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Estado de Minas POL�TICA

O labirinto do general: da humilha��o a um soldado a 'r�u' na CPI


30/05/2021 16:00

Eduardo Pazuello comandava havia quatro meses o quartel do Dep�sito Central de Muni��es do Ex�rcito, em Paracambi, a 70 km do Rio, quando viu dois soldados passarem em um carro�a. Julgou que estavam velozes demais, que maltratavam o equino, e quis lhes dar uma li��o. Mandou parar, desatrelar o animal, e determinou que o recruta Carlos V�tor de Souza Chagas, um jovem negro e evang�lico de 19 anos, substitu�sse o cavalo. O soldado teve de puxar a carro�a com o outro soldado em cima, enquanto o quartel assistia � cena, �s gargalhadas.

Depois de 16 anos, o antigo soldado ainda se lembra de tudo naquele 11 de janeiro de 2005. Chagas fora escolhido por um tenente para ajudar um colega a carregar uma banheira na carro�a. "Ele n�o tinha como pegar sozinho." Foi quando Pazuello apareceu. "Eu n�o estava pilotando o cavalo, estava na carro�a. Quem estava era o outro garoto." Mas foi ele o escolhido para o castigo pelo ent�o tenente-coronel.

Ao ser questionado por que Pazuello tomou essa decis�o, o ex-soldado disse acreditar em racismo. "Pelo meu tio eu botava para frente (na Justi�a), mas eu dei mais ouvido ao meu pai, que � evang�lico, por medo de repres�lia. Isso a� agora est� nas m�os de Deus, Ele � o Senhor de todas as coisas."

A hist�ria do dia em que Pazuello mandou um jovem puxar carro�a no quartel faz parte da carreira militar do homem que est� no centro de uma das tantas crises do governo de Jair Bolsonaro: a presen�a do general de divis�o da ativa no palanque montado pelo presidente na Rep�blica para um ato no domingo, dia 23, no Aterro do Flamengo, no Rio, em apoio ao homem que busca a reelei��o em 2022.

Filho de um comerciante de fam�lia sefardita estabelecida na Amaz�nia com uma ga�cha da fronteira, Pazuello considera ter entrado para a vida militar quando tinha 10 anos. Foi quando seu pai o matriculou no Col�gio Militar de Manaus.

�FE�

A empresa de navega��o da fam�lia foi a inspira��o para que o cadete da Academia Militar

da Agulhas Negras escolhesse o Servi�o de Intend�ncia do Ex�rcito para seguir a carreira. O futuro ministro se formaria na turma de 1984 e logo pegou um atalho, que teria um grande impacto em sua carreira: o jovem oficial decidiu parar na Brigada Paraquedista e fez o curso de opera��es especiais, tornando-se ele mesmo um For�a Especial (FE), o que garantiu um lugar em uma das mais exclusivas igrejas do Ex�rcito.

Foi entre os FEs, a turma da "faca na caveira", que Pazuello encontraria companheiros que o seguiram at� o Minist�rio da Sa�de. S�o homens como os coron�is �lcio Franco, que se tornaria o secret�rio executivo da pasta e carregava o broche de FE no terno, e George Div�rio, o superintendente da Sa�de no Rio nomeado por Pazuello e defenestrado ap�s tentar contratar sem licita��o empresas para reformar pr�dios. Foi ainda na Brigada e entre os FEs que Pazuello conheceu o atual ministro-chefe da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, outro For�a Especial.

Na Brigada, o general conheceu ainda o futuro presidente da Rep�blica, o capit�o Jair Bolsonaro, o homem que 35 anos depois fez dele ministro na maior crise sanit�ria do s�culo e o demitiu quando o n�mero de mortos atingiu 279 mil, para depois cham�-lo de "nosso gordinho" no palanque no Rio. Ganhou fama de duro entre os subordinados quando estava na 1.� Regi�o Militar. E, no Dep�sito de Muni��es, se viu �s voltas com uma investiga��o sobre o desvio de muni��o excedente do local para ser vendida como sucata. Foi na mesma �poca em que o futuro ministro conheceu o recruta Chagas.

Na �poca, a 1.� Regi�o Militar resolveu pela abertura do Inqu�rito Policial Militar (IPM) para apurar a conduta do oficial. O Estad�o encontrou o recruta ainda com medo. N�o queria falar por telefone, mas tinha consci�ncia de que a situa��o que colocava Pazuello em evid�ncia tamb�m o levaria a ser procurado por jornalistas. "� sobre o general Pazuello?", questionou Chagas ao atender ao telefonema. Ele tinha receio de contar pelo telefone o que lhe acontecera no quartel h� tanto tempo.

Naquele dia, ele estava na carro�a com o tamb�m soldado Celso Tiago da Silva Gon�alves.

No Inqu�rito Policial Militar do caso, o soldado disse que estava com o ombro machucado e por isso "n�o poderia cumprir a ordem de puxar a carro�a". "Foi prontamente atendido pelo tenente-coronel", conforme registrou a procuradora-geral militar Maria Ester Henrique Tavares, que decidiu arquivar o caso.

O epis�dio seria um ponto fora da curva na carreira do oficial? O Estad�o procurou sua defesa e antigos colegas. Poucos se dispuseram a falar - seu advogado, Zoser Hardman, n�o respondeu � reportagem. Dois oficiais - um colega de turma e outro que foi seu colega na Brigada - demonstraram restri��es � narrativa do "especialista em log�stica" que levou o oficial � Sa�de. Disseram que ele tinha uma fama imerecida, que, se n�o fosse a "Igreja FE", n�o teria recebido o comando da 12.� Regi�o Militar (Manaus), cargo normalmente reservado aos integrantes das Armas, como infantes e artilheiros, e n�o a intendentes, como Pazuello.

Candidato

As alegadas humilha��es ao soldado n�o impediram Pazuello de seguir sua carreira. Ap�s o dep�sito, ele comandou o 20.� Batalh�o Log�stico da Brigada Paraquedista. E seria mandado � Amaz�nia para coordenar a Opera��o Acolhida dos imigrantes venezuelanos. No governo de Jair Bolsonaro viraria ministro da Sa�de. A exposi��o p�blica poderia lhe garantir a candidatura a um governo estadual ou ao Senado.

� que ningu�m mais se lembrava do argumento usado pelo tenente-coronel para se livrar do IPM da carro�a. Al�m de dizer que ele tratava os subordinados com "seriedade e dignidade", a defesa usou depoimentos de outros militares para atestar que Pazuello n�o quisera impor maus-tratos ao recruta. "H� aspectos pessoais da vida de Pazuello que demonstram sua familiaridade e, sobretudo, amor aos equinos."

Tudo se resolveu assim. Pazuello n�o quis humilhar o soldado; s� orient�-lo "para a preserva��o da boa sa�de dos cavalos de tra��o utilizados na OM

(organiza��o militar)". Quinze anos depois, promovido a general de divis�o, Pazuello se viu de novo diante dos limites da disciplina. O afeto e a obedi�ncia a Bolsonaro - "� simples assim: um manda e o outro obedece, mas a gente tem um carinho" - o transformaram em alvo da CPI da Covid.

Um m�s antes de comparecer ao com�cio de Jair Bolsonaro no Aterro do Flamengo, no Rio, o general de divis�o Eduardo Pazuello participou de evento pol�tico do governo, em Manaus, que foi encerrado pelo presidente com seu slogan da campanha eleitoral de 2018: "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos".

Tratava-se da inaugura��o do Centro de Conven��es do Amazonas, que se transformou em ato de desagravo a Pazuello e � pol�tica do governo na pandemia nas v�speras da abertura da CPI da Covid, no Senado. O ministro do Turismo, Gilson Machado, abriu a cerim�nia. Saudou os colegas ministros presentes, como general Augusto Heleno (Gabinete de Seguran�a Institucional), deputados federais e os comandantes militares. Em seguida, disse: "Eu quero fazer uma sauda��o especial. Cad� o general Pazuello? Cad� ele? Venha c�". A claque bolsonarista interrompeu Machado aos gritos: "Pazuello! Pazuello!"

O ex-ministro da Sa�de havia voltado ao Ex�rcito e estava � disposi��o do Comando Militar da Amaz�nia - naquele dia seria transferido para a Diretoria-Geral de Pessoal, em Bras�lia. J� havia, portanto, sido revertido � ativa e, como militar da ativa, n�o poderia participar de atos pol�tico-partid�rios. Trajando roupas civis, Pazuello foi abra�ado por Bolsonaro, que acenava ao p�blico como uma celebridade.

Machado continuou: "Fui testemunha da luta desse homem pela erradica��o da doen�a em nosso pa�s". Pazuello agradeceu. "Obrigado." E voltou para seu lugar no palanque. Machado prosseguiu com a defesa da a��o do governo na pandemia. Depois, Bolsonaro agradeceu o trabalho de Pazuello no minist�rio. O evento durou pouco mais de 50 minutos e foi encerrado por Bolsonaro com o slogan da campanha de 2018.

O caso est� nas m�os do Comando de Ex�rcito, que decidir� se pune o general por infringir o Regulamento Disciplinar do Ex�rcito. O comportamento de Pazuello, como sua presen�a no evento em Manaus, ser� levado em considera��o.

As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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