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Estado de Minas ENTREVISTA COM ANDERSON TORRES

''A CPI vai investigar o qu� exatamente?'', questiona ministro da Justi�a

Para Anderson Torres, o governo de Jair Bolsonaro faz um trabalho louv�vel no enfrentamento da doen�a e desafia a CPI a realizar um trabalho t�cnico


01/05/2021 08:02 - atualizado 01/05/2021 08:24

"A gente vai ver se � uma CPI pol�tica ou t�cnica. Participei de tr�s no Congresso Nacional, sei exatamente como funciona", afirma Anderson Torres (foto: MINERVINO JUNIOR )

H� 30 dias no cargo, o novo ministro da Justi�a n�o se furta a defender com vigor o chefe. Aos 44 anos, Anderson Torres � o primeiro brasiliense a ocupar a pasta. �, ainda o primeiro membro da Pol�cia Federal a comandar as for�as de seguran�a p�blica no pa�s. Mais do que a forma��o na �rea da seguran�a, � no alinhamento com o Pal�cio do Planalto que o novo integrante do governo federal se destaca. Essa identifica��o � evidente at� para assuntos n�o diretamente ligados � Seguran�a P�blica, como a pandemia de COVID-19.

Para Anderson Torres, o governo de Jair Bolsonaro faz um trabalho louv�vel no enfrentamento da doen�a. “Uma morte � p�ssima. Ainda mais, quase meio milh�o de mortes. � muito ruim. Mas a gente tem feito o que pode ser feito. Vivemos num pa�s continental, desigual, um Brasil de muitos brasis, em que as coisas n�o s�o f�ceis”, defende o ministro. A partir desse argumento, o chefe do Minist�rio da Justi�a dispara o arsenal de cr�ticas � CPI, definida como inoportuna e sem objeto. “A gente vai ver se � uma CPI pol�tica ou t�cnica, participei de tr�s no Congresso Nacional, sei exatamente como funciona uma CPI. Agora, te pergunto: vamos investigar quem viabilizou os recursos para o combate � pandemia?”, questiona.

Acerca de temas ligados � seguran�a p�blica, Torres tamb�m assume posi��es contundentes, claramente em conson�ncia com o chefe do Pal�cio do Planalto. Defende o excludente de ilicitude e est� convencido de que o brasileiro tem direito, sim, de se armar como forma de prote��o em um dos pa�ses mais violentos do mundo. E � frontalmente contr�rio � perman�ncia, em Bras�lia, de chefes do crime organizado, como Marcola, preso em uma penitenci�ria da capital federal.
Pr�ximo dos filhos do presidente, Torres est� mergulhado nas a��es da Esplanada. Por enquanto, o ex-secret�rio de Seguran�a P�blica do DF n�o tem pretens�es eleitorais para 2022. Mas avisa: “N�o tenho medo nenhum de elei��o”. A seguir, os principais trechos da entrevista com Anderson Torres.

Qual � a prioridade do novo ministro da Justi�a?

Costumo come�ar pelo que tem que ser feito, pelo o que � priorit�rio na gest�o. Estamos vivendo um momento de pandemia, um momento dif�cil, de solidariedade e de ajuda. E acho que a gente vai come�ar buscando pol�ticas de Justi�a e at� a seguran�a p�blica, no sentido de ajudar e orientar a popula��o brasileira at� a gente sair dessa crise.

Setores da seguran�a reclamam da falta de uma coordena��o geral. Como enxerga a situa��o?

Na quest�o do planejamento, essa doen�a pegou todo mundo muito de surpresa. As pessoas, �s vezes, cobram uma resposta do Estado e o pr�prio Estado n�o tinha essa resposta. E at� hoje acho que n�o h� uma resposta exata. Qual a melhor sa�da? � o isolamento? Quem tem essa f�rmula pronta? A COVID est� matando no mundo inteiro. A gente procurou no Distrito Federal e vai procurar aqui tamb�m organizar e orientar da melhor forma poss�vel. Mas eu digo a voc�: n�o foi f�cil. No Distrito Federal, por exemplo, h� um ano, est�vamos acertando aqui, errando ali, consertando. N�o � t�o matem�tico quanto parece. O pa�s tem acertado muito no que tem feito e, apesar da trag�dia das mortes, que todos n�s lamentamos, temos conseguido vacinar uma quantidade muito grande de pessoas. Acredito muito que o caminho vai ser esse: a vacina��o em massa para que a gente possa sair dessa crise.

O presidente insiste na ideia de convocar o Ex�rcito e a pol�cia para garantir o ir e vir. Como o Minist�rio da Justi�a, defensor da lei e da ordem, vai lidar com essa postura do Planalto?

Com muita tranquilidade. Como voc� bem disse, somos defensores da lei e da ordem e vamos manter a lei e a ordem a todo custo. Acho que, realmente, a popula��o j� entendeu o que pode e o que n�o pode. J� estamos com mais de um ano de pandemia. O momento inicial, de ficar discutindo isso, j� passou. O cidad�o j� entendeu que pode trabalhar. O que tem que ser coibido s�o abusos que as pessoas insistem em cometer, por exemplo, festas supernumerosas num momento dif�cil como esse. Agora, o trabalho, a circula��o, o ir e vir da popula��o, a gente vai garantir, vai manter. Isso � extremamente importante para o pa�s.

O senhor tem conversado com os secret�rios de Seguran�a para estabelecer um di�logo nessas a��es sobre o ir e vir?

Foi a primeira reuni�o que fizemos aqui. Chamamos os secret�rios de Seguran�a, meus companheiros de jornada at� outro dia, discutimos v�rios assuntos aqui, o Fundo Nacional de Seguran�a P�blica, pandemia, vacina��o dos policiais... tudo isso foi tratado aqui com eles. A gente tem uma pauta bem extensa de pedidos deles e estamos trabalhando para ajudar os colegas do Estado.

Concorda, ent�o, com as cr�ticas do presidente �s medidas restritivas?

De agora para frente, n�o � mais a solu��o. A gente j� teve um momento inicial em que ningu�m sabia o que era certo ou errado. Volto a dizer, ningu�m tem essa receita at� hoje. Mas, de agora para frente, o Brasil precisa andar. A crise n�o est� pequena, est� muito grande a crise financeira, o cidad�o precisa voltar a trabalhar. Claro, que n�o tem ningu�m aqui dizendo que n�o precisa tomar os cuidados necess�rios, mas o Brasil precisa funcionar.

Mas o Brasil n�o poderia ter reagido melhor? Afinal, estamos falando de 400 mil mortes.

N�o concordo que o Brasil poderia ter reagido melhor. O Brasil reagiu na medida daquilo que o pa�s tinha em m�os, daquilo que ele sabia. Se voc� pegar as porcentagens de mortes mundo afora, n�o estamos t�o desproporcionais assim. A gente fez uma porcentagem de mortes. N�o est� t�o ruim assim. Quer dizer, � p�ssimo, uma morte � p�ssima. Ainda mais, quase meio milh�o de mortes. � muito ruim. Mas o que o Brasil poderia fazer, foi feito. Talvez a maior distribui��o de recursos da hist�ria para estados e munic�pios.

O senhor fala de recursos, mas este n�o � o �nico papel do governo. � dever coordenar a��es para auxiliar os estados.

A� vamos entrar em quest�es judiciais, da autonomia dos governadores, do estado federado, vamos discutir aqui at� amanh�. Na minha avalia��o, o governo federal fez e vem fazendo a parte dele.

Mas o STF s� deu aos governos estaduais autonomia para tomarem medidas.

Se eles decidiram desse jeito, o governo federal repassou os recursos. Falo isso com muita tranquilidade, eu estava num governo estadual. Para mim � muito f�cil. Vi a import�ncia dos recursos do governo federal no governo estadual para ele poder trabalhar. Volto a dizer a voc�s, a autonomia de um governador, a capilaridade dele � muito maior. N�o concordo e n�o acho certo culpar o governo federal pelo que est� acontecendo.

O que acha da CPI da COVID?

A gente tem que respeitar CPI. � uma comiss�o parlamentar de inqu�rito instaurada no Congresso Nacional. N�o me cabe discutir. Mas eu gostaria de entender exatamente a finalidade, o que vai ser investigado. A CPI tem que ter um objeto concreto, vai investigar exatamente o qu�? A gente vai ver se � uma CPI pol�tica ou t�cnica, participei de tr�s no Congresso Nacional, sei exatamente como funciona uma CPI. Agora, pergunto: vamos investigar quem viabilizou os recursos para o combate � pandemia? Preciso entender melhor essa CPI.

A CPI � inoportuna?

Para mim, o momento � inoportuno. Estamos num momento de trabalhar no combate � pandemia. E as minhas d�vidas s�o exatamente o que vamos investigar. Vou esperar um pouco mais, acho que � muito cedo para opinar. A CPI acabou de come�ar, vamos ver os depoimentos, o que vai acontecer para a gente ter um panorama mais exato. Neste momento, � aguardar.

O governo n�o errou em Manaus?

� dif�cil opinar. No dia em que fui receber o primeiro lote de vacinas aqui para o Distrito Federal, vi na Base A�rea o oxig�nio ser encaminhado para l�. Eu nem sabia o que era aquilo, uns cilindros enormes de oxig�nio sendo encaminhados pelo governo federal. Agora, eu te pergunto: o governo local n�o estava vendo isso? N�o viu que estava acabando (o oxig�nio)? Eu te falo isso porque participei da gest�o da pandemia no DF. Ali, no gabinete do governador. N�o era minha pasta, n�o era minha �rea, mas eu via o que acontecia. Aqui, a gente correu na frente o tempo todo, na medida do poss�vel, vacina, teste, tudo a gente correu na frente. Agora, o governo federal � que tem que sair daqui, ir l� para Manaus, saber que est� acabando? N�o temos como culpar, mas eu n�o estava no governo naquela �poca.

Como est� o combate ao crime organizado e � corrup��o, uma aposta t�o cara ao ex-ministro Moro e que a gente n�o v� mais na vitrine do governo?

O combate ao crime organizado e a�, inclu�do o combate � corrup��o, ao desvio de dinheiro, �s organiza��es criminosas, essa � a pauta zero, zero um da Pol�cia Federal e da Pol�cia Rodovi�ria Federal. No ano passado, a Pol�cia Federal bateu recorde de opera��es. Agora, talvez tenha sumido da m�dia por causa da falta de grandes opera��es, por exemplo, a da Petrobras. E a� eu te digo que, realmente, as coisas melhoraram muito no Brasil de uns tempos para c�, em raz�o da diminui��o desses casos no pa�s. Isso � fato, n�o � segredo para ningu�m. A PF tem feito opera��es todas as semanas de combate � corrup��o. Mas grandes casos de corrup��o, como foram esses que a gente viu, n�o foram mais identificados pela Pol�cia Federal.

A perman�ncia de Marcola no pres�dio aqui, no DF, causa muita pol�mica. A presen�a dele estende a atua��o do crime organizado nessa regi�o?

A gente acompanha isso desde a Secretaria de Seguran�a P�blica do DF. Todas as vezes que essas organiza��es criminosas tentaram se instalar no Distrito Federal, a Pol�cia Civil agiu muito bem. Sempre tive postura contr�ria � perman�ncia desses l�deres de organiza��es criminosas aqui em Bras�lia. Isso n�o mudou. Continuo com essa posi��o e j� conversei com a diretora do Depen (Departamento Penitenci�rio), e est� sendo feito um estudo sobre como vamos trabalhar essa situa��o aqui.

Para a sa�da dele?

N�o tenho nada contra o pres�dio, � importante para o governo federal e para o combate ao crime. Mas Bras�lia � uma cidade sui generis, que tem a sede dos Poderes, os Tribunais Superiores, mais de 200 representa��es diplom�ticas aqui. S�o pessoas de outros pa�ses que acreditam no pa�s como seguro. E Bras�lia tem a sede de tudo isso aqui. Ent�o, Bras�lia continua sendo e vai ser para sempre um lugar que n�o pode ter esses l�deres de organiza��es criminosas instalados por aqui. Essa minha opini�o n�o muda.

Vir�o outras investiga��es da PF sobre corrup��o na COVID?

H� mais de 50 opera��es. Desde que cheguei aqui, hoje (quinta-feira) completa um m�s. Como ministro da Justi�a, procuro n�o me envolver com a Pol�cia Federal. A Pol�cia Federal � o doutor Paulo Maiurino que toca as investiga��es. Agora, referente �s investiga��es que j� ocorreram, s�o muito pertinentes. Sempre que a Pol�cia Federal trabalha assim, faz uma opera��o e dessa opera��o vem documenta��o, material que gera muitas vezes outras opera��es. Ent�o, com base nisso, h� que se esperar novas opera��es da PF nos estados, referentes � quest�o dos recursos federais que foram repassados, se eventualmente foram desviados ou a pol�cia tem alguma d�vida em rela��o a isso. O que nos cabe aqui � fomentar e proporcionar meios para que a PF cada vez mais atue e cada vez mais cumpra o seu papel.

O senhor � o primeiro delegado da PF a assumir o minist�rio e o primeiro brasiliense. Como se sente? � a Pol�cia Federal bem representada, ou n�o muda em nada a diretriz?

Acho que � um novo olhar para o Minist�rio da Justi�a e Seguran�a P�blica. Nunca teve um policial aqui. E tamb�m muito orgulho de ser brasiliense e ter chegado aqui nessa cadeira, que � muito importante para o nosso pa�s. As perspectivas s�o as melhores poss�veis. Tenho certeza absoluta de que a gente vai dar um redirecionamento aqui nas pol�ticas p�blicas do minist�rio.

Qual pol�tica p�blica precisa de maior mudan�a?

A gente tem que cuidar da fronteira, do crime organizado. A gente tem que cuidar do Rio de Janeiro, que precisa de um olhar especial da seguran�a p�blica. A gente precisa cuidar do norte do pa�s. Est�o ocorrendo invas�es de terras complicad�ssimas, destrui��o de fazendas, pessoas sendo mortas. (Bandidos) escondidos atr�s de movimentos sociais, mas isso n�o � movimento social. Movimento social n�o faz esse tipo de coisa, n�o mata ningu�m, n�o destr�i propriedade. Isso que est� acontecendo � muito grave.

Que organiza��es s�o essas?

N�o s�o fac��es criminosas de outros pa�ses. S�o brasileiras. A gente est� indo para l� fazer essa investiga��o e vai trabalhar muito pesado nisso. A gente n�o concorda com esse tipo de destrui��o, com esse tipo de coisa. Isso fere de morte o direito � propriedade, do pa�s, a produzir e a se desenvolver. Outra coisa que sempre falei: o sistema penitenci�rio brasileiro. Nesta quinta-feira, fui inaugurar o Centro de Deten��o Provis�ria, uma obra dif�cil, que estava parada. Conseguimos chamar a segunda colocada, uma empresa portuguesa, que veio para Bras�lia, terminou a obra e, enfim, foi a inaugura��o. � importante para Bras�lia. Quando assumi, tinha 17 mil presos encaixotados ali dentro, na capital federal, a sete, oito quil�metros do Pal�cio do Planalto. Imagine como n�o est� nos estados. Ent�o, o Brasil precisa de uma pol�tica s�ria de cumprimento de pena. A gente precisa superar algumas quest�es de legisla��o, o preso precisa ter um destino, uma finalidade, alguma coisa para fazer. Enquanto n�o se resolver isso, n�o vai sanar o problema da seguran�a p�blica.

E isso passa pelo Congresso?

Provavelmente. A gente precisa de pol�ticas p�blicas e legisla��o. Pretendo, no m�dio espa�o de tempo, mandar um projeto de lei muito robusto ao Congresso com algumas mudan�as importantes na legisla��o, principalmente nessa quest�o do cumprimento de pena, ressocializa��o de presos, algumas mudan�as no C�digo de Processo Penal. Vamos tentar trazer coisas que foram derrubadas agora na quest�o do pacote anticrime tamb�m.

E o excludente de ilicitude?

O excludente de ilicitude, eu te digo: alguma coisa precisa acontecer. O policial n�o pode ficar mais com tanto medo de trabalhar como ele tem hoje. Falo isso porque eu sou policial. N�o � como uns disseram, uma licen�a para matar. N�o existe isso. � um excludente de ilicitude. O que pode acontecer: voc� pode errar no seu trabalho. Est� certo que o erro do policial pode ser muito grave, mas ele precisa ter algum tipo de cobertura. Eu estou falando isso para 99,9% dos policiais brasileiros, que s�o honestos, pais de fam�lia. O policial sai de casa todo dia de manh� para trabalhar com medo, sem saber se vai, se n�o vai, se saca a arma, se n�o saca a arma, se usa uma algema, se n�o usa. Isso precisa ser resolvido de uma vez, ter legisla��o sobre isso, para que ele tenha uma seguran�a para trabalhar. E isso hoje n�o existe no Brasil. Ent�o, o excludente de ilicitude veio nesse sentido quando foi criada, e a gente vai rediscutir isso muito em breve.

Mas n�o significa que um policial que mate no exerc�cio da fun��o vai preso, ou ser� punido. Apenas que ser�o apuradas as circunst�ncias...

Ele � um policial. Precisa ter circunst�ncias diferentes das de um cidad�o comum. A arma de um policial � o instrumento de trabalho dele, n�o � um enfeite. � diferente. N�o quero muitos entendimentos sobre o assunto. Eu quero: ‘Fez isso, acontece isso, isso e isso’.

Existe muita pol�mica em rela��o � popula��o se armar cada vez mais. Isso n�o o incomoda?

Sou totalmente a favor de o cidad�o de bem poder ter o direito de ter uma arma de fogo em casa.

Por qu�?

� um direito da popula��o. Isso � defesa. Eu moro em casa, por exemplo. Se eu n�o fosse policial, faria quest�o de ter uma arma.

Mas n�o � um atestado de que n�o h� seguran�a p�blica?

Acredito que n�o. � uma autodefesa. Vou fazer uma pergunta dentro da sua pergunta. Vivemos num Brasil de muitos Brasis, gigantesco. Tem localidades, propriedades rurais que ficam a 200, 300 quil�metros de um batalh�o de pol�cia, de uma delegacia de pol�cia. Como o cara vai se defender? Ele n�o tem direito de se defender? Tem locais aonde a pol�cia n�o chega, n�o consegue chegar, cidades gigantescas, com efetivos dif�ceis. O cidad�o de bem tem que ter o direito de se defender. Sou a favor de dar esse direito ao cidad�o.

N�o � perigoso?

O porte de arma de fogo � diferente da posse. O porte tem que ter todo um rigor para ser concedido. Agora, a posse de arma de fogo tem que ser concedida �quele cidad�o de bem, que paga seus impostos, tem seus direitos, apresentou a papelada, cumpriu os requisitos, pode comprar a arma de fogo. � prioridade.

Mas, ministro, a� vem uma briga de tr�nsito, o cara puxa a arma e mata um.

� a exce��o fazendo a regra. A senhora est� indo na exce��o. Esse que puxar e fizer isso vai ser preso, punido, condenado. Vai ter uma s�rie de problemas.

Estudos afirmam que o maior acesso a arma aumenta a viol�ncia.

E tem estudo que fala o contr�rio. A estat�stica n�o fala isso. Eu sou muito bom de estat�stica.

Com ou sem estat�sticas, o Brasil � um pa�s violento. Se a popula��o tem mais acesso a armas, isso vai diminuir a viol�ncia?

N�o sei se vai diminuir a viol�ncia no Brasil. Isso � um estudo que a gente realmente precisa fazer, precisa analisar as estat�sticas. Mas vai dar uma seguran�a para a v�tima. O Brasil � um pa�s violento em raz�o dos criminosos, e n�o das v�timas. � isso que estou querendo te dizer. � uma vis�o diferente do mesmo problema. O pa�s � violento n�o por causa da v�tima.

Mas n�o caberia �s for�as de seguran�a combater os criminosos, e n�o ao cidad�o?

Cabe. Mas o Brasil n�o � um pa�s violento? As for�as de seguran�a n�o est�o conseguindo cumprir… Apesar de que tem outro detalhe: ‘crime zero’ tamb�m n�o existe em lugar nenhum do mundo. O crime faz parte da hist�ria da humanidade, das rela��es humanas. Esque�a que n�s vamos ter ‘crime zero’. O que est� se discutindo �: poder ou n�o poder ter uma arma de fogo. O cidad�o de bem tem que poder.

O senhor saberia indicar um pa�s que trata essa quest�o de forma correta?

N�o sei.

EUA, por exemplo?

Os EUA t�m uma liberalidade muito grande no acesso a armas de fogo. Mas n�o vivi l�, estive l� uma vez s�, n�o sei te dizer se funciona, se n�o funciona. Acho que isso a� voc� precisa de um dia a dia, precisa estudar, analisar. E eu n�o tenho esse estudo, n�o tem como eu te dizer.

Houve muita discuss�o sobre a sa�da do superintendente do Amazonas, Alexandre Saraiva. O senhor participou?

Da mesma forma que o presidente me colocou aqui com liberdade para mexer, o diretor-geral da PF est� fazendo as mexidas que acha importantes. Uma coisa precisa ser dita: o superintendente � o representante da Pol�cia Federal naquele lugar. A PF tem uma pol�tica de n�o manter um superintendente mais que dois anos e meio na superintend�ncia. Essa troca � natural e salutar. At� onde fiquei sabendo, o colega de Manaus estava l� h� 3 anos e meio e h� 10 anos andando na regi�o Amaz�nica. O diretor-geral da PF resolveu trocar, como est� trocando v�rios outros no Brasil.

Mas houve um problema ali: apreens�o de madeira. Existem acusa��es s�rias contra um ministro que estaria agindo a favor de madeireiros.

H� um problema e est� sendo apurado. Tem inqu�rito instaurado. E a gente volta a falar de caso concreto. N�o estou aqui para dar raz�o para o ministro nem para o delegado. Mas o que aconteceu ali vai ser apurado. At� onde fiquei sabendo, v�rias pessoas vieram a Bras�lia para fazer reclama��o da Pol�cia Federal, do que estava acontecendo ali, e em raz�o disso o ministro resolveu ir in loco saber. Volto a dizer: eu n�o estava no governo, n�o sei o que foi feito, cheguei exatamente no meio dessa confus�o. N�o vou me manifestar porque tenho certeza de que, no momento oportuno, isso vai chegar aqui.

Uma das suas fun��es como ministro da Justi�a � fazer interlocu��o com tribunais superiores. Como tem sido esse contato?

Muito bom, excelente. J� visitei v�rios ministros, temos algumas pautas em comum. A gente tem tido um bom trato com o Supremo, o STJ, Tribunal Superior do Trabalho, ministro do TSE esteve comigo aqui tamb�m.

Onde h� necessidade de mudan�a na legisla��o?

Estamos com o C�digo de Processo Penal sendo discutido no Congresso. O deputado Jo�o Campos conversou conosco. Quero construir isso a muitas m�os, porque eu acho importante. N�o pode ser uma coisa s� do minist�rio, s� do governo, tem que discutir e manter um bom relacionamento com todos eles.

Andr� Mendon�a, seu antecessor, fez uso da Lei de Seguran�a Nacional contra opositores do governo. Pretende usar esse expediente tamb�m?

Na verdade, a Lei de Seguran�a Nacional est� em vigor, est� sendo rediscutida no Congresso Nacional. Muito em breve o Congresso deve opinar, aprovar uma nova lei, enfim. Mas ela est� em vigor. Aqui, o que nos cabe nesse momento � se chegar uma representa��o, ou todo e qualquer fato que chegar aqui, eu vou encaminhar � Pol�cia Federal. Vou deixar o ju�zo de valor — se houve crime, n�o houve crime, se foi Lei de Seguran�a Nacional, C�digo Penal — para quem vai apurar.

A Lei de Seguran�a Nacional est� atingindo opositores e aliados, n�o? Tem um deputado federal bolsonarista preso.

Perfeitamente. Eu tenho a prerrogativa de requisitar instaura��o de inqu�rito policial daqui. Eu, ministro da Justi�a. Mas, no nosso caso aqui, as representa��es que chegarem, a princ�pio, ser�o apenas encaminhadas � PF.

� problem�tico, ent�o, o uso exacerbado desta lei?

N�o acho problem�tico. � uma legisla��o que est� em vigor.

Como � sua rela��o com o presidente? Ele ouve o senhor?

A gente se encontra sempre.

O senhor tamb�m tem uma rela��o pr�xima com os filhos do presidente, n�o?

Eu tenho uma rela��o de trabalho com eles de muito tempo. A gente se conheceu nos corredores da C�mara dos Deputados, a gente trabalhava perto. Havia muitas pautas em comum no Congresso Nacional, e a gente acabou criando uma rela��o de trabalho. Sempre foi uma rela��o de trabalho. As pessoas ficam falando ‘ah, � amigo’. Enfim, � direito de todo mundo falar o que quiser. Mas, assim, eu tenho uma rela��o de trabalho e confian�a com eles. Agora, � claro, o presidente � meu chefe, eu despacho com ele duas vezes por semana, pelo menos.

Os problemas da Lava-Jato n�o colocam em d�vida o trabalho da PF?

O que est� sendo discutido s�o procedimentos e algumas provas, algumas coisas j� de uma fase mais avan�ada da Lava-Jato. Eu n�o estava na Pol�cia Federal, eu estava cedido nessa �poca. N�o acompanhei por dentro da Lava-Jato. Agora, � uma opera��o gigantesca, com muitas provas, fatos descobertos ou provados pela Pol�cia Federal, aceitos pelo Minist�rio P�blico Federal, que ensejaram condena��es em primeiro grau, segundo grau, e at� terceiro grau. � dif�cil dizer sobre uma opera��o dessa. Por outro lado tamb�m, a� a gente precisa ser justo, e eu sempre digo isso: os fins n�o justificam os meios.

O que acha de uma lista tr�plice para escolha de diretor-geral?

(Sil�ncio) N�o concordo.

Por qu�?

Porque a lista tr�plice vem da associa��o, vem do sindicato. A� voc� come�a a misturar administra��o com sindicato, embola tudo e cada um n�o cumpre o seu papel como tem que cumprir. Eu fui da Associa��o Nacional dos Delegados da Pol�cia Federal, fui diretor parlamentar por oito anos. A associa��o � a favor (da lista tr�plice), mas eu sempre, l� dentro, defendi que nunca fui a favor. N�o acho isso certo.

H� interfer�ncia dos governos na Pol�cia Federal?

Zero. zero.

O presidente nunca lhe pediu nada?

Interfer�ncia? Zero.

E na superintend�ncia? O crit�rio deveria ser diferente? Alguma coisa ligada � carreira?

A Pol�cia Federal precisa de um plano de carreira. Sou a favor. Por que escolhi o doutor Paulo Maiurino? Voltei para o concurso de 1997, que � a turma dele. Eu podia ter pego um amigo da minha turma... N�o. Voltei para onde a pol�cia n�o devia ter sa�do. � importante para uma institui��o. A institui��o n�o pode ter esses saltos gigantescos. Fica toda uma experi�ncia para tr�s, e a gente vai sentir falta disso l� na frente. Isso desorganiza.

Ainda assim, o senhor escolheu um diretor com perfil pol�tico. Por que n�o um perfil t�cnico?

O Maiurino tamb�m � muito t�cnico. Ele teve uma viv�ncia fora. Minha viv�ncia fora da Pol�cia Federal, como gestor, foi fundamental. Dr. Paulo vai fazer uma grande gest�o. E tem outra coisa, que as pessoas confundem muito: ele � o diretor-geral da Pol�cia Federal. Ele n�o toca inqu�rito. Insisto em dizer: voltei a Pol�cia Federal para a gest�o, para a experi�ncia, porque acho que a institui��o estava precisando disso. Isso vai desandando uma s�rie de coisas internamente. E o Paulo foi o cara que trabalhou no mensal�o, no mensal�o mineiro. Vai dizer que ele n�o � t�cnico?

O senhor diz que a interfer�ncia pol�tica � zero. Mas o presidente � muito presente no trabalho dos ministros. N�o � contradit�rio?

N�o. A interfer�ncia � zero, principalmente em nossa atividade funcional. N�o existe. As pessoas falam “interfer�ncia em uma investiga��o”, “interfer�ncia em direcionamento”. Isso � zero. Nunca vi isso dentro da Pol�cia Federal. De 30 em 30 dias, um inqu�rito vai �s m�os de um procurador da Rep�blica, de um juiz, para pedir prazo. Talvez um dos instrumentos mais fiscalizados do Brasil seja um inqu�rito policial: com prazo, metas internas, controle externo, controle interno. Por isso eu digo que a interfer�ncia � zero. E tem outra coisa. Eu vejo outro momento na Pol�cia Federal. Vejo profissionais extremamente preparados, que jamais colocariam o cargo em risco. Agora, mudar o superintendente, mudar o diretor-geral... Isso nunca vai ser interfer�ncia.

Mas quando Moro saiu, ele disse haver uma tentativa de interfer�ncia em uma das superintend�ncias, que foi trocada. Inclusive isso foi tratado na reuni�o ministerial de 2020.

� muito dif�cil julgar aquele momento. Eu n�o estava aqui, n�o sei o que o Moro quis dizer com aquilo. Agora eu conhe�o a Pol�cia Federal. Sou da Pol�cia Federal. Sei o que estou falando. Volto a dizer: trocar o superintendente, trocar o diretor-geral n�o � interfer�ncia quando muda a administra��o. Hoje uma lei garante que o delegado, no �mbito da investiga��o, n�o pode ser tirado. A Pol�cia Federal tem as amarras dela. Me diga outra institui��o t�o controlada quanto as pol�cias? N�o tem. � Tribunal de Contas, Minist�rio P�blico, Corregedoria, Judici�rio, contraintelig�ncia. N�o existe institui��o mais vigiada do que essa.

Pretende fazer como seus antecessores e ter um protagonismo na escolha dos ministros do STF?

A escolha de um ministro do Supremo � decis�o pessoal e muito importante para o presidente da Rep�blica. O que eu pretendo ser, enquanto ministro da Justi�a, � um grande assessor nessas escolhas. N�o s� dos ministros do Supremo; por aqui passam as listas dos tribunais superiores. Quero orientar no sentido de fazer a melhor escolha, tecnicamente falando.

E o concurso? Vai ter?

N�o discuti isso com Paulo Maiurino. A PF formou duas grandes turmas agora, o que ajudou muito no efetivo. A PRF tamb�m. A pol�tica de gest�o de pessoas tem que ser permanente. A gente precisa ter concurso, precisa de gente apta para formar e tomar posse. Vivemos uma dificuldade muito grande com isso na Pol�cia Civil do DF, um deficit muito grande de agente, escriv�o. Soltamos o maior concurso da hist�ria da PCDF, mas foi adiado por causa da pandemia. � muito dif�cil. Institui��es policiais e militares precisam sempre ter concurso em andamento. No que depender de mim, vai ter concurso.

O senhor tem 44 anos, � o primeiro brasiliense ministro e primeiro delegado de PF neste cargo. O que pensa para o seu futuro?

O meu futuro, eu n�o sei (risos). Pergunta cruel. Estou totalmente concentrado no minist�rio. Como disse, a gente est� em um momento muito importante do governo, do pa�s. � uma honra ocupar essa cadeira. O primeiro brasiliense... Amo minha cidade. Sou aquele brasiliense nascido e criado aqui, que gosta daqui, que cresceu ouvindo Legi�o Urbana. Sou muito brasiliense; sou muito isso aqui. Estou muito feliz de estar aqui. Por isso quero estar concentrado. As pessoas costumam dizer que o futuro a Deus pertence. E � verdade.

J� est� filiado a algum partido?

Fake news (risos). Saiu uma fake news que eu estava filiado a um partido gigante, e tal. Entramos na Justi�a Eleitoral e mostramos que n�o sou filiado. E ainda demoraram para desmentir o neg�cio! Agora, por conta disso, onde eu ando na rua, me perguntam: “E a�? Federal, senador, governador...”

Ent�o o senhor n�o vai se filiar a nenhum partido.

N�o tenho medo nenhum de elei��o. S� n�o � prioridade na minha vida.


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