
� falso o post que viralizou em redes como Facebook e Twitter afirmando que o deputado Luis Miranda (DEM-DF) e seu irm�o, o servidor do Minist�rio da Sa�de Luis Ricardo Miranda, tenham forjado documento para propagar desinforma��o contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
O post se refere a recibo sobre a compra da vacina indiana Covaxin, negociada com o governo federal pela Precisa Medicamentos. Segundo o servidor, como revelou o jornal Folha de S.Paulo, houve press�o at�pica no minist�rio para que a aquisi��o fosse efetuada e ele, inclusive, foi com seu irm�o levar a suspeita at� Bolsonaro.
Ap�s a suspeita e a conversa com o presidente serem reveladas, Onyx Lorenzoni, ministro da Secretaria-Geral da Presid�ncia da Rep�blica, foi escolhido para defender Bolsonaro em pronunciamento e disse que o documento apresentado por Luis Ricardo Miranda fora adulterado – linha que segue o post verificado aqui. Mas, na verdade, como mostrou O Globo, a vers�o colocada como “falsa” pelo ministro e pelo post verificado aqui � a primeira vers�o de tr�s que foram apresentadas. O documento est� em um sistema do Minist�rio da Sa�de a que os servidores federais t�m acesso.
Procurado, o deputado Miranda afirmou que ele e o irm�o foram “atacados e acusados de mentir” e que “as pessoas precisam entender a gravidade de uma fake news”. “Cedo ou tarde, a verdade sempre aparece, mas os danos causados nunca ser�o esquecidos”, disse.
O Comprova tamb�m tentou contatar o autor do primeiro post que encontrou no Twitter com o conte�do falso, mas foi bloqueado pelo usu�rio.
Como verificamos?
Pesquisamos reportagens sobre o caso envolvendo os irm�os Miranda e a negocia��o da Covaxin e logo foi poss�vel verificar que o post checado aqui seguia a mesma narrativa do governo federal que, por meio de Lorenzoni, acusou o servidor de ter apresentado um documento falso.
Tamb�m tentamos usar as ferramentas Google Lens e Invid Magnifier, de amplia��o de imagens online, para ler as informa��es em cada recibo apresentado nos posts, mas a resolu��o estava ruim e n�o foi poss�vel identificar os dados. Para ir adiante, a reportagem usou como base as vers�es publicadas pelo jornal O Globo na mat�ria “Documento sobre Covaxin que Pal�cio do Planalto diz que n�o existe est� em sistema do Minist�rio da Sa�de”, publicada em 24 de junho, e conseguiu verificar que os dados eram os mesmos.
Por meio de recursos como o TweetDeck, chegamos ao que pode ter sido o primeiro tu�te com o conte�do verificado. Tentamos contatar o autor do perfil (@LinsLeandroBr), que n�o respondeu e bloqueou a rep�rter. J� a assessoria de imprensa do deputado Luis Miranda conseguimos contatar por Whatsapp.
Verifica��o
Vers�es
O post verificado aqui compara dois documentos com o timbre da empresa de Singapura Madison Biotech, ligada � Bharat Biotech, que produz a vacina na �ndia. Um � marcado como “documento apresentado” e, outro, como “documento original”, indicando que o primeiro teria sido falsificado.
Ao ampliar a imagem dos dois recibos exibidos no post usando ferramentas como Google Lens e InVid, n�o � poss�vel ler todas as informa��es das imagens, mas, usando como refer�ncias as vers�es do documento publicadas pelo O Globo, d� para identificar que o papel colocado como falso por Lorenzoni e no post tem seis d�gitos no campo relativo � quantidade de doses da vacina e, no recibo posto como original, h� sete d�gitos.
As diferentes vers�es no post:

A primeira vers�o, publicada inicialmente pelo Globo e colocada como “documento apresentado” no post:

A terceira vers�o, publicada inicialmente pelo Globo e colocada como “documento original” no post:

Como mostrado pelo ve�culo carioca, a primeira vers�o, recebida pelo Minist�rio da Sa�de em 18 de mar�o, traz um pedido de 300 mil doses (seis d�gitos) e a segunda e terceira vers�es trazem 3 milh�es (sete d�gitos).
Outra diferen�a entre os recibos � que a vers�o apontada como falsa pelo post, traz a informa��o de que o pagamento seria adiantado, ou seja, antes do recebimento das doses. J� no recibo apontado como “original” est� “segundo o contrato”. Mesmas informa��es que aparecem nos recibos divulgados pelo Globo.
Para o Comprova, o deputado Luis Miranda afirmou: “Quando provamos que o documento estava no sistema do Minist�rio da Sa�de, os acusadores n�o tiveram a coragem de pedir desculpas e apresentar a verdade”. Disse ainda que espalhar desinforma��o afeta “a vida de uma pessoa, de uma fam�lia”.
Pedido de investiga��o
Em pronunciamento � imprensa na quarta-feira (23), o ministro Lorenzoni n�o s� negou qualquer irregularidade na compra da vacina como anunciou que a Pol�cia Federal ir� investigar os irm�os Miranda, a pedido de Bolsonaro.
“Luiz Miranda, Deus est� vendo. O senhor n�o vai s� se entender com Deus n�o, vai se entender com a gente tamb�m e tem mais: o senhor vai explicar e o senhor vai pagar pela irresponsabilidade, pelo mau-caratismo, pela m�-f�”, declarou o ministro. Posteriormente, Bolsonaro afirmou que a diferen�a nos recibos se deu por um zero a menos, que foi corrigido.
Um dia depois do an�ncio do governo, Luis Miranda escreveu em seu perfil no Twitter, dirigindo-se a Bolsonaro: “Por que me atacar com fake news atrav�s do @onyxlorenzoni? S� tentei combater uma poss�vel corrup��o”.
Precisa
A Precisa Medicamentos, intermedi�ria da compra da Covaxin, � o principal alvo das suspeitas de corrup��o apuradas pela CPI da Covid e pelo Minist�rio P�blico Federal.
A empresa que intermediou a compra da vacina Covaxin aumentou sua participa��o em contratos com o governo federal em mais de 6.000% durante a gest�o de Bolsonaro. Segundo reportagem do Estad�o, a Precisa Medicamentos saiu de acordos de R$ 27,4 milh�es em 2018 pela venda de 11,7 milh�es de preservativos femininos, para o total de R$ 1,67 bilh�o em 2019 e 2020.
Al�m disso, de acordo com den�ncia feita pelo Minist�rio P�blico Federal, a Global Sa�de, ligada � Precisa, firmou um contrato para entregar medicamentos para doen�as raras no valor de R$ 19,9 milh�es, mas n�o entregou os produtos. � �poca, no governo Michel Temer, o ministro da Sa�de era Ricardo Barros, deputado federal que hoje � acusado de pressionar o minist�rio a comprar a Covaxin.
A empresa tamb�m � investigada na opera��o Falso Negativo por superfaturamento de testes de covid vendidos ao governo do Distrito Federal.
CPI da Covid
A exist�ncia de den�ncias de irregularidades acerca da negocia��o da Covaxin pelo governo federal foi revelada pela Folha em 18 de mar�o, quando o jornal publicou uma reportagem sobre o depoimento sigiloso do servidor Luis Ricardo Miranda ao Minist�rio P�blico Federal. A partir daquela reportagem, o caso se tornou prioridade na CPI da Covid, que chamou o funcion�rio p�blico e o irm�o deputado para depor na �ltima sexta-feira (25).
No depoimento, os dois disseram que avisaram Bolsonaro sobre suspeitas de irregularidades relacionadas ao contrato e o deputado afirmou que, na ocasi�o, o presidente citou o nome de Ricardo Barros (PP-PR), l�der do governo na C�mara, relacionando-o �s supostas irregularidades. Barros, por�m, negou participa��o e disse que “a investiga��o provar� isso”.
No dia 27, a Folha publicou entrevista em que Luis Miranda afirma que o esquema de corrup��o na pasta da Sa�de pode ser “muito maior” do que a negocia��o da Covaxin e incluir fraude na compra de testes de covid.
Um dia depois, ao comentar as suspeitas ligadas a Covaxin com apoiadores, Bolsonaro comentou que n�o tem como saber o que ocorre nos minist�rios.
Com as reviravoltas, a oposi��o quer paralisar vota��es no Congresso e avalia incluir o caso da Covaxin no superpedido de impeachment contra Bolsonaro, que ser� apresentado na semana que vem.
Por que investigamos?
Em sua quarta fase, o Comprova verifica conte�dos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais sobre a pandemia ou sobre pol�ticas p�blicas do governo federal.
Quando o conte�do envolve a compra de uma vacina, a suspeita de um servidor p�blico e um deputado, a checagem � necess�ria porque informa��es incorretas podem levar a acusa��es infundadas (contra os irm�os). O post verificado aqui teve mais de 1,3 mil intera��es, incluindo cerca de 425 compartilhamentos.
Neste ano, o Comprova publicou diversos conte�dos que, como o verificado aqui, distorcem a realidade em prol da narrativa do presidente, que ignora a gravidade da pandemia, n�o dando import�ncia � vacina ou �s medidas preventivas contra a doen�a. Alguns exemplos s�o o que enganava ao afirmar que a Universidade de Oxford encontrou fortes ind�cios da ivermectina contra a covid e o do deputado Eduardo Bolsonaro desinformando ao postar que os imunizantes n�o passaram por protocolos de seguran�a.
Falso, para o Comprova, � o conte�do inventado ou que tenha sofrido edi��es para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.