arthur (Lira, presidente da C�mara) se reuniram com alguns empres�rios, que tinham preocupa��es. A maior delas era a vacina��o em massa. Eles tinham tamb�m pondera��es em rela��o � pol�tica externa, que poderia atrapalhar a aquisi��o de IFAs e vacinas. Se voc� fizer um breve hist�rico, vai ver que houve seis mudan�as ministeriais ap�s essas reuni�es dos empres�rios.
Os relatos de Lira e Pacheco levaram ao Pal�cio do Planalto um sinal amarelo?
Eu n�o falei que as trocas vieram por causa dos encontros. Alguns assuntos que eles trataram j� estavam vencidos. A gente achou prudente que o pr�prio Executivo pudesse se reunir com os mesmos empres�rios. A gente foi para ouvir o sentimento deles. O presidente n�o aceita press�o. Ele que fez a mexida no tabuleiro.
Diante da perda de popularidade e do apoio empresarial, o presidente mudou de discurso e de postura e passou at� a usar m�scara. Mas vai mudar na pr�tica? O que se observa, at� agora, � um vaiv�m de declara��es.
Ele nunca acreditou em pesquisa. Nem a boa, nem a ruim. Essa mudan�a de postura do presidente, que voc�s falam, � devido � nova variante. N�s temos uma nova cepa. Antigamente, n�s t�nhamos como separar apenas os idosos e o grupo de risco, porque o mundo todo viu que o v�rus atingia mais o grupo acima de 60 anos. Hoje, n�o. Ent�o, tudo mudou. O ministro (Marcelo) Queiroga, quando assumiu a Sa�de, falou isso para o presidente. Disse que era preciso usar mais m�scaras, at� falou em "P�tria de m�scara". Ontem (anteontem), o presidente chamou o Queiroga de "Posto de Sa�de". Disse: "Eu tenho o meu Posto Ipiranga, agora tenho o meu Posto de Sa�de".
No meio pol�tico o que se diz � que o presidente s� mudou por causa do retorno do ex-presidente Lula � cena pol�tica.
N�o. Coincidiu que o Supremo Tribunal Federal decidiu anular as condena��es do ex-presidente Lula, que fez um discurso falando da import�ncia da vacina. N�s mudamos devido a essa nova variante (do v�rus). O medo � maior. Quero at� trazer um dado da �ltima pesquisa que fiz: vem crescendo a curva do medo do desemprego.
De quando � essa pesquisa?
Da semana passada. S�o pesquisas internas sobre o sentimento do brasileiro. O desemprego � uma preocupa��o muito grande do presidente. No jantar de ontem (anteontem), todos os empres�rios falaram em rela��o a isso. Um empres�rio de shopping disse que tinha feito mais de dois mil exames e n�o detectou nenhum positivo. As lojas t�m protocolos. Todo mundo tem que entrar de m�scara, usar �lcool em gel na entrada. Ningu�m fica perto de ningu�m. Os protocolos funcionam. Existe um sentimento de que muita coisa est� sendo feita errada, que a gente realmente poderia rever tudo e, com os protocolos que j� temos, evitar uma quebradeira muito maior.
Algu�m defendeu lockdown?
Ningu�m. A gente n�o pode, de uma hora para a outra, trancar o Brasil.
Quais outros pedidos os empres�rios fizeram ao presidente?
Eles acham fundamental que o Arthur, o Pacheco e o presidente permane�am unidos. N�s vivemos dois anos de muitas rixas entre o Congresso - a C�mara, principalmente - e o Executivo. Tudo o que eles sonham, tudo o que eles querem, � um ambiente pol�tico calmo. E isso foi falado. Eles tamb�m pediram, claro, para refor�ar a vacina��o em massa.
Por que o presidente n�o tomou a vacina? Em Bras�lia, ele j� poderia ser vacinado.
Isso � uma decis�o pessoal do presidente. No s�bado, ele disse: "Se querem que eu tome a vacina, eu vou me vacinar". S� que ele fala assim: "Primeiro, eu sou o chefe da Na��o. Eu tenho que saber o que est� ocorrendo em todo canto. Ent�o, eu vou para o front. N�o vou ficar no Alvorada trancado". Ele � criticado por isso. Tem gente que defende que o presidente tem que ser igual a comandante de navio. � o �ltimo a sair do navio. Ele diz: "Eu tenho sa�de. Eu j� tive covid". Quando ningu�m esperar, ele vai tomar.
O presidente tem um estilo de incentivar confrontos. Depois de esticar a corda com governadores e prefeitos na condu��o da pandemia, � poss�vel uma reaproxima��o?
A gente s� n�o consegue dialogar quando fala pelas costas ou quando tem trai��o. A gente tem um presidente no Brasil que fala o que pensa. Fala o que sente, de acordo com as pessoas com as quais ele conversa, com as redes sociais, com as visitas que faz, como ao Chaparral (comunidade da periferia do Distrito Federal). Ontem (anteontem) ele mesmo falou que visitou algumas casas l�. Em tr�s n�o tinha nada para comer. Eram trabalhadores informais que hoje n�o ganham nada. Ele disse: "Como � que n�o vou ficar preocupado com isso? Podemos ter um caos no Brasil".
A campanha da reelei��o entrou na pauta do encontro com os empres�rios?
N�o. Eles querem que tenha um engajamento com o Congresso, foco na vacina��o. Alguns falaram que t�m medo da volta do Lula. E que � importante que o governo continue acertando as reformas.
Mas � poss�vel ter alguma reforma ainda?
Sim. Tem a administrativa e a tribut�ria, que s�o as reformas previstas para este ano.
Que cen�rio v� para 2022?
Vai ser uma polariza��o. A volta do Lula afetou muito os candidatos de centro. N�o quero citar nomes, mas j� sei que alguns desistiram. A cada semana que passa, eles v�o diminuindo na pesquisa. N�s temos um que governou o Brasil em dois mandatos, que lidera a oposi��o. E tem um presidente que � outro presidente muito popular, de direita. Ent�o, � muito dif�cil um nome que n�o tenha um tempero, n�o tenha conhecimento da popula��o, entrar no meio da disputa entre o Lula e o Bolsonaro. O Bolsonaro sempre achou que fosse enfrentar o PT. J� enfrentou em 2018.
Mas n�o foi com Lula.
Mas o Lula, ao mesmo tempo em que � o nome mais forte do PT, tamb�m � o que tem mais rejei��o. O Brasil ainda respira centro-direita, est� em uma ressaca muito grande de um governo de esquerda. Ent�o, eu diria que o Bolsonaro, na disputa com o Lula, � favorit�ssimo. Eu acho muito dif�cil a situa��o do (governador Jo�o) Doria em S�o Paulo. Terr�vel. O problema do Doria � o marketing excessivo. E as trai��es ao (Geraldo) Alckmin, ao A�cio (Neves), ao pr�prio eleitor paulista porque disse que n�o ia renunciar � Prefeitura.
O sr. fala de "favoritismo" de Bolsonaro, mas o seu partido, o PSD, e o Centr�o enxergam uma possibilidade de apoiar Lula, pois muitos t�m bases ancoradas no Nordeste. O pr�prio Arthur Lira foi ao Twitter para elogiar a decis�o do Supremo favor�vel a Lula.
Arthur Lira e Ciro Nogueira, que � o presidente do PP, j� declararam in�meras vezes que estar�o com o presidente Bolsonaro. Nenhum partido falou que estaria com Lula. H� os que dizem que v�o estar com Bolsonaro e outros que falam em candidatura pr�pria. � isso que est� na mesa.
Como o governo avaliou a carta divulgada por seis presidenci�veis de centro em defesa da democracia? A nossa democracia est� amea�ada?
Eles n�o s�o players competitivos para 2022. Nesse cen�rio de hoje, entre Lula e Bolsonaro, o centro n�o tem tempero para entrar em uma disputa. Se juntar seis, n�o d� um. E eu acho que eles est�o em uma bolha. Precisam andar mais, conhecer um pouco mais da realidade atual. Nesse momento, todos est�o vendo a pandemia. Mas, na hora da elei��o, todo mundo vai avaliar cada ilha do governo, como foi a economia e como a gente vai terminar o ano em rela��o � vacina��o. Elei��o n�o � corrida de cem metros. � uma maratona.
O governo n�o tem um grande programa. O Minist�rio da Educa��o continua patinando, o do Meio Ambiente � muito atacado pela quest�o do desmatamento. Qual � a marca desse governo?
Eu concordo que n�o � um governo de uma ou duas marcas. S� nesta semana o ministro Tarc�sio (Freitas, da Infraestrutura) leiloou 22 aeroportos. Foi a mesma quantidade de todos os governos anteriores. O Banco Central foi eleito o melhor Banco Central de 2020. No ano passado, a economia caiu 4,1%, enquanto quase todos os pa�ses da Europa ca�ram 9%, 10%. O Brasil s� ficou atr�s dos grandes, China e Estados Unidos. Bolsonaro n�o gosta de marca. Ele mesmo disse: "Eu vou continuar as obras. N�o quero obra parada".
A entrada da deputada Fl�via Arruda (PL) na Secretaria de Governo foi para atender Arthur Lira e o Centr�o depois que ele insinuou impeachment?
N�o. A vinda da Fl�via traz sangue novo. Ela tem rela��o com deputadas da bancada feminina, � muito pr�xima do Lira, tem rela��o com partidos de centro.
Mas a presen�a na posse dela do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, preso no mensal�o, provocou desgaste.
De jeito nenhum.
E por que ent�o o governo tirou a foto dele do banco de imagens?
Nem vi isso.
As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
POL�TICA