O fil�sofo Andr�s Bruzzone vive seu segundo confronto com a armadilha da polariza��o na pol�tica. Brasileiro nascido na Argentina, nutre desgosto pela divis�o que se aprofundou nos anos de kirchnerismo no pa�s vizinho, a partir da d�cada de 2000. Ele diz que v�, h� pelo menos cinco anos, o mesmo ocorrer no Brasil. "Perdemos nuances, estamos entre branco e preto, doen�a ou sa�de, n�o tem meio-termo", disse ao Estad�o o autor do rec�m-lan�ado Ciberpopulismo, um ensaio sobre o uso da tecnologia e das redes sociais pela extrema direita.
O tom do seu livro parece pessimista. O sr. diz que expectativas frustradas explicam o surgimento da onda populista � direita, mas os movimentos democr�ticos ainda n�o t�m uma resposta para isso. Ou t�m?
Acho que a democracia est� encontrando mecanismos para se proteger, mas n�o sou otimista. Votamos com tr�s �rg�os do corpo. Com o cora��o - nos identificamos com uma pessoa, um partido. Com o c�rebro, fazemos escolhas racionais. Essas duas coisas funcionam, mas o populismo age no terceiro �rg�o: a tripa, as entranhas. O populismo apela de maneira mais intensa para paix�es negativas. As redes sociais s�o muito mais eficazes para odiar do que para gostar. H� mais haters do que lovers. Quando se juntam esses dois fen�menos - das m�dias digitais e do populismo - e os dois apontam para �dio, frustra��es e canaliza��o do medo, � muito dif�cil fugir da armadilha.
O ciberpopulismo � apenas o uso da tecnologia para promover a polariza��o, a mesma que j� vimos no s�culo 20, ou h� mais do que isso?
Ele nasce desse encontro entre o populismo tradicional e a tecnologia. Mas provoca uma mudan�a estrutural. Primeiro se aproveita de mudan�as nos sistemas de meios de comunica��o e de partidos e, ao mesmo tempo, acentua essas mudan�as estruturais. N�o �, provavelmente, um fen�meno provis�rio e, sim, algo que est� instalado. A democracia vai precisar lidar com esse encontro do populismo com as possibilidades que a tecnologia coloca � disposi��o dos especialistas em campanhas pol�ticas.
Mais comunica��o � um problema para a democracia?
� um paradoxo. Por enquanto, o maior acesso a informa��es est� enfraquecendo e amea�ando as democracias. Mas n�o deveria. Acredito que o que est� faltando � o poder fiscalizador do Estado, a regulamenta��o dos processos de produ��o e distribui��o de informa��es. N�o acho que seja sustent�vel, hoje, que uma desregula��o total seja positiva.
O sr. cita no livro o ex-primeiro-ministro brit�nico Tony Blair, que diz que o populismo de esquerda n�o tem chance de alcan�ar o apelo populista da direita. O sr. concorda?
N�o concordo com nenhum progn�stico t�o taxativo. No Brasil, vemos um momento muito preocupante, mas tamb�m interessante. A esquerda est� aprendendo a usar redes, vemos isso no cotidiano. E vem a� uma elei��o que vai ser pautada pelos sistemas digitais de constru��o de discurso. Cabe a cada um apostar a favor ou contra Tony Blair. (A elei��o) ter�, claramente, uma din�mica de ciberpopulismo. Ser� uma polariza��o extrema, na qual quem eu odeio ser� t�o importante quanto quem eu amo. O Brasil vai viver essas polariza��es sobrepostas.
Em um cen�rio conflagrado como esse, o "centro democr�tico" ou a "terceira via" perdem?
Est�o fora do jogo - o que � muito triste. Perdemos nuances, estamos entre branco e preto, entre doen�a ou sa�de, n�o tem meio-termo. � muito ruim para a democracia.
Existe alguma sa�da para a armadilha do ciberpopulismo?
Diria que somente com um acordo muito claro das for�as democr�ticas. Acho que um pacto democr�tico seria a �nica sa�da para essa armadilha. Havendo esse pacto entre as for�as de esquerda e direita democr�ticas, d� para deixar de fora os antidemocr�ticos. � preciso fomentar o di�logo. Tem algu�m querendo tacar fogo no circo, n�o podemos deixar. Se o circo queimar, estamos todos incinerados.
As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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