Em depoimento � Comiss�o Parlamentar de Inqu�rito (CPI) da Covid, o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, admitiu a possibilidade de que a vacina contra covid-19 precise ser aplicada em doses anuais. Segundo ele, "tudo indica" que haver� necessidade do refor�o peri�dico da vacina��o.
"Na minha percep��o, como cientista, como m�dico, tudo indica que haver� necessidade de doses anuais, de refor�o, como � a da vacina da gripe, dado que essa infec��o tem a possibilidade de se tornar end�mica tudo indica que isso vai acontecer. Algumas companhias j� est�o trabalhando na possibilidade dessa terceira dose, inclusive o Butantan, que desenvolve estudos para ter o refor�o vacinal pelo menos uma vez ao ano", disse Covas nesta quinta-feira.
Tratativas sobre vacinas
No depoimento � CPI da Covid, o diretor do Instituto Butantan refor�ou que a interfer�ncia do presidente Jair Bolsonaro na aquisi��o da Coronavac pelo governo provocou preju�zo nas negocia��es. � CPI, o ex-ministro Eduardo Pazuello afirmou que a posi��o de Bolsonaro n�o atrapalhou a compra. Segundo Covas, ap�s o epis�dio, em outubro de 2020, n�o houve progresso nas tratativas at� janeiro deste ano, quando foi fechado o primeiro contrato com o governo.
Na sess�o, o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), apresentou v�deos envolvendo o caso, tanto das manifesta��es de Bolsonaro como do ent�o secret�rio-executivo do Minist�rio da Sa�de, �lcio Franco. Ap�s a fala do presidente, ele declarou que n�o havia inten��o de comprar vacina chinesa, uma refer�ncia � Coronavac.
"S� foi contratada seis meses depois da primeira oferta", ressaltou Covas � CPI. "Ent�o, de fato, quest�o da vacina n�o foi bem resolvida pelo Pa�s no ano passado. Houve atraso em rela��o a iniciativa de outros pa�ses, mercado global onde a quantidade � pequena e a demanda � enorme", disse ele.
Covas ainda destacou os efeitos de o governo n�o ter aceitado a primeira oferta, feita em julho do ano passado. "A n�o aceita��o da primeira oferta significa 60 milh�es at� dezembro de 2020. A partir da�, essas idas e vindas foram dificultando o cronograma, n�o os quantitativos, porque o Butantan mantinha seu acordo para os 46 milh�es, mas tinha condi��es de chegar aos 100 milh�es de doses que poderiam chegar em maio. Como n�o houve essas defini��es, o cronograma passou para setembro porque a demanda por vacinas nesse momento era muito grande", disse Covas.
O diretor do Butantan comentou que, quando enfim o governo assinou o contrato, teria sido em consequ�ncia de outras iniciativas n�o terem dado certo, como a tentativa de buscar vacina na �ndia e dificuldades com o imunizante da Astrazeneca. "�nica dispon�vel era a do Butantan", disse ele.
Covas respondeu tamb�m que a interlocu��o com o Minist�rio da Sa�de sempre foi t�cnica, e que nunca tratou com o presidente diretamente sobre a compra da vacina. "O fato � que houve mudan�a, est�vamos trabalhando (com �rea t�cnica do minist�rio) conjuntamente at� inclusive para caminhar com MP para dar sustenta��o or�ament�ria a nossos pleitos, e a partir do dia 20 de outubro isso foi absolutamente interrompido, n�o houve progresso nessas tratativas", afirmou ele. "Nunca recebi of�cio de fato que inten��o de compra feita no dia 19 de outubro n�o era mais v�lida, mas depois daquilo n�o houve mais progresso", afirmou.
Decep��o
Na CPI, o diretor do Instituto Butantan disse estar "decepcionado" com o tratamento que a institui��o teve por parte do governo federal. "Questionar o Butantan significa questionar a sa�de p�blica", afirmou Dimas Covas.
O relator Renan Calheiros apresentou uma s�rie de v�deos feitos tanto por integrantes do Minist�rio da Sa�de, quanto pelo presidente Jair Bolsonaro, no ano passado, e questionou Covas sobre a efic�cia e a seguran�a da vacina contra covid-19 produzida pelo Instituto. Para o diretor, a "campanha" feita nas m�dias sociais desqualificando a vacina trouxe preju�zos � imagem do instituto.
"Obviamente que quando come�ou a vacina��o, foi a primeira vacina a ser usada, e � a que sustentou o PNI (Programa Nacional de Imuniza��o) at� muito recentemente, essa imagem mudou muito. N�s demos a resposta que era esperada do Butantan, n�s n�o sa�mos do nosso trilho. Se houve dificuldade, foi por parte do minist�rio", completou Covas.
Na avalia��o dele, as posi��es pol�ticas, "de lado a lado" como colocou o relator da CPI, impediram a vacina��o de milh�es de pessoas em um prazo anterior ao iniciado no Pa�s. "Hoje, infelizmente, n�s temos a segunda posi��o no mundo em n�mero de �bitos. Poderia ter sido amenizada, poderia sim. Obviamente que n�o � o �nico pilar, existem outros pilares. Mas este � um pilar que poderia ter come�ado um pouco antes, sem d�vida nenhuma", declarou.
China
O diretor tamb�m reafirmou que as declara��es contra a China que acontecem no Brasil atrapalham as negocia��es com o pa�s asi�tico. "Obviamente isso se reflete nas dificuldades burocr�ticas, que eram normalmente resolvidas em 15 dias, hoje demoram mais de m�s para serem resolvidas", disse.
Covas, no entanto, avaliou positivamente o trabalho realizado pelo ministro das Rela��es Exteriores, Carlos Alberto Franco Fran�a, que assumiu em mar�o deste ano, ap�s a sa�da do ex-chanceler Ernesto Ara�jo. Segundo o diretor, Fran�a "tem ajudado muito" na interlocu��o com a China e a farmac�utica chinesa Sinovac.
POL�TICA