
Presidente da Associa��o Nacional de Jornais (ANJ), Marcelo Rech afirma que o jornalismo profissional � a principal barreira de conten��o � desinforma��o e ao autoritarismo. Ao Estad�o , ele disse considerar que h� risco de acontecer um "apocalipse informativo" caso os ve�culos de comunica��o n�o consigam sobreviver � crise de receita pela qual passa o setor.
A ANJ defende a aprova��o de uma lei que obrigue as plataformas de internet a negociar com empresas jornal�sticas para garantir que haja remunera��o pelo conte�do que produzem e que circula nas redes. A seguir os principais trechos da entrevista:
Vivemos em um ambiente de radicalismos na pol�tica, em que ataques da direita e da esquerda tentam minar a credibilidade da imprensa. Como enfrentar esse desafio?
Temos que distinguir o que s�o ataques instrumentalizados e o que s�o cr�ticas normais, que s�o bem-vindas. Mas o que n�s vemos em grande parte do mundo � um ataque sistematizado ao jornalismo independente. Isso se d� porque a imprensa profissional � a �ltima barreira de conten��o contra a desinforma��o e o autoritarismo. A desinforma��o busca preparar terreno para o dom�nio de posi��es autorit�rias, � esquerda e � direita. A imprensa � o estraga-prazeres daquele que espalha mentiras em busca de ganhos pol�ticos ou econ�micos, e � por isso que sofre esses ataques. Em pa�ses mais polarizados, caso do Brasil, esses ataques s�o mais intensos e organizados. Mas se a imprensa ou um ve�culo est�o sendo atacados, � porque s�o muito relevantes.
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As grandes empresas de tecnologia, que se beneficiam do tr�fego gerado por empresas jornal�sticas na internet, devem remuner�-las pelo conte�do? Como?
Existem duas grandes vertentes de discuss�o. Uma delas faz a avalia��o do direito autoral, do uso de conte�dos jornal�sticos que geram audi�ncia, engajamento e receita publicit�ria para as plataformas. A outra reconhece a atividade jornal�stica como parte fundamental das democracias. � a posi��o com a qual me alinho. O racioc�nio � simples: com a drenagem de recursos do mercado por big techs como Google e Facebook, elas hoje ficam com algo em torno de 70% das verbas de publicidade digital. Os outros produtores de conte�do, sejam jornal�sticos ou n�o, dividem os 30%. Os ve�culos de comunica��o t�m hoje audi�ncia ainda maior do que tinham no passado, porque sua relev�ncia s� aumenta, mas a receita econ�mica cai.
Quais s�o as consequ�ncias?
Nesse ritmo, em uma ou duas gera��es, n�o haver� mais um ecossistema jornal�stico diversificado e independente. Se houver o desaparecimento desse ecossistema do jornalismo, vai ocorrer um apocalipse informativo. N�o haver� mais a barreira de conten��o da desinforma��o. Ningu�m vai restabelecer a verdade.
A ANJ considera que uma lei no Brasil deve obrigar as empresas de tecnologia a negociar remunera��o por conte�do com os ve�culos de comunica��o?
Entendemos que sim. A polui��o social representada pela desinforma��o, pelos discursos de �dio e pelas teorias conspirat�rias alucinadas, afeta o pr�prio neg�cio deles, que � a venda de publicidade sobre conte�dos cr�veis. Mas eles n�o conseguem fazer a limpeza dessa polui��o social, e a regula��o pode inviabilizar as plataformas ou afetar o direito de liberdade de manifesta��o. Ent�o, a melhor solu��o � o refor�o do jornalismo profissional. Isso � fundamental tamb�m para os neg�cios das plataformas. � o jornalismo profissional que faz a limpeza desse ambiente polu�do quando faz uma checagem, quando rep�e a verdade. � preciso remunerar quem faz essa limpeza.
As redes sociais devem ser responsabilizadas pelo conte�do publicado por seus usu�rios?
A ironia � que, em todo o mundo, se discute a responsabiliza��o das plataformas, mas o governo Bolsonaro est� defendendo o oposto. Ele quer impedir a modera��o de conte�do nas redes. Quer evitar qualquer remo��o de conte�dos t�xicos que visam desinformar a sociedade. Na minha opini�o, essa deveria ser uma responsabilidade moral, �tica e legal de todo mundo que lida com conte�do.
Deve haver regula��o de conte�do?
� preciso reconhecer que a quest�o da liberdade de express�o � fundamental. Qualquer responsabiliza��o por algum abuso deve ocorrer a posteriori, ou seja, depois da publica��o. Estamos come�ando a ver, em pa�ses como �ndia e Cingapura, governos come�ando a editar leis que definem o que as plataformas podem ou n�o divulgar. Acho uma interfer�ncia inaceit�vel.
Qual � o papel dos jornais impressos em um mundo cada vez mais digital?
O jornal impresso tem uma capacidade �nica que � a de organizar as informa��o em um mundo ca�tico. Ele hierarquiza as informa��es. Al�m disso, o bem mais escasso hoje no mundo � a aten��o. A leitura exige concentra��o e foco. � uma atividade que n�o pode ser feita ao mesmo tempo que outras. E a� o impresso tem outra grande vantagem. Em alguns pa�ses de alt�ssimo n�vel educacional, entre eles a Alemanha, a circula��o e a receita de ve�culos impressos tem subido. Em uma pesquisa da Syno International (empresa de pesquisa de mercado), o jornal impresso apareceu como o ve�culo mais confi�vel para a publicidade. Em termos de credibilidade, at� agora nenhum outro meio chegou perto.
As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.