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Estado de Minas VIAGEM

Ida de Bolsonaro a Moscou n�o deve trazer retornos relevantes para o Brasil

Presidente alega neg�cios com a R�ssia para ir � R�ssia em meio � tens�o militar entre o pa�s de Putin e a Ucr�nia


15/02/2022 09:33 - atualizado 15/02/2022 09:44

Bolsonaro no Planalto
Bolsonaro se encontrar� com o presidente russo, Vladimir Putin, em, ao menos, duas ocasi�es: numa reuni�o bilateral e durante um almo�o no Kremlin, sede do governo local. (foto: Alan Santos/PR)
 
Em meio � tens�o militar entre R�ssia e Ucr�nia, o presidente Jair Bolsonaro (PL) embarcou, na noite de ontem, rumo a Moscou. Horas antes, a apoiadores, o chefe do Executivo justificou que a visita tem cunho comercial e que "torce pela paz". Apesar de aconselhado a remarcar a viagem de alto risco, Bolsonaro optou por mant�-la.

"Sabemos do momento dif�cil que existe naquela regi�o. Temos neg�cios com eles, comerciais. Em grande parte, nosso agroneg�cio depende dos fertilizantes deles. Temos assuntos para tratar sobre defesa, sobre energia. Muita coisa para tratar", argumentou. "E o Brasil � um pa�s soberano. Vamos torcer pela paz l�, que d� tudo certo. A gente quer a paz, mas voc� tem de entender que todo mundo � ser humano. Vamos torcer para que d� certo. Dependendo de uma palavra minha, o mundo teria paz."
 
A expertise em ciberseguran�a e ciberdefesa da R�ssia tamb�m � outro fator de interesse brasileiro. Isso porque Bolsonaro confia �s For�as Armadas brasileiras a miss�o de auditar as urnas eletr�nicas junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e pretende fechar acordos de coopera��o para capacitar a intelig�ncia militar nacional. Devem participar das tratativas ministros militares do governo brasileiro.

Bolsonaro se encontrar� com o presidente russo, Vladimir Putin, em, ao menos, duas ocasi�es: numa reuni�o bilateral e durante um almo�o no Kremlin, sede do governo local. Em seguida, ele se reunir� com o presidente da Duma, C�mara Baixa do Parlamento russo, e participar� da entrega da oferenda floral no t�mulo do soldado desconhecido.

A previs�o � de que ocorra, ainda, um encontro de Bolsonaro com empres�rios no Four Seasons, hotel cinco estrelas localizado na Pra�a Vermelha, principal cart�o-postal de Moscou, onde o presidente e parte da comitiva ficar�o hospedados.

O vice-presidente Hamilton Mour�o (PRTB), que ser� o presidente em exerc�cio at� o retorno de Bolsonaro, previsto para o dia 18, disse que a viagem n�o deve causar problemas ao Brasil. Ele mencionou a recente visita do presidente argentino, Alberto Fern�ndez, ao pa�s comandado por Putin. "Na semana passada, o presidente da Argentina esteve l� (na R�ssia), zero trauma", justificou. "Na minha opini�o, vai ficar nesse jogo de press�o. A viagem do presidente � de um dia s�, sem maiores problemas", frisou. Na �ltima sexta-feira, �s v�speras da viagem, o Itamaraty divulgou uma nota celebrando as rela��es diplom�ticas do Brasil com a Ucr�nia.

A comunidade internacional est� de olho na ida de Bolsonaro � R�ssia. De acordo com Paulo Roberto Almeida, diplomata e ex-presidente do Instituto de Pesquisa de Rela��es Internacionais (Ipri), n�o h� ideias ou ideologias semelhantes entre os governantes, mas oportunismos, interesses e circunst�ncias. "Os dois presidentes s�o isolados da comunidade internacional, mas querem mostrar o contr�rio. Para Bolsonaro, por�m, o efeito � contr�rio. Ele ficar� mais (isolado) ainda, pois mostra desrespeito pelo direito internacional", destacou. "A viagem pode passar a imagem de que o Brasil faz parte da agenda internacional, mas nem Putin nem (Joe) Biden (presidente dos Estados Unidos) acham que o Brasil tem influ�ncia na agenda internacional ou europeia. N�o h� influ�ncia nem na Am�rica do Sul."

Na avalia��o do especialista, Bolsonaro viajou para provar que podia, queria e n�o se deixa dobrar. Foi "aproveitar para tirar fotos em Moscou, aparecer nos jornais internacionais, e s�".

Oportunismo

Para G�nther Richter Mros, professor de rela��es internacionais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), como a visita j� estava marcada, tem um tom diplom�tico. Por�m, por meio dela, Bolsonaro busca vantagens eleitorais. "A viagem tem um significado comercial e outro significado mais simb�lico, oportunista, que s� serve para Bolsonaro capitalizar na pol�tica interna em ano eleitoral. Uma suposta imagem de aliado de um chefe de Estado poderoso, uma vez que, nos EUA, o presidente perdeu a interlocu��o", observou.

Ricardo Caichiolo, cientista pol�tico do Ibmec-DF, apontou que, do lado de Bolsonaro, h� a tentativa de sair do isolacionismo, e, para o governante russo, a agenda tamb�m � positiva, mesmo que n�o haja declara��es de apoio. "Putin pode usar como uma forma de mostrar que h� um apoio externo � pol�tica por ele adotada, o que � uma preocupa��o nossa perante os demais pa�ses", frisou. "� um momento delicado. Essa viagem pode sinalizar um apoio, e isso n�o � o que est� na nossa agenda externa."

Na quinta-feira (17/2), Bolsonaro ir� � Hungria, de Viktor Orb�n, outro avesso aos interesses ocidentais e � democracia.

Apesar de o presidente Jair Bolsonaro (PL) alegar que as rela��es comerciais entre Brasil e R�ssia s�o importantes para justificar a ida a Moscou no meio de uma crise geopol�tica, al�m de arriscada, a viagem n�o deve trazer retornos relevantes para o pa�s, conforme alertam especialistas. Para eles, o deslocamento custar� caro ao chefe do Executivo e ao pa�s, porque n�o � justific�vel do ponto de vista comercial e poderia ser postergado, sem criar problemas diplom�ticos entre os dois pa�ses.

A R�ssia n�o � o principal destino das exporta��es brasileiras, conforme dados da Secretaria de Com�rcio Exterior (Secex) do Minist�rio da Economia. Em 2021, o pa�s governado por Vladimir Putin ficou em 36º lugar na lista dos principais compradores dos produtos brasileiros, � frente apenas da �frica do Sul, entre os parceiros do Brics — grupo dos emergentes que inclui, tamb�m, �ndia e China.

Moscou respondeu por 0,6% dos embarques nacionais no ano passado, ou seja, US$ 1,59 bilh�o. Enquanto isso, China e Estados Unidos — os dois maiores parceiros comerciais brasileiros — compraram, respectivamente, US$ 87,9 bilh�es e US$ 31,1 bilh�es, no ano passado, em produtos nacionais.

As importa��es brasileiras provenientes da R�ssia somaram US$ 5,7 bilh�es em 2021, gerando saldo comercial negativo de US$ 4,11 bilh�es no com�rcio bilateral.

Na avalia��o do cientista pol�tico David Fleischer, professor em�rito da Universidade de Bras�lia (UnB), a viagem de Bolsonaro � R�ssia tem um �nico objetivo: tentar melhorar a proje��o internacional do presidente brasileiro, que � muito negativa. "Bolsonaro diz que est� indo para comprar fertilizantes, mas essa compra vai sair muito cara, dada a dist�ncia da R�ssia", disse. "O Brasil � um p�ria internacional, e o presidente quer melhorar a imagem dele no exterior. Mas n�o sei se ele vai conseguir, porque dever� chegar a Moscou no dia 'D e na hora H' das previs�es para o ataque russo � Ucr�nia", alertou, fazendo uma ironia �s declara��es do ex-ministro da Sa�de Eduardo Pazuello sobre a data da vacina��o dos brasileiros contra a covid-19, que nunca chegava.

Para Fleischer, a justificativa de que o convite foi feito antes da crise e de que o governo brasileiro n�o poderia recusar "n�o � plaus�vel". "O que n�o tem muita l�gica � o Brasil se arriscar a se indispor com o resto do mundo para um pa�s com pouco peso na balan�a comercial nacional", acrescentou.

Especialista em rela��es internacionais e CEO da BMJ Consultores Associados, Wagner Parente tamb�m reconheceu que o com�rcio do Brasil com a R�ssia � desfavor�vel para o lado brasileiro, que tem deficit comercial com os russos. "As importa��es s�o concentradas em fertilizantes, que � importante para o agroneg�cio. Mas, no c�mputo geral, o peso do com�rcio com os russos � muito pequeno se comparado com os Estados Unidos e com a China ou, at� mesmo, com o Oriente M�dio", destacou. "O investimento bilateral tamb�m � muito pequeno, e uma das poucas tentativas brasileiras na R�ssia n�o foi muito bem-sucedida", enfatizou, citando o caso de uma grande fabricante de alimentos que tentou desbravar o mercado russo, mas desistiu em menos de dois anos e saiu do neg�cio.

Conforme os dados da Secex, mais da metade das importa��es brasileiras provenientes da R�ssia, US$ 3,5 bilh�es, foi de fertilizantes — volume 97% superior ao registrado no ano anterior.

A China — pa�s com o qual o Brasil tem superavit de US$ 40,2 bilh�es no com�rcio bilateral — exportou US$ 2,1 bilh�es em adubos qu�micos para o mercado brasileiro, dado 250% superior ao de 2020.


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