
Moro � parte dessa estrat�gia porque � considerado um bom puxador de votos. Mas, ao entrar no partido, ter� de conviver com correligion�rios sob investiga��o - um deles foi filmado pegando dinheiro de um delator -, e participar de um grupo pol�tico que, no Congresso, apoiou desde Dilma Rousseff at� Jair Bolsonaro.
No Rio de Janeiro, ap�s a sa�da do senador Rom�rio, que foi para o PL, o vice-presidente do partido, Eduardo Machado, convidou o bombeiro Patrique Welber para dirigir o diret�rio do Podemos. Conhecido por atuar nos bastidores de campanhas de diversos partidos, incluindo a coordena��o da candidatura do ex-presidente da Alerj, Jorge Picciani (MDB) - condenado a 21 anos de pris�o na Lava Jato -, Welber levou com ele um grupo de mais de 40 candidatos a deputado federal. O Podemos n�o tem representantes do Rio na C�mara.
Em setembro, Welber se tornou secret�rio estadual do Trabalho do Rio, iniciativa do governador Cl�udio Castro (PL) para dar uma pasta ao Podemos, que faz parte de sua base na Assembleia Legislativa (Alerj). A convite do bombeiro, e agora secret�rio, assumiram cargos de comando no diret�rio do Podemos o ex-deputado federal Francisco Floriano, que � alvo da Lava Jato do Rio sob suspeita de lavagem de dinheiro e corrup��o na Sa�de do Estado, e o empres�rio Cl�bio Lopes Pereira - investigado pelo MP estadual por integrar supostos esquemas de desvios na gest�o Marcelo Crivella (PRB).
H� tamb�m investigados no comando do diret�rio nacional do Podemos. A presidente da legenda e deputada federal Renata Abreu � alvo de inqu�rito na Justi�a Eleitoral sob a acusa��o de ter fomentado candidaturas femininas laranja em 2018. O secret�rio-geral do partido, Luiz Claudio Souza Fran�a, foi flagrado em v�deo pegando R$ 38 mil em esp�cie das m�os do ex-secret�rio de Rela��es Institucionais do DF, Durval Barbosa, na Opera��o Caixa de Pandora - que ficou conhecida como mensal�o do DEM. A a��o est� em fase de alega��es finais.
O partido tamb�m chegou a abrigar membros do PHS - partido que foi absorvido pelo Podemos - alvos de suspeitas. Entre eles, o advogado La�rcio Benko e a ex-deputada Clelia Gomes, que foi candidata a vereador pela legenda no ano passado. Eles s�o investigados pela PF em um esquema de rachadinhas quando ainda �poca em que estavam na legenda anterior. Clelia deixou o partido ap�s a elei��o, e Benko saiu neste segundo semestre para dirigir o PMB.
Fus�o. Antes de entrar para o Podemos, Benko e o vice-presidente, Eduardo Machado, estavam em lados opostos na disputa pelo comando do PHS. Por for�a de uma decis�o judicial, Machado foi afastado da dire��o da legenda. Rivais tamb�m chegaram a acus�-lo de irregularidades. Em 2017, a briga foi parar na Pol�cia, quando um tesoureiro da legenda aliado de Machado foi acusado de invadir seu diret�rio e levar documentos. Em 2018, o PHS foi enquadrado na cl�usula de barreira, e, em um acordo entre Machado e Renata Abreu, acabou incorporado ao Podemos. Os antigos rivais no PHS entraram em armist�cio na atual legenda.
De um lado, a fus�o fez com que a cota do fundo eleitoral do Podemos saltasse de R$ 36 milh�es para R$ 77 milh�es, em 2020. De outro, uma s�rie de irregularidades nas presta��es de contas do PHS referentes a 2014 custaram ao Podemos uma multa de R$ 2,8 milh�es. Quando relatora do projeto de reforma eleitoral na C�mara, Renata Abreu inseriu em uma primeira vers�o de sua proposta um dispositivo que previa a desonera��o de partidos de assumirem multas de legendas que aglutinaram, em raz�o de pend�ncias com o TSE. O texto acabou alterado pela parlamentar, dias depois.
O partido se diz independente no Legislativo, mas tem acompanhado o governo federal em cerca de 80% das vota��es. Em uma sess�o recente, ficou dividido em uma pauta cara ao ex-juiz das Lava Jato. Cinco deputados votaram a favor da PEC 5, que prop�s altera��es no Conselho Nacional do Minist�rio P�blico, e outros cinco votaram contra. Foi um caso isolado. Em outros projetos, como a proposta de tirar o Coaf de Moro _ ainda no Minist�rio da Justi�a -, o partido votou a favor do ministro. O Podemos tamb�m foi contra a amplia��o do fundo eleitoral para R$ 5,7 bilh�es em 2022.
O partido foi fundado como Partido Trabalhista Nacional, pelo ex-deputado Dorival de Abreu, tio de Renata, nos anos 1990, como uma esp�cie de sucessor do antigo PTN do ex-presidente J�nio Quadros. O slogan exibia a sigla ao lado da vassourinha, em refer�ncia ao jingle de J�nio na d�cada de 60: "Varre, varre, vassourinha. Varre, varre a bandalheira", dizia a m�sica. Al�m de Dorival, o pai de Renata, ex-deputado Jos� de Abreu, dirigia o partido, que, por anos, teve escrit�rio dentro do Centro de Tradi��es Nordestinas, na zona norte de S�o Paulo, criado pelo cl�.
Em 2013, o PTN acabou envolvido em uma pol�mica relacionada ao mensal�o, quando um hotel em nome de uma offshore no Panam� e do irm�o de Jos� de Abreu deu emprego ao ex-ministro Jos� Dirceu, com sal�rio de R$ 20 mil, quando o petista precisava comprovar que teria um emprego para migrar para o regime semiaberto.
No mesmo endere�o da offshore estava registrado um escrit�rio da JD Assessoria, que, anos depois, levaria Dirceu ao centro da Lava Jato. Somente em 2017, a legenda foi transformada em Podemos, sob o comando da atual presidente, e come�ou a arquitetar a candidatura de Alvaro Dias � Presid�ncia, que terminou com 0,8% dos votos no primeiro turno.
Pelo Podemos, tamb�m passaram parlamentares, como o pastor Marco Feliciano, expulso por apoiar Bolsonaro em 2018, e a ex-ju�za Selma Arruda, eleita por Mato Grosso em 2018 sob a alcunha de "Moro de saias" e defenestrada do Senado ap�s ser condenada por caixa dois no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
'aberra��o'
A deputada federal Renata Abreu afirmou ao Estad�o que "n�o h� nem houve qualquer candidatura laranja no Podemos de S�o Paulo". "Tenta-se com este processo considerar todas as candidaturas que n�o tiveram recursos financeiros partid�rios como laranjas, uma aberra��o do ponto de vista jur�dico, que s� tem o prop�sito de polemizar", disse.
Luiz Claudio Freire de Souza Fran�a afirmou que a a��o penal que responde na Opera��o Caixa de Pandora "est� em primeira inst�ncia, com defesa nos autos". Ele se diz confiante na Justi�a e afirmou que a a��o por improbidade prescreveu. A ex-deputada Cl�lia Gomes e o advogado La�rcio Benko n�o foram localizados. Nos autos, suas defesas negam desvios. O Estad�o n�o localizou Cl�bio Lopes Pereira e o ex-deputado Francisco Floriano. O presidente do Podemos no Rio, Patrique Welber, se negou a responder os questionamentos da reportagem. Renata Abreu disse que o "Podemos j� retirou do partido pessoas com condena��es e assim vai proceder, desde que respeitado o direito de defesa e o devido processo legal".
Moro define nesta semana se ser� candidato, afirma partido
O ex-ministro e ex-juiz S�rgio Moro mant�m sil�ncio sobre sua filia��o e poss�vel candidatura ao Pal�cio do Planalto. O Podemos acredita que essa defini��o seja sacramentada no in�cio desta semana. A interlocutores, ele tem dito que s� poder� tratar publicamente dos seus planos na pol�tica ap�s encerrado o contrato com a consultoria Alvarez & Marsal, que tem sede em Washington, onde Moro reside atualmente.
"Moro vai definir no dia 01 de novembro. O Podemos j� o convidou para disputar a Presid�ncia", afirmou ao Estad�o a deputada federal e presidente do Podemos, Renata Abreu. A rela��o de Moro com a legenda foi constru�da a partir da amizade com o senador Alvaro Dias (PR). Entusiasta da Opera��o Lava Jato, o parlamentar tentou a Presid�ncia em 2018 anunciando o ent�o juiz como futuro convidado a ser seu ministro da Justi�a, caso eleito.
Discretamente, por�m, Moro intensifica conversas com representantes do centro pol�tico, onde sonda nomes para uma futura equipe de campanha.
Pauta
Sua preocupa��o � em ampliar o leque de bandeiras para al�m da pauta anticorrup��o. A princ�pio, n�o h� ind�cios claros de que a prov�vel investida eleitoral do ex-juiz possa ser acompanhada por outros protagonistas da Lava Jato.
Procuradores tamb�m j� foram consultados por partidos para disputar as elei��es de 2022. No entanto, afirmam que as conversas nunca avan�aram. Fora da for�a-tarefa, Deltan Dallagnol, ex-coordenador do grupo, disse que nunca se sentou "com qualquer partido para conversar concretamente sobre o assunto". Deltan, contudo, tem participado do debate pol�tico por meio de palestras e videoconfer�ncias.
Aposentado do MPF, o agora advogado Carlos Fernando Santos Lima afirmou que "n�o fecha as portas para a participa��o na pol�tica", mas que, a princ�pio, n�o pretende e n�o foi procurado por nenhum partido. "Minha posi��o n�o � necessariamente a favor de uma candidatura de S�rgio Moro ou n�o. Sou a favor de uma candidatura vi�vel, de terceira via", disse ao Estad�o .
As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.