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Estado de Minas INFLA��O

Gasto com fuzil sugerido por Bolsonaro daria para comprar 60 cestas b�sicas

Presidente Bolsonaro, entretanto, em conversa com apoiadores no Pal�cio da Alvorada, em Bras�lia, sugeriu aos brasileiros comprar fuzil ao inv�s de feij�o


28/08/2021 04:00 - atualizado 28/08/2021 07:44

Ana Paula Rego Silva, dona de casa:
Ana Paula Rego Silva, dona de casa: "J� n�o compro feij�o porque ganho na cesta. Mas, se fosse para comprar, seria muito complicado. Tudo est� com o pre�o absurdo" (foto: FOTOS: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A.PRESS)


Arroz, feij�o, �leo, leite e macarr�o. Considerados itens de primeira necessidade contidos numa cesta b�sica, os produtos se transformaram em artigo de luxo na mesa dos brasileiros mais vulner�veis, diante do aumento da infla��o na pandemia do coronav�rus. Para a dona de casa Ana Paula Rego Silva, de 51 anos, moradora do Aglomerado da Serra, Centro-Sul de Belo Horizonte, levar R$ 100 ao supermercado era sin�nimo de carrinho cheio e compras fartas. Com o aumento desenfreado dos pre�os, por�m, ela consegue adquirir somente alguns produtos, que n�o matam a fome da fam�lia. Ela e milh�es de brasileiros s�o testemunhas da crise econ�mica vivida pelo pa�s. O presidente Jair Bolsonaro, entretanto, em conversa com apoiadores no Pal�cio da Alvorada, em Bras�lia, sugeriu aos brasileiros comprar fuzil.

A declara��o veio em hora inoportuna, quando 61 milh�es de brasileiros vivem � margem da pobreza e outros 19,3 milh�es se encontram na extrema pobreza – de acordo com levantamento feito pelo Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades da Universidade de S�o Paulo (Made-USP), com �nfase em dados de IBGE. Em Belo Horizonte, cerca de um ter�o da popula��o vive nas camadas mais pobres, o que reflete o estrago feito pela pandemia da COVID-19.

Comprar um fuzil 762, sugerido pelo presidente, custaria de R$ 15 mil a R$ 20 mil em m�dia. O dinheiro investido na arma seria suficiente para comprar 1,9 mil pacotes de feij�o, que diminuiriam a fome de muitos brasileiros. O dinheiro gasto num fuzil tamb�m compraria ao menos 60 cestas b�sicas de R$ 250. Para conseguir comer bem, Ana Paula Rego Silva, por exemplo, conta com doa��es de cestas b�sicas feitas na comunidade, sobretudo o pr�prio feij�o e o arroz, itens que tiveram infla��o de 42,7% (campe�o da lista) e 39,7% no �ndice Nacional de Pre�os ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE) no in�cio do m�s. “Tudo est� muito caro no geral. A gente sofre muito. Sempre temos de ficar contando se o dinheiro vai dar para pagar todas as despesas”, lamenta a dona de casa.

O arroz e o feij�o chegam em boa hora para ela. “Hoje, j� n�o compro feij�o porque ganho na cesta. Mas, se fosse para comprar, seria muito complicado. Compro mais leite, que n�o vem na cesta. Tudo est� muito com o pre�o absurdo”, completa. Ana Paula v� com perplexidade a declara��o do presidente aos apoiadores ao comparar alimenta��o com armamento: “O idiota � ele e tudo o que ele fala. Nem sei o que o Bolsonaro est� fazendo aqui”.

A estudante Paula Lourdes, de 23, tamb�m encara dificuldades para colocar em casa tudo o que precisa. Num supermercado da Serra, ela comprou apenas aveia, �leo, biscoito e p�o. O restante � adquirido somente de vez em quando. Segundo ela, indigna��o � o sentimento mais evidente. "A gente v� o arroz a R$ 23 e o feij�o a R$ 8. Isso custa muito para quem paga aluguel e outras despesas. Uma fam�lia de cinco pessoas n�o consegue sobreviver”, desabafa. “Tudo est� subindo e o sal�rio, que seria bom subir, n�o sobe nada. Com isso, deixamos de comprar muitas coisas por algum tempo. Como aqueles que ganham um sal�rio conseguem sobreviver?”, completa.
 
Paula Lourdes, estudante:
Paula Lourdes, estudante: "Tudo est� subindo e o sal�rio n�o sobe nada. Com isso, deixamos de comprar muitas coisas por algum tempo. Como aqueles que ganham um sal�rio conseguem sobreviver?"
 

A mis�ria de milh�es de brasileiros � vista de perto por volunt�rios que dedicam boa parte do dia a dia para ajudar. J�lio C�zar Pereira, de 45, se dedica h� quase tr�s d�cadas a tentar minimizar a diferen�a entre ricos e pobres em BH. Um dos diretores da Central �nica das Favelas (Cufa-MG), ele conta que a alimenta��o dos mais vulner�veis piorou muito por causa do aumento da infla��o. “Para quem j� trabalhava, o sal�rio-m�nimo nunca deu conta de cobrir toda cesta b�sica necess�ria para ter uma condi��o digna de sobreviv�ncia. Mas muitos perderam emprego e outros j� n�o tinham trabalho formal, o que dificultou a busca pelos produtos de primeira necessidade. Com a pandemia, a alimenta��o dos mais pobres piorou muito. Quase um ter�o da popula��o de Belo Horizonte est� sem o feij�o com o arroz garantido”, conta o volunt�rio.

Tem fam�lia que, para dar R$ 10 num pacote de feij�o, precisa comprometer outros gastos. Muitas vezes deixam de comer feij�o para comprar um pacote de macarr�o, outro de biscoito e um litro de leite. Imagine comprar um fuzil, que s� estimularia a viol�ncia?”, critica J�lio.


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