
Contorcionismo, fatos triturados, tenta-se induzir, via de regra, � mesma conclus�o: o presidente da Rep�blica disse mas n�o disse; fez, mas n�o fez; e a culpa do “disse n�o disse”, “fez n�o fez” � sempre de um terceiro. Em bom portugu�s: o algoz se torna a v�tima.
Nessa toada, Pazuello repetiu a fal�cia que tenta explicar o inexplic�vel, ou seja, a ina��o do governo federal para evitar mortes da pandemia, que poderiam ser evitadas.
Distorceu: “A decis�o do STF em abril de 2020 limitou ainda mais a atua��o do governo federal nessas a��es. Assim, n�o h� possibilidade de o Minist�rio da Sa�de interferir na execu��o das a��es dos estados na sa�de sem usurpar as compet�ncias dos estados e munic�pios”.
Jamais o STF limitou a��es do governo federal. Mas, antes, determinou que Uni�o, estados, Distrito Federal e munic�pios t�m compet�ncia concorrente na �rea da sa�de, o que significa dizer: � responsabilidade de todos os entes da federa��o adotarem medidas em benef�cio da popula��o brasileira no que se refere � pandemia.
Rememorar o depoimento � mais um ato de naturaliza��o do teatro dos absurdos. � assim que o oxig�nio “s�” teria faltado tr�s dias em Manaus; o presidente da Rep�blica “nunca” teria mandado desfazer qualquer contrato com o Butantan para a produ��o de vacinas contra a COVID-19; como ministro, ele teria “sempre” defendido o isolamento social; o aplicativo TrateCOV, do Minist�rio da Sa�de em recomenda��o ao uso de medicamentos sem efic�cia, “nunca” teria entrado em opera��o.
Para completar, Pazuello tentou dividir a fatura com o Tribunal de Contas da Uni�o (TCU), pela recusa do governo brasileiro para a compra de vacinas da Pfizer ainda em 2020. Conforme detalhou � CPI o gerente-geral da Pfizer na Am�rica Latina, Carlos Murillo, a farmac�utica tentou em 2020, seis vezes, sem sucesso, vender a vacina contra a COVID-19 ao Brasil.
Pazuello disse que o governo n�o teria aceito as ofertas da farmac�utica no ano passado porque n�o concordou com as cl�usulas do contrato e considerou que o pre�o das doses era “caro”.
E disse tamb�m que a decis�o de refutar a Pfizer teria sido tomada depois que �rg�os de controle, entre eles o Tribunal de Contas da Uni�o (TCU), orientarem que o documento “n�o deveria ser assinado”. Pelo menos desta vez, foi desmentido ao vivo e a cores pelo TCU, na voz do relator Renan Calheiros (MDB-AL).
Dif�cil crer em que mundo estamos, a que ponto chegamos. No topo da hierarquia, o Minist�rio da Sa�de se omitiu em coordenar esfor�os em uma �nica dire��o, para combater a dissemina��o do v�rus, para o uso de m�scaras, para que fosse feito o distanciamento social, para a aquisi��o de vacinas?
� isso o que a CPI investiga, e para tal, talvez nem depoimentos seriam necess�rios. Bastaria se buscar o amplo acervo de v�deos, tu�tes, declara��es do presidente da Rep�blica, documentos of�cios, prints, que at� as pedras conhecem.
Mas foi a� que Pazuello de fato inovou. Segundo ele, o Bolsonaro das redes � uma esp�cie de “persona” independente, aut�noma, do Bolsonaro que governa. Por essa l�gica, Bolsonaro mente nas redes; mas governaria. Quando sabe-se, que a rec�proca que � de fato a verdadeira: o presidente diz o que pensa nas redes; e por que acredita no que diz, n�o governa.
Por fim, ao justificar a sua sa�da do Minist�rio da Sa�de, Pazuello apresentou a cereja do bolo: “Miss�o cumprida”. Tem toda a raz�o.
