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Estado de Minas POL�TICA

Urna eletr�nica: �trunfo� do deputado � acusado de estelionato


26/07/2021 17:05

No fim de 2019, o hacker Marcos Roberto Correia da Silva foi preso pela primeira vez, em Uberl�ndia (MG), por atacar sites governamentais e aplicar golpes de internet. Foi pego enquanto visitava um amigo, mas se preocupou menos com o constrangimento e mais com a repercuss�o do fato. A todo tempo, com entusiasmo, perguntava aos policiais quando teria o nome e a imagem estampados. A publicidade dos feitos refor�a a reputa��o de cibercriminosos como VandaTheGod, como � conhecido, e a divulga��o - que n�o ocorreu - seria uma esp�cie de pr�mio �s avessas.

A propaganda que o jovem n�o obteve h� um ano e meio agora lhe foi dada por um deputado bolsonarista interessado em us�-lo para colocar em xeque a credibilidade das urnas eletr�nicas. Filipe Barros (PSL-PR) mandou uma equipe ao pres�dio Professor Jacy de Assis, em Minas, para que o hacker falasse para as redes sociais sobre as supostas habilidades capazes de derrotar a Justi�a Eleitoral.

O v�deo enfeitado com trilha de suspense e com a indica��o de ser "bomb�stico" foi visto 500 mil vezes. Reproduzido por canais e sites bolsonaristas como suposta prova de fragilidade das urnas, ele � repleto de informa��es falsas e enganosas. Fontes com acesso �s investiga��es a que ele responde garantem que suas capacidades s�o muito menos sofisticadas do que o jovem quer fazer parecer.

Marcos Roberto foi perguntado se com tempo e estrutura conseguiria "invadir o sistema eleitoral". Algemado, afirmou: "conseguiria". E disse que poderia inserir votos artificialmente em servidores: "manipularia tudinho". H� anos a Justi�a Eleitoral usa tecnologia de ponta e recebe especialistas para testes p�blicos de seguran�a. Nenhum atestou o que Marcos declarou.

Com 25 anos, o jovem at� pouco tempo usava um velho notebook Samsung e morava com uma companheira no assentamento Gl�ria, na �rea de Uberl�ndia. Sem forma��o acad�mica, aprendeu sozinho a interagir com computadores e a programar. O v�deo foi ao ar em 16 de julho, dia em que Filipe Barros por pouco n�o amargou uma derrota. Perto de ver a proposta do voto impresso ser sepultada na comiss�o especial, ele e os governistas adiaram a an�lise at� agosto. O presidente Jair Bolsonaro tem insistido que a urna eletr�nica � pass�vel de fraude.

Meios

No dia em que foi gravado pela equipe do deputado, o hacker contou ter sido chamado para conceder "entrevista a uma empresa de ciberseguran�a". O jovem foi levado ao cart�rio da pris�o, onde duas pessoas o aguardavam com c�mera. Uma terceira fez perguntas por meio do celular de um dos presentes.

Os advogados do hacker tomaram ci�ncia da grava��o s� ap�s ela ir ao ar. Para eles, houve claro preju�zo � defesa e �s garantias do preso, uma vez que o rapaz foi submetido a um contexto que pode implic�-lo em processos a que responde sem que tenha tido orienta��o t�cnica. "O deputado usou o Marcos como boneco de manobra pol�tica", diz o advogado Andr� Coura.

Questionada sobre o v�deo, a Secretaria de Justi�a e Seguran�a P�blica de Minas Gerais frisou que as quest�es deveriam ser feitas ao deputado. Acrescentou que o jovem "aceitou ser entrevistado" sem o advogado. A pasta � comandada pelo bolsonarista Rog�rio Greco, ex-procurador de Justi�a de Minas Gerais. A pedido do deputado, o sistema prisional "ampliou a seguran�a" do hacker, que agora est� em cela individual. A equipe fez o preso assinar declara��es em que atesta que a entrevista foi espont�nea. Os documentos n�o citam o deputado. Apenas que as filmagens seriam usadas "no �mbito do debate da PEC 135/2019".

Duas apari��es

O nome de Marcos apareceu em dois crimes cibern�ticos recentes: o ataque ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nas elei��es de novembro, e o vazamento de dados da Serasa de mais de 200 milh�es de CPFs. Ele tamb�m esteve envolvido em invas�es anteriores, como � p�gina do Senado. O ataque ao TSE, explorado pelo deputado, n�o gerou preju�zo ao sistema de vota��o e � contagem de votos. Os dados vazados eram administrativos.

No depoimento � equipe de Barros, o hacker mudou a vers�o em que negava a invas�o do TSE. Disse que entrou no tribunal e passou informa��es a outra pessoa. At� ent�o, a responsabilidade por esse ataque era do hacker portugu�s Zambrius, que foi preso em Portugal e afirmou ter agido sozinho.

Procurado, o deputado declarou, por meio da assessoria, que eram assessores dele as pessoas que foram ao pres�dio. "Em nenhum momento restou ocultado o fato de estarem vinculados ao Congresso". Barros afirmou n�o haver "espa�o para especular as raz�es pelas quais Marcos dispensou" o contato com seus advogados". Preso preventivamente desde 19 de mar�o, quando a PF deflagrou a Opera��o Deepwater. Os advogados afirmam que ele � investigado por recepta��o qualificada das informa��es roubadas.

Segundo o hacker, o "ativismo" � o que o motiva. Ele � conhecido por ser "defacer", um tipo de hacker que acessa servidores de sites e altera as informa��es vis�veis por quem os acessa - substituindo, por exemplo, o site por alguma mensagem sobre uma tela preta. Entre os alvos preferenciais est�o sites de �rg�os p�blicos. O "defacement" de p�ginas � visto por cibercriminosos como protestos contra o sistema.

No v�deo de Barros, Marcos � apresentado como um hacker ativista. O bolsonarista desprezou uma parte do passado do jovem. Ao ser preso em 2019, Marcos era alvo de inqu�rito por estelionato. A den�ncia da promotoria de Uberl�ndia cita mais de 200 tentativas de compras de produtos na internet a partir de cart�es de cr�dito de terceiros obtidos por fraude. Ele saiu da pris�o e passou a usar tornozeleira eletr�nica. Nas redes, anunciava a venda de bancos de dados roubados em troca de bitcoins. Ao Estad�o, pouco antes de ser preso pela segunda vez, confirmou que costumava confiscar informa��es e pedir resgate por elas. As v�timas preferenciais seriam de fora do Brasil. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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