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Estado de Minas POL�TICA

'Lucro de conte�do extremista amea�a a democracia', diz pesquisadora


24/08/2021 17:10

Diretora do Laborat�rio de Estudos de Internet e Redes Sociais (NetLab), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a professora Rose Marie Santini defende uma regula��o urgente de grandes empresas de tecnologia para combater "o financiamento de conte�dos nocivos nas redes."

Na semana passada, o corregedor-geral da Justi�a Eleitoral, ministro Luis Felipe Salom�o, determinou a suspens�o de monetiza��o de canais bolsonaristas envolvidos na divulga��o de not�cias falsas em diferentes plataformas na internet. Como mostrou o Estad�o, somente no YouTube, os 14 canais atingidos pela decis�o do corregedor podem gerar at� US$ 2,9 milh�es (R$ 15 milh�es) por ano em receita.

"Ideologias e extremismo viraram mercadorias muito lucrativas. Diante desse cen�rio, esse mercado tem que ser seriamente regulado e isso � urgente. Caso contr�rio, arriscamos nossa democracia e isso nos custar� muito caro", afirmou a pesquisadora.

Como est� o debate sobre regula��o de conte�do nas redes sociais no Brasil?

Estamos discutindo muito pouco. Qual o grande problema? N�o temos transpar�ncia sobre o que acontece dentro das plataformas, n�o sabemos os filtros que as plataformas usam. N�o sabemos como essas empresas classificam o conte�do, o que retiram, o que n�o retiram, o que impulsionam, o que escondem, e por que o fazem. Por ser uma caixa-preta e n�o ter transpar�ncia, estamos no escuro. Precisamos de regulamenta��o, mas, antes de tudo, precisamos de um debate qualificado, baseado em dados e informa��es sobre o que acontece dentro dessas plataformas. Com mais transpar�ncia poder�amos entender a din�mica, as estrat�gias e as consequ�ncias da desinforma��o. Como funciona, a quem beneficia. Ao resistir � maior transpar�ncia, especialmente para a pesquisa, se abre espa�o para desconfian�a.

� poss�vel observar algum "enviesamento" por parte das redes no controle de conte�do, como diz o presidente Jair Bolsonaro?

O que sabemos � que conte�dos de diferentes tipos e ideologias est�o sendo bloqueados. � a plataforma que decide.

E o que motiva as plataformas a se fecharem?

� o modelo de neg�cio baseado na aten��o. Pesquisas mostram que o extremismo ati�a os usu�rios, amplia o compartilhamento e gera indigna��o, que � um dos sentimentos que mais estimulam o engajamento. O que observamos � que o extremismo e o comportamento polarizado tornaram-se muito lucrativos. As plataformas conseguiram capitalizar o fen�meno e inventaram um modelo de neg�cio em torno disso. Quanto mais usu�rios se indignam, mais se envolvem na participa��o e na produ��o de conte�do para as plataformas e, assim, mais a m�quina de dinheiro roda. � quase uma m�quina de engajamento em torno de sentimentos negativos, uma m�quina que trabalha com a emo��o mais s�rdida das pessoas. Esse modelo de neg�cio em torno da incivilidade e do extremismo � muito nocivo.

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) estuda obrigar plataformas a proibir a gera��o de receita por canais com conte�do pol�tico e extremista nas elei��es.

Uma resolu��o que pro�ba a gera��o de receitas em canais com conte�do pol�tico e extremista coloca novamente o problema da arbitragem: quem classificar� os conte�dos e com que crit�rios? Quem definir� o que � "pol�tico e extremista" e como vamos fiscalizar? Sem uma regulamenta��o madura, com base em amplo debate da sociedade e em mecanismos efetivos de auditoria e de transpar�ncia, n�o vamos conseguir evitar o financiamento de conte�dos nocivos. Por�m, sabemos que os conte�dos extremistas possuem diferentes mecanismos de financiamento como doa��es, assinaturas, crowdfunding, venda de produtos, eventos. Portanto, ou enfrentamos o problema da modera��o de conte�do com uma regulamenta��o para atua��o das plataformas no Brasil, ou vamos ficar enxugando gelo com decis�es paliativas que n�o s�o aplic�veis de fato, especialmente no per�odo eleitoral onde formas inesperadas de financiamento irregular aparecem.

O presidente Jair Bolsonaro defende altera��es no Marco Civil da Internet para impedir o que chama de censura a perfis de direita nas plataformas. Como isso afetaria a web brasileira?

Essa mudan�a impediria que qualquer tipo de filtro fosse colocado e que qualquer conte�do pudesse ser retirado. Atualmente, as big techs usam filtros que retiram de suas plataformas uma s�rie de conte�dos considerados inapropriados, como pedofilia, pornografia, viol�ncia extrema, automutila��o, nudez, terrorismo e material protegido por direitos autorais. Para retirar esses conte�dos, as plataformas usam estrat�gias de bloqueio autom�ticas, com ajuda de intelig�ncia artificial, combinadas com o trabalho de um ex�rcito de moderadores. Se a regra � alterada e nenhum conte�do passa a poder ser retirado sem a��o judicial pr�via, todo tipo de conte�do, incluindo os citados, necessariamente dever�o permanecer nas plataformas. Por exemplo, se uma empresa disseminar desinforma��o sobre um concorrente, a plataforma n�o poderia retirar esse conte�do, o que tornaria esse comportamento v�lido de alguma maneira. Impedir qualquer tipo de modera��o � como viver numa sociedade sem lei. Seria um caos digital. Com essa proposta, o presidente n�o vai impedir somente os filtros contra si, mas qualquer filtro. As plataformas v�o ficar "sujas" de conte�do. Haver� um aumento exponencial de coisas absurdas na rede.

Os crit�rios atuais das plataformas podem ser considerados justos?

� importante que as plataformas retirem alguns dos conte�dos que j� retiram, mas que o par�metro de bloqueio n�o seja definido �nica e exclusivamente pela plataforma, como � hoje. Precisamos debater com diferentes atores da sociedade civil, pesquisadores, especialistas, para definir esses par�metros. Os crit�rios n�o podem ser nem de um candidato nem de uma empresa, t�m de ser definidos por todos n�s.

As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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