Criticado por apoiadores por divulgar uma nota em que sinaliza um recuo em rela��o �s amea�as ao Supremo Tribunal Federal, o presidente Jair Bolsonaro justificou a publica��o do documento como uma esp�cie de ant�doto � alta do d�lar e ao pre�o dos combust�veis. Ao conversar com simpatizantes, na entrada do Pal�cio da Alvorada, nesta sexta-feira, 10, pediu que quem o ataca pela mudan�a de postura leia a nota com calma antes.
"O que aconteceu �s tr�s da tarde de ontem (quinta, 9). N�o posso falar para cima, que o d�lar� O que acontece? Cada um fala o que quiser. O cara n�o l� a nota e reclama. Leia a nota, duas, tr�s vezes. � bem curtinha, s�o 10 pequenos itens. Entenda�", pediu Bolsonaro a apoiadores em frente ao Pal�cio da Alvorada. "Se o d�lar dispara, influencia o combust�vel."
Apesar da rea��o positiva do mercado � carta do presidente, com o d�lar fechando ontem em baixa e a Bolsa, em alta, bolsonaristas criticaram o recuo do chefe do Planalto apenas dois dias depois de amea�ar o STF nos atos de 7 de Setembro. Para o deputado Otoni de Paula (PSC-RJ), um dos mais fi�is aliados do Planalto na C�mara, "o le�o virou gatinho".
"Estamos vivendo uma ditadura da toga. E o povo foi para a rua para gritar. Infelizmente, os conselheiros do presidente Bolsonaro o tornaram pequeno", afirmou o deputado no plen�rio.
Dois dias antes, Bolsonaro havia chamado o ministro Alexandre de Moraes, do STF, de "canalha" e prometeu desobedecer decis�es do magistrado. Na nota de ontem, disse que as declara��es foram feitas no "calor do momento" e que n�o teve "nenhuma inten��o e agredir quaisquer dos Poderes".
Com a p�ssima rea��o dos bolsonaristas, especialmente os mais radicais, o ministro da Secretaria-Geral da Presid�ncia, general Luiz Eduardo Ramos, tamb�m decidiu sair em defesa e justificar o movimento de modera��o adotado por Bolsonaro apenas dois dias depois das manifesta��es. Ramos pediu paci�ncia aos apoiadores de Bolsonaro.
"O presidente Jair Bolsonaro sempre disse que jogaria nas 4 linhas da Constitui��o. Mesmo assim, seus opositores o chamavam de antidemocr�tico. � a velha t�tica esquerdista: Acuse-os do que voc� �! Hoje, me surpreendo ao ver muitos ca�rem no novo discurso opositor de ofensa ao Presidente", escreveu Ramos.
"Ora, reflitam. O presidente � um estadista e patriota. Defende o Brasil acima de tudo. Pelo Pa�s est� disposto a sacrificar a pr�pria vida, que quase foi perdida, h� 3 anos, por defender a p�tria e a fam�lia. Sua bravura foi posta a prova e ele jamais desistiu, apesar dos ataques covardes", acrescentou.
"No passado, vimos muitos virarem as costas para Jair Bolsonaro em defesa de supostos "her�is". O tempo trouxe a verdade! Tenham paci�ncia, pois, mais uma vez, o tempo ir� consolidar a verdade", afirmou, colocando a hashtag "#EuConfioEmBolsonaro", que aparecia entre as mais comentadas do Twitter na manh� desta sexta-feira.
O texto da nota foi elaborado com a ajuda do ex-presidente Michel Temer, que Bolsonaro mandou buscar em S�o Paulo para uma reuni�o no Pal�cio do Planalto. "A harmonia entre eles (Poderes) n�o � vontade minha, mas determina��o constitucional que todos, sem exce��o, devem respeitar", diz a carta � Na��o assinada pelo presidente.
As amea�as antidemocr�ticas de Bolsonaro no 7 de Setembro resultaram em resposta dura do Supremo no dia seguinte. O presidente da Corte, Luiz Fux, afirmou que as amea�as do chefe do Executivo representam um "atentado � democracia", que, se levadas adiante, configuram "crime de responsabilidade". "Ningu�m fechar� esta Corte", ressaltou.
Ontem, em sua transmiss�o ao vivo nas redes sociais, o presidente j� havia tentado minimizar o recuo ao dizer que a perda de apoio da base depois da publica��o do documento seria revertida em poucos dias. "Alguns querem imediatismo. Se voc� namorar e casar em uma semana, vai dar errado o seu casamento", acrescentou Bolsonaro nesta manh�, a exemplo do que havia dito na "live" de ontem. "A gente vai acertando."
De acordo com o ex-presidente Michel Temer, que ajudou na produ��o do documento, Bolsonaro est� convencido de adotar uma postura de di�logo daqui para frente, ap�s Fux alertar o presidente de que sua promessa de descumprir uma ordem judicial configura crime de responsabilidade. No meio pol�tico, contudo, ainda h� d�vidas se o recuo ser� consistente e duradouro.
O recuo t�tico de Bolsonaro com a nota emitida na tarde de ontem foi recebido com desconfian�a pelos ministros do Supremo. A percep��o predominante intramuros � de que o chefe do Executivo fez o movimento de concilia��o por medo. Por isso, a estrat�gia adotada pelos magistrados foi a de aguardar para ver se a bandeira branca se mant�m estendida diante das novas crises que rondam o governo na esteira dos eventos de 7 de Setembro.
C�mara
Ao comentar a carta de Bolsonaro nesta sexta-feira, 10, o presidente da C�mara, Arthur Lira (PP-AL), tamb�m citou o impacto econ�mico da crise pol�tica para defender o "di�logo". "Toda institui��o republicana ou poder s� existem para servir ao Pa�s. Temos a obriga��o neste momento de trabalhar em sintonia para acabar com a pandemia, diminuir o desemprego, solucionar os precat�rios, que podem afetar os investimentos p�blicos", escreveu Lira em uma rede social. "N�o � o momento para desarranjos institucionais. Que a carta do presidente seja uma oportunidade de recome�o de conversas para estabiliza��o da pol�tica na vida do povo brasileiro."
O recuo de Bolsonaro tamb�m coincide com a retomada das discuss�es sobre o apoio ao impeachment em partidos de centro e at� de sua base. A Executiva do PSDB decidiu anteontem migrar para a oposi��o e pela primeira vez iniciar um debate interno sobre impeachment. No MDB, o deputado Baleia Rossi (SP), presidente da sigla, respaldou as declara��es do presidente do STF de que as amea�as de Bolsonaro poderiam configurar crime de responsabilidade. Pelas contas de deputados, o apoio de uma sigla de centro ao impeachment � o que falta para que um pedido tenha os votos necess�rios na C�mara.
POL�TICA