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Estado de Minas POL�TICA

'Cancelar contas de plataformas � mais eficaz'


27/07/2021 09:00

Cerca de seis em cada dez brasileiros usam o WhatsApp e oito em cada dez t�m conta no Facebook. Num pa�s com mais de 200 milh�es de habitantes, controlar a enxurrada de conte�do - e de desinforma��o - ser� um desafio para as elei��es de 2022. Para a professora e pesquisadora Patr�cia Rossini, do Departamento de Comunica��o e M�dia da Universidade de Liverpool, apenas a checagem do que � publicado nas redes sociais como t�tica de combate � desinforma��o n�o � o suficiente. "Cancelar contas da plataforma, tirar do ar quem espalha desinforma��o, isso me parece - pelo menos foi nos EUA - bastante eficaz. Todas as pessoas que sa�ram das plataformas perderam muito o alcance", disse Patr�cia, que acompanhou as duas �ltimas elei��es presidenciais americanas e seu comportamento nas redes.

Existem particularidades do Brasil em rela��o ao consumo e difus�o de not�cias?

Uma tend�ncia que a gente observa no Brasil � o crescente uso de WhatsApp como fonte de informa��o. Hoje, no Brasil, Facebook e WhatsApp s�o usados numa intensidade muito similar para o consumo de not�cias, o que � algo bastante particular do Brasil. Eu me pergunto muito o que as pessoas consideram not�cia.

Vimos publica��es de Donald Trump serem censuradas. � poss�vel uma rea��o parecida aqui?

Acho que � poss�vel esperar uma rea��o mais en�rgica durante o per�odo eleitoral, em virtude de uma rela��o preexistente entre o Tribunal Superior Eleitoral e essas empresas. O custo para a democracia, para as institui��es e para o pr�ximo processo eleitoral � muito grande. E h� o custo de n�o agir. O custo da ina��o, em termos de opini�o p�blica, talvez seja mais alto. Ao mesmo tempo, isso n�o aconteceu ainda fora dos Estados Unidos, uma interven��o mais en�rgica das plataformas.

Mas houve alguma mudan�a a partir da pandemia, n�o?

Sim. Porque qualquer coisa que voc� postar que tenha qualquer palavra que eles identifiquem como relacionada � covid, j� h� alguma informa��o que te manda o link de �rg�os oficiais. Mas, em rela��o ao discurso pol�tico, a tend�ncia dessas plataformas tem sido menos en�rgica.

No Twitter, o perfil do deputado Osmar Terra (MDB-RS), por exemplo, divulga desinforma��o sobre a pandemia do novo coronav�rus e a plataforma faz muito pouco para conter.

De maneira geral, as plataformas s�o muito pouco eficazes no combate � desinforma��o, e at� mesmo na aplica��o das pr�prias regras de modera��o fora da l�ngua inglesa. N�o h� escala nas plataformas para lidar com o volume de desinforma��o que circula fora da l�ngua inglesa. O Twitter j� entendeu que � melhor voc� tentar coibir o alcance. Tirar recursos como RT (retu�te), reply (resposta dada a um tu�te), eles j� entenderam que isso � poss�vel. N�o entendo como isso n�o � feito de forma mais en�rgica com usu�rios com muitos seguidores. Tenho alguma cren�a de que o que aconteceu nos EUA serviu como um alerta de que � preciso agir mais r�pido e, talvez, de forma preventiva. Mas n�o sei se isso se transferiria para um pleito eleitoral fora dos EUA.

Isso parece preocupante, se pensarmos no volume de usu�rios do Facebook e do WhatsApp no Brasil.

Se algu�m for atuar de forma mais r�gida na elei��o, imagino que seja o Facebook. O WhatsApp, sei que eles tentam trabalhar de forma pr�xima a governos e a �rg�os de controle, como TSE, e h� uma tentativa de identificar mau uso (da plataforma). A quest�o do WhatsApp acho que � mais complexa. Enquanto o Facebook poderia, preventivamente, dar informa��o correta sobre as elei��es, mandar para o site do TSE, o WhatsApp n�o tem acesso a esse conte�do.

Qual a import�ncia desse posicionamento para as elei��es no Brasil?

A gente gostaria de acreditar que � importante que voc� tenha plataformas com combate � desinforma��o, direcionando pessoas para fontes de informa��o que s�o cr�veis, relevantes e confi�veis. O problema �: � confi�vel para quem? Porque voc� pode mandar para o site do TSE, mas a pessoa precisa confiar no TSE. E se ela n�o confia?

Como lidar com isso?

Se houver um combate um pouco mais contundente, talvez seja poss�vel. Cancelar contas da plataforma, tirar do ar quem espalha desinforma��o. Porque isso me parece - pelo menos foi nos EUA - ser bastante eficaz. Todas as pessoas que sa�ram das plataformas perderam muito o alcance. Tanto � que Trump teve uma tentativa de criar o pr�prio blog e desistiu porque tinha um alcance muito pequeno. No Brasil, � bastante clara a divis�o entre quem confia no governo, no presidente e em seus seguidores, que, de prop�sito, est�o seguindo a cartilha de Trump, colocando questionamento sobre a validade das elei��es. Se Osmar Terra sair do Twitter, � poss�vel, sim, que isso tenha um efeito maior. Porque essas pessoas caem no esquecimento se elas saem das plataformas.

Por que apenas a checagem de not�cias pode n�o ser suficiente?

� um assunto problem�tico. As evid�ncias cient�ficas que n�s temos mostram que o que a gente tem sobre efic�cia de corre��o, seja corre��o por algoritmo, filtro, fact checking, s�o evid�ncias mistas. Porque elas podem funcionar, mas funcionam para algumas pessoas, n�o para outras. Tem uma pesquisa que a indiana Sumitra Badrinathan fez, tentando mostrar como identificar desinforma��o no WhatsApp. Um m�s depois, ela foi ver se as pessoas tinham aprendido, se eram capazes de identificar, e nada. N�o adiantou absolutamente nada ter passado uma hora com uma s�rie de participantes explicando para eles. O que ela encontrou � que, para a popula��o em geral, os resultados n�o s�o nem melhores, nem piores. Mas, para as pessoas pr�-governo, piorou. Ao longo do tempo, eles se tornaram menos capazes, ap�s a interven��o, de identificar desinforma��o. � isso, s�o rem�dios que funcionam, mas n�o funcionam para todo mundo.

Tivemos, recentemente, a suspens�o da conta do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), mas a decis�o foi revista pelo pr�prio Facebook, que disse ter havido um "equ�voco". Falta transpar�ncia nas decis�es por parte das plataformas?

Sem d�vida. Elas parecem, na maior parte do tempo, arbitr�rias. Todas essas empresas, Facebook, Twitter, tendem a ser muito resistentes a agir contra conte�do pol�tico de desinforma��o. Porque elas n�o querem ser acusadas de ser enviesadas. Eles sabem que, ao suspender ou banir Eduardo, vai dar muito problema.

Qual o seu maior receio para 2022?

O que me preocupa mais, no caso brasileiro, � para onde os usu�rios v�o. Twitter, Facebook e WhatsApp est�o sob escrut�nio h� algum tempo e, portanto, est�o um pouco mais preparadas para lidar com demandas da Justi�a Eleitoral. E nisso h� a migra��o para o Telegram. No Telegram, vale tudo. S�o grupos de at� 200 mil pessoas, um n�mero absurdo. Preocupam essas outras plataformas, que poderiam se tornar perigosas nas elei��es.

As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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