Em sua reta final, as primeiras pr�vias nacionais da hist�ria do PSDB para a escolha do seu candidato ao Pal�cio do Planalto cumpriram a miss�o de dar visibilidade ao partido no debate sobre a constru��o de uma terceira via na disputa presidencial em 2022, mas o processo interno ajudou tamb�m a esgar�ar o ambiente j� bastante tensionado da sigla. No radar de importantes l�deres tucanos est� o temor de que o partido saia fraturado da vota��o marcada para o pr�ximo domingo, 21.
Um projeto presidencial encabe�ado pelo PSDB n�o conta com ampla concord�ncia na sigla. Em parte por causa de profundas rixas internas e em parte por uma disputa por recursos para as futuras campanhas eleitorais.
Durante a �ltima semana antes da vota��o, os governadores Jo�o Doria (SP) e Eduardo Leite (RS) se esfor�aram para transparecer um clima de entendimento. Tomaram chimarr�o no Pal�cio Piratini, em Porto Alegre, e foram mais cordiais durante o debate realizado pela CNN Brasil. Ontem, por�m, Leite jogou farpas no correligion�rio paulista em uma entrevista convocada para negar que tenha pedido a Doria o adiamento do in�cio da campanha da vacina��o, em janeiro.
Os governadores paulista e ga�cho concorrem de fato � vaga de presidenci�vel tucano - Arthur Virg�lio (AM), o outro nome na disputa, n�o tem chances. O vencedor das pr�vias ter� de se deparar com uma quest�o central: a possibilidade de uma debandada de parlamentares tucanos, o que pode encolher a bancada federal do partido. Em conversas reservadas, quadros do PSDB calculam que at� 15 dos 34 deputados federais podem deixar a legenda na janela de transfer�ncia partid�ria do ano que vem, per�odo em que � permitido mudar de agremia��o sem perder o mandato.
Esse processo � motivado por uma mistura de c�lculos e predile��es eleitorais locais, briga por recursos e ressentimentos pol�ticos. Em Estados onde o bolsonarismo tem mais for�a, como Acre, Rond�nia e Mato do Grosso do Sul, os tucanos locais teriam dificuldade em se eleger no campo da oposi��o. Mas h� tamb�m o caso do grupo liderado pelos deputados mineiros A�cio Neves e Paulo Abi Ackel. Ambos s�o desafetos declarados de Doria e dificilmente ficar�o no PSDB no caso de vit�ria do governador paulista.
"Eu n�o convoquei uma confraria, mas uma elei��o. E elei��o � disputa e passionalidade. Isso deixa marcas que levam tempo e exigem maturidade para que se reconfigure um processo de unidade plena. Vai depender da absoluta capacidade do l�der escolhido no domingo de construir pontes. N�o precisa ser do dia para a noite e nem numa semana. H� tempo", disse ao Estad�o o presidente nacional do PSDB, Bruno Ara�jo (mais informa��es nesta p�gina).
Questionado sobre uma poss�vel debandada, Abi Ackel foi enigm�tico. "Ningu�m sabe qual ser� o resultado das pr�vias e como o vencedor vai se posicionar. As pr�vias devem ser instrumento de inclus�o e n�o de exclus�o. N�o faz sentido o partido sair menor desse processo."
ENCONTRO
Os dois lados da disputa interna est�o cientes dos poss�veis efeitos. Na �ltima ter�a feira, o coordenador da pr�-campanha de Doria, Wilson Pedroso, viajou a Porto Alegre para organizar a visita do governador paulista ao Rio Grande do Sul e aproveitou para tomar um caf� com o deputado federal Lucas Redecker (RS), que comanda a campanha de Eduardo Leite.
Na conversa, eles concordaram que � preciso fazer um gesto para unificar o partido depois das pr�vias. Combinaram um encontro de aproxima��o com a bancada com a presen�a dos dois governadores, independente de quem for o vencedor do pleito interno. A leitura de ambos � que ser� preciso recuperar o eleitor tucano que migrou para o bolsonarismo ap�s as elei��es de 2018, quando o PSDB registrou o pior resultado de sua hist�ria em uma elei��o presidencial. "Apesar das caneladas, a gente criou rela��es com as pr�vias. Em S�o Paulo tivemos caneladas nas pr�vias (em 2016 e 2018), mas todo mundo saiu unido", disse Pedroso.
O senador Jos� An�bal, que integra a comiss�o organizadora do processo, recorre uma frase do ex-vice presidente da Rep�blica Marco Maciel ao falar sobre a possibilidade de um racha p�s- pr�vias: "As consequ�ncias v�m depois", disse. "Seria um anticl�max se n�o houvesse unidade no dia seguinte."
Contra o anticl�max, Virg�lio aposta no fair play dos caciques tucanos. Para o ex-prefeito de Manaus, a maior parte da bancada federal come�ou a votar com o governo de Jair Bolsonaro porque n�o tinha perspectiva em rela��o ao pr�prio partido. "Espero que n�o tenha debandada. Tem que ser um compromisso de honra apoiar o perdedor", afirmou.
APLICATIVO
Com apenas 44,7 mil tucanos aptos a votar no domingo em um universo de 1,3 milh�o de filiados, o PSDB montou uma opera��o para sanar eventuais problemas com o aplicativo criado para a vota��o nas pr�vias. A executiva nacional montou um call center no diret�rio em Bras�lia com mais de 20 atendentes dispon�veis para ajudar os tucanos que tiverem dificuldades com o aparato, que exige, entre outras coisas, uma dupla identifica��o facial.
O sistema, que � in�dito no Brasil, foi motivo de pol�mica e suspeitas nos bastidores da campanha. H� o temor de que o processo possa ser prejudicado pelo eventual mal funcionamento do aplicativo que foi criado pelo PSDB para que os filiados votem remotamente.
Ap�s passar por diversas etapas de aperfei�oamento, segundo a comiss�o de pr�vias, e at� mesmo de uma simula��o do processo de vota��o ontem, o app ainda desperta desconfian�a em rela��o ao seu funcionamento e seguran�a. Diret�rios mais organizados do partido tanto ligados a Leite quanto a Doria tamb�m v�o oferecer suporte t�cnico.
O sistema � de dif�cil manuseio, o que, de acordo com a regi�o do Pa�s, ainda pode ser intensificado pelo baixo sinal de internet. Na capital paulista, base de Doria, o diret�rio municipal montou 40 postos avan�ados onde os filiados ter�o acesso a tablets e internet 5G.
A tecnologia n�o poder� resolver o atual ponto nevr�lgico do PSDB. O partido que ganhou a fama de se acomodar no equil�brio do muro acumulou ao longo dos anos significativas divis�es internas. Qual ser� o papel das prim�rias num processo de concilia��o ou ruptura � o que se ver� nos pr�ximos dias.
As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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