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Estado de Minas SUCESS�O

Militares planejam se manter no poder 'com ou sem Bolsonaro', diz coronel da reserva

Um dos maiores cr�ticos da crescente politiza��o das For�as Armadas, Marcelo Pimentel diz que baixas patentes seguem exemplo que vem de cima, dos generais que formam um "Partido Militar", que articulou a elei��o do presidente para chegar ao governo sem ruptura institucional: 'Eles v�o estar no segundo turno'.


12/06/2021 07:38 - atualizado 12/06/2021 08:15


Com Bolsonaro, militares voltaram ao poder sem ruptura institucional(foto: Getty Images)
Com Bolsonaro, militares voltaram ao poder sem ruptura institucional (foto: Getty Images)

O coronel da reserva Marcelo Pimentel Jorge de Souza virou nos �ltimos anos uma das vozes mais cr�ticas ao envolvimento das For�as Armadas na pol�tica.

Para explicar o porqu�, ele conta sobre uma conversa que teve com um tenente sobre como v�rios dos colegas com quem tinha servido estavam no governo.

"O tenente disse: '�, realmente, houve um aparelhamento, mas o outro lado, quando governava, fazia o mesmo'. Na hora nem percebi, mas depois vi que ele pensa que os militares t�m um lado. Isso � errado", diz o coronel Pimentel � BBC News Brasil.

Nascido em uma fam�lia de militares e formado pela turma de 1987 da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), Marcelo Pimentel diz que isso vai contra tudo pelo que ele trabalhou at� deixar a ativa, em 2018.

"Est�o destruindo a muralha que minha gera��o construiu entre as For�as Armadas e o governo, entre o militar e a pol�tica", diz o coronel de 54 anos. Se os militares tomam partido, "deixam de ter representatividade para defender o Brasil inteiro", defende ele.

Pimentel avalia que essa mentalidade � cada vez mais comum entre os militares. Mas acredita que as baixas patentes est�o apenas seguindo o exemplo que vem de cima, dos generais que formam o que Pimentel chama de "Partido Militar".

Em sua vis�o, esse grupo, que comanda o Ex�rcito, encontrou no presidente Jair Bolsonaro (sem partido) uma forma de chegar ao Planalto sem uma ruptura institucional, como no golpe de 1964.

"Dos 17 generais que formam o Alto Comando do Ex�rcito, 15 exercem cargos de primeira ordem. H� militares tanto na administra��o direta, que � a Esplanada dos Minist�rios, quanto nas empresas estatais, autarquias, �rg�os de fiscaliza��o."

Ele diz ser por isso que ele chama o atual governo � um governo militar. "As pessoas n�o enxergam porque esse grupo chegou ao poder sem uma ruptura institucional, mas eles ocupam cabe�a, tronco, membros, entranhas e alma desse governo."

De volta ao comando do pa�s, diz Pimentel, esses militares agora est�o se preparando para se manter no poder, "com ou sem Bolsonaro".

'A finalidade � manter o poder conquistado'


Apoiadores de Bolsonaro têm uma forte identificação com os militares(foto: Reuters)
Apoiadores de Bolsonaro t�m uma forte identifica��o com os militares (foto: Reuters)

Pimentel diz que pegou emprestado de cientistas sociais o termo Partido Militar para falar desse grupo que decidiu se lan�ar na pol�tica.

Ele aponta que s�o militares formados na Aman nos anos 1970, em plena ditadura — como o pr�prio Bolsonaro. Tornaram-se generais no primeiro mandato de Lula, segundo Pimentel, e chegaram ao comando do Ex�rcito no governo Dilma.

"S�o generais da reserva em sua maioria, mas tamb�m da ativa. � um grupo bastante coeso, hierarquizado, disciplinado, com algumas caracter�sticas autorit�rias e pretens�es de poder at� hegem�nicas. Sua finalidade � manter o poder conquistado", diz.

O grupo teria come�ado a se articular no in�cio da d�cada passada, segundo o coronel, em parte por causa das insatisfa��es com as conclus�es da Comiss�o da Verdade sobre os crimes cometidos por militares na ditadura e o fato do pa�s ser governado por Dilma Rousseff (PT), uma ex-guerrilheira.

Ao mesmo tempo, a miss�o da Organiza��o das Na��es Unidas (ONU) no Haiti aproximou as For�as Armadas brasileiras e americanas.

"Estabeleceram-se rela��es pessoais entre os generais brasileiros e americanos. O lazer das tropas era na Fl�rida, em Nova York, em Washington. Esses oficiais viram como o cidad�o americano tratava o militar. olhavam para c� e n�o sentiam que o brasileiro valorizava, n�?", comenta Pimentel.

O coronel diz que foi esse grupo que procurou Bolsonaro e n�o o contr�rio. N�o teria sido por acaso, portanto, que o presidente lan�ou sua candidatura na Aman, ainda em 2014.

"N�s temos que mudar o Brasil, t� ok?", disse Bolsonaro na �poca, diante de um grupo de aspirantes que o chamavam de "l�der" — um registo do encontro est� no canal no YouTube de Carlos Bolsonaro, filho do presidente.

"Alguns v�o morrer pelo caminho, mas estou disposto em 2018, seja o que Deus quiser, a tentar jogar para a direita este pa�s."

"Parece at� que ele estava vaticinando o que ia acontecer na presid�ncia dele", diz Pimentel, que � um cr�tico antigo do presidente.


Presidente foi alçado ao poder com apoio de generais, diz Pimentel(foto: Getty Images)
Presidente foi al�ado ao poder com apoio de generais, diz Pimentel (foto: Getty Images)

'Partido Militar vai estar no segundo turno do ano que vem'

O coronel diz que, em algum momento do primeiro mandato de Dilma foi fechado um acordo em torno da candidatura de Bolsonaro. Ele afirma ter acompanhado de perto a transforma��o da imagem do ent�o deputado federal entre as tropas.

"Em 2015, eu fui a uma formatura na Aman, e Bolsonaro era simplesmente o maior astro. Como um camarada que tinha sa�do do Ex�rcito pela porta dos fundos tinha sido de repente convertido em mito?", questiona.

"Essa candidatura foi muito bem pensada, planejada, e foi usada muita hist�ria de cobertura para disfar�ar o envolvimento desse grupo, como aquela novela (da escolha) do vice. Falaram no Magno Malta, no pr�ncipe (Luiz Phelippe de Orleans e Bragan�a), na Jana�na Paschoal, mas a �nica d�vida era se seria o (general Augusto) Heleno ou o (general Hamilton) Mour�o."

A idade avan�ada de Heleno acabou sendo decisiva, e Mour�o foi o escolhido, completa o coronel. A chapa Bolsonaro-Mour�o venceu as elei��es, e o Partido Militar ocupou o governo e a m�quina p�blica, diz Pimentel.


Militares ocupam vários postos de primeiro escalão do governo federal(foto: Getty Images)
Militares ocupam v�rios postos de primeiro escal�o do governo federal (foto: Getty Images)

O coronel diz que o mesmo grupo agora est� se preparando para continuar no poder. "Repito: com ou sem o atual presidente da Rep�blica", pontua.

Ele calcula que uma possibilidade passa por Mour�o — "podendo ser ele o cabe�a de chapa" — ou pelo general Santos Cruz, "como o candidato de uma frente ampla".

Pimentel atuou junto com Santos Cruz em 2016 em um grupo de trabalho do Estado Maior do Ex�rcito que era supervisionado pelo coronel, ainda na ativa, e orientado pelo general, que j� estava na reserva.

Santos Cruz assumiu a Secretaria de Governo de Bolsonaro em novembro de 2018 e foi demitido sete meses depois, ap�s ataques de apoiadores do presidente. Ele tem mantido uma intensa agenda p�blica desde ent�o.

"Talvez o Mour�o passe para o segundo turno. Talvez seja o Santos Cruz", especula Pimentel. "Mas o Partido Militar vai estar no segundo turno no ano que vem."

Santos Cruz disse � BBC News Brasil que n�o quer comentar sobre as "divaga��es" de seu ex-subordinado.

O Ex�rcito e o Planalto n�o responderam o contato da reportagem at� a publica��o desta reportagem.


O general Santos Cruz tem mantido uma intensa agenda pública desde que deixou o governo(foto: Getty Images)
O general Santos Cruz tem mantido uma intensa agenda p�blica desde que deixou o governo (foto: Getty Images)

'Fui chamado de esquerdopata e comunista'

Pimentel diz que a ida do general Eduardo Pazuello para o Minist�rio da Sa�de foi um erro de c�lculo do Partido Militar. "As curvas estavam caindo na Europa e na �sia, e ningu�m sabia que haveria ondas, pensava-se que seria um surto", diz o coronel.

"Tentaram fazer uma publicidade da capacidade do Ex�rcito brasileiro de resolver problemas, pensando que os nossos n�meros tamb�m iam cair, e quem estaria � frente do minist�rio seria um general da ativa vendido como o rei da log�stica."

Mas a pandemia se agravou, e Pazuello deixou o minist�rio em mar�o passado muito criticado e sendo investigado por causa do colapso do sistema de sa�de em Manaus.

Mas Pazuello n�o se afastou de Bolsonaro — pelo contr�rio. Virou secret�rio do presidente da Rep�blica e discursou em um ato em apoio a Bolsonaro.


Pazuello disse que manifestação a favor de Bolsonaro não foi ato político(foto: Getty Images)
Pazuello disse que manifesta��o a favor de Bolsonaro n�o foi ato pol�tico (foto: Getty Images)

A decis�o do Ex�rcito de n�o punir Pazuello por ter participado da manifesta��o � mais um exemplo da politiza��o das For�as Armadas e mostra que elas "t�m um lado", diz Pimentel.

O regimento militar veda manifesta��es pol�ticas por quem est� na ativa. "Mas isso s� vale para manifesta��es contra o presidente ou vale para qualquer manifesta��o pol�tica?", questiona o coronel.

A depender dessa resposta, diz ele, o Ex�rcito brasileiro estar� assumindo uma posi��o pol�tica. "Ficou estranha essa decis�o, porque com indisciplina n�o se transige. � a base da institui��o."

O comando do Ex�rcito concordou com os argumentos do ex-ministro da Sa�de e do presidente de que a manifesta��o n�o foi um ato pol�tico e que por isso o general n�o cometeu nenhuma transgress�o.

"Dizer isso � uma ofensa com a intelig�ncia m�dia do indiv�duo", diz Pimentel.

O pr�prio coronel foi punido por ter protestado em uma rede social contra a "bolsonariza��o" do Ex�rcito e o fato do governo federal tratar 1964 como uma revolu��o e n�o um golpe.

Tudo isso aconteceu quando ele j� estava na reserva, em 2019, e a lei garante o direito a manifesta��es pol�ticas a estes militares. Por isso, Pimentel diz que suas puni��es foram ilegais. "Isso me abalou muito", diz.


Coronel Marcelo Pimentel está na reserva desde 2018(foto: Arquivo Pessoal)
Coronel Marcelo Pimentel est� na reserva desde 2018 (foto: Arquivo Pessoal)

"Sofri uma tentativa de intimida��o, uma censura. Mas, se eu fui punido por uma manifesta��o que pouca gente viu, o que dizer de um general da ativa em uma manifesta��o claramente pol�tica? Isso s� torna a minha puni��o ainda mais injusta."

O coronel diz que seus posicionamentos — ele declarou voto em Fernando Haddad (PT) no segundo turno da �ltima elei��o e, "no primeiro, votei no Ciro Gomes (PDT)" — e as cr�ticas que faz ao atual governo e ao Ex�rcito tem lhe rendido alguns problemas com amigos e na fam�lia.

"Sofro muitos ataques. Fui chamado de (Carlos) Lamarca, de esquerdopata, de comunista, embora nunca tivesse votado no PT antes daquela elei��o. Fiz isso porque queria evitar tudo que est� acontecendo agora", conta ele.

O coronel diz que faz isso para "despertar a consci�ncia cr�tica" dos militares, especialmente os mais jovens.

"A minha gera��o est� politizada, eu j� perdi a esperan�a que ela v� romper com esse processo. Quero que as pr�ximas gera��es vejam que n�o � esse o caminho e que a gente tem que ocupar o lugar que a Constitui��o nos reservou."

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