O vice-presidente Hamilton Mour�o e o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Lu�s Roberto Barroso, tiveram uma reuni�o reservada na �ltima ter�a-feira, dia em que ve�culos blindados fizeram um desfile na Pra�a dos Tr�s Poderes. A conversa ocorreu na casa de Barroso, que convidou o general para o encontro. Preocupado com o risco de ruptura institucional, o ministro n�o usou de meias-palavras. Queria saber se as For�as Armadas embarcariam em uma aventura golpista promovida pelo presidente Jair Bolsonaro.
A reuni�o n�o constava da agenda oficial e foi cercada de sigilo. Naquele dia, Mour�o n�o acompanhou Bolsonaro na recep��o ao comboio militar, que passou pelos arredores do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF) onze horas antes de a C�mara se debru�ar sobre a pol�mica do voto impresso. A proposta que virou um cabo de guerra acabou derrubada sob clima de tens�o, com deputados acusando o governo de querer intimidar o Legislativo.
O vice disse que tinha "um compromisso" e se ausentou do Pal�cio do Planalto na hora do desfile b�lico. N�o havia mesmo sido convidado. No encontro com Barroso, Mour�o o tranquilizou e garantiu que as For�as Armadas n�o apoiavam golpe e ningu�m impediria as elei��es em 2022. Fez um movimento para tentar apaziguar a crise. Bolsonaro vinha repetindo com insist�ncia que n�o haveria elei��es se n�o houvesse mudan�a na urna eletr�nica para adotar o modelo de voto impresso no Pa�s.
Chamado de "imbecil", "idiota" e "filho da p..." pelo presidente, Barroso n�o escondeu do general que se mostrava perplexo com o que vinha ocorrendo. Soube que as amea�as teriam inclu�do at� o uso de voos rasantes com um dos jatos supers�nicos da For�a A�rea Brasileira (FAB) sobre o pr�dio do Supremo, quando o ministro da Defesa ainda era Fernando Azevedo e Silva.
Mour�o disse mais de uma vez ao presidente do TSE que quem comandava as tropas n�o avalizaria qualquer golpe. Afirmou que a chance de isso ocorrer era "zero" porque as For�as Armadas se pautavam pela legalidade. Barroso se mostrou aliviado.
Cinco dias antes dessa conversa, o presidente do Supremo, Luiz Fux, havia anunciado o cancelamento da reuni�o entre os chefes dos poderes, sob o argumento de que o pressuposto para o di�logo era o "respeito m�tuo entre as institui��es e seus integrantes" e isso n�o ocorria diante daqueles ataques a Barroso e tamb�m ao ministro Alexandre de Moraes. "Quando se atinge um dos seus integrantes, se atinge a Corte por inteiro", avisou Fux.
Bolsonaro sempre atribuiu a primeira derrota da proposta do voto impresso, ainda na comiss�o especial da C�mara, a uma "interfer�ncia indevida" de Barroso, que conversou com dirigentes dos partidos.
Desde que o presidente subiu o tom e come�ou a vincular a realiza��o das elei��es de 2022 a mudan�as no modelo de urna eletr�nica, Mour�o tem sido procurado por pol�ticos e empres�rios para saber o que significam essas declara��es.
A desconfian�a aumentou ap�s o Estad�o revelar que o presidente da C�mara, Arthur Lira (Progressistas-AL), recebeu um duro recado do ministro da Defesa, Walter Braga Netto, no dia 8 de julho, por meio de importante interlocutor pol�tico. Na ocasi�o, Braga Netto pediu para comunicar, a quem interessasse, que n�o haveria elei��es em 2022 se n�o houvesse voto impresso e audit�vel. No Congresso, a impress�o � a de que Bolsonaro est� construindo uma narrativa de combate ao ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva, que hoje lidera as pesquisas de inten��o de voto. A estrat�gia do chefe do Executivo tamb�m tem o objetivo de se apresentar como v�tima do sistema, caso n�o consiga se reeleger.
Em comum, Barroso e Mour�o compartilharam o espanto com a escalada da crise. O ministro foi insultado; o general, comparado pelo presidente, em uma entrevista, a algu�m que atrapalha, um cunhado que se � obrigado a "aturar" porque n�o � pass�vel de demiss�o. "Vice � igual cunhado, n�? Voc� casa e tem que aturar o cunhado do teu lado. Voc� n�o pode mandar o cunhado embora", disse Bolsonaro � R�dio Arapuan FM, da Para�ba, em 26 de julho.
Antes mesmo de levar a an�lise do voto impresso para o plen�rio da C�mara, Lira disse a ministros do STF que trabalhava para construir uma solu��o na qual n�o houvesse vencidos nem vencedores. N�o adiantou. Bolsonaro continuou ofendendo Barroso e Moraes, que o incluiu no caso das fake news e abriu investiga��o contra ele por vazamento de inqu�rito da Pol�cia Federal. "Nas m�os das For�as Armadas, o poder moderador. Nas m�os das For�as Armadas, a certeza da garantia da nossa liberdade, da nossa democracia e o apoio total �s decis�es do presidente para o bem da sua Na��o", discursou Bolsonaro, anteontem, em mais um recado enigm�tico.
Procurados, Barroso e Mour�o n�o quiseram se manifestar sobre o teor do encontro. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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