A execu��o de guerrilheiros suspeitos de trai��o por decis�o da dire��o da organiza��o a que pertenciam � um dos aspectos mais pol�micos da a��o dos grupos que pegaram em armas contra a ditadura militar. � sobre quatro casos comprovados de assassinato de colegas que n�o resistiram � tortura e forneceram dados que levaram � captura de companheiros ou que poderiam trair que o jornalista Lucas Ferraz trata em seu livro Injusti�ados, execu��es de militantes nos tribunais revolucion�rios durante a ditadura (Companhia das Letras).
O t�tulo � ele mesmo uma senten�a sobre cada v�tima da viol�ncia revolucion�ria. O autor lembra que os executores tinham diante de si inocentes, ao mesmo tempo que n�o atingiram os verdadeiros traidores, os que receberam dinheiro para delatar ou mudaram de lado, como Jos� Anselmo dos Santos, o cabo Anselmo.
� um julgamento. Ferraz aborda quatro casos ocorridos em centros urbanos. As v�timas foram M�rcio Leite Toledo, Carlos Alberto Maciel Cardoso, Francisco Jacques de Alvarenga e Salatiel Teixeira Rolim. Os tr�s primeiros foram mortos por companheiros da A��o Libertadora Nacional (ALN), grupo fundado por Carlos Marighella, enquanto o �ltimo foi executado por remanescentes do Partido Comunista Brasileiro Revolucion�rio (PCBR).
'CACHORROS'
Todos foram mortos entre 1971 e 1973, quando a luta armada estava derrotada, e o que restava dos grupos que pegaram em armas vivia acossado pela amea�a da pris�o, tortura e morte nos Destacamentos de Opera��es Especiais (DOI). Esse ambiente ficou ainda mais envenenado com a t�tica dos �rg�os de repress�o de cooptar militantes para transform�-los nos "cachorros": colaboradores que entregavam os colegas. Tinham contrato e sal�rio.
Criou-se o que o autor chama de a "s�ndrome de Severino", a desconfian�a generalizada nascida em raz�o de trai��es, como a do militante Jos� da Silva Tavares, o Severino, que fez um acordo com o delegado Sergio Fleury e entregou o l�der da ALN Joaquim C�mara Ferreira, o Toledo, em 1970.
Assim, M�rcio Toledo foi executado pela ALN porque a "revolu��o n�o admitia recuos". Eram chamados de traidores os que, sob tortura, abriram informa��es aos repressores, como se o militante tivesse o dever de morrer calado. Rolim n�o foi capaz de cumprir essa obriga��o, e isso foi a sua perdi��o.
O historiador Jacques Le Goff escreveu que o colega Marc Bloch, apesar de detestar historiadores que "julgam em lugar de compreender", n�o deixava, por isso, de enraizar "mais profundamente a hist�ria na verdade e na moral". "A ci�ncia hist�rica se consuma na �tica. A hist�ria deve ser verdade; o historiador se realiza como moralista, como justo." Na falta de guias para jornalistas que se aventuram na hist�ria, Le Goff fornece um caminho n�o muito diverso daquele do editor do Washington Post Ben Bradlee, respons�vel por publicar os Pap�is do Pent�gono.
ESQUECIMENTO
Como em toda obra, � poss�vel achar falhas. E a maior delas talvez seja a avalia��o do papel de Carlos Eug�nio Sarmento Coelho da Paz, l�der da ALN e participante confesso das a��es que mataram Toledo e o empres�rio Henning Boilesen, um colaborador do DOI.
O livro n�o � um estudo sobre a viol�ncia revolucion�ria, nem procura igualar a viol�ncia do opressor � do oprimido. As t�cnicas usadas s�o as do jornalismo. E registra um cap�tulo que permaneceu entre o esquecimento de quem o protagonizou e o uso vulgar desses crimes por quem busca justificar a tortura e o assassinato cometidos por agentes do Estado.
As informa��es s�o do jornal
O Estado de S. Paulo.
POL�TICA