Dez dias atr�s, ao concluir a vota��o do texto-base do projeto que altera o C�digo Eleitoral, o deputado Arthur Lira (Progressistas-AL), presidente da C�mara, fez um coment�rio sobre um parlamentar do partido Novo que deu o que falar no plen�rio e nas redes sociais, entre cr�ticos e apoiadores da legenda.
"Todos j� votaram no plen�rio? Eu ia perder ali o nosso deputado, futuro progressista, Marcel van Hattem", disse Lira, indicando que o parlamentar ga�cho, um dos oito representantes do Novo na C�mara, deixar� a legenda e voltar� ao partido do qual saiu em 2018. Quando um deputado o alertou de que Van Hattem era "ex-progressista", Lira n�o se fez de rogado: "Vai ser futuro. Ningu�m se perde no caminho da volta".
Diante da saia-justa, Van Hattem, que faz parte da ala que se op�e � posi��o do partido e de seu fundador e ex-candidato � Presid�ncia, Jo�o Amo�do, de apoiar o impeachment do presidente Jair Bolsonaro e atuar como oposi��o ao governo, apressou-se em negar a sua sa�da do Novo.
"Esse epis�dio foi uma brincadeira que o Arthur Lira tem feito comigo desde o in�cio do mandato, em 2019", disse ao
Estad�o
. "S� que, desta vez, ele fez isso ao microfone e acabou gerando, sem querer, um grande mal-entendido. Nada al�m disso."
�xodo.
Apesar do desmentido e de Van Hattem afirmar que o seu plano A "sempre foi e continua sendo" ficar no Novo, a possibilidade de ele deixar o partido, ao lado de quatro ou cinco colegas de bancada que rezam pela mesma cartilha, � real, e poder� se materializar na pr�xima "janela partid�ria", em mar�o, aprofundando o "racha" vivido pela agremia��o.
Al�m de Van Hattem, poder�o se desligar do Novo os deputados Alexis Fonteyne (SP), Lucas Gonzales (MG) e Gilson Marques (SC), todos candidatos � reelei��o, e Paulo Ganime (RJ), l�der do partido na C�mara, que pretende se candidatar ao governo do Rio em 2022. Em princ�pio, a deputada Adriana Ventura (SP), que tamb�m quer disputar a reelei��o, dever� ficar, mas a sua sa�da n�o est� descartada e depender� de como a legenda vai lidar com os conflitos internos nos pr�ximos meses.
Se o �xodo se confirmar, como tudo indica no momento, a bancada do Novo ficar� reduzida aos deputados Tiago Mitraud (MG), que n�o dever� ser candidato � reelei��o, Vinicius Poit (SP), j� aprovado no processo seletivo do partido como pr�-candidato ao governo paulista, ambos mais alinhados com a ala de Amo�do, e talvez Adriana.
Conven��es.
Mais do que uma decis�o volunt�ria, a migra��o dos parlamentares para outras siglas dever� ser a �nica alternativa para eles n�o ficarem sem legenda para participar do pleito no ano que vem. Embora os mandat�rios que queiram se candidatar � reelei��o n�o precisem passar novamente pelo processo seletivo realizado pelo Novo, eles poder�o ser vetados nas Conven��es Estaduais, que d�o o aval final �s candidaturas, por n�o apoiarem o impeachment e defenderem a ado��o de uma postura "independente" pelo partido. "Se o entendimento dos convencionais for de que a neutralidade � uma forma velada de apoio ao Bolsonaro, � poss�vel que as candidaturas de quem n�o segue as diretrizes partid�rias sejam vetadas", diz Eduardo Ribeiro, presidente do Novo.
J� Paulo Ganime, que participa do processo seletivo que definir� o pr�-candidato do Novo ao governo do Rio, poder� perder o lugar para Juliana Ben�cio, candidata do Novo � Prefeitura de Niter�i em 2020, estimulada a entrar na disputa com o deputado pelos pr�prios dirigentes do partido.
Como o resultado do processo seletivo dever� ser anunciado at� o fim de setembro, Ganime ainda ter� tempo de aproveitar a janela partid�ria para mudar de legenda se for preterido, embora afirme que poder� at� deixar a pol�tica. Mas os parlamentares que pretendem concorrer � reelei��o n�o ter�o a mesma oportunidade. Pelo calend�rio eleitoral, as Conven��es s� dever�o ocorrer em julho, tr�s ou quatro meses depois da janela partid�ria. Se eles ficarem no Novo at� l�, perder�o a chance de trocar de partido caso as suas candidaturas sejam rejeitadas.
Comiss�o de �tica.
H�, ainda, o risco de os candidatos � reelei��o ficarem sem legenda se forem punidos pela Comiss�o de �tica do Novo. O deputado Alexis Fonteyne, por exemplo, tem um processo contra ele correndo no �rg�o, por ter chamado Amo�do de "calopsita" e poder� ser duramente penalizado por isso, a julgar pelas decis�es tomadas recentemente em casos semelhantes.
Apesar de n�o haver prazo para a Comiss�o de �tica avaliar os processos pendentes, Fonteyne espera que a quest�o tamb�m seja definido em tempo de aproveitar a janela, se necess�rio. "Imagine a loucura se voc� n�o mudar de partido na janela, por acreditar que o Novo iria lhe dar legenda, e de repente, l� na frente, ele n�o lhe der", afirma. "A�, como � que fica? Voc� n�o poder� mais voltar atr�s e mudar de partido."
Se depender dos mandat�rios, eles preferem continuar no partido. A maioria entrou na pol�tica pelo Novo e se diz identificada com os valores e princ�pios da legenda. Pelo que dizem, ser� uma frustra��o ter de deixar o Novo por uma quest�o conjuntural, que consideram menor, e n�o por discordar das grandes bandeiras partid�rias, como a liberaliza��o da economia, a privatiza��o e o combate ao mau uso do dinheiro p�blico e � corrup��o.
Diferen�a ideol�gica.
Segundo Ganime, n�o h� uma diferen�a ideol�gica muito grande entre as duas alas em que o Novo se dividiu. "O que est� dividindo o partido n�o � uma vis�o do que se quer para o Pa�s. Todos os mandat�rios que conhe�o t�m a mesma posi��o do partido, de n�o querer a elei��o do Lula do Bolsonaro ou do Ciro Gomes e querer uma op��o que pacifique o Pa�s e possa conduzir o governo de forma sensata, sem polariza��o, sem discursos absurdos e sem �dio", diz. "O problema � que uma parte de filiados acha que quem n�o quer impeachment � bolsonarista ou � contra os valores do partido, mas ser a favor ou contra o impeachment n�o � o que define quem � do Novo."
Ainda que possa parecer estranho para muita gente, a poss�vel sa�da de deputados da legenda n�o parece preocupar nem a dire��o partid�ria nem Amo�do. O fundador do partido afirma at� que o "racha" � positivo. "Na minha avalia��o, a sa�da de filiados que s�o contra o impeachment fortalece a unidade partid�ria, fundamental para o crescimento do partido", afirmou Amo�do, em publica��o nas redes, ao comentar a desfilia��o do cientista pol�tico Christian Lohbauer, um dos fundadores do Novo e ex-candidato a vice-presidente em sua chapa em 2018, anunciada na quinta-feira passada. "Nossa oposi��o ao governo e a defesa do impeachment v�o continuar e nortear as nossas candidaturas em 2022", diz Eduardo Ribeiro. "� compreens�vel que os mandat�rios que n�o concordem com essa posi��o queiram buscar outro partido."
As informa��es s�o do jornal
O Estado de S. Paulo.
POL�TICA