Um grupo de 15 m�dicos que dizem ter trabalhado na Prevent Senior encaminhou para a Comiss�o Parlamentar de Inqu�rito (CPI) da Covid no Senado um dossi� no qual informa que integrantes do chamado "gabinete paralelo" do governo de Jair Bolsonaro usaram a operadora de sa�de como uma esp�cie de laborat�rio para comprovar a tese de que o chamado "kit covid" (hidroxicloroquina e azitromicina) era eficiente contra a doen�a. Eles revelaram tamb�m que pacientes n�o foram informados do tratamento experimental, o que � ilegal.
O documento assinado pelos profissionais foi revelado na quinta-feira pela
GloboNews
. O jornal O Estado de S. Paulo tamb�m teve acesso. Em entrevista � emissora de TV, m�dicos acrescentaram que a operadora de sa�de omitiu mortes pela doen�a em estudo no qual pretendia comprovar a efic�cia do kit covid.
Segundo eles, nove pacientes vieram a �bito, mas o estudo relata que foram apenas dois casos. Essa pesquisa foi citada por Bolsonaro como prova da sua falsa tese de que as pessoas n�o precisavam fazer quarentena ou usar m�scara porque a combina��o de cloroquina e azitromicina curaria a doen�a, o que contraria a Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS).
O documento sob an�lise da CPI n�o � ap�crifo. Dele constam os nomes dos 15 m�dicos e uma s�rie de mensagens de WhatsApp apresentadas como prova. Uma delas � do diretor da Prevent, Fernando Oikawa. "Iremos iniciar o protocolo de HIDROXICLOROQUINA + AZITROMICINA. Por favor, N�O INFORMAR O PACIENTE ou FAMILIAR, (sic) sobre a medica��o e nem sobre o programa", orientou o executivo no grupo de m�dicos, segundo revelou a
GloboNews
.
O dossi� apresentado aos senadores alerta que o estudo foi feito com mais de 700 pacientes - e n�o os 200 declarados no projeto inicial. Informa ainda que a m�dia de idade das pessoas que foram submetidas � pesquisa � superior a 60 anos, o que sugere a inclus�o de grande n�mero de idosos "e, portanto, grupo considerado de maior risco da covid-19".
A den�ncia levada pelos m�dicos � CPI afirma ainda que, no ano passado, ap�s cr�ticas do ex-ministro da Sa�de Luiz Henrique Mandetta a subnotifica��es de mortes de pacientes e ao atendimento da Prevent Senior a idosos, a diretoria da operadora "fez um pacto com o gabinete paralelo para livrar a empresa das cr�ticas".
Segundo o dossi�, a m�dica oncologista Nise Yamaguchi "frequentava a Prevent Senior para alinhar os tratamentos precoces". Os m�dicos afirmam que ela "assessorava pacientes internados na Prevent Senior que eram considerados 'especiais' pelo governo".
Nise, que chegou a ser cotada para assumir o Minist�rio da Sa�de ap�s a demiss�o de Mandetta, � apontada como integrante do "gabinete paralelo", grupo extraoficial que aconselhou Bolsonaro sobre a��es a serem tomadas no combate � covid-19.
A exist�ncia de uma equipe fora da estrutura do Minist�rio da Sa�de que era ouvida para definir pol�ticas p�blicas foi revelada por Mandetta, demitido pelo presidente ap�s se negar a assinar protocolos que recomendavam o uso de medicamentos com inefic�cia comprovada, como cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina, contra a doen�a.
A Prevent Senior anunciou, em mar�o do ano passado, que faria o estudo para testar a efic�cia da hidroxicloroquina associada ao antibi�tico azitromicina contra a covid-19. A pesquisa foi suspensa logo em seguida, em 20 de abril, pela Comiss�o Nacional de �tica em Pesquisa (Conep). O �rg�o descobriu que os testes com pacientes haviam come�ado antes de a operadora receber o aval para a pesquisa, o que � proibido no Pa�s.
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Em 5 de abril do ano passado, Bolsonaro divulgou em seu Twitter uma "live" sobre hidroxicloroquina em que participaram Pedro Batista Junior, diretor executivo da Prevent Senior, e o m�dico virologista Paolo Zanotto, suspeito de fazer parte do gabinete paralelo. "Esclarecedores dados e pr�-atividade (sic) contra o covid-19", escreveu o presidente.
Na transmiss�o ao vivo, Zanotto e Batista Jr. s�o questionados sobre o motivo de o governo Bolsonaro n�o ter adotado, at� ent�o, um protocolo para medicar hospitalizados com hidroxicloroquina.
Zanotto diz que, naquele momento, Nise e o m�dico Luciano Dias Azevedo - tamb�m apontado como integrante do gabinete paralelo - estavam com o "high brass" (alto escal�o) do governo, em Bras�lia, discutindo a quest�o "muito mais perto do que voc�s imaginam".
O grupo de m�dicos que apresentou a den�ncia contra a operadora relatou � CPI que, no ano passado, a Prevent Senior comprou mais de 3 milh�es de comprimidos de medicamentos do tratamento precoce, como cloroquina e ivermectina. "Quantidade suficiente para medicar cerca de 500 mil clientes da operadora", dizem no documento.
Em 18 de abril, Bolsonaro publicou em uma rede social que a Prevent Senior havia lhe informado sobre alguns resultados do estudo. Segundo o presidente, 412 pacientes haviam optado por tomar hidroxicloroquina, 8 foram internados e nenhum intubado. "O n�mero de �bitos foi zero. O estudo completo ser� compartilhado em breve", registrou Bolsonaro.
O grupo que denuncia a Prevent afirma que o m�dico Rodrigo �sper, da operadora, sugeriu, em um �udio no WhatsApp, revisar os n�meros do estudo citado por Bolsonaro. Na mensagem, ele afirma que os dados precisam ser "assertivos e perfeitos porque o mundo est� olhando para a gente". "At� o presidente da Rep�blica citou a gente. Esse �udio tem que ficar aqui, n�o pode sair."
Operadora diz que vai processar ex-funcion�rios
A Prevent Senior divulgou nota na quinta-feira em que "nega e repudia den�ncias sistem�ticas, mentirosas e reiteradas que t�m sido feitas por supostos m�dicos que, anonimamente, t�m procurado desgastar a imagem da empresa". "Em decorr�ncia disso, est� tomando as medidas judiciais cab�veis para investigar todos os respons�veis por denuncia��o caluniosa (e outros crimes) sejam investigados e punidos. Os m�dicos da empresa sempre tiveram a autonomia respeitada e atuam com afinco para salvar milhares de vidas", afirma a operadora.
A empresa informou, na nota, que vai pedir investiga��es ao Minist�rio P�blico para apurar "as den�ncias infundadas e an�nimas levadas � CPI por um suposto grupo de m�dicos". "Estranhamente, antes de as acusa��es serem levadas � comiss�o do Senado, uma advogada que representa esse grupo de m�dicos insinuou que as den�ncias n�o seriam encaminhadas se um acordo n�o fosse celebrado. Devido � estranheza da abordagem, a Prevent Senior tomar� todas as medidas judiciais cab�veis", afirmou a operadora.
O diretor executivo da operadora, Pedro Benedito Batista J�nior, tinha depoimento marcado na quinta-feira na CPI, mas ele n�o compareceu. A empresa alegou "falta de tempo h�bil".
O m�dico Paulo Zanotto afirmou � reportagem que "ningu�m disseminou o tratamento" precoce, como afirma o dossi� entregue aos senadores. "Foi perguntando para n�s o que estava acontecendo em termos de tratamento precoce. Foi perguntado pelo Arthur Weintraub (ex-assessor da Presid�ncia da Rep�blica)", disse. "O tratamento precoce n�o foi implementado como pol�tica de Estado, n�o houve essa realiza��o. O que aconteceu no Brasil foi a disponibiliza��o de f�rmacos em alguns lugares do Pa�s", afirmou.
Procurada, Nise Yamaguchi disse ao jornal O Estado de S. Paulo desconhecer que a Prevent Senior fosse validar protocolos do governo.
A m�dica afirmou ainda que n�o tem nenhum v�nculo cient�fico com a operadora e nem interfer�ncia nos protocolos de pesquisa que eles realizam.
O Pal�cio do Planalto n�o se manifestou at� a conclus�o da edi��o de sexta-feira do jornal O Estado de S. Paulo.
As informa��es s�o do jornal
O Estado de S. Paulo.
POL�TICA